A especulação da grande indústria farmacêutica

Empresas sedentas por dinheiro lucram sobre a miséria humana

Parece ser uma boa notícia que o Remdesivir, uma droga antiviral desenvolvida no início do surto do ebola em 2014, pode ser usado para ajudar a tratar pacientes com casos severos de Covid-19. A droga não foi provada ser uma cura, mas ela pode aliviar os piores efeitos da doença. Remdesivir foi desenvolvida com pelo menos 79 milhões de dólares do fundo do governo dos EUA, de acordo com um artigo publicado pela KEI [Knowledge Ecology International].

O pano de fundo desnecessariamente sombrio dessa história de esperança vem na forma da corporação que tem a patente da droga, Gilead Sciences. Esta é uma entidade bem conhecida pelas suas práticas insensíveis e cruéis de preços superfaturados sobre grupos vulneráveis, como os pacientes de câncer e pessoas com HIV. Por exemplo, a Truvada, uma droga para ajudar a prevenir a multiplicação do HIV, é vendida pela Gilead a um preço de 2 mil dólares ao mês, enquanto tem um custo de produção de 6 dólares.

Drogas órfãs

Essa infame empresa sedenta por dinheiro está fazendo todo esforço para lucrar sobre a pandemia global do Covid-19 e o sofrimento que ela causa. A Lei das Drogas Órfãs de 1983 nos EUA foi uma tentativa de induzir empresas farmacêuticas privadas focadas nos lucros a produzirem produtos que tratem doenças raras, oferecendo incentivos especiais. A designação permite a companhia lucrar exclusivamente por sete anos com o “produto” e impede que alternativas genéricas estejam disponíveis nos EUA.

Usando uma brecha na lei, Gilead solicitou que Remdesivir fosse declarada uma droga “órfã” pela Food and Drug Administration (FDA, órgão do governo equivalente a Anvisa). A lei é destinada para medicamentos que tratam doenças que afetam menos que 200 mil pessoas nos EUA. Mas uma brecha permite que drogas que tratem doenças mais comuns sejam classificadas como órfãs se a designação for dada antes da doença alcançar esse limite. Portanto, como só 40 mil pessoas tinham testado positivo para Covid-19 quando ela foi declarada, Remdesivir tecnicamente se qualificava.

O sistema do lucro

Entretanto, as tentativas da Gilead de especular cruelmente em meio à pandemia global merecidamente causou severas críticas de muitos, incluindo Bernie Sanders. Embora a FDA outorgou a eles esse status especial na segunda-feira, na quarta-feira Gilead pediu para que fosse rescindido, curvando-se a pressão vinda debaixo.

Suas ações insensíveis jogam à luz uma simples verdade: que o lucro não tem lugar na saúde e que a prioridade no bem-estar das empresas antes das necessidades do povo é um sintoma de um sistema doente. Durante essa crise, nós estamos vendo governos por todo o mundo sacrificando as vidas de trabalhadoras/es da saúde heroicas/os e setores vulneráveis da população para manter a economia funcionando e proteger os lucros dos patrões.

Nós acreditamos que para lutar contra esta pandemia nós devemos tornar companhias como Gilead a toda a indústria da saúde em empresas públicas e democráticas com recursos sendo alocados baseado nas necessidades das/os trabalhadoras/es da saúde que sabem melhor em onde e o que é preciso.

É inaceitável que as vidas e a saúde das pessoas da classe trabalhadora estejam em perigo para que os acionistas da Gilead possam lucrar, mas um sistema que coloca a busca por lucro acima de tudo é inevitavelmente um sistema que não pode prover o cuidado de saúde adequado que nós precisamos.

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