Socialistas e a Pandemia do Covid-19

Como o vírus é usado pela classe dominante e pelas grandes empresas para seus interesses, e o que devemos exigir?

O Covid-19 já atingiu todos os continentes. Até o momento ainda não está claro quanto tempo a crise vai durar, quantos serão afetados e quantos morrerão. O efeito que ela está causando na economia mundial já está se tornando evidente com a queda das bolsas de valores e empresas despedindo pessoas. Um sentimento de pânico está se espalhando, forçando os governos a agir.

Uma ameaça real

A Covid-19 representa uma ameaça real. É um vírus altamente agressivo com, ao que parece, uma taxa de mortalidade mais elevada do que a “gripe normal”, afetando especialmente os pacientes mais velhos e pacientes já debilitados. Os sistemas de saúde nos países capitalistas avançados não estão suficientemente preparados para ele – mas nos países sujeitos ao neocolonialismo, um surto pode evoluir para um pesadelo.

As pessoas estão morrendo principalmente do vírus, mas um número significativo destes morreram por causa das fragilidades do sistema de saúde. Mesmo nos países capitalistas avançados, os efeitos de décadas de cortes neoliberais criaram uma situação em que há muito poucos leitos hospitalares, o pessoal está sobrecarregado, as estruturas de teste são inadequadas e há falta de apoio técnico e médico para os infectados. Nos países em desenvolvimento, os sistemas de saúde adequados nunca nem sequer existiram. 

O Covid-19 é uma pandemia de fato, embora, devido às modernas técnicas médicas, dificilmente seja tão grave quanto a gripe espanhola que matou em torno de 50 milhões de pessoas, há quase 100 anos. Mas se se espalhar mais, se milhões de pessoas forem infectadas, se os governos continuarem a não reagir adequadamente, então tem o potencial de produzir consequências graves. Depois de a economia de se equilibrar no limite por algum tempo, a Covid-19 também pode ser o gatilho que empurra a economia mundial para a próxima recessão.

Pode também ter graves efeitos políticos. O sistema capitalista, e com ele a democracia burguesa estão em crise profunda desde que a classe dominante se mostrou incapaz de resolver a crise econômica após 2007. Desde então, a situação política em todas as partes do mundo é caracterizada pela instabilidade, com governos que mudam rapidamente, e o aparecimento de “novos” políticos propondo medidas populistas para superar a profunda desconfiança enquanto tentam restaurar a estabilidade. O ano de 2019 foi um ano em que a classe dominante em todo o planeta foi abalada por levantes, protestos em massa, revoltas e movimentos revolucionários – explosões de descontentamento contra o sistema político e econômico. Uma pandemia poderia interromper esses movimentos, mas poderia também levar a novas ondas de protesto, já que a elite governante prova mais uma vez que não pode resolver estes problemas. Isto poderia desdobrar-se muito rapidamente, como no Irã. Mas com a natureza desta crise – um vírus que é passado de uma pessoa para outra – há o perigo de que a raiva e o medo possam levar ao isolamento, ao racismo e à separação, antes que se desenvolva o protesto coletivo. Isso torna ainda mais importante que os socialistas expliquem as raízes da crise e também apresentem propostas e exigências concretas sobre como lidar com a situação.

Falha em intervir cedo e justificativa de bloqueios

Apesar do que dizem muitas vozes do establishment, o tratamento inicial do surto em Wuhan pelas autoridades chinesas foi um fracasso catastrófico. As primeiras infecções aconteceram no início de dezembro do ano passado e o novo variante do coronavírus, o Covid-19, foi identificada no dia 7 de janeiro deste ano. A análise genética mostrou que era notavelmente semelhante ao coronavírus da SRA (Síndrome Respiratória Aguda), que teve uma mortalidade espantosa de cerca de 10% no surto de 2003. Em vez de tomar isto como um aviso e começar a conter o surto enquanto ainda estava localizado, as autoridades decidiram ignorá-lo e silenciar cientistas e jornalistas críticos, que estavam tentando alertar o público – sendo o destino do falecido médico Li Wenliang o exemplo mais notório desta política. 

Nesse momento, no início do surto, provavelmente teria sido possível detê-lo, rastreando a cadeia da infecção e isolando os indivíduos em risco, ao mesmo tempo que se informava o público, distribuindo máscaras faciais e instalando desinfetantes antivirais em locais públicos. Mas o governo chinês levou mais de duas semanas para perceber que não podia mais esconder o problema, por isso no dia 23 de janeiro impôs o bloqueio de Hubei, restringindo os direitos humanos básicos de 60 milhões de pessoas naquela área.

Embora não nos oponhamos fundamentalmente à restrição do direito de viajar durante um surto perigoso, criticamos o regime por não ter tomado quaisquer medidas antes dessa restrição drástica, bem como a forma como ela foi decidida e implementada. Também é preciso ressaltar que, segundo informações vazadas, as condições do bloqueio são horríveis para os afetados: muitos trabalhadores estão em licença sem remuneração, as instalações de quarentena consistem em centenas de camas ao lado umas das outras com instalações sanitárias limitadas, as necessidades básicas como alimentação e água não são atendidas adequadamente, com o pessoal trabalhando em condições insuportáveis.

Nos países capitalistas avançados, vemos os políticos minimizarem os perigos do surto, ao mesmo tempo em que enfatizam que eles estão bem preparados, o que, na maioria dos casos, não é verdade. Dada a desconfiança já existente na elite no poder, muitas pessoas sentem que há algo de errado com esta abordagem, o que encoraja reações de pânico como a estocagem de mercadorias. O fracasso em organizar uma resposta adequada e antecipada leva ao perigo de que mais tarde seja necessário introduzir medidas mais extremas para lidar com o surto, como já se vê na Itália com os bloqueios locais e restrições ao direito à greve.

Informação e democracia

Se antes, magnatas cínicos da imprensa afirmavam que “sexo vende jornais”, agora parece que pensam que “pânico vende”. No momento, há dois problemas contraditórios: enquanto os regimes não estão informando corretamente a população, a mídia está se agarrando nos menores detalhes para ajudar a criar o pânico. Na China é agora claro que um médico, Li Wenliang que trabalhava em Wuhan, tinha avisado sobre o coronavírus antes dele começar a se espalhar, mas foi ignorado e assediado pelo regime. O regime, recorrendo aos seus métodos habituais de censura e repressão, tentou isolar o problema, mas essa tentativa foi um tiro pela culatra. Mais tarde, se fez uma inversão de marcha, e milhões de pessoas foram colocadas em quarentena.

Estas medidas draconianas tomadas pelo regime chinês foram bem recebidas pelos governos de todo o mundo, existindo até mesmo um sentimento de “bem, em tal situação você precisa pelo menos de elementos de ditadura para lidar com a situação”. Esta é uma tendência perigosa, que começou a surgir com a introdução do “estado de emergência climática” e “leis anti-terroristas”, que são usadas para justificar a limitação dos direitos democráticos. Embora seja verdade que numa situação de pandemia é necessário tomar medidas rápidas e por vezes restritivas, isso não significa que isso deva ser feito de forma antidemocrática e ditatorial.

Essas medidas são tomadas para garantir que a classe dominante mantenha seu poder, e não há garantia de que nenhuma dessas medidas ad hoc não permaneçam por muito tempo após o fim da crise. Elas são justificadas com o argumento de que a classe trabalhadora comum não entende o que está acontecendo e é incapaz de encontrar soluções. Ambas estão longe de ser verdadeiras.

No Iraque, diante do colapso do sistema de saúde, os manifestantes distribuíram folhetos e deram palestras sobre a prevenção do coronavírus, e as clínicas improvisadas erguidas há meses para tratar os manifestantes feridos pela repressão policial estão agora distribuindo gratuitamente máscaras médicas, luvas e desinfetantes. Os voluntários em traje de risco biológico tomam a temperatura dos manifestantes alinhados em filas organizadas. Isto mostra um vislumbre muito pequeno do que seria possível em maior escala se a resposta ao vírus fosse organizada democraticamente a partir de baixo, com base na solidariedade dos trabalhadores, em vez de ser ditada pelo lucro, prestígio e poder das elites. 

O que defendemos

Como primeiro passo, precisamos da distribuição generalizada de informação de base científica, utilizando todos os canais da mídia. Os verdadeiros especialistas médicos e científicos, independentes das empresas e das elites políticas, devem dar conselhos sobre como manter os riscos de infecção e propagação os mais baixos possíveis.

Esta informação deve ser distribuída gratuitamente, inclusive pela mídia privada, sem pagamento de espaço de impressão ou tempo e em todas as línguas necessárias para atingir todas as camadas da sociedade.

Qualquer mídia que espalhe informação errada, calúnias racistas, teorias conspiratórias ou que exija pagamento deve ser assumida imediatamente pelo público e pelos trabalhadores. Isto mostra a necessidade de uma mídia independente da classe trabalhadora!

A informação tem de ser amplamente distribuída nos locais de trabalho, universidades e escolas durante o horário de trabalho remunerado ou o tempo de estudo.

As decisões sobre as medidas necessárias a serem implementadas e sua gestão devem ser tomadas por estruturas democráticas de trabalhadores, de representantes do movimento de trabalhadores e da população local, orientadas pela opinião de especialistas médicos.

Prevenção

Medidas governamentais como medir a temperatura corporal nos aeroportos, que são mais ou menos inúteis dado que se pode transportar o vírus sem febre ou outros sintomas, são tomadas na tentativa de mostrar que “algo está sendo feito” e para disfarçar a sua incapacidade de fazer os investimentos necessários em mais funcionários e recursos médicos. Na sua maioria, falharam em introduzir um programa de testes precoces para rastrear as cadeias de infecção e implementar formas eficazes de bloqueá-las. Eles também usam a ameaça para promover seus interesses políticos, como na Itália, onde as greves foram proibidas usando o Covid-19 como argumento para esta medida antidemocrática.

Ao mesmo tempo, as pessoas são pressionadas a ir trabalhar mesmo que se sintam mal por medo de perder o salário, ou mesmo o emprego. Recentemente, um trabalhador da fábrica alemã VW em Wolfsburg foi trabalhar embora se sentisse doente, e depois morreu. A direção obrigou seus colegas a continuar trabalhando ao lado do corpo para evitar parar a linha de produção. Algumas empresas, como as companhias aéreas, estão tentando usar o vírus para resolver problemas econômicos anteriores, fazendo a força de trabalho pagar – despedindo pessoas, colocando-as em horários de trabalho reduzidos, colocando-as em licença sem remuneração e cortando o salário.

Nas suas tentativas de limitar a propagação do vírus, os governos utilizam medidas que afetam o público, mas deixam as consequências para os indivíduos, que têm de o fazer e, muitas vezes, não têm dinheiro para pagar. Exigimos uma abordagem diferente – a saúde de todos é uma responsabilidade pública e precisa, portanto, ser organizada e financiada por toda a sociedade.

O que defendemos

Instalações para a lavagem adequada das mãos, desinfecção e o que for necessário e útil devem ser providenciadas onde for necessário e os materiais devem ser distribuídos gratuitamente.

A fato que as empresas estarem tentando lucrar com a necessidade das pessoas de proteger sua saúde, mostra a perversão absoluta do sistema capitalista, por isso essas empresas devem ser assumidas e dirigidas para as necessidades da sociedade.

Isto permitiria que a produção fosse adaptada ou aumentada para produção de genéricos.

Os próprios trabalhadores sabem bem como a produção é organizada, quais são os produtos úteis e necessários e que podem ser facilmente substituídos, e como a produção pode ser adaptada para fornecer urgentemente qualquer suprimento de emergência necessário. Para isso, a produção tem de ser gerida e controlada por órgãos democraticamente eleitos pelos próprios trabalhadores.

As máscaras e outros itens necessários para a proteção, especialmente de funcionários de saúde, devem ser fornecidos gratuitamente e nas quantidades necessárias.

Algumas empresas já argumentam que os estoques estão baixos, apenas para vender a preços mais altos. Isto sublinha porque é necessário que a indústria esteja sob controle e gestão de representantes eleitos pela população, de trabalhadores da própria empresa e do movimento dos trabalhadores em geral.

O caráter esquizofrênico dos governos burgueses é revelado quando fecham grandes eventos como o carnaval de Veneza e eventos esportivos. Especialistas médicos comentam que isso só representa mais tempo de permanência em espaços fechados, como bares, onde a transmissão é ainda mais fácil.

Ao mesmo tempo, ainda se espera que as pessoas viajem para o trabalho todos os dias, muitas vezes usando o trânsito de massa, para manter a economia funcionando, e os lucros fluindo. Se houver necessidade de reduzir o risco de propagação, então a primeira medida deve ser reduzir a necessidade de trabalhar para aqueles empregos que são realmente necessários e, se possível, para permitir o trabalho em casa.

É necessário implementar medidas para garantir que nenhum trabalhador tenha perda salarial, trabalhando ou não. São necessárias medidas especiais para complementar a renda de trabalhadores com baixos salários, uma vez que não dispõem de recursos para despesas adicionais.

Se escolas e creches tiverem que ser fechadas, então os pais têm que ser liberados do trabalho com remuneração integral – importante, não apenas para proteger os direitos dos trabalhadores, mas também para evitar a formação de grupos informais de crianças, organizados porque os pais não podem ficar em casa. Observar as medidas de higiene necessárias entre grupos de crianças pequenas é praticamente impossível.

Se as empresas argumentam que não podem pagar, como primeira medida sua contabilidade deve ser aberta ao escrutínio público para verificar se isso é verdade, e aquelas que não podem pagar devem ser assumidas pelo público e geridas sob o controle e gestão dos próprios trabalhadores.

Quando as restrições de viagem são implementadas, elas não devem ser feitas às custas das pessoas da classe trabalhadora: se as pessoas tiverem que cancelar ou mudar as viagens reservadas, devem ser totalmente compensadas por perdas ou quaisquer custos adicionais.

Discussões e decisões sobre quarentenas necessárias, sobre qual a produção a ser continuada e que medidas devem ser tomadas para reduzir a propagação do vírus devem ser feitas por comitês de especialistas em saúde organizados e administrados democraticamente, pela comunidade local e pelos trabalhadores na área. Eles não devem ser deixados nas mãos do governo burguês que representa as necessidades da classe capitalista.

Nas regiões onde a quarentena é necessária, a distribuição de alimentos e outros itens necessários tem que ser organizada publicamente por comitês democraticamente eleitos para evitar uma situação em que aqueles com mais dinheiro sejam “servidos” melhor do que os outros.

Tenha cuidado

A mortalidade do Covid-19 está fortemente ligada à qualidade do setor da saúde. Em países com sistemas de saúde fracos ou sem serviço público de saúde, mais pessoas morrerão. No Irã, o país com maior número de mortes fora da China, a resposta à epidemia tem sido dificultada pela inação, mentiras e corrupção do regime – mas também pelas sanções econômicas impostas pelos EUA, que reduziram o acesso a suprimentos médicos básicos e restringiram a importação de kits de diagnóstico do coronavírus.

Mas também nos países capitalistas avançados haverá enormes problemas devido à falta de recursos. Um paciente mais velho na Áustria só foi encontrado infectado com Covid-19 depois de ter estado 10 dias no hospital, sofrendo de “gripe”. Na Itália, a situação demonstra como tem sido sério, perigoso e obtuso o processo de desmantelamento da saúde pública realizado nos últimos anos pelas principais forças políticas do país. Ajudados pelos ataques neoliberais e pelo regionalismo federalista, nos últimos vinte anos tem havido o desmonte da saúde pública, que tem sido privada de recursos, despedaçada, demolida e dividida em numerosos serviços de saúde regionais autônomos, sem os poderes e o impacto que um Serviço Nacional de Saúde unificado de um estado moderno deveria ter.

A melhoria da ciência e da tecnologia médica reduziu a necessidade de tratamentos prolongados nos hospitais. Mas em todos os lugares este argumento tem sido usado para ir longe demais nessa direção, a fim de reduzir os gastos com a saúde. Os chamados especialistas têm exigido a redução das camas e do pessoal hospitalar para torná-los mais eficientes ou, como em muitos casos, a privatização de partes fundamentais do setor da saúde, em prol do lucro. Isto levou a condições de trabalho exaustivas nos hospitais e a falta de recursos para um tratamento decente – mesmo em tempos “normais”. Agora a pandemia ameaça criar condições extremas, e todo o sistema de saúde está esticado até o ponto de ruptura.

O que defendemos

Como primeiro passo, todo os trabalhadores da saúde devem ser liberados do trabalho que não está diretamente ligado aos cuidados – como a administração e documentação desnecessária. Isto libertaria imediatamente 20-30% de recursos adicionais.

Mais funcionários da saúde devem ser empregados com o máximo de medidas de segurança e remuneração adequada – e mais pessoal deve permanecer após a epidemia, para reduzir de vez as horas de trabalho no setor de saúde. Embora haja necessidade de mais pessoal, nós rejeitamos o trabalho forçado e defendemos o direito de o trabalhador da saúde negar o trabalho extra ou dupla função. A história tem mostrado como as pessoas abnegadas estão preparadas para até mesmo colocar sua própria vida em perigo em tempos de guerra, catástrofe ou doença.

Em tempos de doença, e na realidade em todos os momentos, não há espaço para a concorrência no setor da saúde. Onde existem hospitais ou clínicas, estas têm que cooperar para o benefício da sociedade. Todas as clínicas e postos de saúde privados devem oferecer tratamento gratuito para o vírus Covid-19 a todos os que o solicitarem.

Não deve haver limite para o acesso ao tratamento médico em qualquer lugar. Bilhões de pessoas em todo o planeta não podem pagar seguros de saúde. Mesmo no país mais rico do planeta – os EUA – não existe nenhum serviço de saúde universal. Todos os medicamentos e tratamentos necessários para lidar com o Covid-19 devem ser fornecidos e pagos pelo Estado.

Todas as sanções econômicas contra o Irã e outros países devem terminar imediatamente, juntamente com todas as medidas que restringem a circulação de equipamentos médicos nas áreas afetadas. Numa situação de pandemia, é óbvio que não só as sanções são desumanas, mas uma ameaça para toda a sociedade já que pessoas infectadas, mas as ainda não tratadas, só irão espalhar o vírus ainda mais.

A saúde é um direito humano e nunca deve ser entregue a um mercado que se orienta para o lucro. As instituições de saúde privatizadas e privadas devem ser (re)nacionalizadas imediatamente. Num sistema de saúde nacionalizado e democraticamente organizado toda a informação é partilhada, o material é distribuído da forma mais eficaz e os doentes são tratados de forma equitativa e eficaz.

Pesquisa e indústria farmacêutica

Como tudo o resto sob o capitalismo, a saúde e a pesquisa são mercadorias. Mas não são apenas algumas empresas duvidosas que obtêm lucros extras especulando com máscaras e outros suprimentos médicos – é toda a indústria farmacêutica. Em 2019, as 10 maiores empresas farmacêuticas aumentaram seus lucros em 7%, para um total de 138 bilhões de dólares. A empresa que primeiro produzir uma vacina ou mesmo um medicamento para a Covid-19 fará uma fortuna. Assim, enquanto as equipes de cientistas trabalham com medicamentos, as empresas não compartilham informações e os resultados das pesquisas são mantidos em segredo. O mesmo se aplica a outras doenças graves! O lucro para poucos é mais importante do que a vida de muitos.

O surto de Covid-19 mostra claramente os problemas da produção centralizada de medicamentos, de modo a aumentar os lucros. Como a maioria dos medicamentos são fabricados na China e na Índia, a escassez de medicamentos importantes está se tornando mais urgente em vários países. À medida que a escassez aumenta, a saúde das pessoas não infectadas é posta em risco.

O que defendemos

A indústria farmacêutica precisa ser assumida como propriedade pública e gerida de acordo com os interesses de todos.

As patentes têm de ser abolidas, pois monopolizam a informação – toda a informação disponível tem de ser partilhada e tornada pública. É preciso investir mais em pesquisa para proporcionar resultados mais rápidos – os lucros das empresas farmacêuticas podem facilmente pagar por isso. As comissões eleitas de especialistas, trabalhadores, pacientes e pessoal médico devem tomar todas as decisões chave, avaliar os resultados e decidir as mudanças necessárias.

É necessário restaurar as estruturas descentralizadas para a fabricação de medicamentos, a fim de evitar a escassez em situações de surtos, desastres naturais, etc.

Não a acumulação de medicamentos para fins lucrativos sim para a gestão democrática da distribuição de medicamentos.

Migração

O sistema capitalista com suas guerras, exploração e destruição da natureza força milhões de pessoas no planeta a fugir de suas casas. A extrema direita, mas também os governos burgueses “comuns”, tentam colocar a culpa pelos efeitos de suas políticas – a perda de empregos, falta de moradia, etc. – sobre os migrantes e refugiados. A propaganda racista que envenenou a sociedade durante décadas já levou a ataques racistas contra chineses ou outras pessoas de aparência “asiática” na Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, Rússia, EUA e outros países.

Com o aumento das infecções na África e no Oriente Médio, que ameaçam levar a epidemias aos enormes campos de refugiados, onde as pessoas são espremidas em condições horríveis sem saneamento e sem ajuda médica, e com a “abertura” da fronteira para a União Europeia por Erdogan, os socialistas e o movimento dos trabalhadores precisam de um programa para os refugiados.

A extrema-direita já ataca migrantes e refugiados usando o Covid-19 como desculpa. Em breve, sem dúvida, serão seguidos por vários partidos burgueses, incluindo partidos social-democratas e verdes aparentemente “progressistas”. Eles tentarão implementar ainda mais regras de migração racistas, construir muros e fortalecer a fortaleza Europa, argumentando que isso é necessário para “proteger” contra o vírus. No Chipre, quatro das nove travessias ao longo da zona tampão entre o Norte e o Sul foram fechadas, num movimento que o governo apresenta como medida para combater a propagação do coronavírus – apesar da ausência de casos confirmados de ambos os lados da divisão.

Se não forem tomadas outras medidas eficazes, isto pode levar a uma situação em que mesmo as pessoas de esquerda e da classe trabalhadora tenham a sensação de que, embora não gostem de tais ações, não têm outra opção senão aceitá-las. Mas a Covid-19 é democrática e antirracista: não se limita por sexo, religião ou nacionalidade. Portanto, qualquer medida que se baseie em tais características é, na melhor das hipóteses, inútil. Contudo, aqueles que usam o vírus para criar divisão impedem-nos de trabalhar em conjunto para impedir a propagação e resolver a crise.

Nenhum controle de fronteira pode manter todos os refugiados fora – e muito menos qualquer vírus. “Você não pode construir muros para cercar um vírus” explica Larry Gostin, Professor de Direito Sanitário Global da Universidade de Georgetown em Washington – acrescentamos: “Você não pode construir muros para manter fora um vírus”. A razão pela qual as pessoas temem migrantes e refugiados é a desinformação espalhada sobre o Covid-19 e pela as experiências de longo prazo de muitos, que as classes dirigentes fizeram as pessoas comuns da classe trabalhadora pagar pelos refugiados ainda mais pobres que vieram para a Europa em 2015 ou que fugiram da América Latina para os EUA. Mas nem os refugiados nem a classe trabalhadora dos países capitalistas avançados são responsáveis pela guerra, pelas mudanças climáticas e pela pobreza – as razões habituais pelas quais as pessoas têm de fugir de suas casas.

O que defendemos

Como primeiro passo, o dinheiro que é usado para subsidiar grandes empresas como as companhias aéreas deve ser usado imediatamente para melhorar as condições de vida nos grandes campos de refugiados para evitar um surto de Covid-19 lá. As deportações devem ser suspensas e o direito de asilo dos refugiados deve ser defendido.

Os responsáveis por forçar as pessoas a fugir de suas casas: a indústria de armamento, as grandes empresas, as companhias petrolíferas e mineiras e os empreiteiros militares, ou seja, os mercenários que lucram com a super exploração da humanidade e dos recursos naturais do mundo neocolonial, deveriam pagar. A expropriação dessas empresas e o uso de seus recursos para prestar ajuda imediata significaria que menos pessoas seriam forçadas a fugir de suas casas.

Neste exato momento, os efeitos a longo prazo da Covid-19 não são claros. Mas o vírus demonstra claramente a fragilidade da economia mundial e a incapacidade da elite dominante e do sistema capitalista como um todo de lidar com tais ameaças.

Uma pandemia pode ser um choque. Pode interromper a onda de protestos e lutas que irrompeu em 2019. Mas a incapacidade da classe dominante de resolvê-la ou mesmo de lidar com ela adequadamente levará à raiva. Se as organizações da classe trabalhadora mostrarem um caminho a seguir, mostrarem soluções para lidar e superar a crise, isso pode ajudar a prevenir o desespero, o crescimento do racismo e da xenofobia e a mostrar um caminho a seguir baseado numa solução socialista para pôr fim a este sistema capitalista e doente. Não é o momento de entrar em pânico, mas de organizar o combate!4 de março de 2020

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