Protestos em Israel contra o massacre em Gaza

Tel-Aviv: cerca de 10.000 judeus e árabes protestam contra a guerra

Depois do que parece ser a semana mais sangrenta no conflito entre Israel e Palestina em 40 anos, muitas pessoas se manifestaram pelo mundo contra as ações bárbaras do regime israelense.

Dois grandes protestos foram organizados em Israel, sob a postura antidemocrática do regime para silenciar a oposição à guerra. Isso inclui ameaças do serviço secreto e prisão em massa na última semana, principalmente de palestinos israelenses – cerca de 300 estão ainda detidos.

A polícia tentou impedir a manifestação planejada para três de janeiro em Tel-Aviv, afirmando que a aparição da bandeira palestina em Tel-Aviv provocaria um distúrbio para a paz pública. A Suprema Corte, enquanto aprova as ações do regime nas grandes questões, inclusive na definição da lei internacional de crimes de guerra, nesse caso decidiu por aprovar a manifestação.

Foi a mais importante manifestação conjunta entre árabes e judeus desde o início da ofensiva, e ocorreu numa atmosfera muito difícil. A marcha foi cercada por um grande aparato policial, reforçado por um contingente de guardas prisionais. Também, cerca de 300 direitistas (muitos do Yisrael Beitenu “Israel Nosso Lar”, partido de extrema direita) vigiaram o protesto e em cada esquina, a caminho do centro de Tel-Aviv, a tensão e a violenta hostilidade era evidente. Em alguns momentos objetos eram jogados nos manifestantes. Mas o protesto foi extremamente forte, vivo, com bandeiras vermelhas e tambores, com cerca de 10 mil participantes.

Muitas faixas em hebraico e árabe eram carregadas. Os membros do Movimento Luta Socialista (seção do CIO em Israel) mostravam faixas como: “Judeus e Árabes se recusam a ser inimigos”, “Judeus e Árabes lutando contra o racismo”, “Em Gaza e Sderot, crianças querem viver”, “Barak, Ministro de Segurança, não comprará a lei com sangue”, “Sem muros e tiros – diálogo entre moradores” “Dinheiro para educação e emprego – não para ocupação e guerras”. Durante a manifestação distribuímos a declaração do Movimento Luta Socialista. O Hadash (o partido comunista) foi uma força bem expressiva nessa manifestação.

A mídia institucional fez campanha contra a manifestação, assim como esconde o que ocorre em Gaza. O programa de noticiais do fim de semana da TV estatal, que tem duração de quase duas horas, não mostrou nem ao menos uma foto de dentro de Gaza, mas mostrou vários generais e políticos e terminou com uma reportagem de uma fábrica de chocolate em Israel! E isso não é o único controle da mídia. Mesmo a imprensa internacional que gostaria de cobrir os ataques encontrou muitas dificuldades, e os militares praticamente a proibiram entrar em Gaza. Dois repórteres da Al-Jazeera foram presos quando chegaram “muito perto” de Gaza. Os repórteres israelenses cadastrados relatam tudo que os militares lhe dizem. A menção aos mortos palestinos é marginalizada. A mídia israelense nem menciona, por exemplo, que a relação de vítimas é de 1.100 – e algumas vezes simplifica tudo assim: “O Hamas e as organizações terroristas tiveram cerca de 400 mortos”. A propaganda da classe dirigente e a máquina de falsificação é imensa. Relatos dos protestos pelo mundo são apresentados de uma maneira bastante negativa, sugerindo por vezes que qualquer crítica internacional ao regime de Israel significa anti-semitismo.

No sábado, na cidade de Sakhnin, a noroeste, dezenas de milhares se juntaram na mais forte manifestação de palestinos israelenses dos últimos anos. Enquanto em parte da imprensa israelense foi falado em “poucos mil”, chegou, na verdade, próximo ao cem mil, com a um pequena presença de judeus israelenses. Dezenas de direitistas (a maioria do partido de Liberman) protestaram pela cidade. A atmosfera era bem militante, mas também dominada pelo movimento islâmico e pelo partido nacionalista palestino Balad. Frases em árabe eram ouvidas, inclusive demonstrações de solidariedade com o povo de Gaza, chamando-os para não se renderem ao tanques e armas militares e resistirem heroicamente. Algumas das palavras de ordem pediam que o Hezbollah agisse, e criticavam os regimes da Liga Árabe por sua tradicional colaboração, especialmente com os EUA. Havia alguns chamados, infelizmente, por medidas de terror contra a população judia.

O fato da manifestação em Sakhinin ser dominada pelas forças de direita do Movimento Islâmico não foi à toa. O Hadash estava disperso – um sinal da imensa polarização nacional em progresso e um certo enfraquecimento de sua base entre os palestinos israelenses nos últimos anos, como foi refletido nas eleições municipais nessa cidade e em algumas outras. Isso ocorreu devido à postura do Hadash em focar em questões cosméticas e não em construir o movimento. Há tristes exemplos de tal conduta oportunista como a colaboração eleitoral com o Movimento Islâmico em algumas áreas, ao invés de apresentar uma alternativa, e a impressionante colaboração do Hadash com o partido de Liberman (“Israel Nosso Lar”) em Haifa, onde estiveram na mesma coalizão. Em Haifa, eles apoiaram a eleição do prefeito atual pertencente ao partido do governo, o Kadima, alegando que faziam isso para impedir a eleição de um candidato Libermanista. Essa foi uma explicação para o enorme vácuo político, e o fato de que esses protestos importantes tenham sido dominados por organizações de direita.

Mais de 500 palestinos foram mortos em apenas 9 dias, 30 deles desde que se iniciou a operação por terra. Milhares estão feridos e milhares de casas foram destruídas no pequeno território de Gaza, e é claro que isso tem um efeito sobre as massas árabes e judias dentro de Israel. O protesto em Tel-Aviv mostrou que o movimento conjunto de judeus e árabes contra a guerra pode e deve ser expandida firmemente apesar da repressão.

A classe dirigente israelense explora o medo dos trabalhadores judeus, e esses ataques são incrivelmente explicados por uma voz por toda a elite como uma “guerra sem escolha”. Eles fazem isso para justificar sua tentativa desesperada de escapar de uma profunda crise política e apagar sua própria humilhação pelas derrotas de suas estratégias nos últimos anos. Mas os trabalhadores perceberão, mais cedo ou mais tarde, que estão sendo enganados e levados para um conflito sangrento contra seus interesses, e procurarão, num número cada vez maior, por uma outra alternativa. O movimento contra a guerra deve tentar atingir essas pessoas, apesar do clima difícil. Baseado nas idéias da solidariedade e do socialismo, isso pode ter sucesso. E esse é o único caminho para avançar. 

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