Epidemia de Coronavírus – Crise se aprofunda na China e em Hong Kong na Ásia
Os trabalhadores precisam agir: construir sindicatos / comitês de ação contra a epidemia em todos os locais de trabalho
O texto seguinte é de um panfleto publicado pela Ação Socialista (CIT in Hong Kong) enquanto trabalhadores do setor da saúde e ativistas dos novos grupos sindicais discutem planos para uma greve, no dia 3 de fevereiro, em protesto sobre as medidas inadequadas do governo de Hong Kong para lidar com a epidemia do coronavírus que varreu a China e agora também Hong Kong. A epidemia, que causou uma enorme perturbação na China, pode ainda ser declarada uma emergência de saúde internacional.
A rápida propagação do vírus, oficialmente chamado ‘2019-nCoV’, que ataca o sistema respiratório, alarmou os especialistas em saúde. Alguns advertem que representa uma ameaça mais grave do que a Síndrome Respiratória Aguda (SRA), com a qual este vírus está intimamente relacionado, que matou 750 pessoas e infectou 8 mil pessoas, em 2003. O vírus da SRA também teve origem na China. Os economistas capitalistas, que se concentram mais nas bolsas de valores do que na vida humana, estão alertando que o novo vírus pode desencadear uma recessão global.
O novo coronavírus teve origem em Wuhan e está espalhando em um ritmo alarmante. O medo e um grau de pânico existe entre as pessoas comuns na China e em Hong Kong. Em outros lugares, as preocupações aumentam à medida que a propagação da epidemia se acelera e as autoridades sanitárias advertem que ela está se tornando mais contagiosa. A escala da epidemia na China tem sido agravada pela falta de informação clara por parte do governo. A desconfiança generalizada em relação às autoridades baseia-se na experiência das pessoas com crises anteriormente mal geridas (SRA, escândalo do leite tóxico de 2008, escândalo da vacina de 2018).
O regime de Xi Jinping admite que a situação é “grave”. Casos confirmados de infecção foram agora relatados em cerca de 20 países fora da China, e a taxa de mortes e infecções relatadas está acelerando na China (100 mortos no momento da escrita e 2,7 mil casos confirmados, uma duplicação em dois dias). A resposta inicial do governo chinês foi de negligência criminosa. Já vimos isso antes. As notícias foram reprimidas. A informação online foi bloqueada. A gravidade da situação foi completamente subestimada e a manutenção da “estabilidade” era a prioridade máxima. Muitos chineses estão reivindicando nas mídias sociais a remoção e punição da liderança da cidade de Wuhan, o que é compreensível porque a partir de dezembro, quando os primeiros casos ocorreram, eles ocultaram as informações e fizeram nada, para não atrapalhar reuniões importantes do governo nas primeiras semanas de janeiro. Perdeu-se um tempo valioso e a oportunidade de “obter o controle” da epidemia. Segundo o virologista da Universidade de Hong Kong, Guang Yi, esse foi o período chave para conseguir o controle e agora até o recurso de fechar cidades inteiras para evitar a propagação do vírus é limitado.
A velocidade dos acontecimentos é assustadora. A contaminação de humano para humano só foi confirmada em 20 de janeiro. Três dias depois, a cidade de Wuhan (com 11 milhões de habitantes) foi bloqueada, com todas as viagens para fora proibidas. Nos três dias seguintes, esta quarentena e proibição de viajar foi estendida a mais 20 cidades, afectando cerca de 60 milhões de pessoas. Trens, aviões, balsas e ônibus foram suspensos e as estações e pedágios estão bloqueados por polícia armada.
Xi Jinping e a alta liderança do regime foram forçados a assumir o controle direto da crise, devido à paralisia e falta de iniciativa local por parte dos níveis inferiores do Estado autoritário chinês – pior agora até do que durante a epidemia da SRA de 2003 – porque as autoridades locais temem qualquer coisa que possa prejudicar ou embaraçar a ditadura. A concentração de todo o poder no centro e na pessoa do próprio “Imperador Xi”, significa que os governos locais não se atrevem a mover-se a menos que sejam instruídos por Pequim.
As ações do governo de Hong Kong seguem o mesmo padrão tragicômico. Eles agiram completamente como um fantoche e ficaram paralisados, impedindo a implementação de quaisquer políticas. Ao proibir viagens em áreas de alto risco à China continental e outras medidas de emergência, o governo de Carrie Lam ficou atrás até mesmo das medidas tomadas por seus chefes de Pequim. O governo de Hong Kong recusou-se a incitar as pessoas em Hong Kong a usar máscaras faciais (porque o governo tentou proibir as máscaras como parte da sua investida repressiva contra o movimento de protesto de já dura 8 meses).
O diretor de saúde de Hong Kong, Chan Hon-yee, disse até que não há necessidade de usar máscaras faciais durante atividades públicas normais, mesmo enquanto os governos em toda a China continental, mas também no Japão e na Coreia do Sul, agora instruem seus cidadãos a usarem máscaras. O governo de Hong Kong, para não perder a legitimidade, defende teimosamente sua lei anti-máscara de outubro, e permanece firme com seu plano de apelar contra a decisão de novembro do Tribunal Superior de Justiça de anular essa proibição. O sistema hospitalar de Hong Kong, que sofre há muito tempo, precisa de recursos adicionais urgentes para enfrentar esta crise. Isso tem causado uma enorme fúria e um chamado à greve na segunda-feira, 3 de fevereiro.
A Ação Socialista apoia plenamente esta iniciativa de greve e apela aos trabalhadores e militantes dos sindicatos e das novas formações sindicais para que mobilizem a solidariedade a esta greve. Juntamos a nossa voz aos que exigem o cancelamento da proposta do governo de aumentar os salários da polícia (para recompensá-los por meio ano de repressão sem precedentes) e que esse dinheiro seja investido em medidas de emergência para combater a epidemia, inclusive para melhorar urgentemente o equipamento de proteção para os profissionais da área de saúde (segundo informações, há mais de 10 milhões de máscaras faciais no armazém do Departamento de Saúde, enquanto o pessoal dos hospitais públicos não tem máscaras N95 suficientes para usar) e garantir um número suficiente de alas de isolamento. O governo precisa tomar medidas para proibir estritamente a especulação de preços e a estocagem, que inclui máscaras faciais e alimentos, durante esta crise. Também o governo deve retirar o seu apelo legal para restabelecer a lei anti-máscaras faciais.
A linha de trem de alta velocidade [que liga a China continental e Hong Kong] e a fronteira devem ser fechadas imediatamente para conter a propagação da epidemia, não apenas para os residentes chineses, mas para todas as pessoas. Os socialistas opõem-se à agenda racista dos ”localistas” de Hong Kong de atacar o povo chinês continental através desta questão. O coronavírus não discrimina – todos os grupos étnicos e nacionalidades podem ser portadores e estão em risco. Os trabalhadores e os sindicatos de Hong Kong precisam somar os esforços uns dos outros para se organizarem em todos os locais de trabalho, para construir comitês de ação contra a epidemia, com portavozes eleitos para negociar com a gerência e garantir a aplicação de medidas concretas que coloquem a segurança dos funcionários e do público em geral como a prioridade máxima.
Os trabalhadores devem ter o direito de se recusarem a serem enviados para a China durante esta crise. Os trabalhadores também devem ter o direito de trabalhar em casa e ter horários de trabalho flexíveis para reduzir o congestionamento durante os horário de pico. Não podemos confiar no governo ou nos patrões das empresas para agir em nosso interesse. Isto deve ser conquistado a partir da luta – através da organização e divulgação dos sindicatos e dos comitês nos locais de trabalho. Máscaras, equipamento de higiene, aprimoramento das rotinas de limpeza e reuniões de informação durante as horas de trabalho pagas devem ser disponibilizadas a todos os trabalhadores. Os trabalhadores de Hong Kong e os sindicatos devem somar todos os esforços ao dos trabalhadores do continente para conquistar seus direitos e formar sindicatos para ganhar proteção e recursos adequados para enfrentar a crise. As lutas e sacrifícios dos trabalhadores hospitalares chineses nas cidades em crise como Wuhan, que sofrem falta de recursos e investimentos para lidar com a enorme escala da crise, nos deixam todos tristes e com raiva.
A solidariedade dos trabalhadores e os exemplos de construção de comitês de trabalho em Hong Kong podem inspirar os trabalhadores do continente a lutar por seus direitos. A ação coletiva organizada pela base é a melhor maneira de combater esta emergência, quando claramente não podemos contar com o governo para fazer o trabalho.
Os sindicatos de Hong Kong devem mobilizar-se com urgência e lutar por estas medidas:
- Criar os comitês de ação contra a epidemia em todos os locais de trabalho
- Direito de recusar ser enviado para a China para trabalhar
- Direito ao trabalho em horário flexível e ao trabalho em casa
- Direito de operar os comitês de ação contra a epidemia em horário de trabalho
- Retirar o recurso ao Tribunal Superior para reintroduzir a lei anti-máscara facial
- Não ao aumento dos salários da polícia. Financiamento de emergência para funcionários de saúde