Estados Unidos: como Bernie pode ganhar? Organizar para construir o movimento pelo socialismo

Bernie Sanders está passando crescendo nas pesquisas. Ele lidera em New Hampshire (26/11/2019) e Califórnia (LA Times, 05/12/2019) enquanto está sistematicamente derrotando todos os outros candidatos entre os jovens. Tudo isso apesar do boicote da imprensa e de uma recente campanha negativa tanto do Obama como dos Clintons.

A chamada de Bernie por um “Green New Deal” (programa de investimentos públicos com foco no meio ambiente), universidades sem mensalidades e “Medicare for All” (saúde pública para todos) entusiasmou milhares de pessoas ao redor do país. Os seus discursos e palavras de ordem vão para além da sua campanha de 2016 quando ele defendeu uma “revolução política contra a classe bilionária”. Agora, Sanders está dizendo que “bilionários não deveriam existir”, enquanto fala de uma “guerra de classes” e a necessidade de um “governo da classe trabalhadora”. 

A repercussão positiva que Sanders está recebendo reflete o aumento da raiva diante das injustiças do capitalismo. Em 2018 mais trabalhadores saíram em greve que em qualquer ano desde 1986. A onda de greves continua com sindicalistas atuando contra os baixos salários, cortes na educação pública e todas as concessões feitas aos patrões no passado. Jovens de todo o mundo estão saindo das escolas demandando justiça ambiental com a palavra de ordem “mudança de sistema, não mudança climática”. Ao redor do mundo, nós vemos revoltas em massa surgindo, protestos determinados em curso e greves gerais contra a opressão e a exploração. Dezenas de milhares de jovens estão se organizando como socialistas.

Ao mesmo tempo, nós não devemos subestimar o que estamos enfrentando. O controle das grandes empresas sobre a mídia está agora bloqueando Bernie e eventualmente atacará visceralmente a sua campanha se esta continuar a ganhar força. Os bilionários criarão “Super PACs” (“comitês de ação política”, mecanismo legal para doações eleitorais de ricos e empresas) de fundos ilimitados para espalhar desinformação. O estabilishment do Partido Democrata usará todos os truques antidemocráticos imagináveis para bloquear essa nomeação, se necessário. E isso é apenas para conseguir nomeação, mesmo antes de bater de frente com o racista, sexista e reacionário “Predator in Chief” (chefe predador, Trump). 

Outros concorrentes

O establishment do Partido Democrata está lutando para encontrar a sua resposta tanto para Bernie Sanders como para Elizabeth Warren. Enquanto praticamente toda a classe dominante acha que mais quatro anos de Trump seriam preferíveis a Bernie Sanders, Warren é mais aceitável para eles do que Bernie. No entanto, mesmo o imposto sobre a riqueza proposto por ela é demais para muitos em Wall Street. Seria um pesadelo para os bilionários ver os dois primeiros colocados nas primárias serem candidatos que criticam Wall Street e são vistos em geral “à esquerda”.

Warren está tentando combinar suas credenciais como crítica de Wall Street com uma tentativa de apelar aos líderes do Partido Democrata. Ela recuou recentemente no “Medicare for All”, e o mais importante é que ela não fala em construir movimentos como Sanders. Warren não está atualmente recebendo dinheiro de doadores corporativos, mas indicou que estaria disposta a obter financiamento da classe bilionária em uma eleição geral. Os apoiadores de Sanders precisam explicar pacientemente aos eleitores que simpatizam com Warren que sua abordagem não vai conquistar mudanças mais profundas e será insuficiente para desafiar Trump e sua base.

A liderança pró-empresarial do Partido Democrata ainda não encontrou seu candidato de preferência. Kamala Harris já foi vista como uma candidata viável do establishment que poderia posar à esquerda e referenciar sua identidade como uma mulher negra, mas agora ela está fora da corrida junto com Beto O’Rourke, que já foi visto como uma “estrela em ascensão” do establishment. Joe Biden, apesar da sua liderança em algumas pesquisas, parece ser capaz de não fazer nada certo na campanha e é cada vez mais visto como um homem desligado da realidade. O establishment está em pânicoe lançaram novos cavalos para a corrida nesta fase tardia.

Apesar de gastar milhões de seu próprio dinheiro em propagandas bem produzidas que surgem por toda parte, os eleitores veem corretamente Michael Bloomberg como o que ele é: outro bilionário em busca de mais poder. O ex-governador de Massachusetts, Deval Patrick, não está ganhando força. Isto pode deixar o establishment com o prefeito Pete Buttegieg como uma opção principal, o que não é uma posição na qual eles esperavam se encontrar.

Enxotando Trump

Ao nos prepararmos para uma luta contra o establishment do Partido Democrata e depois, esperemos, contra Trump, devemos lembrar como Trump ganhou. Não foi a interferência russa que levou a uma vitória do Trump. Foi um ódio profundo ao establishment em 2016, e a nomeação do Partido Democrata à própria personificação da política empresarial de “business as usual” (“negócios, como sempre”) na forma da campanha de Hillary Clinton.

Os três anos da Trump na Casa Branca levaram a uma mudança para a direita na Suprema Corte, ao reforço da máquina de deportação de imigrantes, à corrupção sem fim, à separação de famílias na fronteira e a uma recuperação econômica que não chega aos bolsos da classe trabalhadora ou dos jovens. No entanto, a liderança democrata só agora está levando adiante o impeachment e apenas se limitando às relações de Trump com a Ucrânia. A maioria das pessoas não está assistindo às audiências do impeachment, mas isso pode mudar em janeiro, quando o caso chegar no Senado. O próprio Bernie Sanders tem a oportunidade de mudar o foco e intensificar a luta contra Trump.

Na sua intervenção, Bernie não deve se limitar à Ucrânia. As maiores razões para expulsar Trump do cargo são suas políticas antitrabalhadores e sua retórica que incentiva a extrema-direita. Será preciso um movimento para se livrar de Trump, e Bernie deveria convocar grandes manifestações e ações diretas em todo o país para reunir ativistas sindicais, ativistas ambientais que estão realizando greves pelo clima e todos aqueles que estão fartos do regime Trump, ao mesmo tempo em que deve enfatizar um programa positivo para lutar contra toda a classe bilionária.

Lições de 2016 e da Grã-Bretanha

As eleições de 2016 nos mostram que os democratas corporativos tediosos não têm uma estratégia clara para derrotar o Trump. Depois de terem prometido “esperança” e “mudança” nos anos Obama, os jovens e muitos trabalhadores ficaram desapontados com salvamento de bancos, a guerra continuada e os níveis recorde de deportações. Em todo o mundo, os partidos do establishment estão perdendo autoridade, e os populistas de direita estão ganhando terreno quando a esquerda não está bem organizada ou politicamente clara o suficiente para representar uma alternativa ao capitalismo.

Em 2016, Bernie infelizmente cometeu o erro de apoiar acriticamente a fracassada campanha de Hillary Clinton. A Socialist Alternative (seção irmã da LSR nos Estados Unidos) e Kshama Sawant defenderam que Bernie “mantenha a candidatura até novembro” e construir um novo partido capaz de derrotar Trump. Coletamos mais de 130 mil assinaturas, mas Bernie infelizmente não concordou conosco. Se Bernie tivesse mantido a candidatura até o fim em 2016, ele poderia ter derrotado Trump nas urnas. Mesmo que não tivéssemos tido sucesso nas eleições de 2016, um novo partido poderia ter dado aos trabalhadores e aos jovens um centro organizador para lutar contra Trump, a ala direita e o sistema de onde surgiram.

Com a recente eleição na Grã-Bretanha do conservador Boris Johnson contra o trabalhista Jeremy Corbyn, o establishment afirma que Corbyn não conseguiu vencer porque era “radical demais” e está usando isto para dizer que Bernie não consegue vencer Trump. A verdade é oposta. Um dos maiores erros de Corbyn foi não estar disposto a travar uma luta contra a ala pró-empresarial do seu partido que o minou em todas as fases. A direita do Labour, liderada por Tony Blair, juntou-se entusiasticamente à campanha de George Bush na guerra do Iraque e impôs cortes orçamentais brutais aos serviços sociais em toda a Grã-Bretanha, mas Corbyn comprometeu-se constantemente com eles e recusou-se a organizar os seus apoiadores num movimento para se opor tanto aos conservadores como à direita trabalhista. Quando a mídia acusou Corbyn de ser “inapto para governar” ou “antisemita”, ele ficou sem uma força organizada para combater isso, e ele já havia cedido terreno a esses argumentos dentro do seu próprio partido. Agora, além do Trump nos Estados Unidos, temos um regime de direita na Grã-Bretanha que será enfrentado com resistência.

A Socialist Alternative quer derrotar Trump e o sistema capitalista que dá origem a monstros como ele. Mesmo que Trump fosse derrotado em 2020 e substituído por um democrata empresarial, a direita ressuscitaria de forma ainda mais hedionda se tivéssemos outro regime “liberal” que nada fizesse em relação à desigualdade, racismo, sexismo e destruição ambiental. Neste momento, precisamos construir o tipo de campanha e organização que possa desafiar toda a classe bilionária e seus políticos em ambos os partidos.

A campanha precisa construir um movimento

É bom que Bernie fale em ser um “organizador-chefe” e use suas listas de e-mail para mobilizar seus apoiadores para fazer greves de piquete e protestos. É preciso fazer mais para transformar esta campanha num movimento formidável para vencer.

A Socialist Alternative apoiou Sanders e vai “com tudo” pela sua campanha durante os próximos meses. Apresentaremos resoluções em nossos sindicatos para apoiar Sanders, que é parte de um debate mais amplo no movimento dos trabalhadores. Os socialistas defendem sindicatos que são dirigidos democraticamente e lutam por todos os trabalhadores, em vez de apenas tentarem aconchegar-se às grandes empresas e aos seus políticos. A campanha de Sanders é uma oportunidade para reunir os trabalhadores que querem lutar contra o capitalismo não apenas pelos próximos meses, mas para além deles.

Nós também nosorganizaremos em nossos bairros e universidades pelo Sanders. Nosso trabalho de campanha precisa ser um processo de formação política em luta com reuniões para discutir os melhores argumentos e estratégias para derrotar Trump e os bilionários. Para contrariar as mentiras de Trump, o boicote da mídia e o establishment democrático, dezenas de milhares de novos ativistas precisarão ser rapidamente formados através desta campanha sobrea necessidade de movimentos de massa, luta de classes e política socialista intransigente para arrancar vitórias para melhorar nossas vidas.

Para este fim, precisamos de uma conferência de todos os apoiadores do Sanders neste verão, independente do resultado das primárias. Essa conferência organizadora deve discutir os próximos passos na luta pelo “Medicare for All”, pela universidade sem mensalidades, um “Green New Deal” e uma revolução contra a classe bilionária. A Socialist Alternative defende que esta conferência deveria lançar as bases para um partido da classe trabalhadora neste país que é vital para alcançar a mudança decisiva que precisamos e romper o poder da classe bilionária de uma vez por todas.

Socialist Alternative irá “com tudo” na campanha de Sanders

A Socialist Alternative está construindo a campanha Sanders por todo o país, ajudando a criar grupos em locais de trabalho, comunidades e universidades para lutar por uma revolução contra a classe bilionária. Nós iremos deporta emporta, realizando discussões políticas em grupos que se reúnem para assistir os debates coletivamente, e levando adiante as discussões em nossos locais de trabalho e sindicatos sobre a campanha do Sanders e o caminho para a vitória. Trazemos conosco considerável experiência recente na conquista de vitórias substanciais para os trabalhadores que podem ajudar nosso movimento mais amplo a derrotar Trump e a classe dominante.

Em novembro, a Socialist Alternative obteve uma enorme vitória ao derrotar Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, que tentou destituir a nossa vereadora socialista em Seattle, Kshama Sawant. Lutamos contra não apenas os executivos da Amazon, outras empresas e republicanos ricos, mas também contra o establishment do Partido Democrata e um setor de líderes sindicais conservadores para vencer a reeleição.

O que essa vitória exigiu foi uma organização coesa, uma constante discussão política profunda sobre as mudanças no terreno eleitoral e um exército de ativistas fazendo campanha de porta em porta para responder aos constantes ataques contra nós. Acima de tudo, esta foi uma tarefa política, e a nossa visão de uma abordagem de construção de movimento, a luta de classes determinada e a necessidade de mudanças socialistas fundamentais guiaram as nossas táticas bem sucedidas.

Ao contrário da maioria das outras campanhas eleitorais, centenas de jovens que enfrentavam um futuro sem saída sob o capitalismo tornaram-se ativos para apoiar Kshama Sawant por causa de nossa abordagem socialista. Agora queremos vincular a campanha de Sanders à mobilizaçãodejovens e trabalhadores contra as injustiças que enfrentamos todos os dias, com aluguéis estratosféricos, polícia racista, serviços sociais insuficientes e níveis recordes de desigualdade.

Acreditamos que a campanha Sanders deve desenvolver estruturas democráticas para engajar plenamente as dezenas de milhares de jovens e trabalhadores que querem se envolver. Este seria um passo fundamental para o novo partido que precisamos. Os trabalhadores têm o poder potencial para derrubar este sistema e mudar a sociedade aqui e em todo o mundo. Vamos nos organizar e lutar por um futuro socialista! Junte-se hoje à Socialist Alternative!

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