“É pra valer?”

 A pergunta, vinda de trabalhadoras e trabalhadores foi recorrente às vésperas da greve geral convocada para o dia 14 de junho. Havia uma expectativa na paralisação dos transportes, e boa recepção aos panfletos falando sobre a necessidade de derrotar a Reforma da Previdência.  

Que a vitória de Bolsonaro nas eleições tenha representado uma enorme derrota para aquelas que estão na linha de frente das lutas em defesa dos direitos e contra os retrocessos, isso é evidente. Mas o #EleNão e o movimento do Vira Voto ainda durante a eleição conseguiram dinamizar e impor também um clima de resistência. 2019 segue sendo um ano com muitas lutas explosivas por todo o Brasil.

O 15 de maio foi um exemplo do potencial incendiário que pode vir como rejeição a medidas de austeridade, como os cortes na Educação e a Reforma da Previdência, nesse caso, combinados com pronunciamentos do Governo que revelam um viés elitista e ignorante, ao debochar de estudantes e trabalhadores, chamar de idiotas e dizer que a Universidade é lugar de balbúrdia.

No dia 15, mais de um milhão de pessoas foram às ruas e querendo mais. O ato no dia 30 de maio, um ato significativo, ainda que menor que o do dia 15, especialmente por não contar com tantas paralisações de trabalhadores da educação. Ainda assim, cumpriu seu papel e manteve as pessoas nas ruas.

No dia 14 de junho, apesar da convocação de todas as Centrais Sindicais para uma greve geral, o recuo de categorias importantes como dos condutores de ônibus, em várias cidades, fez com que houvesse uma adesão menor quando comparada à da greve geral de 2017. No entanto, a data foi importante em relação às outras mobilizações esse ano. 

Para além das grandes manifestações unificadas, o dia contou com diversas ações nas ruas como bloqueios de rodovias, fechamento de garagens de transportes públicos e piquetes em locais de estudos e trabalho logo pela manhã, combinados com greve de setores importantes. Estima-se milhões de trabalhadores envolvidos de alguma forma nas mobilizações desse dia. 6

Não é pouca coisa o que realizamos nesses primeiros seis meses, mas para defender nossos direitos, em especial barrar a contra reforma da previdência, sem dúvida é preciso muito mais do que foi feito até hoje. As Centrais Sindicais, em nota publicada no dia 17 de junho, avaliam como muito positiva a greve geral e apontam uma nova reunião ao final de junho. Em 2017, um dos grandes erros foi a lentidão para uma nova data de luta após um dia vitorioso de greve geral. 

Há um sério risco de perdermos o ímpeto das mobilizações. Boa parte das Centrais e burocracias sindicais não apresentam disposição para de fato derrubar a reforma, por isso é muito importante apostar na construção pela base, que possam pressionar as direções para uma agenda de luta a altura do desafio. Em 2017, a construção nas ruas dias antes da greve ajudaram a criar um clima, aumentar a disposição de trabalhadores enfrentarem seus patrões e pressionar as Centrais para que não recuassem.

As organizações nos bairros, locais de estudo e trabalho, com comitês que apostaram em ações descentralizadas, não só no dia 14, mas na preparação da greve, com panfletagens e atividades de mobilização, foram um elemento positivo, porém insuficiente. Devemos apostar para o próximo período no impulsionamento de mais espaços como esse. Banquinhas e panfletagens nas ruas devem ser permanentes, para conversar com mais pessoas e ganhar mais gente para luta!

A onda de ataques à aposentadoria, educação, saúde, aos direitos indígenas, ao meio ambiente, combinados com escândalos como o dos vazamentos que revelam as farsas do sistema judiciário, colocam para nós a tarefa urgente de construir uma alternativa de poder nas mãos da maioria – trabalhadores, povo e juventude. 

E, apesar das grandes promessas do governo Bolsonaro, o emprego não veio, o PIB não cresceu, as desigualdades aprofundam e os escândalos permanecem. No entanto, apesar das constantes crises e escândalos semanais, o governo ainda não está derrotado, permanece como uma aposta das elites, especialmente em torno do tema da aprovação da Reforma da Previdência. 

Derrotar Bolsonaro através da derrubada da Reforma da Previdência e de seus outros ataques é tarefa urgente que as Centrais Sindicais, movimentos sociais, partidos de esquerda devem apontar. Apostar em negociar pontos da Reforma da Previdência ou esperar que o governo se enfraqueça sozinho até a próxima eleição é uma tática equivocada. 

O flerte com essas posições desmobiliza a luta atual e favorece o governo. Precisamos de uma nova greve geral e mais mobilizações de massas organizadas pela base com radicalidade e envolvimento massivo da população. Esse é nosso desafio. 

As lutas contra Reforma da Previdência precisam ir até o fim. A pergunta se “é pra valer” deve perturbar cada um e cada uma, mas é preciso ir além da pergunta. No Brasil se respira luta, mas para vencer é preciso ter mais fôlego! 

Fazemos o convite para todas e todos se somarem conosco para derrotar a agenda anti povo do governo Bolsonaro e construir conosco uma alternativa socialista.