Derrotar o golpe de estado na Venezuela
Esse artigo analisa a crise venezuelana e as manobras golpistas do imperialismo. Ele foi escrito antes do desfecho da provocação golpista utilizando-se do pretexto da ajuda humanitária no dia 23 de fevereiro. Levanta, porém, aspectos fundamentais da situação e aponta uma política anti-imperialista e de independência de classe para a Venezuela.
Com o objetivo de derrubar o presidente Maduro e entregar o poder a uma das direitas mais reacionárias do continente, o governo Trump desencadeou um golpe de Estado contra o povo da Venezuela.
O objetivo não é defender a democracia, mas sim apropriar-se dos fabulosos recursos petrolíferos do país (as maiores reservas o planeta) e iniciar uma devastadora agenda de contrarreformas políticas, sociais e econômicas.
Para isso conta com o apoio de governos reacionários e arquidireitistas como os de Bolsonaro no Brasil e Duque na Colômbia. Mas, também conta com a complacência ou apoio ativo às suas manobras por parte de governos “democráticos” e da União Europeia.
Após a autoproclamação do direitista Juan Guiadó como presidente interino, o governo Maduro enfrenta uma forte pressão internacional, com mais de 60 países declarando reconhecer o novo presidente.
Trump usa Guaidó como marionete
O objetivo da reação internacional liderada pela Casa Branca é isolar o regime de Maduro e dar uma aparência de conflito meramente institucional ao golpe em curso, usando Guaidó como uma marionete.
Trump e Guaidó, com apoio ativo de Bolsonaro e Duque, se utilizam do pretexto da ajuda humanitária a uma população que sofre com a escassez para mascarar suas intenções intervencionistas e golpistas. Guaidó e a oposição de direita tentam fazer os militares mudarem de lado.
Guaidó apelou aos militares para que ignorassem Maduro e colaborassem com o golpe em troca da anistia. Nestas circunstâncias, isso significa que o alto comando militar continuaria com seus negócios em troca de obediência.
Guaidó e a direita venezuelana pretendem aproveitar o desespero e indignação popular diante do colapso econômico e social. O PIB caiu 50% nos últimos quatro anos e os preços dos produtos básicos subiram em cerca de mil por cento desde o início de 2019.
Guaidó prepara ofensiva neoliberal
Mas, se Guaidó chegar ao poder, seu programa econômico não se diferenciará em nada do adotado por Macri, Bolsonaro e Trump: tudo para os ricos e nada para os pobres. Implementarão todo tipo de contrarreformas, privatizações, demissões massivas e mais regalias para a oligarquia parasitária que já governou a Venezuela por década.
Para restaurar o domínio no continente Trump precisa remover adversários poderosos como a China e a Rússia. Essas potências não irão renunciar a cobrança das dívidas que do governo venezuelano e muito menos desistir da influência política sobre um país rico em petróleo.
A Rússia, através da gigante do petróleo Rosneft, investiu 20 bilhões de dólares na Venezuela desde 2006. A China, por seu lado, é principal credora da dívida pública venezuelana. Além disso tem investimentos petroleiros significativos no país. Inicialmente Pequim demonstrou apoio a Maduro, mas foi atenuando a ênfase com o passar dos dias, mostrando que estaria preparando-se para uma possível queda abrupta do governo.
Maduro, os militares e a burocracia do PSUV não defendem o socialismo
Durante anos, Maduro tentou permanecer no governo dando mais e mais concessões, poder econômico e peso no governo à liderança militar, acentuando dessa maneira o caráter bonapartista do regime venezuelano. Isso contribuiu para aumentar a corrupção, mas não servirá para garantir a lealdade das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB).
Os ataques da burguesia à economia e às políticas reformistas estão na base da gravíssima crise econômica, piorando consideravelmente os padrões de vida e praticamente eliminando as reformas sociais promovidas por Chávez. Cada anúncio econômico do governo é respondido pela burguesia com aumentos nos preços. Instantaneamente os salários evaporam diante dos altíssimos níveis de inflação.
A política criminosa adotada por Maduro para reprimir dezenas de milhares de trabalhadores que participaram de greves e manifestações sindicais, junto com a formação de um aparato burocrático que acumulou privilégios insultuosos e realiza negócios suculentos com essa mesma burguesia à qual supostamente diz que combate, causou uma perda da credibilidade e apoio popular que o chavismo havia conquistado por um longo tempo.
Revolução incompleta
A revolução venezuelana não foi levada até às últimas consequências e ao ficar no meio do caminho, a contrarrevolução ganhou espaço. O papel da burocracia em liquidar as conquistas da revolução bolivariana permitiu o avanço da reação. Foi sobre essas bases que a direita recuperou a iniciativa e agora lança essa nova ofensiva pelo poder.
O programa aplicado por Maduro e pelos líderes do PSUV está anos-luz de distância das expectativas de “socialismo” anunciadas e do que milhões de pessoas esperavam em 2013, quando votaram pela manutenção de planos sociais, nacionalizações e melhorias nas condições de vida realizadas por Hugo Chávez.
Organizar a resistência partindo da organização independente dos trabalhadores
A primeira tarefa da classe trabalhadora e do povo consciente e combativo da Venezuela é organizar a resistência contra o golpe, começando por denunciar os verdadeiros objetivos do Guaidó, da direita e do imperialismo.
É preciso que se promovam assembléias em cada empresa e local de trabalho, que se criem comitês de ação em defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo e se construa um programa de classe genuinamente socialista, que proponha a expropriação de grandes monopólios privados e a atividade bancária, acabe com a hiperinflação e a corrupção, promova a abolição dos privilégios da burocracia e dê o poder real às mãos da classe trabalhadora e dos oprimidos. Devemos organizar mobilizações massivas e e a legítima autodefesa do povo contra a violência da direita.
A experiência dos últimos anos mostra que não podemos ter a menor confiança no governo de Maduro, na burocracia ou na oficialidade do Exército se quisermos evitar a vitória da reação. Foram suas políticas, sua burocracia e sua corrupção que facilitaram o caminho para a direita e o golpe. A classe trabalhadora e o povo devem assumir para si a tarefa de derrotar a direita.
A única maneira de evitar um desfecho trágico para a classe trabalhadora e o povo da Venezuela é levantar uma frente unida de esquerda, independente daqueles que causaram este desastre, para lutar abertamente pela conquista do poder para estabelecer um governo dos trabalhadores e do povo com base numa democracia direta e socialista.