Declaração de 1° de Maio do CIO: Faça do capitalismo história – lute pelo socialismo!

No 1° de Maio trabalhadores e socialistas exaltam e celebram as lutas passadas assim como nos comprometemos novamente ao espírito e à prática da solidariedade internacional, da luta e do socialismo.

Este ano as marchas e eventos do 1° de Maio se oporão ao imperialismo e a pobreza, e exigiram mudanças no sistema – a superação do capitalismo. Nós desejamos transformar em história não apenas a pobreza mas o sistema que a cria – capitalismo. Apenas a criação de uma sociedade socialista – uma sociedade baseada nas necessidades das pessoas e não no lucro – pode ver o fim das guerras e da pobreza.

Basta refletirmos por um momento sobre os horrores infinitos do capitalismo moderno para ver a necessidade de construir organizações socialistas de massas para superar esse sistema injusto.

O capitalismo em 2005 é um sistema completamente podre que é incapaz de avançar a humanidade. A ocupação e agressão imperialista continua no Oriente Médio, e em outros lugares, enquanto as incertezas econômicas e sociais pioram.

O sistema baseado no lucro significa pobreza endêmica, desempregos, destruição ambiental, guerras, difusão de doenças preventíveis e da AIDS (60 milhões de pessoas estão infectadas com HIV, 92% vivem na África), dívidas gigantescas do ‘Terceiro Mundo’, e um sistema de comércio internacional que favorece enormemente os principais países imperialistas.

A economia mundial está à beira do precipício. As contradições inerentes do mercado econômico capitalista significam que grandes choques econômicos estão para acontecer, incluindo recessões agudas e mesmo um colapso. Isso irá destruir a vida de milhões no Ocidente e empurrará ainda mais os países pobres para o abismo.

Todas as grandes promessas das “metas do milênio” da ONU até 2015 – do fim da pobreza e da mortalidade infantil e da universalização da educação – não serão atingidas enquanto houver capitalismo e sociedade de classes. Apesar do crescimento econômico global, 840 milhões de pessoas estão subnutridas em todo o mundo. Ao menos 96 países não estão nem perto de atingir a educação para todos em 2015. Mais de 104 milhões de crianças não têm educação formal. O desemprego no mundo atingiu o recorde de 185,9 milhões em 2003.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a expectativa de vida está caindo e a mortalidade infantil está crescendo nos países mais pobres assim como alarga-se a disparidade na assistência médica.

Ao mesmo tempo, o governo do Bush gasta o valor astronômico de 20 bilhões de dólares em sua guerra no Iraque e muito mais em sua ocupação. Bush distribuiu isenções fiscais para os ricos, enquanto atacava as condições e direitos dos trabalhadores nos EUA.

Aproximadamente 35 milhões de americanos tem que sobreviver sem a alimentação necessária e 8 milhões de crianças pertencem aos subempregados. Os EUA, o país mais rico do mundo, estão no fundo da estatística de ‘mobilidade social’ no Ocidente, seguidos pela Grã-Bretanha, a quarta economia mais rica. A desigualdade de renda avançou no mesmo tempo em que a diferença no acesso à educação dos mais ricos e dos mais pobres cresceu. Cerca de 13 milhões de americanos e 3,6 milhões de britânicos vivem abaixo de linha da pobreza.

A economia de mercado dos patrões está baseada sobre a implacável exploração do trabalho, a opressão e a violência, e na tentativa de dividir a classe trabalhadora através das linhas da religião, da raça, da nacionalidade e do sexo.

Resistindo ao imperialismo

Mas a resistência da classe trabalhadora aos patrões cresce pelo mundo. Um exemplo espetacular disso foi o movimento de massas no Equador, em abril, que derrubou o Presidente Lucio Gutierrez e rejeitou completamente suas políticas neoliberais. Essa é uma indicação magnífica do desenvolvimento do ânimo revolucionário impulsionando a América Latina – um processo que pode atingir eventualmente todo o mundo.

A única força na sociedade que pode superar o capitalismo e criar uma democracia socialista é a classe trabalhadora, ao lado da juventude radical, as classes médias e os pobres e excluídos. Os métodos de luta da classe trabalhadora, por exemplo, a greve e a greve geral, são as forças mais poderosas para a mudança global.

Como oposição à globalização capitalista – i.e. a superexploração da classe trabalhadora em escala mundial – o CIO defende a solidariedade dos trabalhadores e o socialismo internacional, que veria o planejamento da produção mundial sob o controle democrático dos trabalhadores. Mesmo hoje, sob o capitalismo, as grandes corporações planejam em escala mundial, apesar de que isso é sujeito ao caos do mercado e a curta permanência dos lucros.

Apenas um mundo socialista pode tirar a humanidade do pântano da pobreza, do desemprego e do subdesenvolvimento, e acabar com a opressão, a violência, o desastre ambiental e a exploração de classe.

O desastre no Iraque

O dia 19 de março marcou o segundo aniversário da guerra imperialista estadounidense contra o Iraque. Essa aventura imperialista é uma catástrofe ao povo iraquiano. Mais de 100.000 iraquianos foram mortos graças à invasão e a ocupação e mais 1.500 soldados americanos. Dezenas de milhares de soldados americanos estão feridos (várias dezenas de milhares de iraquianos também foram feridos mas os ocupantes se recusam a dar esses números).

A ocupação altamente impopular pode apenas ser mantida pela força bruta. Há 17.000 presos, a maioria sob o controle americano. A Human Rights Watch aponta a tortura de membros dos grupos oposicionistas, prisões arbitrárias e tortura de crianças mantidas em instalações para adultos. Mulheres são feitas reféns pelos soldados americanos para forçar que os parentes masculinos fugitivos se entreguem. Os EUA foram forçados a admitir que usam armas proibidas, incluindo a bomba incendiaria MK-77, uma forma moderna da napalm. De acordo com o relato de um especialista da ONU para a comissão de direitos humanos da organização, o bloqueio de comida e a destruição dos reservatórios de água durante o cerco a Falluja no ano passado foram “usados como uma arma de guerra”.

Ignorando a realidade, o governo Bush e seus aliados pró-guerra apontam um ponto de inflexão no Iraque, com a criação do novo governo iraquiano e a diminuição das baixas militares americanas, construindo o caminho do crescimento econômico. Isso “valida” a guerra e a ocupação.

Mas o Iraque ainda está muito violento, com assassinatos, ataques suicidas, assaltos mortais e seqüestros (5.000 nos últimos 15 meses, de acordo com o ministro do interior do Iraque), fazendo parte do cotidiano. O ‘triângulo’ sunita permanece em revolta e a vasta maioria dos iraquianos se opõe à ocupação. Mais de 300.000 se manifestaram em 19 de março, em Bagdá, juntos com milhões internacionalmente, reivindicando o fim do mando imperialista e a libertação dos presos políticos. Quatro milhões de iraquianos permanecem no exílio, e, obviamente, muitos estão se juntando a eles.

Suprimentos de petróleo e eletricidade estão menores do que no ano passado. O FMI diz que 60% dos iraquianos vivem subnutridos. Sob o tirano antigo (e aliado do Ocidente), Saddam Hussein, 4% das crianças com menos de 5 anos passavam fome, enquanto em 2004 8% estavam nessa situação. Segue-se a isso as sanções da ONU, impostas em 1990, que se estima ter levado a morte meio milhão de crianças iraquianas até 1995. Menos que um quarto dos 18,4 milhões de dólares prometidos pelos EUA para ‘reconstruir’ o país foram desembolsados.

Além do mais, como os meses de intensos conflitos na configuração do novo governo mostram, o desmembramento do Iraque através de linhas nacional, étnica e religiosa, e mesmo uma guerra civil, são possíveis.

O imperialismo estadounidense está num pântano em que ele mesmo se colocou. Tentativas de construir as forças armadas iraquianas para lidar com a resistência resultou num número crescente de baixas iraquianas se juntando à lista de mortos da tropa americana. Isso significa mais mortes iraquianas e americanas, para que o imperialismo americano possa assegurar esse país rico em petróleo e estrategicamente vital.

A opressão aos palestinos

A raiva difundida no Oriente Médio e internacionalmente com a ocupação do Iraque está junta com o apoio de Bush à opressão do Primeiro Ministro Sharon aos palestinos. Sharon mostra claramente que enquanto Israel retira-se de Gaza, os assentamentos ilegais na Cisjordânia irão aumentar. O ‘plano de paz’ patrocinado pelos EUA veria a Palestina dividida em pobre ‘bantustões’ dependentes de Israel.

O CIO exigi a imediata retirada das forças americanas do Iraque. Nós apoiamos o direito dos iraquianos a resistirem à ocupação imperialista e chamamos para uma força defensiva inter-étnica, sob o controle democrático dos trabalhadores. Nós também defendemos uma auto-determinação genuína dos palestinos, para uma Palestina independente e socialista e por um Israel socialista, como parte de uma confederação socialista da região.

Mas nós nos opomos aos métodos e políticas de todos os grupos políticos islâmicos e reacionários, que se opõem aos direitos das mulheres, da juventude e da classe trabalhadora. Nós condenamos o sectarismo e as atrocidades sectárias, que matam inúmeros iraquianos a cada semana.

Apenas organizações independentes dos trabalhadores podem unir os trabalhadores e a juventude do Iraque, num programa socialista. O CIO defende uma federação socialista no Iraque, e um Oriente Médio socialista, com a única forma de transformas as condições de vida e a intervenção imperialista.

A Casa Branca miraram o Irã e a Síria. Mas a enorme impopularidade da guerra do Iraque, e as manifestações de protestos que isso provocou – a maior da história – significa que a habilidade de Bush para lançar novas guerras é limitada. Isso mostra o poder das massas, mesmo de uma forma parcial. A tarefa para os socialistas internacionalmente é construir movimentos políticos poderosos que não apenas oponham às intervenções imperialistas mas também lute para superar o sistema capitalista que cria o militarismo e a guerra.

Isso se aplica de mesma maneira aos EUA, a única superpotência mundial. A desigualdade social cresceu enormemente nos EUA, já que o governo Bush ataca a classe trabalhadora em todas as frentes, incluindo as questões sociais. O Partido Republicano é fortemente influenciado pela poderosa corrente fundamentalista de direita dos grupos cristãos que têm uma agenda social reacionária. A ideologia reácionária é útil para a classe dominante, que quer desmantelar todos os ganhos da classe trabalhadora. A atenção simpática sem precedentes dada pela mídia ao funeral do Papa João Paulo II, e ao anúncio do Papa Benedito, refletem a vontade da classe dominante de usar a religião para desviar a raiva da classe trabalhadora, enquanto, ao mesmo tempo, promove as mais reacionárias correntes das Igrejas.

Governos impopulares ocidentais

A guerra profundamente impopular e a desastrosa ocupação são a ‘música de fundo’ para as eleições parlamentares na Inglaterra. Pesquisas indicam que Tony Blair retornará ao poder, mas com uma maioria muito mais reduzida, devido ao seu papel na guerra, as mentiras que usou para justificá-la, e suas políticas internas de direita.

Os candidatos do Socialist Party (CIO) estão disputando mandatos por toda a Grã-Bretanha, incluindo a área que contém a fábrica de carros Longbridge MG Rover, que está em processo de falência. A chamada do partido para a ocupação imediata e a nacionalização da fábrica está tendo ótima resposta.

O apoio a guerra do Iraque também é um fator importante que levou a crise atual governo de coalizão do Primeiro Ministro italiano Silvio Berlusconi, assim como suas tentativas de aplicar ataques neoliberais aos trabalhadores.

A crise ameaça outros governos europeus. O presidente Chirac encara o prospecto de uma derrota humilhante no referendo da constituição européia. Trabalhadores franceses vêem corretamente a constituição como nova tentativa de ataque aos seus padrões de vida e sua condições de trabalho, depois de anos de assaltos neoliberais pelo governo francês de Jean-Pierre Raffarin. O voto é também um referendo das políticas de direita de Chirac.

Se o voto ‘Não’ ganhar em 29 de maio, será um enorme golpe para o governo francês e colocará todo o projeto da constituição em crise. Mas isso não será o fim dos ataques. A classe dominante européia, exigindo mais exploração e lucros exorbitantes, pois competem com outros blocos econômicos, vai garantir que os governos da Europa voltem com planos neoliberais, e novos projetos da União Européia (UE).

O CIO rejeita a UE dos patrões. Mas nós também nos opomos à direita, os argumentos nacionalistas anti-UE, que dividem os trabalhadores e incentivam os sentimentos contra a imigração e os estrangeiros. Nós reivindicamos uma Europa da genuína solidariedade e cooperação dos trabalhadores – uma confederação socialista dos estados europeus, sobre bases voluntárias e iguais.

O movimento dos trabalhadores por toda a Europa deve lutar contra a agenda dos patrões, os partidos de direita, e suas políticas de dividir para governar, assim como as tentativas de incentivar sentimentos contra os imigrantes e o direito a asilo. As idéias reacionárias são um grande aspecto da eleição geral na Grã-Bretanha, onde os principais partidos não têm nenhuma diferença ideológica real apenas discutem como administrar o governo dos grandes patrões.

Além do mais, os partidos de extrema-direita e populistas/ nacionalistas de direita por toda a Europa podem conseguir ganhos eleitorais jogando com as preocupações da população com o desemprego, a falta de moradia, salário e com um Estado de bem-estar.

Parlamentar do CIO luta contra o racismo e a exploração

O CIO tem uma longa e honrosa história de lutar contra todas as formas de discriminação racial, religiosa, sexual ou de gênero. Nós defendemos moradia, trabalho e salário decentes para todos, e enorme investimentos no bem-estar social. Os socialistas também mostram na ação como lidar com o racismo e unificar a classe trabalhadora.

O membro do Socialist Party no Parlamento Irlandês, Joe Higgins, tem um papel chave na luta dos imigrantes turcos que trabalham na construtora GAMA pelo pagamento de seus salários. Os trabalhadores irlandeses têm respondido animadamente a essa campanha, colocando a GAMA e o governo irlandês sob enorme pressão e conseguindo concessões da companhia.

Isso mostra o que apenas um lutador, um representante socialista no parlamento – um parlamentar trabalhador com remuneração de trabalhador – pode fazer pela classe trabalhadora. O perfil de Joe está em contraste extremo aos carreiristas, parlamentares da direita social-democrata e outros representantes eleitos no parlamento irlandês, por certo, nos parlamentos por todo o mundo.

Na Alemanha, Suécia, Inglaterra, Irlanda e Austrália, o CIO elegeu representantes públicos que lutam para a classe trabalhadora, os pobres e oprimidos. Na Irlanda do Norte, os membros do Socialist Party, que lutam pela unidade dos trabalhadores e pelo socialismo contra os fanatismo sectário e os partidos dos patrões, estarão disputando mandatos de vereadores em maio.

Onde é possível, o CIO também trabalha com outros companheiros da esquerda ou com outros candidatos da comunidade e dos trabalhadores. O SAV (CIO alemão) é parte de um novo partido de oposição, ‘Alternativa Eleitoral – trabalho e justiça social’ (WASG). No entanto, se esse novo partido se desenvolverá para desafiar seriamente o Partido Social-Democrata de Schroeder e os outros principais partidos pró-capitalistas, e se satisfará todas as necessidades dos trabalhadores, a WASG deverá adotar políticas socialistas.

As seções do CIO são também tendências importantes em vários partidos de esquerda, como no Scottish Socialist Party (Escócia), no Partido Socialista holandês, no Bloco de Esquerda em Portugal, no PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) no Brasil, e no National Conscience Party na Nigéria. O CIO defende políticas socialistas e trabalha para construir esses partidos com um programa que resistirá as inevitáveis pressões das políticas reformistas. Não há garantia que essas novas formações de esquerda irão ter sucesso – isso depende fundamentalmente do programa e das idéias e de ser uma instância independente de classe.

O CIO defende novos partidos dos trabalhadores que podem atrair a classe trabalhadora e a juventude radical com programas combativos e socialistas e com campanhas nos locais de trabalho e nas comunidades das classe trabalhadora.

Trabalhadores fazem greve

Nos últimos anos, os trabalhadores têm feito greves e protestos de massas contra os cortes governamentais na Alemanha, Holanda, Itália, França e outros países europeus. Em 2004, greves gerais ocorreram na Grécia, Itália, Nigéria e Índia. Mais batalhas de classes se aproximam, inclusive na Austrália, contra as reformas nas relações sindicais do Primeiro Ministro John Howard.

Infelizmente, a burocracia sindical consevadora se recusa a tomar uma ação decisiva, como greves gerais, envolvendo todos os trabalhadores, públicos e privados. Isso se aplica da mesma forma ao mundo neocolonial. Dirigentes do Nigerian Labour Congress (NLC) cancelaram uma greve geral contra o aumento do preço dos combustíveis, em novembro, após outro cancelamentos de atividades sindicais. Isso levou a uma desmoralização entre setores das massas nigerianas. Entretanto, o Democratic Socialist Movement (CIO) na Nigéria está confiante que as condições terríveis de vida na Nigéria, e os novos ataques do governo, irão colocar de volta a classe trabalhadora no caminho da luta.

Para derrotar os ataques do governo e dos patrões, e conseguir melhores condições e padrões de vida, os sindicatos precisam ser estruturas de classe para luta dos membros de base. Isso requer transformá-los em combativas organizações democráticas.

A economia mundial “perigosa e intratável”

A economia mundial está em um estado frágil e enfrenta grandes convulsões que quebrarão as vidas de milhões de trabalhadores. Apesar deste futuro desastre, muitos economistas apontaram para o crescimento do produto global de 5% do último ano como uma razão para ser otimista. Mas esta atitude não é compartilhada por analistas sóbrios. O ex-presidente do Banco Central dos Estados Unidos, Paul Volcker, recentemente escreveu: “As circunstâncias me parecem como mais perigosas e intratáveis do que qualquer uma que eu lembre e eu posso lembrar de muitas. O que realmente me preocupa é que parece existir pouca disposição ou capacidade para fazer algo em relação a isto” (Citado de The Economist, 16 de abril de 2005).

Um editorial do The Economist avisa: “Sob uma superficial resistência, a economia mundial vem tornando-se cada vez mais frágil” (16 de abril de 2005).

Enquanto as economias dos Estados Unidos e da China têm um rápido e grande crescimento, as da Europa e do Japão estão caindo cada vez mais. A recuperação do Japão em 2004 parou e o crescimento esperado para 2005 é de meros 0,8%. A perspectiva para os países europeus é também desolada, com alto desemprego e mercados domésticos fracos. O FMI diminui suas previsões de taxas de crescimento para a região européia para apenas 1,6% este ano.

O reduzido crescimento da economia mundial significa que os desequilíbrios estão piorando. Maiores dívidas externos nos Estados Unidos e um déficit de mais de 7% no Produto Interno Bruto (PIB) são esperados ao fim de 2005.

Altos preços de petróleo agravam e complicam estes desequilíbrios. Eles enfraquecem futuras demandas domésticas na Europa e aumento a conta de importação dos Estados Unidos. O mundo está, imensamente, dependendo nos consumidores norte-americanos como um motor para o crescimento e, por sua vez, a economia dos Estados Unidos confia na continuidade do crescimento da China.

Esta situação não pode durar indefinidamente. Tensões comerciais entre os poderosos estão crescendo. Fatores numerosos, tal como o aumento nas taxas de juros norte-americanas ou mudanças nos preços do petróleo podem levar a uma aguda recessão nos Estados Unidos ou na China, o que teria um efeito catastrófico globalmente. Matthew Simmons, um consultor da Wall Street para o presidente Bush, recentemente avisou que “era inevitável que os preços do petróleo superassem os US$100, já que as provisões falharam em atender a demanda”, engatilhando o colapso econômico (Guardian, Londres, 26 de abril).

Milhões de trabalhadores podem encontrar o desastre nas condições de recessão ou depressão. Mas tais golpes também compeliriam milhões de trabalhadores a lutarem contra os patrões e o sistema capitalista, apresentando duramente a necessidade de uma representação política para os trabalhadores e de uma nova sociedade.

 A desigualdade cresce

A pobreza e a desigualdade social crescem implacavelmente sob este sistema guiado pelo lucro com 852 milhões de pessoas passando fome – comparado com 842 milhões no ano passado. Mais de 1,2 bilhões de pessoas vivem sob a linha da pobreza, ganhando menos que um dólar por dia.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde má nutrição e deficiências calóricas causam morte prematura ou deficiências adquiridas em, aproximadamente, uma a cada três pessoas. A cada dia morrem de fome 25.000 pessoas e 11 milhões de crianças com menos de 5 anos morrem a cada ano de fome ou doenças passíveis de prevenção.

A distância entre ricos e pobres é maior do que nunca. Em 1976 a Suíça era 52 vezes mais rica do que o Moçambique; em 1997 era 508 vezes mais rica. Somente 4% da riqueza das 225 pessoas mais ricas do mundo – US$40 bilhões – seria suficiente para cuidados básicos de saúde, comida, água potável, saneamento básico e educação para todas as pessoas do mundo (Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU).

Pobrezas e infra-estrutura pobre conduzem para enormes taxas de morte quando “desastres naturais” ocorrem no mundo neo-colonial, tal como foi visto no Tsunami. Mas as messas não devem apenas aceitar estes “atos de deus”. Com a assistência da solidariedade internacional dos trabalhadores organizada pela CIO, o Partido da União Socialista (United Socialist Party) no Siri Lanka proveu auxílio para sobreviventes do Tsunami na ilha e conduziu uma bem-sucedida campanha política contra a incompetência e corrupção governamental.

Da mesma forma, as campanhas da CIO na Nigéria, Índia, África do Sul, Paquistão e outros países neo-coloniais lutam por políticas independentes da classe trabalhadora contra a pobreza, a corrupção e as divisões religiosas, nacionais e étnicas que arruínam países pobres.

 “Transformar a Pobreza em História”?

No Ocidente muitos jovens são atraídos pela demanda feita aos grandes poderes de “Transformar a Pobreza em História” levantada por Nelson Mandela. Os grandes e radicais protestos anti-globalização durante os últimos anos tiveram um papel crucial em destacar a indignação à pobreza e à carga da dívida.

A Nigéria é um caso típico de um país esmagado por enormes dívidas. De acordo com Farouk Lawan, presidente do Comitê Financeiro do Congresso “a Nigéria pagou 3,5 bilhões de libras [esterlinas] para o serviço da dívida nos últimos dois anos, mas nossa dívida cresceu 3,9 bilhões de libras – sem nenhum novo empréstimo. Nós não podemos continuar” (Guardian, 26 de abril). Lawan também avisou que a Nigéria caminha para a suspensão de pagamentos, ao estilo argentino, em sua dívida externa.

Os terríveis custos sociais da dívida externa para a maior nação da África são vistos na morte de 79.000 crianças com menos de 5 anos, a cada mês, devido a falta de cuidados básicos de saúde, água potável, comida e abrigo. Falando no “Dia Mundial da Pobreza”, em 24 de abril, Tony Blair, oportunisticamente, usou a raiva das pessoas sobre estas injustiças para tentar ganhar votos para o Novo Trabalhismo nas próximas eleições parlamentares da Grã-Bretanha. Com a ajuda do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, Blair chamou os votantes para “voltarem-se à luta contra a pobreza global”. Blair e Clinton possuem uma boa razão para fazer este apelo – um terço dos votantes britânicos dizem que gostariam de votar em um partido que enfrente a pobreza global e 78% em um enquête britânica pensam que a Grã-Bretanha “precisa fazer mais”.

 Acabar com a dívida e a sociedade de classes

Mas a promessa de Blair de “lutar contra a pobreza” é uma grande hipocrisia. A ajuda internacional do governo britânico é de meros 0,34% do PIB. O objetivo para 2013 é de somente 0.7%. Além disso, o Novo Trabalhismo somente enxerga “soluções” para a pobreza, por meio do sistema baseado no lucro. Gordon Brown, o ministro das finanças britânico, incentiva os países pobres a “tomarem dinheiro emprestado nos mercados contra uma promessa de futuros orçamentos de assistência” (Guardian, Londres, 25 de abril). Em outras palavras, os países mais pobres devem aumentar sus dívidas sem qualquer possibilidade de serem capazes de pagá-las!

Os socialistas reivindicam uma anulação imediata da dívida e um fim ao sistema capitalista – que favorece os ricos nos principais estados imperialistas. Não há “comércio justo” sob o capitalismo, que é um sistema voltado ao lucro baseado na exploração, na opressão e na violência, todas no “Terceiro Mundo” e no Ocidente”. A pobreza é endemica neste sistema, assim como é o desemprego e a fome. As mulheres são as mais pobres entre todos. Elas fazem 67% de todo o trabalho no mundo, ganham 10% do que é pago no mundo e possuem apenas 1% das terras no mundo. Somente a transformação socialista da sociedade levará ao fim da pobreza e de todos os males da sociedade de classes.

O 1° de Maio em 2005 verá uma aproximação dos sindicalistas, ativistas anti-guerra e anti-globalização. A CIO de diversos países europeus vai também, entusiasticamente, participar nos grandes protestos durante a reunião do G8 em julho em Gleneagles na Escócia. Enquanto o capitalismo e o imperialismo existirem também existirá a pobreza, e exploração e a destruição ambiental, assim como a resistência das massas.

Cada vez mais, os trabalhadores e a juventude pelo mundo concluirão que necessitam de um partido para trazer estas lutas a uma conclusão bem-sucedida na transformação da sociedade.

 Protestos de pensionistas russos?

Mais de uma década atrás, sob o fogo contínuo da propaganda capitalista, muitas pessoas nas antigas ditaduras stalinistas esperavam que o retorno da economia de mercado levaria aos padrões de vida dos Estados Unidos ou da Alemanha. Ao invés disso, a última década foi uma amarga experiência.

Nestes estados, sob o jugo do mercado, as desigualdades sociais pioraram. A Rússia possui 36 bilionários – mais do que em qualquer outro país além dos EUA. O total de bens deles alcança 110 bilhões de libras esterlinas, ou 24% da produção econômica do país. A maior parte destes “novos ricos” pilharam as indústrias geridas pelo estado durante a restauração capitalista enquanto a maior parte dos russos entraram em uma profunda pobreza.

O início de 2005 demonstrou grandes protestos de massa por pensionistas através de toda a Rússia contra a “reforma”, do Presidente Vladimir Putin, dos benefícios sociais que conduz a pagamentos muito menores. O autoritário Putin foi, rapidamente, forçado a fazer concessões revelando a fragilidade de seu comando. O movimento de pensionistas, além de outros protestos em relação a taxas de educação e aumento dos combustíveis, preparam o caminho para o desenvolvimento de políticas classistas na Rússia, depois de muitos anos difíceis para os trabalhadores e de confusão ideológica. Temendo isto, Putin, em abril, avisou que o estado poderia agir com truculência contra os movimentos populares.

Comentaristas ocidentais tentam apresentar os recentes protestos de oposição através do leste europeu, da Ásia Central e do Oriente Médio como uma parte de um “movimento democrático” apoiado pelos Estados Unidos.

Socialistas, é claro, apóiam as lutas dos trabalhadores por direitos democráticos e contra a opressão. Historicamente, foram as lutas de massas da classe trabalhadora, ou a ameaça destas, que conquistaram preciosos direitos democráticos.

Em contraste, os Estados Unidos e outros poderes imperialistas apoiaram, e continuam a apoiar, regimes autoritários e ditaduras por todo o mundo quando estes servem aos seus interesses. A administração Bush apoiou a oposição em países como a Ucrânia para colocar no poder regimes pró Ocidente e pró-neoliberal. A “Revolução Laranja” do ano passado, liderada por Victor Yuschenko, manipulou as genuínas aspirações dos trabalhadores na Ucrânia, que buscavam o fim do comando autoritário e melhores padrões de vida, usando diferenças nacionais e religiosas potencialmente explosivas. Similarmente, os Estados Unidos respaldaram a oposição anti-síria no Líbano, independentemente da polarização de diferenças religiosas e nacionais em um país que já sofreu com terríveis guerras civis.

Quando chegam ao poder os novos regimes na Geórgia, Ucrânia, Kirgistão e qualquer outro lugar, rapidamente, revelam que são incapazes de desenvolver os padrões de vida da população ou de permitir plenos direitos democráticos. O desapontamento e a desilusão são inevitáveis, mas futuras lutas pelos trabalhadores nestes países serão necessárias para assegurar e estender direitos democráticos e conseguir melhores padrões de vida. Isto requer a construção de poderosas organizações socialistas que poderiam unir trabalhadores de todas as linhas nacionais, étnicas e religiosas.

A agressiva política externa dos Estados Unidos é uma expressão das crescentes tensões entre os poderes imperialistas enquanto competem por mercados, recursos, influência, poder e prestígio. Na raiz, isto deve-se à crise histórica do capitalismo – um sistema que há muito tempo cessou de desempenhar um papel progressivo.

 O “suave poder” dos Estados Unidos

A Secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, recentemente criticou a ‘democracia manejada’ de Putin na Rússia. Ela atacou o governo do Presidente Alexander Lukashenko de Bielorússia, aliado de Putin, chamando-o de “a última ditadura” na Europa central e que teve “tempo para mudar”. Rice insinuou que as futuras eleições em Bielorúsia poderiam ser a partida para os Estados Unidos usarem seu “suave poder” para encorajar movimentos de oposição.

Isto reflete uma luta feroz ocorrendo entre a Rússia e os Estados Unidos pelo leste europeu e pela Ásia central.

Para estimular a ambição da Rússia, Putin apelou ao nacionalismo russo e retorna ao passado imperial da Rússia. Ele recentemente afirmou que a influência geopolítica da Rússia seria auxiliada levando sua “civilização para o continente Euro-asiático”.

Enquanto isso, os Estados Unidos aumentam sua influência na região com regimes pró-Estados Unidos, tais como os da Ucrânia, Geórgia, Azerbaijão e Moldava formando uma “união de estados democráticos” em abril.

A competição entre os poderes imperialistas e seus aliados locais também estão esquentando na África e na Ásia. Recentes disputas entre China – um poder crescente na Ásia – e Japão e Taiwan refletem uma crescente militarização na Ásia e uma luta entre poderes locais por território, comércio, influência e prestígio com grandes estados imperialistas nos bastidores. A longo prazo disputas como estas podem levar ao conflito armado.

Como nós vimos recentemente, a elite dominante na China usa o nacionalismo e mágoas históricas para favorecer seus interesses na região. Mas o nacionalismo também é usado como um desvio dos protestos de massa de trabalhadores e greves devido a condições de trabalho atrozes, poluição e corrupção oficial – a conseqüência das “reformas” de mercado.

O caminho para os trabalhadores chineses melhorarem suas vidas é construir sindicatos genuínos e independentes, além de um partido que lutará pela unidade dos trabalhadores e pelo genuíno socialismo, opondo-se à elite dominante e ao imperialismo – o que poderia alcançar trabalhadores por toda a região.

 Lutas de massas

As lutas dos trabalhadores estão crescendo por todo o mundo neo-colonial. O presidente equatoriano Lucio Gutierrez foi derrubado em abril depois de semanas de protestos. Gutierrez veio ao poder, em 2002, com uma plataforma de populismo de esquerda e de anticorrupção forjando laços próximos com movimentos indígenas. Mas o apoio a Gutierrez desapareceu devido ao seu favorecimento a aliados e amigos e às suas políticas neoliberais impostas pelo FMI.

As massas provaram que estavam preparadas para lutar contra governos capitalistas. Equador, nos últimos nove anos, teve oito presidentes – três deles, incluindo Gutierrez, foram forçados a se retirar. Mas não haverá solução para a crise que os trabalhadores enfrentam até existir um partido que lute por suas necessidades de classe e que conduzirá políticas socialistas enquanto estiver no poder.

A tendência política geral na América Latina é para a esquerda. Pela primeira vez em seus 170 anos de história o Uruguai elegeu seu “primeiro presidente de esquerda”, Tabare Vazquez em 2005. Mas como o mais recente presidente do Equador, Vazquez tem fortes laços com os círculos dominantes nos Estados Unidos.

O surgimento de regimes populistas de esquerda, sob a pressão das massas é provável. O pesadelo para a administração Bush é novos governos radicais na América Latina, ao lado do regime radical e popular de Hugo Chavez na Venezuela – o qual tem laços estreitos com Cuba.

As forças reacionárias, repetidamente, falharam em derrubar o regime populista de esquerda de Hugo Chavez. Mas, para assegurar e estender a revolução iniciada na Venezuela, a classe trabalhadora necessita construir organizações independentes e tomar a economia, especialmente a indústria do petróleo, em suas mãos. Um governo dos trabalhadores e dos camponeses, com um programa socialista revolucionário, seria um sinal para o resto do continente.

A não ser que o capitalismo e o latifúndio sejam abolidos e uma sociedade socialista criada, a reação sempre encontrará um caminho de volta ameaçando ganhos sociais e processos revolucionários com contra-revoluções sangrentas.

Tentativas de construir uma alternativa de esquerda estão em andamento na América Latina não somente no Brasil, o maior e mais poderoso país da região, onde Luis Inácio “Lula” da Silva foi eleito presidente em 2002. Os trabalhadores e a juventude logo desapontaram-se com as políticas neoliberais do governo petista de Lula. Ativistas de esquerda fundaram o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) como uma alternativa. A CIO no Brasil trabalha para construir o PSOL argumentando por políticas socialistas claras que demarcam uma ruptura decisiva com o capitalismo.

1905

O Primeiro de Maio de 2005 ocorre no mesmo ano em que os socialistas celebram o 100° aniversário da Revolução Russa de 1905. Apesar da revolução ter sido derrotada, ela provou, tal como um de seus principais líderes – Leon Trotsky – disse, ser um ensaio geral para a vitoriosa revolução bolchevique de 1917, quando a classe trabalhadora tomou o poder e dirigiu a sociedade pela primeira vez.

Os eventos atuais, incluindo vitórias e derrotas para a classe trabalhadora, guerras e crises econômicas, também são lições vitais para o movimento operário e os socialistas enquanto nos esforçamos por reconstruir e construir novas e poderosas organizações de classe que podem mudar a sociedade.

A CIO está comprometido em desempenhar seu papel na construção de uma nova internacional de massas dos trabalhadores, a qual será “um partido para a revolução mundial”. Desta forma, nós relembramos e celebramos os eventos e as lições de 1905.