Oriente Médio: Crise e conflito armado se espalham e aprofundam

Ódio à opressão imperialista alcança novos níveis

Na noite passada as Forças de Defesa de Israel (FDI) bombardearam a pista do Aeroporto Internacional de Beirute, lançou foguetes contra a sede Hezbollah (a organização islâmica xiita libanesa) e implementou mais de 30 outros ataques aéreos em alvos libaneses. Implementaram um bloqueio por terra, mar e ar ao território libanês. Pela 1ª vez desde maio de 2000, o exército israelense reentrou em território libanês.

Trabalhadores e jovens por todo o mundo têm estado enojados pelos violentos ataques militares da FDI em Gaza que tem deixado a maioria da população sem eletricidade e água corrente. Quando as forças de segurança israelenses prenderam 64 líderes do Hamas, incluindo muitos ministros do governo, o regime Bush ficou coletivamente mudo. Mas eles não pararam de falar sobre o ultrage da captura, ou “seqüestro” como eles descrevem, de soldados das FDI. O imperialismo dos EUA lançou uma enorme campanha de propaganda contra o governo do “terrorista” Hamas mas não proferiu qualquer palavra de condenação contra a última invasão do Líbano pelas FDI. Milhões por todo o mundo estão absolutamente horrorizados por esta dupla posição.

O uso de brutal força militar pelo regime israelense já tirou as vidas de 50 civis libaneses. Os ataques das FDI foram em resposta ao ataque militar surpresa através da fronteira libanesa pelo Hezbollah. Nos confrontos que se seguiram, 8 soldados israelenses foram mortos e 2 capturados pelo Hezbollah que os levaram através da fronteira. Foi um grande golpe ao prestígio do regime israelense. Ehud Olmert, o Primeiro Ministro israelense, chamou isto um “ato de guerra” e ameaçou represálias que seriam “muito, muito, dolorosas”. Seis mil reservistas foram chamados para o exército na fronteira norte de Israel. O comandante das forças do norte de Israel disse que se os soldados não fossem soltos imediatamente, então as Forças de Defesa de Israel (FDI) fariam o relógio voltar “20 anos no Líbano” em termos de destruição da infraestrutura. Se as FDI continuar a estender sua invasão ao Líbano, então, dado as condições que existem no Oriente Médio, isso poderia acender as chamas de uma conflagração muito maior.

Mas isto é apenas um flanco de um já crescente conflito militar. No mesmo dia em que bombardearam o Líbano, as FDI mataram 23 palestinos em sua contínua campanha de punição militar coletiva contra o povo palestino. Esta campanha é ostensivamente uma resposta do regime israelense ao ataque das milícias islâmicas a um posto do exército e a tomada de um soldado israelense como prisioneiro. As FDI, depois de saírem de Gaza em agosto do ano passado, têm agora reocupado o sul, o meio e norte da faixa, efetivamente dividindo o território em dois. Em um ataque as FDI despejaram um quarto de tonelada de bombas na casa de um líder do Hamas.

Tensão e conflito, já altos na região, correm o risco de fugir ao controle. Há um caldeirão de ódio incandescente borbulhando entre as massas do Oriente Médio, para a cada vez mais brutal opressão do regime de Israel com as massas palestinas, que é visto como tendo carta branca do imperialismo dos EUA. Além disso, a bárbara ocupação militar do imperialismo estadunidense no Iraque (para proteger o fornecimento de petróleo para a fome energética do imperialismo), tem trazido o país para uma guerra civil aberta.

Como se isso não fosse suficiente, a última década tem visto um massivo aumento dos ataques neoliberais na região. Os regimes árabes são corruptos, anti-democráticos, brutais e são os agentes dos ataques às condições de vida da classe trabalhadora e camponeses pobres na região, inspirados pelo imperialismo. Tudo e isso e mais significa que a região se torna cada vez mais instável a cada momento. A possibilidade de um conflito armado se tornar uma guerra regional aberta não pode ser descartada.

A principal razão para isso é que cada vez mais há muito pouco espaço para manobra para as potências imperialistas e as corruptas elites árabes na região. Parece ser o caso que quando eles enfrentam a oposição à suas políticas, as potências imperialistas e especialmente seus agentes na região respondem aumentam os ataques econômicos, e agora cada vez mais os militares. Na realidade, a classe dominante israelense não tem totalmente uma estratégia trabalhada e está simplesmente reagindo aos eventos com força bruta. Isso adiciona o perigo de uma posterior escalada do conflito.

Mas o imperialismo dos EUA para manter o controle do Oriente Médio tem sido estilhaçada nos últimos anos. Após os ataques do 11 de setembro, onde o hiper-poder dos EUA pareceu ter temporariamente mais espaço para intervir militarmente em torno do mundo, o regime Bush apresentou a idéia de que reformaria o Oriente Médio. Eles varreriam o Taliban do Afeganistão e implementariam um “regime democrático secular”. O Iraque de Saddam Hussein seria resolvido e uma novo regime estável pró-EUA floresceria no Oriente Média e forneceria energia barata para o Ocidente. Uma transformação “democrática” do resto da região se seguiria, varrendo o regime iraniano que faz parte do “eixo do mal”, o regime baathista sírio de Bashar al-Assad e talvez até mesmo substituindo antigos aliados do imperialismo dos EUA com governantes mais estáveis e complacentes, como o Egito e Arábia Saudita. Uma solução final para o conflito Israel-palestinos resultaria do esmagamento dos grupos islâmicos mais extremistas nos Territórios Ocupados.

Pesadelo do imperialismo

Esta Utopia neoconservadora está sendo substituída por um horrível pesadelo para o imperialismo (e para as massas). O Iraque está numa situação pior do que quando sob o regime brutal de Saddam Hussein. A possibilidade do país se fraturar em vários estados instáveis e hostis se torna maior a cada dia. O Irã está sendo qualitativamente fortalecido regionalmente porque os partidos xiitas ligados ao regime estão em ascensão no Iraque.

Além disso, o regime iraniano se recusou a se curvar à pressão ocidental para encerrar sua produção de urânio enriquecido ganhando o apoio da maioria da população para sua retórica antiimperialista. A Arábia Saudita e Egito enfrentam uma crescente ameaça dos reacionários grupos armados islâmicos ligados à Al Qaeda. Junto a isso, a islâmica Irmandade Muçulmana fez avanços significativos na última eleição geral no Egito. Mas a humilhação mais gráfica para os planos do imperialismo dos EUA para a região veio com a arrasadora vitória do Hamas nas eleições palestinas em janeiro deste ano.

Mas a última incursão no Líbano que pode ter sérias consequências, dada a história da intervenção imperialista e do capitalismo israelense no país. As FDI invadiram primeiro o Líbano em 1978, ostensivamente em retaliação a um ataque do OLP a Israel. Na realidade, o governo israelense de direita na época, com Ariel Sharon como Ministro da Defesa, queria esmagar a OLP no Líbano e colocar um regime amigável aos interesses de Israel. A intervenção do capitalismo israelense levou à formação do movimento xiita Hezbollah, que finalmente levou as FDI a sair do sul do Líbano numa ignominiosa derrota em 2000.

Dados a enorme força militar e coesão do Hezbollah, o regime israelense irá ter dificuldades ainda maiores em forçar o Hezbollah à soltar os soldados israelenses capturados do que com o Hamas em Gaza.

O imperialismo dos EUA também sofreu grandes retrocessos no Líbano.Em 1983, a embaixada dos EUA foi destruída pelo Hezbollah e mais tarde naquele ano um caminhão bomba matou 241 funcionários americanos, forçando suas tropas a se retirarem naquele ano. Richard Armitage, que jogou um papel chave no departamento de Estado dos EUA de 2001 – 2005, disse recentemente que o Hezbollah tinha uma “dívida de sangue” com os EUA como resultado.

Desde a retirada das forças sírias do Líbano como resultado dos protestos de massa dentro do Líbano (e sob a pressão, por suas próprias diferentes razões, do imperialismo dos EUA e França) tem havido um crescimento na tensão sectária no Líbano e cresceste instabilidade no país e no governo. O Primeiro Ministro libanês se distanciou das ações do Hezbollah, apesar do fato de que o Hezbollah é parte da coalizão governamental. Esta crise pode levar à queda do regime libanês, e, se a instabilidade levar à confrontos abertos uma re-entrada das forças armadas sírias no país, com todas as consequências.

Apesar de seu esmagador poder militar, o regime israelense também está sob enorme pressão. Ehud Olmert é um novo primeiro ministro, que, diferente da maioria dos líderes israelenses anteriores, não tem muito registro como “herói de guerra”. Seu partido, Kadima, foi criado apenas pouco antes das eleições gerais de março que o levaram ao poder e é constituído de muitos dos dinossauros da cena política de Israel e de seus dois principais partidos, Likud e Trabalhista. Não tem realmente uma posição política unificada e rachas estão começando a aparecer. Apesar da retórica bélica de Olmert de se recusar a negociar com que tomou soldados israelenses prisioneiros, é improvável que repressão militar brutal provoque sua libertação. Há uma tradição extremamente forte na sociedade judia israelense, que a direção política e militar são pessoalmente responsáveis por qualquer prisioneiro feito num conflito armado. A posição do Kadima nas pesquisas de opinião tem de fato caído – se houvesse uma eleição agora ele perderia 4 de 29 cadeiras.

Importantes objetivos estão em jogo também. Olmert foi eleito em base de levar adiante o “plano de convergência”. Este almeja terminar o ‘muro da separação’ (que dividirá Israel dos Territórios Ocupados), e retirada de alguns assentamentos isolados da Cisjordânia. Este plano, contudo, incluiria a manutenção dos maiores blocos de assentamento dentro de Israel como parte de um “assentamento final” unilateralmente imposta das fronteiras de Israel. Antes das últimas operações militares havia um apoio majoritário a este plano entre os israelenses – agora este não é mais o caso.

Além disso, longe de enfraquecer o apoio ao Hamas e Hezbollah, estas operações militares têm enraivecido as massas palestinas e especialmente a população do sul do Líbano. Portanto, um resultado mais provável será o aumento do apoio tanto ao Hamas quanto o Hezbollah.

Contudo, nenhum destes 2 grupos será capaz de resolver os problemas básicos das massas nas bases do que seria, se tiverem sua chance, regimes capitalistas teocráticos.

A classe trabalhadora da região, junto com o campesinato pobre, é a única força capaz de derrotar o imperialismo, o capitalismo e as corruptas elites árabes e realizar o desejo dos palestinos por sua libertação social e nacional. Reciprocamente eles serão o setor da população que sofrem em sua maioria em situações de conflito armado ou guerra.

A enorme raiva que existe contra o pernicioso papel do imperialismo precisa ser canalizado na direção da construção de novos movimentos e partidos da classe trabalhadora, baseados nas idéias de uma confederação socialista do Oriente Médio, a remoção de todas as forças armadas imperialistas, e a derrubada do capitalismo e feudalismo na região.

Sem dúvida a perspectiva de mais conflito e guerra encherá de temor trabalhadores e jovens por todo o mundo, e especialmente no Oriente Médio por causa do terrível sofrimento que isso significa. Contudo, guerras e conflitos capitalistas também verão mais lutas dos trabalhadores contra a privatização e ataques nas suas condições de vida, o que já tem ocorrido em países como Irã, Egito e Israel. Tais movimentos sairão para a superficie de novo mas com uma consciência diferente – uma mais imbuída com um desejo de terminar com a matança e uma nova sociedade onde a massa da população controle a enorme riqueza que existe na região.

Diferente dos planos neoconservadores dos EUA para a região isto não é uma Utopia, mas se baseia na experiência histórica. No auge da guerra civil libanesa em 1988, trabalhadores libaneses, além da divisão sectária fizeram ações grevistas contra o colapso do valor do salário mínimo como resultado da inflação galopante causada pelo conflito. Junto À “linha verde” que dividiu a Beirute cristã e muçulmana, manifestações conjuntas ocorreram sobre esta questão. Durante o mesmo conflito, entre meio milhão e um milhão de israelenses se manifestaram em Tel Aviv contra a invasão das FDI no Líbano.

Contudo, os socialistas e ativistas não podem simplesmente sentar e esperar por estes desenvolvimentos no futuro. Um movimento por uma mudança revolucionária socialista precisa ser construído como um assunto de urgência por toda a região agora.

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