Imperialismo impõe terror sem fim no Oriente Médio
Desde o dia 8 de agosto, o sul do Líbano encontra-se isolado do resto do país. As forças armadas israelenses destruíram a principal ponte de acesso à região, sobre o rio Litani que fica a cerca de 20 km da fronteira. Ainda por cima, impuseram um toque de recolher na região sem prazo definido. Essa foi uma das cem pontes destruídas pelos ataques israelenses, que também atingiram 600 quilômetros de estradas. Os carros que circulam pelas ruas correm o risco de serem bombardeados.
Desde 13 de julho, Israel tem atacado constantemente a população libanesa, numa guerra de terror. Para destruírem o país vizinho, utilizam-se do argumento do seqüestro, por parte do Hezbollah, de dois soldados das “Força de Defesa de Israel” (FDI). Depois de quatro semanas de conflito, contavam-se 1011 mortos no Líbano, a grande maioria civis. Do lado de Israel, foram 118 mortos, a maioria soldados. Segundo a ONU, mais de 900 mil libaneses tiveram que fugir de suas casas e estão refugiados em casas de familiares ou nas montanhas do norte do Líbano. Isso representa um quarto de toda a população!
“Faremos o relógio voltar vinte anos no Líbano”. Essa foi a ameaça de um general da FDI, referindo-se à situação de devastação do país depois da guerra civil e 18 anos de ocupação israelense, que só terminou completamente em 2000. Depois dos bombardeios, grande parte da população está sem eletricidade e água potável. Cerca de um milhão de pessoas passam grande parte do tempo em abrigos subterrâneos que sofrem problemas como falta de esgoto e um calor insuportável que chega a 35 graus. No dia 05 de agosto quatro hospitais foram fechados por falta de eletricidade e mais onze estavam prestes a fechar. Cem fábricas e vários armazéns de comida foram bombardeados.
Ataques se intensificam
Por fim, tudo indica que os ataques se intensificarão por todo o Líbano. Um ativista socialista em Beirute declarou: “O ataque israelense está se estendendo a todas as regiões, incluindo as montanhas do norte. Os danos são enormes e o número de mortos aumenta cada vez mais. É impossível se movimentar agora e todas as regiões estão isoladas umas das outras de maneira que o país está totalmente isolado do restante do mundo.”
A resistência do Hezbollah, que é uma força bem mais equipada e treinada que as milícias palestinas, foi mais forte que o esperado pelo governo israelense. Está claro que somente ataques aéreos não serão suficientes para submeter o Hezbollah. A lógica leva a uma invasão por terra. Já há uma decisão de triplicar as tropas no norte de Israel, preparando uma invasão que deverá aumentar o número de vítimas ainda mais.
O governo Bush deu sinal verde para os ataques de Israel sobre o Líbano. Após a queda das torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, o governo estadunidense alardeou a idéia de que “reformaria” o Oriente Médio. A partir daí, empreendeu uma guerra contra o Afeganistão e o Iraque utilizando-se de argumentos ridículos. É evidente que o que está por trás das guerras contra o “mundo árabe” é a sede de lucro das classes dominantes das potências imperialistas. Querem ter controle sobre as reservas de petróleo e mostrar ao mundo o seu poder e prestígio, tentando parecer imbatíveis. Mas a política de Bush foi um total fracasso.
Depois das guerras contra Afeganistão e Iraque, o governo marionete afegão controla apenas a capital do país. A pobreza e a violência só aumentaram após a guerra. Já o Iraque continua sendo o pântano das tropas estadunidenses. A possibilidade de que o país se divida em estados hostis e instáveis é cada vez maior. Ao invés da alcançar a meta de garantir petróleo barato, à dez dólares por barril, o preço bate novo recorde, quase alcançando 80 dólares.
Bloqueio e ataque contra os palestinos
Os EUA exigem hipocritamente “democracia” na região, entretanto a vitória do Hamas nas eleições palestinas não deixou Bush contente com o resultado. Quando as forças de segurança israelense detiveram 64 dirigentes do Hamas, incluindo ministros do governo, o regime de Bush nada declarou. Entretanto, quando o Hezbollah capturou dois soldados da FDI, esse governo não parou de falar sobra as atrocidades deste “seqüestro”. O imperialismo estadunidense tem lançado uma enorme campanha de propaganda contra o governo “terrorista” do Hamas, mas nada diz das atrocidades que Israel está cometendo no Líbano. Milhões de pessoas no mundo estão indignadas com esta dupla moralidade dos Estados Unidos.
A situação na faixa de Gaza continua desesperadora. O regime israelense ataca com tanques e bombardeios desde 28 de junho, depois do seqüestro de um soldado israelense. Mais 170 palestinos morreram até agora, dois terços estão sem água e eletricidade. O governo israelense implementou um bloqueio econômico à Autoridade Palestina e ao governo do Hamas que acabou deixando 165 mil funcionários públicos sem salário por meses. Cerca de 1,5 milhões de pessoas dependem desses salários. Recentemente o presidente do parlamento palestino foi preso pelo governo israelense.
Pesadelo para o império
Além do mais, fazendo uma rápida análise dos países da região, o regime iraniano recusou-se a ceder à pressão ocidental de pôr fim à produção de urânio enriquecido. Assim, canalizou o apoio antiimperialista que existe na população. Arábia Saudita e Egito enfrentam uma crescente ameaça dos grupos reacionários armados islâmicos ligados a Al Qaeda sem contar que a “Irmandade Islâmica Muçulmana” conquistou significativos avanços nas últimas eleições gerais no Egito. Por fim, o retrocesso mais importante para os planos dos Estados Unidos na região foi a vitória do Hamas nas eleições palestinas no começo do ano.
O sentimento antiimperialista é cada vez maior na região. Infelizmente, na ausência de uma alternativa da classe trabalhadora ao redor de um programa socialista, este sentimento acaba sendo canalizado por grupos fundamentalistas, que também praticam o terrorismo individual que não representa uma alternativa coletiva para os problemas sociais. As forças imperialistas também são incapazes de trazer estabilidade para a região tampouco liberdade ou democracia. Como nos mostra a história, intervêm para garantir seus lucros e poder.
Mas o risco de que a guerra se aprofunde e se espalhe, desestabilizando toda a região e levando o preço do petróleo a níveis que colocam a risco a economia mundial, faz com que haja uma forte pressão internacional por um cessar fogo. Isso leva a uma disputa entre os diplomatas da França e EUA. Mas enquanto o regime israelense contar com o apoio de Bush, a guerra pode continuar.
O imperialismo não tem uma saída a oferecer. O uso de tropas da ONU que está sendo discutido é na verdade para tentar estabelecer o que o regime israelense não conseguiu com a guerra: o desarmamento do Hezbollah e o estabelecimento de uma “zona de segurança” no sul de Líbano. Mas, qualquer exército estrangeiro que tente minar a posição do Hezbollah, vai ser visto como um exército de ocupação e os ataques continuarão. Isso não traria mais estabilidade que as forças imperialistas trouxeram ao Iraque.
Fundamentalismo não é uma alternativa
É preciso afirmar que grupos fundamentalistas como Hamas e Hizbollah, ou pior ainda, puramente terroristas como a Al Qaeda, não representam uma alternativa para melhorar a vida da população do Oriente Médio. Possuem idéias reacionárias. São contra os direitos dos trabalhadores e das mulheres e defendem uma sociedade baseada em posições religiosas reacionárias.
Somente a juventude, o povo pobre e os trabalhadores podem derrubar o capitalismo e construir uma sociedade sem exploração, sem guerras religiosas ou étnicas e sem conflitos entre povos, ou seja, uma sociedade socialista.
É óbvio que o Hezbollah tem o direito de se defender da agressão israelense. Entretanto, atacar áreas civis em Israel não contribui na resistência à agressão imperialista. Ao invés de reduzir o apoio do povo israelense ao seu regime, os ataques à áreas civis cumprem o papel de unificar os trabalhadores e jovens de Israel com seu regime reacionário e, por sua vez, aumentar o apoio à guerra.
Por isso, é indispensável a construção no Oriente Médio de novos movimentos sociais e partidos da classe trabalhadora referenciados na idéia de uma confederação socialista do Oriente Médio, na expulsão de todas as forças armadas imperialistas e na derrubada do capitalismo em Israel e no mundo árabe.
Em Israel há uma forte divisão de classe. Quem vai para a guerra são os filhos de trabalhadores que servem como “bucha de canhão” para os capitalistas da região. Nos últimos anos, os protestos e greves vêm crescendo em Israel. Embora o governo de Olmert canaliza apoio momentaneamente com a guerra, os trabalhadores israelenses perceberão que a guerra contra o Líbano não trará segurança.
“ Há diversos exemplos de aviões que voltaram para a base com as bombas e de pilotos que não bombardeiam os alvos” afirmou um oficial israelense (FSP 09/08/06). Ainda segundo o oficial “os alvos são determinados pelo comando central das forças aéreas, seguindo informações do setor de inteligência militar. Mas a decisão final de bombardear cabe ao piloto”. Também há casos de pilotos de caça israelense que disparam longe dos alvos indicados pelo comando deliberadamente.
Estes são exemplos de que é possível dividir Israel em linhas de classe e construir a solidariedade e unidade de classe na região. A guerra apenas atende a interesses capitalistas e quem mais sofre com ela é a população trabalhadora que nada tem a ver com os motivos reais que levaram ao conflito.
Ataques neoliberais
O dia em que ocorreram os primeiros bombardeios sobre o Líbano seria o primeiro dia de uma greve geral dos trabalhadores do setor de eletricidade no país contra a privatização deste setor. Uma greve como esta poderia se transformar em um movimento de massas, chegando a amplos setores da classe numa luta mais ampla contra a alta dos preços e o aumento do custo de vida.
Para se ter uma idéia, o último reajuste salarial no Líbano ocorreu há 10 anos. Este movimento, portanto, poderia culminar na luta por reajustes salariais. Todavia, a guerra freou o potencial do que poderia ser um movimento da classe trabalhadora libanesa em defesa de seus interesses.
Desde a década passada, há um grande avanço dos ataques neoliberais na região. Os regimes árabes não representam nenhuma melhora na vida do povo pobre, muito pelo contrário. São regimes brutais, corruptos e antidemocráticos e são agentes de ataques aos direitos dos trabalhadores. Tudo isto misturado pode culminar em um conflito regional armado em grandes proporções.
A partir dos massivos protestos no Líbano, as forças de ocupação sírias retiraram-se do Líbano. Desde então, tem aumentado a tensão religiosa no país. Há uma crescente instabilidade. O primeiro ministro libanês tem se distanciado das ações do Hezbollah. Este fato pode levar à queda do governo libanês e, se a instabilidade leva a choques abertos, é possível a volta das forças armadas sírias no país com tudo o que isso implica.
Ao mesmo tempo o Hezbollah tem fortalecido sua posição por causa de sua linha conseqüente de oposição ao imperialismo e à agressão israelense.
Unidade de classe contra o capitalismo
Várias manifestações começam a surgir pelo mundo em oposição ao ataque israelense contra o Líbano. Contudo, as manifestações ainda são pequenas comparadas aos movimentos contra a guerra nos anos 80 que chegaram a reunir um milhão de pessoas.
Um movimento de massa dos trabalhadores judeus israelenses é necessário para derrubar o regime capitalista de Israel, responsável por essa situação de guerra quase permanente e também ataques às condições de vida dos trabalhadores.
Rumo a uma Palestina socialista, uma Israel socialista, um Líbano socialista como parte de uma confederação socialista do Oriente Médio na qual os trabalhadores e camponeses pobres e não os governos corruptos decidirão como a sociedade será dirigida. Assim, os direitos nacionais, religiosos e étnicos de todas as minorias estarão garantidos.
• Fim da guerra contra Líbano. Retirada imediata das tropas israelenses.
• Pelo direito de autodefesa de todos os povos. Comitês democráticos de autodefesa.
• Apoio a construção de um movimento não sectário no Líbano que una todos oprimidos na luta pela soberania nacional e o socialismo.
• Apoio à oposição à guerra dentro de Israel.
• Fora imperialismo do Oriente Médio. Fora EUA e demais países imperialistas do Iraque.
• Fim dos ataques e do estado de sítio contra Gaza. Retirada imediata das tropas israelenses de todas áreas palestinas.
• Romper com o bloqueio econômico contra os territórios palestinos.
• Demolição do muro de “separação” de Israel nos territórios palestinos.
• Por uma Palestina socialista junto com um Israel socialista e um Líbano socialista, como parte de uma Confederação voluntária e socialista do Oriente Médio.
• Derrubar os governos corruptos e reacionários que governam o Oriente Médio. Nacionalização do petróleo, das indústrias e bancos sob o controle e gestão democrática dos trabalhadores.