Uh! É o Freixo! A nova Primavera Carioca desafia a direita no Rio de Janeiro

Na noite do dia 2 de outubro de 2016, o deputado estadual mais votado do Brasil (Marcelo Freixo, PSOL-RJ) foi confirmado pelo TSE no segundo turno das eleições municipais do Rio de Janeiro, com 18,26% dos votos, mesmo tendo só 11 segundos de tempo de TV durante a campanha eleitoral. Essa vitória histórica é fruto do avanço das lutas dos movimentos sociais e sindicatos do Rio de Janeiro. As lutas derrotaram nas ruas, através das mobilizações dos trabalhadores e agora na urnas, o PMDB de Eduardo Paes e seu candidato e agressor de mulheres, Pedro Paulo.

Marcelo Freixo conseguiu repetir a primavera carioca da sua campanha eleitoral de 2012 e colocou novamente milhares de jovens e trabalhadores nas ruas ao longo desta campanha. O momento mais emblemático desse processo foi o debate que Freixo fez com a população na Cinelândia (local histórico dos protestos dos cariocas) durante o debate da TV Bandeirantes. A emissora o havia excluído do debate, mesmo estando em segundo lugar nas pesquisas.


Menos espaço na TV

A Bandeirantes obedeceu as novas regras eleitorais aprovadas por Eduardo Cunha e companhia no congresso nacional. A nova lei eleitoral afirma que os candidatos devem ser de partidos políticos com pelo menos 9 deputados federais para poder participar dos debates da TV. Como o PSOL não possui esse número de deputados, Freixo ficou de fora desse primeiro debate.

Este momento foi importante, pois ficou evidente o boicote – o que promoveu a reavaliação da justiça eleitoral, que garantiu sua participação no debate final da Rede Globo. Talvez esse tenha sido um dos fatores para Freixo ter recebido o maior apoio financeiro da população entre os candidatos (com depósitos na conta eleitoral).

Freixo, agora com 10 minutos de programa de TV no segundo turno, representa uma grande chance de uma vitória eleitoral da verdadeira esquerda – o PSOL/PCB – e não da falsa esquerda representada nas eleições por Jandira Feghali (PCdoB/PT). Jandira apoiou as medidas neoliberais aplicadas pelos 14 anos de petismo no governo federal e ainda apoiou Eduardo Paes (PMDB) em sua vitória na última eleição para prefeito do Rio de Janeiro.


Crivella é falsa oposição

O adversário de Freixo no segundo turno é o senador e bispo da Igreja Universal, Marcelo Crivella, primeiro colocado no 1ª turno com 27,78% dos votos. Crivella foi ministro do governo Lula, diferente do PSOL que desde seu nascimento como partido, em 6 de junho de 2004, sempre foi oposição de esquerda aos governos federais do PT. A campanha de Crivella tem espalhado boatos contra Freixo de medidas que ele supostamente faria como prefeito, como a legalização da maconha, do aborto e a desmilitarização da Polícia Militar – medidas essas que estão no programa do PSOL, mas que não podem ser aprovadas pelo poder executivo municipal, pois são responsabilidade do governo federal.

Essa forma de fazer política da campanha de Crivella, em cima de mentiras de uma futura gestão do Freixo, só serve para criar uma situação de medo, ódio e raiva na população. Serve também como uma cortina de fumaça para Crivella fugir de debates mais profundos, como o combate às milícias (especialidade de Freixo, que comandou na ALERJ a CPI das milícias que inspirou um dos filmes mais vistos na história do Brasil: Tropa de Elite 2).

Crivella está, na verdade, fugindo da busca de soluções dos problemas mais complexos que atingem a população carioca. Por isso, após perder para o Freixo no debate do segundo turno na Bandeirantes, realizado no dia 7 de outubro de 2016, rejeitou a sua participação no debate da rede Globo às vésperas das eleições.


Programa construído pela base

A vitória do Freixo será uma vitória sobre o medo e a intolerância, o que fará do Rio de Janeiro uma cidade mais democrática. Como Freixo não fez alianças espúrias com partidos da burguesia em troca de tempo de TV, ele aplicará, se vencer as eleições, um programa de governo voltado para os trabalhadores e não para os empresários. O programa de governo do PSOL foi elaborado pelo coletivo “Se a cidade fosse nossa”, que reuniu mais de 5 mil pessoas (estudantes, professores, movimentos sociais, representantes de sindicatos, entre outros) ao longo de um ano em vários encontros.

Freixo, que é professor de história, assinou uma carta compromisso com o SEPE-RJ (Sindicato dos Profissionais da Educação), se comprometendo com as demandas históricas da classe, como jornada de trabalho de 30 horas semanais, convocação de todos os concursados, diminuição do número de estudantes por sala, horário integral de 8 horas para os estudantes, implantação de um plano de carreiras unificado, gestão democrática através da garantia da autonomia pedagógica e, finalmente, política anual de reajuste e valorização salarial.

Historicamente, a classe trabalhadora só conquista vitórias (como os direitos trabalhistas), lutando e fazendo greves. Por isso, independente do resultado destas eleições, as ruas deverão ser o principal palco de disputa na cidade. As mobilizações ajudarão a aprovar propostas que beneficiem os trabalhadores e a impedir qualquer retirada de direitos.      


Transformar o Rio em uma vitrine de combate ao neoliberalismo

A vitória de Marcelo Freixo poderá se transformar em um exemplo do combate às políticas neoliberais e poderá influenciar positivamente no crescimento da esquerda socialista, após o esgotamento dos governos municipais do PMDB na capital carioca, e do esgotamento dos governos do PT na esfera federal – governos estes que afirmavam ser de esquerda, mas que aplicaram políticas neoliberais da direita durante todo o período que estiveram no poder. Nesse sentido, foi uma importante decisão da campanha do Freixo não aceitar Lula e o PT em seu palanque. O caminho para a vitória da classe trabalhadora serão as lutas, pois só a luta muda a vida.

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