Unificar as greves, ocupações e marchas

Desde o ano passado, acompanhamos um processo de agravamento da crise econômica, política e da polarização social no país. A previsão é de queda de 4% do PIB no ano passado e acima de 3% em 2016. A inflação superou os dois dígitos e o desemprego vem crescendo de forma assustadora, atingindo principalmente o setor industrial.

Dentro deste cenário, os patrões e os governos têm procurado descarregar a fatura da crise econômica nas costas dos trabalhadores. No caso dos patrões, as medidas tem sido demissões, fechamento de fábricas, redução de salários através do Programa de Proteção ao Emprego, atrasos e arrocho nos salários.

Já o governo Dilma, governadores e prefeitos têm aplicado uma forte política de ajuste fiscal através de cortes nos investimentos e gastos nas áreas sociais, atingindo duramente saúde e educação.

Entretanto, estas medidas não tem sido suficientes. O governo Dilma pretende implementar ataques mais estruturais como é o caso da contrarreforma da previdência e aquilo que o governo está chamando de “reforma fiscal”, na verdade mais uma contrarreforma.

Contrarreformas

No caso da contrarreforma da previdência, o governo pretende impor uma idade mínima para a aposentadoria e acabar com a diferenciação entre homens e mulheres, bem como entre os trabalhadores rurais e urbanos.

No caso da reforma fiscal, o governo quer fixar um teto para os gastos públicos. Caso este limite seja descumprido, serão disparados vários gatilhos para que as despesas voltem ao patamar desejado, como o arrocho salarial dos servidores federais até a suspensão do reajuste real do salário-mínimo.

A juventude e os trabalhadores não têm aceitado de forma passiva estes ataques. O ano começou com mobilizações nas capitais do país contra o aumento das tarifas do transporte público e, por parte dos servidores públicos em vários estados e municípios, contra os cortes de gastos.

No caso específico do Rio de Janeiro, os trabalhadores em educação organizados pelo SEPE, aprovaram greve a partir de 02 de março e outras categorias cariocas aprovaram greve a partir de abril. Caso se concretizem esses movimentos, teremos, na prática, uma greve geral dos servidores estaduais do Rio de Janeiro.

Os estudantes goianos, seguindo o exemplo dos estudantes secundaristas de São Paulo, ocuparam escolas contra o projeto privatista da educação do tucano Marconi Perillo. No setor industrial já tivemos importantes lutas contra o desemprego e o não pagamento de salários e benefícios, como foram as mobilizações dos trabalhadores da Usiminas, CSN, GM, Mabe e a greve das trabalhadoras terceirizadas da Higilimp, que prestam serviços para a USP e para o metrô de São Paulo.

A CNTE está convocando uma greve nacional da educação básica de 15 a 17 de março. O funcionalismo federal está se mobilizando também para lutar contra a reforma da previdência. Entretanto, para obtermos vitória, é necessário que todas essas lutas sejam unificadas para que possamos criar as condições para uma greve geral no país.

Os atos de 31 de março, 1º de abril e 1º de maio

As Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo realizarão no dia 31 de março, um Dia Nacional de Mobilização, com uma marcha à Brasília. Estas manifestações terão como eixos a luta contra a reforma da previdência, contra o ajuste fiscal e cortes nos gastos sociais, em defesa do emprego e dos direitos dos trabalhadores, pelo Fora Cunha e também contra o impeachment.

O Bloco de Resistência Socialista – Sindical e Popular (BRS-SP), do qual a LSR faz parte, e que compõe a Frente Povo Sem Medo, defendeu nas reuniões desta Frente, que os Atos de 31 de março não deveriam incluir entre seus eixos de luta a consigna contra o impeachment.

Está claro que somos contra um impeachment de Dilma Rousseff bancado por Eduardo Cunha e por este Congresso corrupto. O resultado só poderia ser ainda pior, principalmente na ausência de uma alternativa de esquerda forte o suficiente para ocupar o espaço que seria criado.

No entanto, realizar manifestações de rua contra o impeachment junto com entidades e movimentos claramente vinculados ao governo (como a CUT, UNE e MST), mesmo que outras consignas sejam levantadas conjuntamente, inevitavelmente desviaria o foco central de nossa luta e abriria espaço para que essas entidades assumam a defesa do governo.

Nossa prioridade é derrotar a política econômica e os ataques promovidos pelo governo Dilma sobre os trabalhadores. Em torno a esse fim lutaremos junto com quem quer que seja em defesa dos interesses dos trabalhadores. Não importa se ao fazermos isso estaremos enfraquecendo o governo. Muito pelo contrário, queremos enfraquecer o governo para impedir que implemente seus planos de ataque.

Dilma já fez sua escolha. Quer comprar sua manutenção na presidência frente ao grande capital e a oposição de direita oferecendo nossa cabeça em uma bandeja através das contrarreformas e ataques. Não temos outro caminho que não seja derrotar esse projeto.

Entendemos que se o eixo contra o impeachment não fizesse parte da mobilização de 31 de março, isso permitiria unificar todas as centrais sindicais, movimentos sociais e a esquerda combativa do país.

Já a CSP-Conlutas, da qual o BRS‑SP também faz parte, realizou de 19 a 21 de fevereiro em São Paulo, uma reunião de sua Coordenação Nacional. Nesta reunião foi aprovado um calendário com um Dia Nacional de Lutas nos estados, no dia 1º de abril, tendo como eixos a defesa do emprego, contra a reforma da previdência e os ajustes fiscais, contra a privatização das empresas públicas e em defesa dos serviços públicos, contra Dilma e os governos estaduais. Além deste Dia Nacional de Lutas, foi aprovado também a realização de um Ato de Primeiro de Maio com caráter nacional em São Paulo.

Tivemos acordo com este calendário. Entretanto, ponderamos que a Central não poderia se omitir em relação aos atos que serão realizados no dia 31 de março. Defendemos que CSP-Conlutas deveria enviar uma carta para as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo afirmando que participaria dos atos de 31 de março, se estas Frentes tivessem acordo em retirar a questão do impeachment como um dos seus eixos convocantes. Infelizmente, a direção majoritária da CSP-Conlutas não teve acordo com esta proposta.

Dia nacional de lutas

Para nós da LSR, a única forma de derrotar os ataques dos patrões e dos governos aos trabalhadores, como é caso das demissões e as contrarreformas da previdência e fiscal, será através da unificação das greves, ocupações e marchas que estão sendo realizadas ou preparadas.

A partir disso, o desafio que está colocado para o próximo período é de construirmos um dia nacional de lutas unitário, com pauta específica de defesa dos direitos dos trabalhadores, o que permitiria unificar todas as centrais sindicais e movimentos sociais.

Os atos de 8 de março mostram que esta unidade é possível. Em São Paulo, por exemplo, o ato será realizado de forma unificada tendo como eixos a luta pela legalização do aborto e contra o ajuste fiscal dos governos e da contrarreforma da previdência do governo Dilma.

Além desta unidade nas lutas, é necessária a construção de uma alternativa política de esquerda para o país. A construção desta alternativa passa pela construção de uma Frente Social Política e de Luta composta pelos movimentos sociais combativos, CSP-Conlutas, MTST e as Intersindicais e dos partidos no campo dos trabalhadores, PSOL, PSTU e PCB.

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