Como derrotar os ataques dos governos e patrões? Construir uma greve geral pela base e um programa para unir a luta!

O aprofundamento da crise nesse ano levou a uma onda de ataques aos trabalhadores. Os governos lançam mão de cortes no orçamento e retiradas de direitos, enquanto no setor privado vemos uma onda de demissões, ambos tentando jogar o peso da crise nas costas do povo trabalhador. Isso coloca um grande desafio para o movimento sindical e popular, de construir uma unidade maior na luta, mas também a necessidade de construir uma alternativa política.

Há uma tendência de crescimento das lutas. O ano de 2012 teve mais greves que nos 16 anos anteriores e em junho de 2013 houve a maior onda de lutas em décadas, levando uma nova geração às ruas. Porém, sem uma pauta unificadora após a vitória contra o aumento das passagens, e sem uma esquerda forte que conseguisse apontar um caminho pra frente, era esperado que a luta não continuasse no mesmo nível. Houve muitas lutas no período que se seguiu, mas de forma fragmentada.

Vimos uma nova camada de ativistas sindicais inspirada pelas manifestações de junho 2013, que muitas vezes conseguiu atropelar antigas direções burocratizadas, como na greve da Comperj e na vitoriosa greve dos garis no Rio de Janeiro no início de 2014.

Lutas defensivas

Porém, o caráter das greves tem mudado no último período com o aprofundamento da crise. Enquanto o aumento de greves de 2012 era principalmente de greves por aumento salarial, as lutas de agora são mais defensivas, para garantir a reposição da inflação, contra demissões ou atraso de salários.

Ao mesmo tempo, vemos um claro aumento da criminalização e repressão das lutas, com demissões de grevistas, junto com aumento do uso do poder judiciário e das PMs contra as lutas.

Porém, é importante ressaltar que é possível desafiar qualquer medida de criminalização das lutas. Tudo depende da correlação de forças. A própria explosão de lutas em junho 2013 foi parcialmente uma reação contra a repressão desmedida da PM contra os protestos do MPL contra o aumento da passagem.

Esse cenário de crise econômica e maiores confrontos sociais vão exigir mais dos sindicatos e dos movimentos. Entretanto, as lutas atuais revelam grandes fragilidades que impedem muitas vezes os trabalhadores de saírem vitoriosos das lutas.

Fragmentação das lutas

O primeiro problema é a fragmentação das lutas. Esse problema é ainda mais grave no setor público, onde uma greve não atinge os patrões no bolso, da mesma maneira que quando se para a produção. Nos últimos meses vimos uma onda de lutas na educação do país, que sofre duramente com os cortes dos governos. No caso de São Paulo, a greve dos professores estaduais foi a mais longa desde 1993, acima de 80 dias. A reposta do governo Alckmin foi simplesmente ignorar a greve.

Essa atitude do governo tucano não é novidade e deveria ter sido previsto. Mas a direção do sindicato nada fez para preparar uma luta mais dura, unificando a campanha salarial com outras categorias estaduais, como da saúde, metroviários, trabalhadores da Sabesp, etc. A obrigação do movimento sindical deveria ser se unir em solidariedade, incluindo com um dia estadual de greve geral. É para isso que deve servir uma central sindical.

Apesar das greves em diversos estados e capitais do país, também não houve uma política por parte da CNTE em unificar estas lutas através de uma grande greve geral da educação. A própria CUT poderia ter convocado as suas bases para um dia nacional em solidariedade ativa às greves.

No caso do Paraná, diante do ataque brutal da PM de Beto Richa (PSDB-PR), no dia 29 de abril, o movimento sindical deveria ter respondido imediatamente com uma greve geral que poderia ter derrubado o governo.

A construção de um programa de luta

Para ser vitorioso, especialmente num momento de crise, o movimento sindical precisa também construir alternativas políticas para a luta.

Vemos por exemplo a profunda crise das montadoras, que estão demitindo aos milhares. No início de 2015 vimos várias greves contra demissões. Em vários casos, como na Volkswagen, GM, Ford, Mercedes, elas foram exitosas em barrar as demissões imediatas.

Porém, os patrões adotam a tática usada na Europa para retirar direitos e diminuir salários dos trabalhadores: ameaçam fechar fábricas e demitir milhares, mas voltam atrás fechando acordo com os sindicatos onde os trabalhadores vão aos poucos cedendo direitos.

Nos caso de empresas menores, como as fornecedoras, o cenário é de demissões e fechamento de fábricas diretamente. Só em abril sumiram 54 mil empregos na indústria de transformação no país.

Infelizmente, o movimento sindical se limita a levantar demandas que se adaptam ao que governo e patrões podem ser pressionados a ceder. Diante da onda de demissões, a CUT, a Força Sindical e a UGT lançara recentemente uma proposta de criar uma alternativa emergencial onde a jornada de trabalho é reduzida em 30% e os salários que os patrões pagam em 30%. Os trabalhadores receberiam do governo somente metade dessa perda (15%). Essa proposta rebaixa o salário dos trabalhadores e mata qualquer discussão sobre a redução da jornada de trabalho sem redução de salários.

Ao invés disso, os sindicatos precisam ter uma estratégia para evitar sangramento aos poucos de trabalhos e direitos: veto a demissões, abertura das contas para ver para onde foram os bilhões de lucros, mas também a nacionalização das empresas de transporte que demitem e fecham fábricas, etc.

Temos que levantar a necessidade da estatização de setores chaves, como o automobilístico e de transportes, baseado no controle e na gestão democrática dos trabalhadores. Isso faria possível não só defender os empregos, mas também começar remodelar o sistema de transporte do país, um dos maiores vilões atrás da destruição do meio ambiente.

Romper o atrelamento ao governismo e partidos de direita

Esses problemas são ligados ao fato que as grandes centrais sindicais ainda estão atreladas a partidos governistas (como a CUT ao PT) ou de direita (como a Força Sindical ao Solidariedade). Isso vale também para a maioria dos movimentos sociais do país.

A CUT passa hoje por uma crise por sua postura vacilante diante os ataques do governo. Essa contradição se refletiu na mobilização “nacional” da CUT contra a PL 4330 das terceirizações no dia 07 de abril, que foi muito fraca. Para a CUT, a defesa do governo Dilma é uma prioridade e a fraca mobilização se dava à pressão, inclusive de Lula, em não fazer grandes manifestações no momento para não atrapalhar o governo. Foi apenas após a aprovação do PL 4330 no dia 08 de abril que a CUT, pressionada por suas bases, se viu obrigada construir um Dia Nacional de Lutas no dia 15 de abril.

Do mesmo modo, a Força Sindical sofreu uma forte pressão da sua base contra a PL 4330, que a direção da central vergonhosamente apoiava. No dia 15 de abril houve fábricas da Força Sindical que pararam. Essa crise na base fez com que a central “ajustasse” sua posição, se posicionando contra a ampliação das terceirizações para atividades fim.

No dia 29 de maio, todas as centrais se uniram em um “Dia Nacional de Paralisação e Manifestações, rumo a Greve Geral”, contra os ataques do governo. Houve paralizações importantes, junto com travamento de rodovias, ocupações de agências da Caixa pelo MTST, etc. Porém, ainda não está claro como essa luta continuará.

A importância da greve geral

O próximo passo tem que ser greve geral construída pela base. Só assim teremos a força necessária para derrotar o PL 4330, as medidas provisórias 664 e 665 e outras medidas de ajuste fiscal do governo federal.

Uma greve geral fortaleceria as lutas de todas das categorias e movimentos sociais em curso, como as greves na educação e as lutas contra demissões, rompendo o atual impasse que existe em muitos lugares.

Uma greve geral daria um ânimo às lutas do qual vimos um vislumbre em junho 2013, já que mostraria a força coletiva que a classe trabalhadora tem. Diante de uma luta unificada dos trabalhadores, qualquer tentativa de repressão e criminalização não teria vez.

Ao modo que as lutas se unifiquem, a luta transcende o caráter sindical e assume um caráter político. Para derrotar os ataques dos governos é necessário ter uma política para a crise orçamentária. Por isso o movimento tem de que levantar temas como a necessidade de suspensão do pagamento da dívida pública, a taxação das grandes fortunas e dos lucros das grandes empresas.

No final das contas, se trata de construir uma alternativa socialista à essa sociedade capitalista injusta. Uma greve geral mostraria o potencial de construir um outro tipo de poder, baseado na mobilização dos trabalhadores, não no poder do dinheiro, que vigora hoje.

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