O PSOL e a construção de uma alternativa de esquerda

As mobilizações de junho de 2013 abriram uma nova etapa na luta de classes no Brasil. A dinâmica viva das lutas abriu espaço para um novo ciclo de reorganização e recomposição da esquerda e dos movimentos sociais. Desde então tivemos altos e baixos nesse complexo e contraditório processo.

As greves e mobilizações anteriores à Copa deram lugar a uma intensa repressão aos movimentos e a disputa política foi em grande parte canalizada pelo processo eleitoral. Nas eleições, prevaleceu a polarização entre o governismo e a direita tradicional, principalmente no segundo turno.

Apesar dessa polarização tucano-petista, a esquerda socialista através do PSOL e suas candidaturas (principalmente Luciana Genro) obtiveram um resultado expressivo, tanto numérica quanto politicamente. O PSOL passou a ser uma referência para milhões de jovens e trabalhadores, mesmo mantendo-se como uma força minoritária.

A farsa do discurso “à esquerda” de Dilma no segundo turno, desmascarada nos primeiros dias do novo mandato, aprofundou a crise do governo. A profunda decepção abriu espaço para uma forte contraofensiva da direita materializada nas manifestações de 15 de março.

Diante disso, as centrais e movimentos governistas (CUT, CTB, UNE, MST) tentaram responder com alguma ação de rua como as manifestações de 13 de março. O problema é que essas manifestações tentavam conciliar o inconciliável: defender Dilma e ao mesmo tempo criticar sua política econômica.

Buscando evitar qualquer crítica ao governo e garantir a aprovação dos ataques do governo Dilma, a direção do PT e o próprio Lula fizeram o possível para tirar a CUT das ruas adotando o caminho de buscar diminuir a tensão e evitar a polarização.

Mas, os ataques são duros e a pressão da base continua forte sobre as direções da CUT e do MST. Tiveram que fazer algo na luta contra o PL 4330 no dia 07 de abril. Mas, é muito pouco diante da gravidade do ataque.

Sem iniciativa e pressionada pela base, a CUT acabou aderindo às manifestações convocadas pela esquerda do movimento sindical e popular (MTST, Intersindical e CSP-Conlutas) e o PSOL no dia 15 de abril, três dias depois de um novo Ato da direita (12 de abril).

Diante da dureza dos ataques, incluindo o PL 4330, a própria CUT fala em organizar paralisações junto com as demais centrais.

No último período, diante da forte crise do governo Dilma e do PT, o PSOL tem adotado uma política correta ao diferenciar-se dos setores governistas sem jogar água no moinho da oposição de direita.

Essa postura é bastante diferente daquela adotada por alguns setores do partido no segundo turno de 2014 quando alguns chegaram, ao ponto de fazer campanha entusiasmada por Dilma.

O PSOL, por exemplo, não demorou em soltar uma Nota pública assinada pelo seu presidente explicando porque não participaria da manifestação governista de 13 de março, apesar de toda a pressão para que o PSOL participasse.

Isso não significa que as diferenças políticas de fundo foram superadas. Ainda há divergências mesmo sobre a leitura da conjuntura atual. Alguns no PSOL defendem, por exemplo, que vivemos hoje uma avassaladora “onda conservadora” na sociedade e secundarizam o potencial de resistência e luta.

Para nós, da LSR, vivemos uma situação de polarização, onde há sim uma direita mais agressiva e truculenta, mas também um espaço maior à esquerda, que vimos não só nas eleições, mas também nas inúmeras lutas sindicais, estudantis e de movimentos populares.

Há também um debate sério sobre a concepção de partido, que devemos aprofundar durante o processo do 5º Congresso Nacional do PSOL que deve acontecer até o final do ano.

Nós da LSR sempre colocamos a necessidade do PSOL se construir de forma independente dos governos e patrões, para não cair na mesma armadilha que o PT. Isso significa não fazer alianças com partidos burgueses e governistas, mesmo os chamados de “centro-esquerda”, o que infelizmente tem ocorrido nas últimas eleições. Defendemos uma Frente de Esquerda (PSOL, PSTU e PCB). Também somos radicalmente contra aceitar doações eleitorais de qualquer grande empresa, como também já aconteceu várias vezes nas eleições.

Além disso, alertamos contra a concepção vigente de partido de filiados, onde a relação de forças é definida através de filiações em massa, muitas vezes de forma despolitizada, ao invés de um partido de militantes.

O grande risco é do PSOL se tornar mais um partido eleitoreiro. O caso do Cabo Daciolo é pedagógico nesse sentido. Apesar de ser uma importante liderança na luta dos bombeiros, que o PSOL corretamente apoiou, a entrada dele no partido e sua candidatura foi feita sem o mínimo de acordo com temas fundamentais para o partido, como a defesa do estado laico, desmilitarização da PM, etc.

Isso se deu por que esse tipo de figura pública é vista como alguém que pode trazer votos e filiados que podem ser utilizados na disputa interna. Agora colhemos o fruto dessa concepção e o Cabo Daciolo, que ataca as figuras públicas do partido abertamente na tribuna da Câmara, foi encaminhado para a Comissão de Ética do partido e sua expulsão será discutida na próxima reunião do Diretório Nacional.

O período congressual deve ser utilizado para fazer profundas reflexões políticas, nessa conjuntura tão importante e complexa. Devemos evitar uma disputa por delegados com debate raso, onde vale tudo para garantir seus representantes, como já vimos nos congressos anteriores.

Defendemos a construção de um Bloco de Esquerda consequente na defesa de um programa anticapitalista e socialista, a independência de classe na política de alianças do partido e a construção de um PSOL militante e organizado pela base.

Isso não significa de nenhuma maneira de voltar o partido para debates internos. Pelo contrário, é nas ruas que vamos encontrar a radicalidade que precisamos para garantir o PSOL como um partido a serviço das lutas.

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