A tarefa da juventude é ocupar as ruas por mais direitos

Cortes nas verbas destinadas à educação, escolas com salas de aula superlotadas e outras atrasando o período letivo por causa da crise da água, crescimento do ensino privado nos cursinhos e universidades, precarização das condições de infraestrutura e de assistência estudantil nas universidades públicas, anúncio de mais e mais demissões, aumento da criminalização e genocídio dos jovens da periferia… Qual o papel da juventude nesse cenário de ajustes fiscais e recessão econômica em 2015?

29,6 % de jovens com idade entre 18 e 24 anos não trabalham e não procuram emprego (dados do IBGE-PNAD de 2013). Houve uma queda de 5,9% na participação de jovens no mercado de trabalho desde 2012 (dados do IPEA). O quadro do desemprego já é uma realidade da juventude nessa crise econômica.

Embora uma parcela maior da juventude agora está dentro de uma universidade, há um processo de precarização dessas instituições. Essa tendência se intensificou desde quando o Governo Lula criou programas como o Reuni (Plano de reestruturação e expansão das universidades federais), o Prouni (Programa universidade para todos) e o novo Fies (Programa de financiamento estudantil). Ao invés de melhorar a qualidade do ensino, esses programas promovem uma privatização e precarização da educação pública.

Muitas universidades não têm políticas de assistência estudantil que garantam moradia, restaurantes, creches, além de infraestrutura mínima, como prédios para salas de aula, bibliotecas e laboratórios. O estudante que entra nessas instituições não consegue permanecer e se formar, ou aquele que ainda consegue o diploma, que não significa garantia de emprego, fica por anos endividado graças ao Fies.

Cortes e lucros

O ano mal começou e o Governo Dilma faz um grande corte de R$ 7 bilhões de reais na educação. Ao mesmo tempo, o maior conglomerado de educação privada do mundo, a brasileira Kroton, totalizou cerca de 1 milhão de alunos em 2013 e tem um valor de mercado de R$ 20 bilhões.

Enquanto o ensino privado lucra bilhões e a educação pública sofre um corte de milhões, centenas de milhares de estudantes que não foram aprovados nos concorridos e seletivos vestibulares elitistas voltam para as salas lotadas dos cursinhos.

Na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) estudantes protestaram no início de fevereiro para exigir o pagamento das bolsas de cerca de 1,3 mil alunos, que estavam atrasadas desde o mês de janeiro. Já na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), as bolsas dos estudantes têm atraso de dois meses. Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os atrasos já ocorrem desde novembro de 2014.

As medidas de corte no orçamento acontecem também nas estaduais, como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que teve que antecipar o recesso do ano de 2014 por dificuldades financeiras e começou 2015 com greve de funcionários da limpeza por não pagamento de salários.

Universidade à beira de colapso

A Universidade Estadual de Londrina (UEL) está à beira de colapso, com dívidas de energia elétrica e de água de mais de R$ 2 milhões. As sete universidades estaduais do Paraná calculam que precisam de R$ 124 milhões, mas o governo Richa (PSDB) está disponibilizando míseros R$ 9 milhões.

Na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) já é habitual a falta de todo tipo de material de expediente e de limpeza no último trimestre de cada ano. Agora, o novo governador Robinson Faria quer implementar uma contrarreforma administrativa com o objetivo de diminuir a folha de pagamento dos trabalhadores.

A crise da água em São Paulo já afetou dezenas de escolas que, durante o período mais forte da seca, dispensaram os alunos por conta da falta d’água. Muitos diretores de escolas estaduais e municipais já pautam a necessidade de começarem o recesso de julho mais cedo, pois muitas escolas não receberam investimento suficiente para manutenção e para compra de caixas d’água. Além disso, a merenda tem sido trocada por bolachas e bolinhos industrializados, para fazer racionamento da água utilizada na cozinha das escolas.

Criminalização da juventude pobre e negra

A juventude das periferias no Brasil é um dos setores mais oprimidos. Sobrevive com subempregos e convive cotidianamente com a expressão mais violenta do Estado, que a mídia propagandeia como política de segurança.

O Sítio Cercado, um bairro da zona sul de Curitiba-PR, é um dos mais violentos da cidade, com 54 mortes violentas registradas em 2013. Em contrapartida, bairros de classe média, como o Alto da XV e Juvevê, não tiveram registro de mortes violentas (Fonte: Programa 190 e Crimes Curitiba).

A situação também é grave no Rio de Janeiro, onde o complexo da Maré está ocupado pelo Exército e pela polícia “pacificadora” (UPPs) do Governo Pezão, gerando cotidianamente muito mais constrangimentos e convivência com tiroteios e enfrentamentos diretos com os trabalhadores. Enquanto isso, na região da zona sul carioca ou até mesmo em bairros mais populares como a Lapa, a ordem do dia é a higienização social e as agressões que se baseiam em critérios racistas e da mais perversa podridão preconceituosa.

Uma grande parte da população das periferias apostava que, com os governos do PT, seria o momento de mudanças estruturais no Brasil. Mas ainda hoje a juventude da periferia é que morre e vira estatística da violência urbana a qual vários trabalhadores são submetidos. A juventude sobre também com a criminalização dos movimentos populares, como vimos durante a Copa da Fifa em 2014 e nos protestos contra o aumento das passagens.

Construindo alternativas de luta

Esses elementos que constroem o cenário mostram algumas bases para situar politicamente a luta contra a criminalização da juventude trabalhadora. É necessário que a esquerda canalize a insatisfação desse setor que é a maioria dos jovens do país, construindo alternativas de luta pela base.

Uma experiência importante tem sido cultivada em Curitiba-PR, onde temos o trabalho da Juventude da LSR em unidade com o Coletivo Construção, nos inserindo nas escolas para a construção de grêmios, em batalhas de rap para dialogar com uma parte do movimento negro e com atividades sobre machismo, racismo e homofobia, que são debates pouco feitos por grupos organizados da esquerda nos bairros periféricos.

Nova geração tomando as ruas

Desde junho de 2013, vemos no Brasil uma polarização social, refletindo um desgaste do modelo lulista. Uma nova camada de militantes e ativistas saiu às ruas e trouxe uma nova qualidade aos movimentos que surgiram desde então. Temos que disputar essa juventude e aproximá-la a uma alternativa socialista. O caminho para isso é atuar em unidade com os trabalhadores e construir espaços amplos de articulação e de perspectivas para massificação e enraizamento das lutas.

É necessário concretizar a palavra de ordem SÓ A LUTA MUDA A VIDA, contra os ataques dos governos e dos patrões, e que junho só foi o começo de uma jornada com mais lutas e conquistas.

Você pode gostar...