Justiça para Gaia e Miriam, vítimas de uma sociedade machista
A italiana Gaia Molinari e a doutoranda da UFRJ Miriam França de Melo são vítimas da sociedade capitalista, patriarcal, machista e no caso de Miriam, de racismo institucional. No dia 26 de dezembro, Gaia foi encontrada morta em Jijoca, praia de Jericoacoara, um dos 50 municípios brasileiros que mais registraram casos de violência contra mulher.
Miriam França, farmacêutica doutoranda pela UFRJ que passava férias no Ceará nesse período, foi presa de forma ilegal, sem seus direitos garantidos – como prisão especial e contato com advogados e família, em 29 de dezembro, sem nenhum indício claro de seu envolvimento com o crime, como suspeita de ter assassinado Gaia. A família da jovem ficou dias sem qualquer informação, e seu telefone desligado. Em declaração à imprensa, sua mãe decifra bem o ocorrido: “Fica fácil culpar a ‘neguinha’”. A justiça necessitava responder de forma “ágil”, por se tratar de uma turista de outro país, e para isso revelou o racismo muito presente.
O paraíso vendido pelas agências publicitárias nas praias do Ceará é uma fraude, pois o Estado ocupa o 25º lugar em denúncias de violência contra a mulher, em 2012, com 14.274 casos, o que corresponde a 329,65% por grupo de 100.000 mulheres. Segundo o Conselho Comunitário de Jijoca, casos de estupros vêm sendo denunciados desde 2008. A violência no Ceará registrou mais homicídio, ano, que soldados mortos no Iraque. De janeiro de 2007 a março de 2014, foram registrados 20.740 homicídios no Estado (sendo 2.860 por ano). O número de soldados mortos durante os oito anos e nove meses de guerra no Iraque, foram 21.428 (sendo 2.448 por ano).
Portanto, Gaia foi vítima da violência que serve para gerar lucros exacerbados para grandes capitalistas, a exemplo do senador pelo Ceará, Eunício de Oliveira/PMDB, empresário do ramo de segurança armada e privada. A violência tem sido também, um bom negócio na política, pois elege bancadas da bala, nas câmaras municipais, Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional.
Enquanto o estado prende Miriam, mulher, negra e pobre por ser um dos suspeitos do assassinato de Gaia Molinari, mulher, branca e rica, os outros 14 suspeitos estão em liberdade. Inclusive alguns desses, são homens conhecidos na região por assediarem e atacarem mulheres. Até o fechamento dessa nota, não há evidências da participação de Miriam no homicídio. Mesmo que, de alguma forma, ela estivesse envolvida ou tivesse sido indiciada, pela condição de ter bons antecedentes, endereço fixo e profissão, poderia, como qualquer outro, responder em liberdade.
A LSR/CIT defende justiça para Gaia e Miriam. Exigimos a liberdade de Mirian França imediatamente. Reivindicamos o afastamento da delegada Patrícia Bezerra, da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur), como presidente do inquérito policial do caso. Repudiamos a sociedade capitalista que visa o lucro em primeiro lugar, em detrimento ao direito à vida digna. Portanto, essa tragédia prova que há um viés classista e racista no poder judiciário na sociedade vigente, por isso, construir uma sociedade anticapitalista, socialista, sem racismo, homofobia e machismo é urgente e necessária.
Fontes:
- http://www.opovo.com.br/app/ceara/jijocadejericoacoara/2013/03/08/notjijocadejericoacoara,3019143/jijoca-de-jericoacoara-e-um-dos-50-municipios-que-mais-registraram-cas.shtml
- http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/jeri-vive-clima-de-inseguranca-1.589675
- http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/policia/violencia-no-ceara-numero-de-homicidios-se-iguala-a-guerra-do-iraque/