Ferguson: Construir um novo movimento negro independente!

A perspectiva de um novo movimento negro independente tem sido levantada através dos bravos protestos protagonizados pela juventude de Ferguson, Missouri (EUA), nos últimos três meses. Como no assassinato de Emmett Till em 1955, que ajudou a desencadear o Movimento dos Direitos Civis, o assassinato de Mike Brown pela polícia simboliza a opressão e a violência sistemática que os negros sofrem na sociedade norte-americana.

Todo o processo de investigação (feita exclusivamente por policiais) e o uso de juris secretos falhou na busca por justiça. A Socialist Alternative, organização-irmã da LSR nos EUA, defende uma investigação independente, feita tanto por organizações das comunidades negras quanto por entidades da classe trabalhadora mais ampla, como os sindicatos. Defendemos a formação de um conselho popular democraticamente escolhido, com poderes reais para lidar com a brutalidade policial. Este conselho deve ter o poder de contratar e demitir policiais, além de iniciar investigações independentes.

A única forma de ter justiça é construindo nas ruas o movimento mais poderoso que conseguirmos! Isso deve incluir uma campanha massiva de protestos e outras atividades, incluindo, onde for possível, paralisações ou greves.

Novamente, nós temos visto os tribunais serem forçados a tomarem decisões baseadas na opinião pública, ao invés de puramente nas evidências do caso. Isso é para evitar o descrédito perante o público.

Mobilizar protestos de massa

Historicamente, a classe trabalhadora nos Estados Unidos organizou diversas campanhas de massas em solidariedade a trabalhadores negros que sofreram com as injustiças da polícia e da justiça, como nos casos de Big Bill Haywood em 1907, Huey Newton em 1968 e Mumia Abu-Jamal em 1999. Esses casos foram amplamente vistos como representativos no processo político na sociedade, muito similar com o papel do grande júri no assassinato de Mike Brown. Em cada um desses casos, a classe dominante recuou, pois estava com medo de uma explosão social.

Novas organizações do movimento negro, outras organizações que lutam por justiça social, bem como sindicatos, devem organizar e mobilizar milhões de trabalhadores para protestos de massa por conta do assassinato de Mike Brown. Além disso, devem utilizar o poder extraordinário dos trabalhadores para enfraquecer o sistema capitalista.

Em um pequeno exemplo de como isso é possível, trabalhadores negros e brancos da filial da transportadora UPS em Minneapolis realizaram uma ação inesperada em solidariedade aos protestos, ao se negar a fazer o despacho de equipamentos para tropas de choque que seriam utilizados contra os manifestantes em Ferguson.

Tais atitudes evocam um antigo lema dos trabalhadores norte-americanos do início do século XX: “An injury to one is an injury to all” (similar ao “mexeu com um, mexeu com todos” do Brasil). Em primeiro lugar, tais ações reconhecem que a mesma polícia militarizada usada em Ferguson vai também ser usada para reprimir outras greves e movimentos sociais, como o Occupy Wall Street. Ao mesmo tempo, essas ações também oferecem maneiras para os trabalhadores brancos agirem em solidariedade com seus companheiros negros e de demais raças, passando por cima da grande mídia – que tenta assustar o público com ameças de uma “guerra racial”.

A alta da repressão nos Estados Unidos é diretamente conectada com o fato de que a sociedade norte-americana é uma das mais desiguais economicamente na história da humanidade. Torna-se mais gritante se você dividí-la por raça e gênero. A partir de 2010, uma família branca, em média, teve seis vezes o total de bens – casa, carros, poupança, aposentadoria – do que uma família negra ou latina. Para cada dólar que um homem ganha, as mulheres ganham 77 centavos. A diferença é ainda maior quando verificamos a situação das mulheres afro-americanas ou latinas: 64 centavos e 56 centavos, respectivamente, para cada dólar recebido por um homem branco.

Os socialistas revolucionários têm apontado a conexão entre um estado repressor e racista e a sociedade de classes. Em 1966, época na qual muitos afro-americanos ativistas abraçaram o socialismo, o programa do Partido dos Panteras Negra tinha demandas como 100% de emprego, financiamento completo de programas sociais e o fim da guerra do Vietnã, além de pedidos pelo fim da violência policial e de novos julgamentos de todos os prisioneiros negros por “pessoas de suas próprias comunidades”. Nós temos uma abordagem semelhante hoje. Movimentos como a luta pelo salário mínimo de 15 dólares/hora oferecem uma ferramenta para organizar milhões de trabalhadores para a luta. Tal movimento, conectado com o movimento sindical mais amplo, iria oferecer um veículo muito mais forte pra desafiar a brutalidade policial e a encarceramento em massa do que organizações não-governamentais liberais e políticos do Partido Democrata.

Conectando Repressão Policial e Desigualdade Econômica

Nessas bases, um novo movimento negro independente pode ser construído e ter o potencial de alcançar uma geração inteira de jovens negros e latinos que têm sido totalmente privados de direitos pelo capitalismo norte-americano. Ao mesmo tempo, poderia construir pontes para a insatisfação de milhões de pessoas da classe trabalhadora contra Wall Street e os donos das grandes corporações, bem como uma desilusão massiva com esse sistema político falido. Começando a construir um impulso de ação nas ruas, locais de trabalho e universidades, nas candidaturas de candidatos independentes que devem trazer essas demandas para o debate político, utilizando a atenção massiva nas eleições como um megafone para avançar o movimento.

Para construir em direção a um novo movimento de libertação em massa:

  • Fim do racismo e da brutalidade policial: por uma luta unificada contra opressão, humilhação e exploração de trabalhadores, jovens, imigrantes e pessoas de todas as raças.
  • Justiça para Mike Brown, Trayvon Martin, e todas as outras vítimas do sistema judicial racista.
  • Fim do racismo econômico: $15/ hora do salário mínimo, habitação acessível, empregos seguros, assistência médica e educação.

 

No entanto, para derrotar a violência policial, o racismo e a pobreza, nós precisamos abordar as suas causas profundas, a raiz do problema. Isto é, o capitalismo. Esse sistema todo, aqui e em todo o mundo, é baseado na exploração e opressão das pessoas comuns. Esta é a forma como o capitalismo funciona: os trabalhadores são miseráveis, oprimidos e aterrorizados, enquanto a riqueza está concentrada lá no topo. Ferguson pode ser um pontapé inicial para um movimento novo e vibrante para limpar os crimes do capitalismo e da supremacia branca das gerações presentes e futuras. A necessidade de mudar o sistema está na ordem do dia e tem que ser agora! Um mundo socialista é possível!

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