29 de agosto: Na luta pela visibilidade lésbica
Nos noticiários, nas novelas ou nas redes sociais, percebe-se que hoje se fala muito mais dos movimentos ou das comunidades LGBT. Existe, sim, um crescimento de visibilidade. Mas, o que ela tem mostrado ou para o que tem apontado?
O boom das Paradas Gay trouxeram grande visibilidade à comunidade LGBT, mas pouco conseguiu debater sobre as suas pautas. Aliadas a grupos empresariais, que nada querem saber dos avanços concretos para as pessoas LGBT (pelo contrário, apenas desejam lucrar em cima da opressão e exclusão), as Paradas Gay e outros movimentos influenciados por elas cresceram sem nenhum debate político e levaram consigo todas as suas contradições. Uma delas é a invisibilidade de certos setores dentro do próprio movimento. Esta invisibilidade não é fruto das Paradas, mas são reforçadas e mantidas pela mesma.
Quando falamos sobre “grande visibilidade” para os movimentos LGBT, estamos falando do destaque para apenas um grupo: os homens gays. Um movimento “GGGG” – sigla alcunhada como ironia à invisibilidade e exclusão dos outros sujeitos: lésbicas, bissexuais e pessoas trans*. É salutar o fato, de que estes homens gays visibilizados, no que se refere ao estereótipo criado, são os que consomem, em grande parte os brancos e burgueses, jogando para debaixo do tapete o debate de classe e demais opressões. Diante disso, criam-se frentes de resistência e luta por espaço e voz dentro do movimento LGBT. À exemplo disso construiu-se o dia 29 de agosto, Dia da Visibilidade Lésbica e Bissexual.
Dois grandes estigmas
As mulheres lésbicas e bissexuais carregam em sua identidade dois grandes estigmas: sofrem violência por serem mulheres e por se relacionarem com outras mulheres. Por isso, muitas vezes, escolhem o caminho de esconder sua sexualidade. Escondem-se da família e na escola para não serem oprimidas. Nos espaços públicos, escondem-se para não serem reprimidas e violentadas. E no ambiente de trabalho, para manter seu cargo ou mesmo seu emprego. O sistema capitalista acaba também se apropriando e aproveitando da subjugação dessas mulheres. Como mais vulneráveis, são as mais facilmente exploradas também.
Existem muitas mulheres que passam uma vida inteira “no armário” a esconder parte de sua sexualidade. Outras não conseguem ou escolhem não se esconder, ficando sujeitas à violência física ou verbal. São recorrentes, por exemplo, os casos de “estupro corretivo” – e muitos destes acontecem dentro da própria família. Violenta-se sexualmente a mulher lésbica ou bissexual para que ela “aprenda a gostar de homens”.
Outra realidade é a fetichização da relação lésbica, que a objetifica e a coloca como desejo sexual do homem. Por ser fetiche ou por ser “pecado”, a realidade é de violência cotidiana. A violência física e sexual é a expressão da ideologia machista na prática, a submissão colocada à força.
Esse tipo de violência contra as mulheres que tem como motivo elas estarem ou terem interesse em relações lésbicas chama-se lesbofobia. Dificilmente chega a ser denunciada e, quando existe a denúncia, ela não vem caracterizada dessa forma. Por isso, os dados estatísticos de lesbofobia se confundem muito com os dados gerais de violência contra a mulher. Essa invisibilidade até nos dados mascara uma situação de grande violência contra essas mulheres.
São necessárias políticas de combate à lesbofobia que punam os agressores, mas que também eduquem contra a violência e a favor da igualdade. E essa educação tem que se dar em todos os espaços da sociedade, inclusive nas escolas. A retirada da diretriz do Plano Nacional de Educação (PNE) que propunha a promoção da igualdade sexual e de gênero é, sim, uma grande perda, mais um golpe à luta contra a opressão, orquestrado pelos fundamentalistas religiosos, mas consentido pelos lulistas.
Outra política importante é a proteção às vítimas de lesbofobia. Espaços como a Casa da Mulher Brasileira também poderiam acolher essas mulheres, todavia além de limitado o número destas, pois irá existir somente nas capitais, nenhuma foi entregue até agora (apesar do prometido para maio de 2014). Além disso, são necessárias ações em vários outros âmbitos, como na atenção à saúde, na educação sexual da mulher lésbica e bissexual, no combate ao assédio no ambiente de trabalho, etc.
Ataques conservadores
Políticas assim não são aprovadas “naturalmente”. Pelo contrário: na Câmara dos Deputados, a bancada conservadora tem se empenhado para que elas não apenas deixem de ser aprovadas, mas que também sejam criadas e aprovadas medidas conservadoras que favoreçam a criminalização e exclusão dessas mulheres.
Na luta por igualdade de gênero e igualdade sexual, é necessário nos organizarmos para denunciar a violência e a articulação dessa bancada conservadora no parlamento, assim como pautar políticas concretas de avanço! Por um sistema que não nos oprima de nenhuma forma, seja por classe, gênero, sexualidade ou raça! Chega de opressão e lesbofobia!