40 anos do CIT – Socialismo e internacionalismo
Desde o início do século 20, cada década tem visto revoluções, à medida que as massas trabalhadoras tentam acabar com a opressão e a exploração que sofrem sob o capitalismo. Também tem havido lutas de massas, revoluções, contrarrevoluções e poderosos eventos que mudam o mundo. Os velhos impérios desapareceram, o equilibrio mundial de forças mudaram repetidamente, a população mundial tornou-se urbana e jovem, enquanto ameaças ambientais e climáticas passaram a ser grandes questões internacionais.
Os últimos 40 anos não foram exceção a essa história de lutas de massas. Meros quatro dias após a formação do CIT, 48 anos de governo militar e ditatorial em Portugal acabaram com a Revolução dos Cravos. Poucos meses depois, a junta militar grega caiu. Mas a história não se desenvolve em uma linha reta. Em ambos os países, as classes dominantes conseguiram sobreviver, em especial porque os movimentos de massas que as ameaçavam não tinham uma estratégia concreta de como substituir o capitalismo, ou uma direção preparada para liderar tal batalha.
Defendendo o socialismo depois do colapso do stalinismo
Os últimos 25 anos foram complicados pelo colapso da União Soviética e dos Estados stalinistas. Governados por uma elite totalitária privilegiada, esses Estados não podiam ser considerados socialistas. Contudo, o fato de que se apoiavam em uma economia planificada, nacionalizada e não-capitalista fazia com que sua mera existência provasse que o capitalismo não era o único sistema possível.
O colapso pós-1989 destes Estados foi utilizado pelas classes dominantes em sua contra-ofensiva, após a radicalização ideológica dos anos 1960 aos 1980, ao dizer que não havia alternativa ao capitalismo. Isso ajudou a acelerar o giro à direita, pró-capitalista, de muitos dos movimentos dos trabalhadores.
Mas, desde o início da última crise do capitalismo global, em 2008, entramos em um novo período mundial. Em muitos países, especialmente nos imperialistas, os padrões de vida caíram ou ainda estão caindo. Contudo, uma importante característica hoje é que a combinação de globalização e inovações da comunicação fortaleceu uma consciência internacional.
Cada vez mais gente vê as questões da economia, guerra e paz, e ambiental, como internacionais e ligadas ao capitalismo, ou pelo menos à dominação das gigantes corporações financeiras, fabricantes e comerciais. Ao mesmo tempo, mais pessoas estão conscientes das possibilidades inerentes dos avanços científicos e tecnológicos se forem utilizados no interesse da população e do meio ambiente ao invés dos lucros corporativos. Mas, mais importante, a experiência da austeridade e da luta contra ela está forjando uma compreensão da necessidade de mudar de forma fundamental a sociedade. Eventos como a derrubada do ditador egípcio Mubarak em 2011 têm um impacto mundial.
Esses eventos fornecem uma base potencial importante para uma organização socialista internacional que una movimentos de todo o globo. Esse século já viu movimentos e lutas internacionais, como a oposição à invasão do Iraque por EUA e Grã-Bretanha, os protestos mundiais tipo Occupy/Indignados, os protestos anti-austeridade na Europa, o impacto das revoluções tunisiana e egípcia e a recente luta internacional dos estivadores.
Mas, se o movimento dos trabalhadores não puder fornecer uma resposta concreta às questões atuais, haverá o perigo de que “respostas” nacionalistas reacionárias possam ganhar apoio, lançando as bases para futuros conflitos chauvinistas ou étnicos dentro e entre os Estados. Um dos objetivos que o CIT estabeleceu para si mesmo, 40 anos atrás, é ajudar a armar o movimento operário com um programa e estratégias que possam ganhar nossas batalhas imediatas e acabar com o domínio venenoso do capitalismo sobre o mundo, começando por explicar o papel central da classe trabalhadora.
Fundação do CIT em uma época revolucionária
Não foi acidente que a fundação do CIT ocorreu em um período muito turbulento e radical. O longo crescimento econômico pós-2ª Guerra estava acabando. Mas, já antes da crise do petróleo de 1973, que veio a simbolizar a mudança da situação, a Europa e a América Latina já estavam envolvidas por movimentos e crises revolucionárias, em especial a França em 1968. No Vietnã, o imperialismo Americano enfrentava sua primeira derrota militar. Os regimes stalinistas foram abalados pela “Primavera de Praga” na então Checoslováquia e a onda de greves operárias em 1970/71 na Polônia – movimentos que não eram pró-capitalistas mas, na essência, buscavam estabelecer uma democracia dos trabalhadores.
Naquela época, os sindicatos na Grã-Bretanha, a primeira base do CIT, estavam num ponto alto, mas não apenas em termos de números. As vitórias dos mineiros e a derrota do governo Conservador nas eleições nacionais de 1974 mostraram sua força potencial.
O início de uma crise capitalista generalizada aprofundou uma radicalização política no movimento operário de muitos países. A amarga experiência da derrubada sangrenta do governo Allende em 1973, no Chile, provocou uma ampla discussão sobre como o socialismo pode ser alcançado e também como impedir um bloqueio contrarrevolucionário no caminho do movimento. Foi, verdadeiramente, um período de luta internacional.
Em 1974, a ditadura espanhola de Franco, face a uma revolução em gestação, desmoronou. Mas a classe dominante espanhola buscou e obteve a ajuda dos líderes operários para conter o movimento revolucionário dentro do capitalismo e estabelecer uma democracia capitalista, não socialista.
Contra esse pano de fundo, os marxistas que fundaram o CIT, então em torno do jornal Militant, começaram a alcançar uma audiência muito mais ampla na Grã-Bretanha e, logo, em outros países. Isso começou inicialmente na Europa, mas também no Sri Lanka que, com sua história de um movimento trotskista com apoio de massas, fez com que as idéias do CIT encontrassem um eco precoce.
Contudo, apesar dos levantes revolucionários mundiais dos anos 1960 e 1970, a ideia de uma verdadeira Internacional dos trabalhadores, embora atrativa para muitos ativistas, tornou-se menos central para a massa do movimento. Principalmente por causa do fracasso das Internacionais Comunista e Socialista de se desenvolverem como organizações que lutam para mudar o mundo. Mas, no século 21, com a óbvia e crescente interdependência mundial, a questão de ação e luta internacionais está mais uma vez posta de forma aguda.
Ao lado da necessidade de soluções globais, a experiência do movimento dos trabalhadores mostrou várias vezes que somente protestos podem ganhar demandas individuais, mas não mudar fundamentalmente a situação, algo que só pode ser conquistado derrubando o capitalismo. Para para assegurar que um movimento tenha um programa de ação concreto que forneça respostas nacionais e internacionais e uma direção clara, é preciso um partido que o formule e o ponha em prática.
Como ganhar lutas permanentemente?
Hoje, os capitalistas têm pouco otimismo. Falta-lhes confiança, como revelado em suas atuais discussões sobre se eles podem parar de canalizar dinheiro para muitas economias via afrouxamento monetário quantitativo (QE) e, se sim, quais serão os efeitos.
Essas condições estão preparando novos períodos de luta e revolução. No geral, neste período de crise, muitas lutas têm sido defensivas, contra a ofensiva das classes dominantes. Mas, em países que viram um crescimento econômico, como Brasil e China, tem havido batalhas ofensivas para se obter melhorias.
Na Grécia os trabalhadores conduziram incríveis 36 greves gerais desde 2010, mas não foram vitoriosos em impedir a ofensiva da classe dominante. Mas isso não descarta uma nova radicalização, talvez a princípio no plano político. Setores do movimento estão tirando lições de suas experiências de forma simultânea, um processo que a seção local do CIT, o Xekinima, influenciam e são parte.
As revoluções e lutas de massa dos anos recentes, mais uma vez, colocaram a velha questão de como os ganhos podem ser consolidados e a velha ordem derrubada. O Egito é o ultimo exemplo de como, em fevereiro de 2011, as massas trabalhadoras tinham o poder em suas mãos, mas não compreenderam isso totalmente, nem viram o que era preciso ser feito.
Poderosas revoluções pode varrer quase completamente a velha ordem, mas, como em Portugal depois de 1975, ela pode voltar se a classe trabalhadora não tomar o poder. Obviamente, cada revolução e luta tem suas próprias características, mas nas revoluções a lição geral de como a classe trabalhadora na Rússia foi capaz de tomar e manter o poder em 1917 ainda é essencial.
A situação de hoje é similar, de várias maneiras, à do final do século 19, quando o movimento operário de massas se desenvolveu. Agora, é uma questão de construir ou reconstruir novas organizações. Um complicador é que, em muitos países, os trabalhadores têm a amarga experiência da decadência ou colapso das velhas organizações, especialmente os antigos partidos comunistas, social-democratas e socialistas, agora em sua maioria transformados em organizações pró-capitalistas ou totalmente capitalistas.
Reconstruindo, e rearmando o movimento dos trabalhadores
O CIT, em muitos países, está jogando um papel chave nesta reconstrução e, onde for apropriado, defende que se deve começar a criar novos partidos políticos da classe trabalhadora como um passo para a construção de um movimento socialista de massas. Mas isso não é apenas propaganda. Na Grã-Bretanha, África do Sul e Nigéria as seções do CIT foram instrumentais em tomar passos para a formação de novos partidos. Em países como Austrália, Irlanda, Sri Lanka, EUA e Suécia, camaradas do CIT atualmente travam lutas eleitorais sob sua própria bandeira.
Onde existem partidos de esquerda, como o PSOL no Brasil e o Die Linke na Alemanha, os camaradas do CIT são ativos neles, defendendo também as medidas necessárias para fortalecê-los como organizações socialistas. Isso é essencial porque, sem um programa socialista claro, os novos partidos de trabalhadores podem seguir o caminho dos velhos – como o PT no Brasil – ou simplesmente entrar em colapso – como o PRC, recentemente, na Itália. Defender tal programa é parte da nossa tradição no CIT. Mas, desde nosso início, nós não apenas debatemos políticas, sempre temos sido ativos – participando e iniciando lutas, grandes e pequenas.
Mas, de muitas maneiras, essas quatro primeiras décadas são apenas a nossa pré-história. Já estamos em um período tumultuado, tudo está sendo questionado ou logo o será. As experiências deste período do capitalismo, a crescente crise ambiental, com nenhum futuro a oferecer à vasta massa de jovens, produzirá tempestades revolucionárias. O CIT jogará um grande papel nestes eventos, incluindo a construção de um movimento que possa acabar finalmente com esse sistema capitalista brutal, caótica e injusto e tornar a vida um prazer para todos.