Privatização causou acidente na Linha 4 do metrô

No dia 12 de janeiro, abriu-se uma enorme cratera na linha quatro do metrô de SP. Muito já foi dito sobre o assunto, principalmente pelo fato de sete pessoas terem sido vítimas do acidente. Mas a questão que ainda fica é: quais são as causas dessa tragédia?

Não se trata, como diziam as empreiteiras, de que o excesso de chuva tenha sido o principal responsável pelo problema.

As principais causas do desastre foram o tipo de projeto firmado (turn key, fazendo com que as empreiteiras responsáveis tenham o controle da obra e o Estado não tenha poder de fiscalização), o tipo de parceria que se formou, as PPPs (Parceria Público-Privada), e a busca por lucro das empreiteiras que formam o consórcio.

A lógica do lucro acima de tudo foi determinante. As equipes de trabalhadores que cumprissem suas “metas” em um menor prazo e com um gasto abaixo do que o esperado ganhavam um “bicho” (dinheiro a mais).

Isso ficou claro recentemente, quando foram encontradas rachaduras de grande espessura nas paredes de algumas estações, cimento de baixa qualidade, soldas mal feitas nas estruturas de aço, etc. Depois do aparecimento desses “defeitos” as obras foram paralisadas.

Além disso, o fato da obra passar por baixo do rio Pinheiros reflete os interesses do mercado imobiliário, pois nas outras linhas de metrô, que passam por terrenos semelhantes, esses trechos são aéreos. Só que isso desvaloriza o preço das casas da região.

O Socialismo Revolucionário entrevistou Alex Fernandes, diretor do Sindicato dos Metroviários e membro da oposição formada pelo PSOL, PSTU e independentes. A seguir trechos da entrevista.

 SR – Você acha que a proposta de privatização do metrô tem relação com o acidente?

Alex – A responsabilidade do acidente ocorrido na obra da linha quatro, em Pinheiros, é conseqüência da Pareceria Público-Privada, que impede que aja fiscalização por parte do metro numa obra tão importante como essa. Como todos sabem, nunca tivemos tantos acidentes em outras obras do metrô, e agora os acidentes são constantes por conseqüência do contrato mal estabelecido para privilegiar as empreiteiras e o consórcio de operação do sistema metro-ferroviário.

 SR – No ano passado, os metroviários entraram em greve contra a privatização. Como foi a reação da sociedade?

Alex – A principio nós ficamos receosos, pois achávamos que a população não iria refletir a greve contra a privatização. A população aderiu “massivamente” e solidarizou-se contra a Parceria Público-Privada e contra a privatização do metrô. Portanto, a greve foi um instrumento legítimo e que nos deu toda condição para fazer a discussão com a população.

 SR – Caso seja necessário vocês vão entrar em greve novamente?

Alex – O caminho que nós estamos trilhando a partir do acidente da linha 4 evidencia todas as denúncias que nós fizemos anteriormente e justifica nossa greve. Então, se for preciso no próximo período nós vamos estar mobilizando a categoria para discutir uma nova paralisação do metrô para barrar a privatização. E mais, discutiremos com a Conlutas, Intersindical e setores da CUT, que queiram fazer a luta, uma greve nacional para impedir que novas privatizações sejam implantadas em nosso país.

Um grande problema para a luta da categoria metroviária é que a maioria da direção do Sindicato é composta pelos governistas do PCdoB. Isso significa que os “comunistas” possam tentar barrar algumas iniciativas que denunciem o governo Lula ou atrapalhem seu “aparelismo”.

 PPP não é solução para criação de obras

A Parceria Público-Privada voltou a ser alvo de debates e questionamentos após o acidente na linha amarela do metrô de SP. Mas, o que são as PPPs?

A PPP é o “modelo petista” de privatização nos moldes do neoliberalismo, pois o Governo entra com verbas para subsidiar obras, que terão o controle das empresas privadas envolvidas, e os lucros gerados após o funcionamento do serviço irão, durante um longo período, para os empresários.

O principal argumento que o Governo e os defensores da PPP utilizam em favor da medida é que a União não tem verba para desenvolver tais obras de infra-estrutura. No entanto, o exemplo prático da PPP, o consórcio da linha 4 amarela do metrô de SP, contraria esse argumento, pois o estado entra com 70% dos investimentos, enquanto a iniciativa privada entra com apenas 30%. E caso o serviço gerado pela obra (metrô, rodovias, etc) já em andamento der prejuízo, o estado cobrirá o déficit. Isso mostra o verdadeiro interesse das PPPs: garantir sempre os lucros das empresas envolvidas no negócio.

 Outros projetos de PPPs

O governo federal e alguns governos estaduais querem implementar outros projetos de PPPs. Na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, existe um projeto de PPP para conservar a estrada BR-116 e a BR-324, segundo o Ministério do Planejamento. No Rio de Janeiro, Sérgio Cabral já anunciou que deseja que sejam regulamentadas as Parcerias Público-Privada que poderão ser usadas em obras de saneamento e metrô.

Para completar a leva de projetos dessa natureza, Lula anunciou que as obras realizadas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) também terão esse tipo de parceria.

O que nos resta é lutar contra o projeto de PPP e exigir uma comissão de inquérito independente, que investigue o acidente da estação Pinheiros, formada pelos sindicalistas do metrô, técnicos do IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológicas), Associação dos moradores da região, entre outras instituições confiáveis.

Você pode gostar...