Por um Encontro nacional dos movimentos de Junho!

     Em junho desse ano, a insatisfação popular com a dura realidade em que vivemos ganhou as ruas. Milhares de jovens e de trabalhadores do país todo ocuparam as principais vias das cidades em manifestações e protagonizaram um momento histórico. O aumento das tarifas do transporte público foi a gota d’água para que toda uma série de reivindicações viessem à tona. 

     A partir das mobilizações contra o aumento abusivo das passagens, diversas outras bandeiras e pautas foram incorporadas aos atos, o que pôde ser percebido nitidamente de norte a sul do Brasil. Denúncias dos crimes cometidos pelo Estado nos preparativos da Copa do Mundo e palavras de ordem pelo direito à moradia, por educação e saúde de qualidade, contra a corrupção e por melhores condições de vida deram a tônica das chamadas “jornadas de junho”.

     Assim que os movimentos se massificaram, os governos tremeram: por todo o país vimos aumentos de tarifa sendo revogados. Conquistamos o que os governantes diziam “ser impossível” e isso mostrou a todas e todos que a luta vale a pena, que nossos instrumentos de reivindicação são legítimos e que é possível obter vitórias.

Assembleias de base
    
     Cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Campinas e Natal construíram comitês de luta e assembleias populares para debater os rumos e dar continuidade às mobilizações. Tal experiência é fundamental para que os ativistas e militantes que compuseram os movimentos de junho tenham um espaço amplo, de construção unitária, onde caibam diferentes perspectivas e propostas, de modo a organizar coletivamente os próximos passos das lutas.

     Mais do que nunca, portanto, faz-se necessário concretizarmos um Encontro dos movimentos de Junho, um fórum unitário de construção coletiva das lutas que virão e que ainda estão latentes. É importante ressaltar a urgência da construção desse fórum, que deve ser realizado idealmente entre o segundo semestre desse ano e o primeiro de 2014, de modo que seja inserido ainda no calor das mobilizações e, principalmente, aponte ações coordenadas para o período da Copa do Mundo.

     Nesse sentido, para que possamos dar esse passo organizativo, propomos que se organize este Encontro com base em três grandes eixos:

1) Tarifa zero, já!
2) Contra a repressão e violência aos movimentos e lutadores!
3) Contra os investimentos massivos na Copa! Por investimento em Saúde e Educação!

     Em vários lugares do Brasil, os comitês e assembleias populares mostraram que é possível organizarmos pautas unitárias, para nortear a luta de forma conjunta com os movimentos populares, os sindicatos e coletivos de juventude. O Encontro seria um passo inicial, mas é preciso priorizar sua organização, sabendo que as ruas permanecerão sendo reflexos de nossos erros e acertos, sendo síntese das políticas que construirmos coletivamente. Que venham cada vez mais junhos e vitórias!

Por uma síntese da radicalidade massiva de junho com a ação grevista dos trabalhadores

     As jornadas de junho apresentaram elementos decisivos para o conjunto da esquerda socialista. O sentimento anti partidário manifestado pelo movimento de massas representou um rechaço aos partidos políticos adaptados ao sistema, às organizações verticalizadas e autoritárias, etc. Muitos jovens se utilizaram de métodos voluntaristas e de agressão a símbolos do capitalismo. Outros pintaram a face de verde e amarelo, porque viam na bandeira nacional uma alternativa às bandeiras que refletiam interesses mesquinhos e não a legítima vontade do povo. A ausência de uma clara referencia de classe, de esquerda e socialista, potencializou essa reação confusa, ainda que inevitável no atual contexto.

     Em julho, a luta incorporou outro componente com a entrada em cena das centrais sindicais e a realização de greves, paralisações parciais de locais de trabalho e o bloqueio de rodovias por todo o país. O dia nacional de luta de 11 de julho levantou um elemento central para a continuidade das mobilizações: a paralisação da produção e circulação de mercadorias. As velhas centrais sindicais pelegas e governistas se viram obrigadas a fazer algo para não perderem o trem da história e se deslegitimarem. Sem autoridade e respaldo, a burocracia sindical não teria força para controlar e frear o movimento posteriormente. Ainda assim, o fato de que greves aconteceram representa um importante avanço que deve ser aprofundado. Centrais de luta como a CSP- Conlutas e movimentos sociais combativos como o MTST, Terra Livre, etc, devem buscar fazer avançar esse processo.

     As lutas de junho e a paralisação nacional de 11 de julho não brotaram do nada. Esse processo já vinha sendo gestado desde a grande greve dos trabalhadores do setor público em 2012, quando mais de 300 mil trabalhadores cruzaram os braços e foram às ruas, entre tantas lutas e greves de outras categorias. A tarefa de construir pela base e com democracia uma greve geral de 24 horas, massiva e radicalizada, é uma forma de avançar na síntese entre o que houve de melhor em junho e julho e as paralisações de 30 de agosto.

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