Campanha eleitoral da Alternativa Socialista tem repercussão histórica nos EUA
Melhores resultados para socialistas em décadas – Oportunidades para avançar na política em prol da classe trabalhadora deve ser aproveitada
Dois candidatos da Alternativa Socialista (CIT nos EUA), enviou ondas de choque pelos Estados Unidos no dia 6 de novembro. Ambos os candidatos, Kshama Sawant em Seattle e Ty Moore em Minneapolis, conduziram as campanhas eleitorais explicitamente socialista mais fortes em grandes cidades dos EUA em décadas.
Ainda só há resultados iniciais e mais votos estão sendo contados no próximo par de semanas. No momento, o resultado ainda está indefinido em ambos os casos. Moore, está somente 130 votos atrás de seu adversário. Sawant, está somente 7% atrás do candidato democrata na contagem inicial de cerca de 38% do total de cédulas a serem apuradas, sendo que o restante dos votos a serem apurados tendem mais para ela. Isso foi confirmado na segunda leva de votos contabilizado, da qual ela tinha uma pequena maioria.
Independentemente do resultado final, os votos para esses ativistas socialistas ilustram claramente o vácuo na política dos EUA e a raiva contra o establishment controlado pelas grandes empresas.
As duas campanhas se fortaleceram com a enorme desconfiança que existe em relação ao sistema político, enraizada na Grande Recessão e a lenta recuperação econômica. A recente paralisação do governo federal, quando não havia acordo sobre o orçamento, também alimentou a ira popular que permitiu que as campanhas socialistas tivessem um eco entre os trabalhadores. Durante a paralisação do governo, o índice de aprovação do Congresso caiu para um mínimo histórico de 5%. Em uma pesquisa Gallup, um recorde de 60% disseram que é necessário um novo partido nos EUA, e um nível baixo recorde de apenas 26 % disseram que os dois partidos estavam fazendo um trabalho adequado.
Muitas pessoas nos EUA se sentem desencorajadas e desmoralizadas pelo sistema eleitoral pró-empresas e fraudulento. No entanto, essas campanhas demonstraram sem sombra de dúvida que os candidatos independentes e pessoas da classe trabalhadora podem desafiar o establishment sem receber um centavo de dinheiro das empresas! Ty Moore arrecadou mais dinheiro do que seu principal adversário apoiado pelas empresas e Kshama Sawant levantou cerca de 110 mil dólares, em comparação com os 238 mil dólares de seu oponente.
As campanhas da Alternativa Socialista mostraram claramente que é possível para as pessoas comuns e os jovens se organizarem e lutar para mudar o mundo. Alternativa Socialista quer aproveitar esse momento para futuras campanhas dos 99% , como a campanha “Pela sindicalização e um salário mínimo de 15 dólares por hora”, e a luta para taxar os super-ricos para pagar um programa de transporte público ecológico massivo.
Nos próximos meses devem vir mais cortes e ataques contra programas sociais, como Segurança Social, o que vai minar mais ainda o apoio aos dois partidos das grandes empresas. Essas campanhas socialistas têm demostrado a abertura que existe para uma política independente e classista, algo que deve ser utilizado nas eleições de 2014. Alianças de líderes sindicais combativos, ambientalistas, socialistas e grupos de direitos humanos devem ser construídas em cada cidade e em todo o país para organizar movimentos e montar candidaturas independentes.
Estes resultados eleitorais, juntamente com a “Primavera Árabe”, a revolta dos trabalhadores em Wisconsin e o movimento “Ocupe”, tornaram possível o que parecia impossível. Eles estão dando início a um processo totalmente novo na sociedade. Não são apenas estas as campanhas eleitorais que está levando ao crescimento de um novo movimento socialista vibrante nos Estados Unidos, mas também servirá como um modelo que irá contribuir para o surgimento inevitável de um novo partido num certo momento, que vai lutar contra o 1% mais rico – um partido de massas da classe trabalhadora.
Ideias socialistas em ascensão
Muitas pessoas de esquerda argumentam que as ideias socialistas não podem ganhar o apoio das massas neste país, mas essas campanhas mostram que eles estão completamente errados. Pesquisas do Pew Research Center mostram repetidamente que a maioria dos jovens e negros agora preferem o “socialismo” ao “capitalismo”. Obviamente, essa consciência é confusa, mas ilustra que as pessoas estão de saco cheio com a desigualdade crescente e com os aumentos insuportáveis no custo de vida e do próprio capitalismo.
Os adversários de Sawant e Moore nem se preocuparam em recorrer a um “anticomunismo” contra as ideias socialistas. Em vez disso, o Richard Conlin, que defendia seu cargo em Seattle, usou argumentos anti-imigrantes e sexistas pouco disfarçados contra Sawant, enquanto Alondra Cano em Minneapolis, se esquivava de fazer campanha negativa, preferindo contar com seu apoio no setor imobiliário e do establishment político.
Ideias socialistas estão claramente de volta à ordem do dia, e Alternativa Socialista está singularmente posicionada para ajudar a construir um novo movimento socialista. Para isso, os socialistas tem que ser os melhores lutadores em defesa das demandas da classe trabalhadora, como o salário mínimo de 15 dólares por hora e a taxação dos super-ricos para financiar empregos e serviços. A Alternativa Socialista destacou-se na esquerda pela nossa capacidade de criar laços com trabalhadores politizados com uma linguagem compreensível. Ao mesmo tempo, explicamos abertamente que as reformas em nossa sociedade só podem ser plenamente sustentadas se o poder for retirado das mãos das grandes empresas e um novo sistema socialista baseado na propriedade pública democrática das 500 maiores corporações for estabelecido.
Construindo movimentos
A campanha de Ty Moore no Distrito 9 de Minneapolis foi construída ao lado de uma campanha importante e com grande visibilidade por justiça habitacional liderada pelo “Ocupe Casas Minnesota”. Moore e a Alternativa Socialista ajudou a lançar esta organização, que defendeu com sucesso muitas famílias de serem despejadas pelos grandes bancos e pela polícia. O centro “Zona livre de despejos” do Ocupe Casa foi no Distrito 9, bairro etnicamente misto habitado por trabalhadores. O “Ocupe Casas” e a campanha de Moore reforçaram mutuamente um ao outro.
Da mesma forma, em Seattle, a campanha de Sawant ajudou a colocar a “Luta por 15” – as greves e protestos de trabalhadores de baixa renda pelo salário mínimo de 15 dólares por hora – no centro do debate político. A Alternativa Socialista construiu energicamente este movimento, auxiliando grevistas criminalizados e combatendo os argumentos contra o aumento do salário mínimo. Quando as organizações de trabalhadores conseguiram incluir um plebiscito sobre o aumento do salário mínimo a 15 dólares na votação no subúrbio de Seattle de SeaTac, a campanha de Sawant energicamente apoiou este movimento, contribuindo para a vitória histórica no plebiscito.
Os dois candidatos a prefeito, que não tinha mencionado o salário mínimo no início de suas campanhas, saíram vagamente em apoio de um salário mínimo 15 dólares por hora. O sucesso da Sawant em deslocar o debate político levou o Seattle Times, o maior jornal de Seattle, a dizer antes da eleição que “o vencedor da eleição de Seattle já é a socialista Kshama Sawant”.
O movimento dos trabalhadores
Estas campanhas eleitorais independentes da classe trabalhadora tem lições importantes para o movimento sindical, que enfrenta uma grave crise. O movimento sindical está sob ataque das grandes empresas e os republicanos do Tea Party estão tentando destruir os direitos sindicais completamente. No entanto, muitas vezes são os políticos democratas que propõem cortes, privatizações e ataques contra os sindicatos. Nesta situação, o movimento sindical precisa recuperar suas tradições de luta e lançar mais candidatos independentes próprios da classe trabalhadora.
Em vez disso, os líderes sindicais muitas vezes apoiam democratas, por medo dos republicanos, hábito, ou pelo fato de que muitos líderes sindicais viverem uma vida de luxo que têm mais em comum com os políticos do que com a base dos sindicatos. No entanto, as campanhas de Moore e Sawant demonstraram que os trabalhadores estão cada vez mais fartos da política de sempre e que apoio dos trabalhadores pode ser adquirido por meio de campanhas independentes honestas com propostas concretas. Moore obteve o apoio ativo do Conselho de Representantes Estadual do SEIU (sindicato de servidores do serviço público) em Minnesota, que desempenhou um papel fundamental na campanha. Enquanto isso, Sawant ganhou apoio de seis sindicatos locais e uma maioria do conselho regional dos sindicatos de King County votaram a favor de apoia-la (embora não conseguindo por pouco a super-maioria necessária para a aprovação).
Nos próximos meses e anos os trabalhadores terão de enfrentar ataques contínuos sobre os seus direitos e padrões de vida. No curso dessas lutas vamos precisar usar protestos, piquetes, greves e ações diretas para nos defender. Trabalhadores terão que lutar para ganhar o controle democrático de seus sindicatos e eleger líderes que estão realmente dispostos a resistir à ofensiva corporativa. Estas batalhas irão mostrar a necessidade dos trabalhadores terem a sua própria representação política independente. As campanhas de Moore e Sawant mostram que os sindicatos podem ter seus próprios candidatos independentes com muito sucesso, o que deve ser um passo para a formação de um novo partido dos 99%.
Próximos passos
Muitas pessoas que apoiaram Moore e Sawant estão rompendo com o Partido Democrata, mas ainda não estão prontos para fazer a ruptura definitiva. A Alternativa Socialista continuará a discutir dentro dos movimentos por justiça social e os democratas são fundamentalmente um partido das grandes empresas, e que os trabalhadores não devem dar apoio a eles, mesmo aos candidatos de sua “ala esquerda”.
Precisamos urgentemente de um partido do povo trabalhador, ligado aos movimentos sociais, dos sindicatos combativos, organizações comunitárias, ambientalistas e socialistas. Como primeiro passo concreto para chegar lá, devemos formar alianças em todo o país com o potencial de se unirem em nível nacional para lançar 100 candidatos independentes da classe trabalhadora nas eleições de 2014. Os sindicatos que apoiaram as campanhas de Moore e Sawant e muitos outros devem lançar chapas completas de candidatos independentes da classe trabalhadora nas eleições nacionais, estaduais e locais.
O capitalismo dos Estados Unidos está em crise econômica e social profunda. O establishment político está desacreditado e seu sistema de governo parece falido. Há uma profunda raiva crescendo contra a desigualdade, racismo, sexismo e homofobia. A destruição ambiental está piorando. A situação está clamando por uma alternativa.
Se os socialistas, verdes e líderes sindicais não aproveitarem essa abertura, então a direita aproveitará. Por exemplo, um candidato do Partido Libertário (que defende um capitalismo totalmente livre) para governador da Virgínia ganhou mais de 145 mil votos nesta eleição. Ainda pior, os informes mostram que grupos abertamente racistas e de extrema-direita estão crescendo.
Esta é uma questão urgente. Precisamos construir ativamente o movimento socialista, juntamente com as alianças mais amplas dos 99%, para desafiar a agenda dos grandes negócios. Os resultados incríveis das eleições de Ty Moore e Kshama Sawant são exemplos brilhantes do caminho a seguir.