POLÍCIA 007: A polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela

A ação da polícia durante as passeatas no Rio de Janeiro vem sendo bastante debatida e muitas vezes questionada pela imprensa e nas redes sociais. No entanto, dentro de um contexto a partir da favela, entendo que a melhor frase das passeatas é “A POLÍCIA QUE REPRIME NA AVENIDA É A MESMA QUE MATA NAS FAVELAS” da rede de comunidades e movimentos contra a violência, e, mesmo assim, a polícia não é exatamente a mesma.

Na favela a polícia sempre foi truculenta, porém truculenta é o menor dos problemas quando se trata de favela. Apanhar na cara, por exemplo, quando se tenta argumentar que está vindo do trabalho, ou que em sua bolsa ou mochila só tem matérias escolares ou de trabalho, sempre foi a regra por aqui, e quando a pessoa é liberada ela pensa aliviada, “vou chegar em casa!” Poderia ser pior, como ser extorquido e não ter como pagar, ou ser convidado a entrar no carro e ser ameaçado ou entregue a criminosos de outra favela como membro rival ou desaparecer, se engana quem pensa que isso só ocorria durante a ditadura. Semanas antes da chacina que matou 12 pessoas na Maré, na madrugada do dia 24 para 25 de junho de 2013, algumas pessoas tiveram suas casas invadidas e suas vidas ameaçadas por polícias, em uma “ocupação de preparação para a UPP” até o momento não sei o que é isso? Se a polícia vai instalar uma Unidade de Polícia Pacificadora é só entrar e instalar, não precisa ficar fazendo incursões, isso é apenas uma maneira de tornar uma vida ruim, em função da violência, em algo ainda pior, assim quando a UPP entra as pessoas dão entrevistas a globo falando que “o inferno acabou..!” Mas isso é outro assunto, as UPPs são um caso a parte que vale ser debatido em outro momento. Voltando a invasão policial do dia 03/05/2013, onde algumas pessoas sofreram vandalismo da polícia, antes mesmo da palavra virar moda, o BOPE e seus comparsas entraram nas casas quebraram moveis e eletrodomésticos, caixas d’água, chegaram até a jogar a maquina fotográfica de um fotógrafo popular aqui da Maré na privada após invadirem sua casa enquanto ele estava na rua. Descrevo esses exemplos para dizer que esses policiais que agora agem de forma violenta por toda a cidade, sempre tiveram na favela a licença 007 “para matar” acobertada pela mídia e a classe média amedrontada pelo “crime organizado”. Acho que a questão é conceitual, a polícia age para reprimir o que a elite chamar de desordem, e a favela, assim como alguns movimentos sociais sempre vão ser vistos como o lugar da desordem, e por isso, merecedores da repressão, no entanto, com a explosão das manifestações entre a classe média desapontada por não ser mais ouvida, inclusive nas urnas, aonde o populismo e o clientelismo vem vencendo e não mais o discurso individualista do empreendedorismo e nível de formação, afinal, “estão batendo em estudante universitário de medicina, direito e até engenharia.” Nem a associação de moradores de Copacabana conseguiu impedir uma obra de metrô de Cabral e Paes. Nesse sentido, outra frase importante me vem a cabeça, dita pelos movimentos de direitos humanos, “o caveirão só atua na favela, quero ver o caveirão na zona sul e no centro” perdeu um pouco do sentido, pois o blindado foi visto reprimindo os manifestantes em Laranjeiras e na Presidente Vargas, claro, guardadas as devidas proporções, já que subir no caveirão para protestar ou atirar pedras no blindado é impensável na favela. De qualquer forma algo novo deve sair disso tudo, pois hoje quando uma pessoa descreve como a polícia age nas favela, muito mais gente se identifica e torna-se muito mais difícil dizer que eram criminosos e mereciam morrer, pois até uma parte substancial da classe média não cai mais nessa. Com essa aproximação de interesses entre parte da classe média e os favelizados, em função da opressão e repressão quase comum, mesmo que as balas na favela não sejam de borracha, acho que a bandeira dos direitos humanos para todos e não só para aqueles que a elite chamava de humanos direitos, pode mudar a política de segurança, e quem sabe desmilitarizar a polícia.