O PSOL sob grave risco

Ajude a derrotar a política que transforma o partido numa ala esquerda do lulismo!

Por um PSOL democrático, baseado nas lutas sociais e de oposição ao PT e à velha direita!

O PSOL obteve um grande avanço nas eleições municipais. Os 2,39 milhões de votos obtidos superam a votação de velhos partidos como o PCdoB e o PV. Esses votos foram resultado da coerência e da militância do partido. Apesar disso, o PSOL está sob grave risco. O risco de deixar de ser a principal referência de oposição de esquerda ao governo do PT e transformar-se numa ala esquerda do lulismo. O risco também de relativizar sua história, seu programa e sua coerência em nome do pragmatismo eleitoral.

Essas mudanças representariam uma ruptura com o projeto original de fundação do partido e só poderiam ser efetivamente implementadas através de ações antidemocráticas contra a base militante do partido.

A gravidade dos ataques ao projeto original do partido fica evidente com a experiência das eleições municipais e a postura adotada pela frágil e artificial maioria da Executiva Nacional do partido.

Descaracterização do PSOL em Macapá

O ponto alto das distorções em relação à história e aos princípios sobre os quais nasceu o PSOL é a política adotada em Macapá. Nesse município, o candidato a prefeito Clécio Luís e o senador Randolfe Rodrigues anunciaram publicamente na campanha do segundo turno uma aliança política com partidos de direita como o DEM, PTB e PSDB. Dirigentes desses partidos ocuparam o tempo de TV do PSOL. Randolfe Rodrigues chegou a anunciar a participação desses setores no futuro governo de Clécio. Já no primeiro turno, Randolfe também apoiou publicamente o candidato a prefeito do PTB que venceu as eleições no município de Santana (AP).

A maioria da Executiva Nacional, de forma dissimulada e envergonhada, sustentou essas posições mesmo sabendo que ferem as resoluções sobre alianças aprovada pelo Diretório Nacional do PSOL, uma resolução que já era excessivamente ampla e que foi rejeitada pela esquerda do partido. Excluindo do arco de alianças do PSOL apenas um punhado de partidos explicitamente de direita (DEM, PSDB, PTB, PMDB, etc), a maioria da direção conseguiu se superar e na prática realizaram alianças até com parte dessa excrescência política.

Diante dos acontecimentos de Macapá e diante do fato de que Randolfe Rodrigues é reincidente, pois já havia realizado uma aliança com o PTB do Amapá nas eleições de 2010 em flagrante desrespeito às decisões da direção nacional do PSOL, não há outro caminho a não ser o encaminhamento tanto de Randolfe como Clécio à Comissão de Ética do partido.

Não se pode aceitar a atitude de omissão por parte da maioria da direção diante desses fatos alegando um arremedo de autocrítica que de fato nunca existiu. Não é possível a coexistência entre a postura de Randolfe e Clécio no Amapá e a política coerente e combativa adotada por milhares de militantes do PSOL Brasil afora. A política adotada no Amapá precisa ser extirpada do partido mesmo que isso signifique a saída do partido desses representantes de outro projeto político. É preciso cortar na própria carne.

Belém aponta existência de dois projetos diversos no PSOL

Apesar da gravidade dos acontecimentos em Macapá, a política adotada pelo PSOL em Belém (PA), principalmente no segundo turno, indica a existência de dois projetos políticos claramente diferenciados para o PSOL.

A inclusão do PCdoB (o partido responsável pelo relatório do projeto de Código Florestal) na coligação, apesar de aprovada pelo Diretório Nacional (que permitiu inclusive ampliar as alianças com PV, PTdoB e PTN), foi um retrocesso político para o perfil oposicionista do PSOL, particularmente na região amazônica. Os recursos para a campanha originados de empresas privadas, incluindo empreiteiras, também representa uma prática que não pode ser aceita em nosso partido.

Mas, o mais grave acontece no segundo turno. Um acordo político da direção da campanha com o PT acabou abrindo espaço para que Lula em pessoa utilizasse o tempo de TV do PSOL para defender seu governo e o de Dilma, que também ocupou o espaço do PSOL na TV. O ministro da educação Aloisio Mercadante, mal saído das iniciativas de repressão aos trabalhadores na histórica greve de três meses das universidades federais, também apareceu no programa de TV do PSOL.

Nada poderia ser mais ofensivo e ultrajante contra a base militante do PSOL do que a imagem de nossos algozes, os principais representantes do governo que ataca os trabalhadores, no programa de TV do nosso partido.

A linha da campanha de Edmilson no segundo turno passou a enfatizar a relação de colaboração entre sua futura administração e o governo federal. Dilma disse o mesmo na TV. Essa seria, para esse setor do partido, a grande vantagem do candidato do PSOL em relação ao candidato do PSDB. A bandeira de oposição ao governo federal foi entregue à direita. O PSOL lamentavelmente passou a ser a ala esquerda do lulismo. Isso é inaceitável.

Oposição de esquerda ao governo do PT ou ala esquerda do “lulismo”?

A política adotada em Belém assume contornos gravíssimos do ponto de vista do futuro do PSOL. Num sentido é ainda mais grave que a política adotada em Macapá. Isso porque é difícil imaginar a generalização da política de Macapá – um pragmatismo eleitoral que admite alianças até com DEM e PTB – nos grandes centros urbanos do país. Já a política de Belém possui uma lógica própria e reflete uma tendência manifestada por setores da direção do partido no último período.

A política de alianças para as eleições municipais encaminhada pelo bloco majoritário na direção do PSOL, encabeçado pelo presidente do partido Ivan Valente, apontava claramente uma orientação para uma aproximação com os partidos que no passado formaram a frente popular de apoio a Lula.

A postura desses mesmos setores nos municípios onde o PT disputava o segundo turno com o PSDB ou outra força política, como no caso de São Paulo, Campinas, etc, foi de quase adesão ao campo petista.

Ao contrário da postura original do PSOL de denunciar a falsa polarização entre PT e PSDB e mostrar que o caminho é a construção de uma forte alternativa de esquerda em oposição a ambos, esses setores passaram a reconhecer a existência de dois campos antagônicos para em seguida optar pelo campo “lulo-petista”.

Trata-se, porém, de uma política suicida para o PSOL. Todo o esforço para construir um espaço próprio de atuação nos últimos oito anos está ameaçada. Com essa política o PSOL vira um apêndice de esquerda do PT e ajuda a manter a falsa caracterização de que o PT ainda mantém suas posições “progressistas” do passado. O papel do PSOL, ao contrário é desmascarar o PT e seu governo como os principais instrumentos da classe dominante brasileira para garantir seus interesses contra os trabalhadores.

O papel do PSOL é construir uma forte oposição de esquerda ao lulismo e à direita tradicional. Uma oposição baseada na independência de classe, nas lutas dos trabalhadores e na defesa de um programa anticapitalista e socialista.

É possível derrotar a política do setor majoritário

A atual maioria da direção nacional carece de legitimidade. A chapa majoritária e sua principal corrente (APS) eleitos no III Congresso do partido dividiram-se. Parte desses setores (o setor majoritário da APS em particular) passou a rejeitar fortemente a postura do setor encabeçado pelo presidente do partido. Mas, a composição da direção não foi alterada e essa maioria tornou-se totalmente artificial, reflete um contexto completamente diverso do atual.

Além disso, setores aliados da corrente majoritária começam a apresentar sérios questionamentos à sua política. O MTL dividiu-se também como desdobramento do envolvimento de dirigentes dessa corrente no escândalo do bicheiro Carlinhos Cacheira em Goiás. A ala majoritária da direção optou por defender os envolvidos no escândalo e rechaçaram as denúncias do Bloco de Esquerda do PSOL de Goiá (incluindo a LSR). Com o prejuízo eleitoral que novas denuncias que surgiram poderiam causar, decidiram afastar seu aliado Martiniano Cavalcante do MTL. Passadas as eleições querem retirar o afastamento contando com o voto de Martiniano na Executiva para suas posições.

Diante de tamanha fragilidade política, essa maioria artificial cada vez mais se utiliza de métodos burocráticos para manter sua posição dominante. Mas, a base militante do partido, a mesma base que derrotou o projeto de apoio a Marina Silva em 2010, volta a se mobilizar em defesa do PSOL.

É possível derrotar essa maioria artificial. Para isso precisamos construir um projeto político que resgate o projeto original do PSOL e corrija inclusive suas insuficiências. Queremos um PSOL radicalmente democrático nas suas estruturas internas. Queremos um PSOL baseado na ação militante de seus membros e não em decisões tomadas por uma cúpula fechada que apenas manipula uma base de filiados que pouco participa efetivamente do partido.

A base ativa e militante do PSOL é a base sobre a qual podemos defender o partido contra aqueles que querem impor um projeto de suicídio partidário com o pragmatismo eleitoral e a aproximação com o PT e o governismo lulista.

PSOL cresce apesar da sua direção

O PSOL não avançou nas eleições porque moderou sua postura e aproximou-se do governismo. Pelo contrário, os exemplos de crescimento e fortalecimento do PSOL se dão apesar da postura adotada em Belém e Macapá. O caso mais evidente é o do Rio de Janeiro. Mas, na maioria dos municípios o crescimento eleitoral do PSOL se deu sem alianças com partidos governistas ou de direita, apoiando as lutas e defendendo uma alternativa de esquerda.

O PSOL cresceu porque as lutas sociais aumentaram e a gravíssima crise internacional coloca nuvens sobre o horizonte do lulismo. O espaço à esquerda deve crescer no próximo período. Para aproveitá-lo é preciso derrotar a atual ala majoritária da direção.

Por isso junte-se à LSR na construção de um forte polo de esquerda no PSOL. Nunca antes foi tão importante que sua simpatia e apoio ao PSOL se transformem em militância ativa e organizada. Filie-se ao PSOL e junto com isso organize-se em sua ala esquerda. Nós, da LSR, estaremos até o fim na luta em defesa de um partido socialista, classista e democrático. 

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