Grécia: cortes brutais provocam nova onda de lutas dos trabalhadores

Hoje começou uma nova greve geral de 48 horas na Grécia. Publicamos um informe de um membro do CIT na Grécia escrito na semana passada, mostrando a situação crítica para a luta dos trabalhadores contra os ataques do governo e a “Troika” (FMI, União Europeia e Banco Central Europeu).

O anúncio do governo do PASOK (socialdemocrata), na última sexta-feira (07 de outubro) de um novo projeto de lei que ataca os empregos e as condições de vida dos trabalhadores do setor público provocou uma explosão de lutas, greves e ocupações em quase todo setor público grego. As medidas que o governo anunciou, em consonância com as diretrizes da “Troika” (FMI, União Europeia e Banco Central Europeu), são novos e enormes ataques sobre o padrão de vida dos trabalhadores gregos, especialmente aqueles que trabalham no setor público.

De acordo com os planos do governo, trabalhadores do setor público sofrerão ainda mais cortes nos salários, entre 20% e 30%. Já nos últimos 18 meses, os trabalhadores do setor público têm visto sua renda cair em uma média de 40%, de acordo com ADEDY (central dos trabalhadores do setor público). O fato de que milhares de trabalhadores que têm empréstimos e hipotecas a pagar, receberam salários entre 10 e 30 ou 40 euros (R$ 23 a R$ 92), para a primeira quinzena de outubro (os salários são pagos quinzenalmente), mostra a escala do ataque, que lança centenas de milhares de famílias na pobreza absoluta e desespero. Os planos declarados dos “Troikanos” (como eles são chamados na Grécia e que inclui o governo do PASOK), é para reduzir os salários do setor público para o nível de 500-550 euros líquidos (1.150-1.265 reais).

O governo também pretende colocar 30 mil funcionários públicos em “reserva de trabalho” – um eufemismo para perda de emprego até o final de 2011. Estes trabalhadores irão parar de trabalhar e para o próximo ano receberão 60% de seus salários (já reduzidos). Depois desse período, “se não encontrarem um emprego” – o que é mais ou menos certo na atual crise econômica – serão demitidos.

Demissões em massa

Isso significa demissões em massa no setor público. O governo pretende estender esta medida para incluir mais 70 mil trabalhadores do setor público para 2012, mas a troika exige que o número total de trabalhadores a serem demitidos atinja 250 mil. O número total de trabalhadores no setor público é inferior a 700 mil (687.723 para ser mais preciso, custando muito menos do que a média dos 27 países da União Europeia, e inclui a polícia, o exército, o judiciário e os sacerdotes). Portanto, eles querem demitir mais de um terço do trabalhadores do setor público!

Todos esses enormes cortes são em troca do pagamento da mais recente (14/11/2011), parcela de fundos de resgate do FMI e da UE (de 8 bilhões de euros).

Mas a verdade é que o troikanos também querem esmagar o movimento dos trabalhadores, especialmente a organização sindical no setor público, que tem sido o setor mais militante nas últimas décadas. Os socialdemocratas (PASOK) na liderança dos sindicatos tem desacreditado o papel dos sindicatos aos olhos de muitos trabalhadores por anos devido as manobras burocráticas e traições. Agora o governo quer terminar o trabalho, diminuindo os direitos dos trabalhadores ainda mais.

Enorme raiva

Estes ataques brutais levaram, nos últimos dias, a maior onda de protestos dos trabalhadores do setor público desde o início da crise da dívida a dois anos atrás. Tudo começou duas semanas atrás, quando um número de sindicalistas dos diferentes ministérios do governo ocuparam prédios dos ministérios e impediu oficiais da troika (que estavam em Atenas para discutir os detalhes dos ataques com o governo do PASOK) de entrarem. Certamente foi uma experiência nova para os diretores muito bem pagos do FMI, Banco Central Europeu e da UE terem que passar de um lugar para outro, em suas limusines de luxo, numa tentativa de encontrar um lugar para realizar as reuniões!

Mas a mudança no ânimo dos funcionários públicos foi claramente demonstrado durante a greve geral convocada pela central sindical do setor público (ADEDY), em 05 de outubro. A participação na greve foi superior a 85% e a manifestação em Atenas foi, de acordo com ADEDY, a maior demonstração de força dos trabalhadores do setor público desde a queda da ditadura militar em 1974. O anúncio do programa de novos cortes pelo governo, na semana passada, levou a uma nova onda de raiva e um tsunami de greves, protestos e ocupações no setor público.

Onda de lutas

Desde o início de outubro, houve contínuas e determinadas greves e lutas de massas, durante a qual quase todo o setor público foi paralisado. Todos os dias há protestos, greves e paralisações em diferentes áreas. A maioria dos ministérios e prédios governamentais estão ocupados por trabalhadores. Isso vai culminar com a greve geral de 48 horas, chamado pelos sindicatos do setor público e privado, para o final da próxima semana, em 19 e 20 de outubro.

É suficiente dar um passeio ao redor do centro de Atenas ou qualquer um das outras grandes cidades gregas para perceber a situação: as ruas estão cheias de lixo por causa da greve dos garis, que está em sua segunda semana. Muitos edifícios governamentais estão fechados e decorados com faixas dizendo: “Ocupação!” Quase todos os dias há uma manifestação de algum setor dos trabalhadores.

Este quadro e o clima combativo entre os trabalhadores estão pressionando a direção dos sindicatos a tomar medidas mais decisivas. A central ADEDY foi obrigada a mudar a sua chamada inicial para uma greve de 24 horas, em 19 de outubro, para uma greve geral de 48 horas em 18 e 19 de outubro. Em seguida, a central do setor privado, GSEE, também mudou o seu apelo inicial para uma greve geral de 24 horas para 48 horas. Agora, ambas centrais sindicais agora estão convocando uma greve geral de 48 horas.

Várias federações sindicais, lideradas pelo PASOK, têm sido forçadas a declarar greve. Por exemplo, a direção do sindicato dos professores do ensino básico propôs para suas filiais saírem em “greve por tempo indeterminado” e também fez um chamado à ADEDY para organizar uma greve geral por tempo indeterminado no setor público. Muitas subsedes locais estão aprovando resoluções semelhantes, exigindo das federações sindicais nos setores público e privado para realizar repetidas greves gerais.

Talvez o desenvolvimento mais importante seja a decisão dos sindicatos de 23 federações do setor público ampliado (incluindo empresas estatais) para coordenar a sua ação contra o governo, particularmente dado a inércia das duas centrais sindicais em fazer isso.

Além disso, uma série de sindicatos, onde a esquerda desempenha um papel de direção, tem convocado uma reunião no domingo, 16 de outubro, para coordenar todas as greves. São cerca de 200 sindicatos que estão representados nesta primeira grande tentativa de coordenação da luta de baixo para cima em um nível de massa.

Nenhuma confiança na direção sindical – organizar democraticamente a partir de baixo!

É claro que, mesmo se neste momento as direções dos sindicatos (especialmente no setor público), parecem serem combativas, os trabalhadores não confiam (com razão) nelas. Se queremos continuar e intensificar a luta, os trabalhadores precisam controlá-la democraticamente. Isso fica claro pelo fato de que em um grande número de locais de trabalho a decisão de entrar em greve foi tomada pela base em assembleias da categoria, contra a vontade das direções sindicais.

Em cada local de trabalho é necessário organizar a luta democraticamente com comitês eleitos e controlados pelas assembleias dos trabalhadores. Esta é a única maneira de conduzir uma luta bem-sucedida e manter um controle sobre a direção.

É claro que o movimento dos trabalhadores na Grécia está em um ponto crítico. O que acontecerá a seguir está bastante em aberto. Pudemos ver, ao longo dos próximos dias, uma intensificação da luta dos trabalhadores, colocando enorme pressão sobre as direções sindicais e até mesmo derrubando o governo do PASOK. Também poderemos ver novas traições por parte das direções, mais uma vez recuando após obtendo apenas pequenas, ou nenhuma, concessões do governo.

Para ajudar a luta dos trabalhadores, o CIT na Grécia (Xekinima) defende:

  • A greve geral de 48 horas de 19 e 20 de outubro deve ser seguida por uma greve geral de 3 dias na semana seguinte.
  • Ações dos trabalhadores em cada local de trabalho do setor público: todas federações sindicais do setor público devem chamar repetidas greves de 2-3 dias cada semana, ligando estas às ocupações por tempo indeterminado dos ministérios, prefeituras, edifícios públicos, etc., preparando para uma greve total por tempo indeterminado se necessário para derrotar todos os cortes e ataques.
  • Coordenar e desenvolver as diferentes lutas, com o objetivo comum de derrubar o governo.
  • Pela organização plenamente democrática do movimento dos trabalhadores, com base em comitês eleitos pela base para conduzir as lutas.
  • Vincular essas lutas a demandas políticas, incluindo o não pagamento da dívida e nacionalização dos bancos sob controle e gestão democrático dos trabalhadores, como parte de um programa socialista para se livrar da barbárie do capitalismo e pelo planejamento da economia em benefício da maioria, em vez de enormes lucros para um punhado de banqueiros e multinacionais.

Xekinima luta pela construção de uma força política de massas e democrática, com base nas lutas em curso e sobre o programa acima, o que pode canalizar a radicalização e descontentamento dos trabalhadores e da juventude para lutar por uma alternativa socialista – por um governo do povo trabalhador, dos pobres e dos jovens – em oposição à miséria crescente da vida sob o capitalismo grego e da Troika.

  

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