O que é o Trotskismo?
As ideias de Leon Trotsky e o trotskismo têm sido muito difamados e distorcidos ao longo da história. Mas quem foi Leon Trotsky, o que é o trotskismo e qual é a relevância para as lutas que enfrentamos hoje na década de 2020?
Winston Churchill, líder racista do imperialismo britânico, afirmou uma vez: “Eu odeio Trotsky! É muito bom que Stalin tenha se vingado dele.” Stalin, por sua vez, vociferou: “O trotskismo transformou-se num bando de sabotadores, espiões e assassinos frenético e sem princípios.”
Nestas duas citações, podemos ver o ódio visceral expresso em relação a Trotsky e às ideias pelas quais ele lutou: socialismo revolucionário, internacionalismo e democracia dos trabalhadores. Ele era odiado e temido tanto pelos imperialistas como pelos stalinistas.
Nascido em 1879, desempenhou desde jovem um papel de liderança no movimento da classe trabalhadora e no monumental evento da Revolução Russa, liderada pelos bolcheviques com Lenin e Trotsky desempenhando um papel fundamental.
Após a vitória dos trabalhadores e oprimidos, 21 exércitos imperialistas tentaram extinguir o jovem estado dos trabalhadores. Trotsky criou o Exército Vermelho do zero, o qual conseguiu, finalmente, repelir as tentativas de destruir a revolução.
A revolução sobreviveu, mas após as derrotas dos movimentos revolucionários na Europa, particularmente na Alemanha, esta permaneceu isolada. Neste contexto, desenvolveu-se uma burocracia sob a liderança de Stalin. Apesar da perspetiva internacionalista da revolução de 1917 e dos líderes bolcheviques, os stalinistas desenvolveram a teoria do “socialismo num único país”, que efetivamente abandonou a ideia de revolução mundial, contrariando os objetivos dos bolcheviques e de Lenin.
Os inimigos da revolução e do socialismo em geral gostam de ver o stalinismo como o resultado lógico do socialismo e afirmam que qualquer movimento revolucionário terminará numa burocracia e ditadura, que as sementes desta degeneração estavam presentes no bolchevismo. Nada poderia estar mais longe da verdade. O próprio Lenin propôs uma aliança com Trotsky contra Stalin, quando estava no seu leito de morte, para defender os ideais da revolução.
Na verdade, Stalin e a burocracia tiveram que iniciar uma guerra civil contra as ideias da Revolução de Outubro, uma guerra contra o internacionalismo e a democracia dos trabalhadores, a qual foi também acompanhada pelo retrocesso dos ganhos sociais da revolução.
Trotsky, juntamente com muitos outros, formou a Oposição de Esquerda para resistir. À medida que a contrarrevolução estalinista ganhava força, Trotsky foi expulso do Partido Comunista e exilado. Dezenas de milhares de Oposicionistas de Esquerda foram enviados para campos na Sibéria, onde foram presos e torturados. Apesar da horrenda repressão estatal, eles mantiveram a chama do marxismo viva contra as mentiras e distorções dos stalinistas, produzindo o Boletim da Oposição, que era distribuído clandestinamente.
Trotsky escreveu no seu clássico de 1937, “A Revolução Traída”:
“A queda da atual ditadura burocrática, se não for substituída por um novo poder socialista, significaria um retorno às relações capitalistas com um declínio catastrófico da indústria e da cultura”.
Isto foi o que aconteceu com o colapso da URSS. A análise desenvolvida por Trotsky ajudou a explicar o que estava a acontecer, ao mesmo tempo que orientava os revolucionários sobre as tarefas que os trabalhadores enfrentavam na União Soviética.
Os escritos de Trotsky sobre como lutar contra o fascismo na década de 1930 continuam altamente relevantes. Os Partidos Comunistas na época oscilavam entre a ideia de ‘social fascismo’ (em que os líderes dos partidos sociais-democratas eram considerados piores do que os fascistas) e a ideia da Frente Popular – que as organizações da classe trabalhadora deveriam aliar-se a um suposto setor ‘progressista’ da classe capitalista para deter o fascismo.
Os resultados destas políticas equivocadas significaram tragédia e derrota para a revolução espanhola com a vitória de Franco e, na Alemanha, onde os comunistas e os sociais-democratas ajudaram a pavimentar o caminho para Hitler. Trotsky defendia uma frente unida das organizações dos trabalhadores na Alemanha para esmagar as forças do fascismo, mas isso foi ignorado pelos líderes do Partido Comunista, com resultados terríveis.
O desenvolvimento por Trotsky da teoria da revolução permanente, em oposição à ortodoxia da maioria dos marxistas no início do século XX, comprovou-se correto pelos eventos da Revolução Russa, mostrando o quão dinâmico e original ele era como pensador, e é altamente relevante agora.
Trotsky argumentava que a classe capitalista na Rússia era muito fraca e muito dependente do capital estrangeiro para desempenhar o papel histórico que teve em países como França e Grã-Bretanha, em livrar-se do feudalismo e estabelecer um estado-nação capitalista. Portanto, cabe à classe trabalhadora desempenhar o papel principal não apenas em se livrar das algemas da opressão feudal, mas também em avançar para as tarefas da revolução socialista para garantir direitos democráticos e nacionais.
A teoria da revolução permanente é hoje um guia no mundo neocolonial, onde o capitalismo se mostra incapaz de garantir direitos democráticos básicos e liberdades.
Trotsky foi assassinado por um agente stalinista no México, em 1940. No entanto, ele e os seus apoiantes garantiram a continuidade do socialismo revolucionário e do internacionalismo. O socialista americano James P. Cannon descreveu o Trotskismo como “não um movimento novo, uma doutrina nova, mas a restauração, o renascimento, do marxismo genuíno.”
O internacionalismo de Trotsky não era abstrato, mas fluía da sua compreensão da necessidade de derrotar o capitalismo a uma escala global. Ele desempenhou um papel fundamental na decisão dos bolcheviques de formar a Terceira Internacional (Comunista) em 1919 e, após a degeneração dessa organização, lutou pela criação da Quarta Internacional em 1938. A incipiente Quarta Internacional não conseguiu sobreviver ao impacto da Segunda Guerra Mundial. Muitos dos seus dirigentes e membros foram mortos, não tiveram a experiência política para enfrentar a complicada situação pós-guerra, e acabou por degenerar.
Alternativa Socialista Internacional
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