A necessidade de novas direções da classe trabalhadora e o papel da CSP-Conlutas

Nos dias 7 a 10 de setembro, acontece o 5o Congresso da CSP-Conlutas, central sindical e popular que tem como lema a sua independência a governos e patrões. Nos 13 anos da sua existência, foi uma central importante nas lutas da nossa classe pelo seu caráter de independência, principalmente durante os mandatos do PT, quando enfrentou o projeto de  conciliação com a burguesia do governo.  Também, sempre foi a principal entidade no necessário e urgente processo de reorganização da classe trabalhadora que precisa reconstruir as suas direções.

O ano de 2023 está difícil para a/os lutadora/es, pois a aliviante derrota eleitoral de Bolsonaro conduziu a reedição de um governo Lula agora muito mais ligado à direita do que há vinte anos atrás. O Novo Teto de Gastos, a Reforma Administrativa e a negativa em revogar medidas dos governos anteriores, como o Novo Ensino Médio e as reformas Trabalhista e Previdenciária, entre outros ataques, mostram o caráter do novo governo. Ainda, o pesadelo vivido nos últimos quatro anos sob Bolsonaro agora dá força ao argumento do lulismo que devemos esperar o governo e não sair às ruas, pois isso fortaleceria a oposição da extrema-direita. 

A nossa classe necessita mais do que nunca de novas direções, como o projeto da CSP-Conlutas apontou há mais de 15 anos atrás. Entretanto, agora precisamos fazer necessários balanços, já que a central vive uma crise, justo neste período difícil para aquela/es que acreditam na luta do povo como forma de se construir um futuro diferente.

Uma política equivocada cobra o seu preço

A CSP-Conlutas tem reduzido o seu tamanho e, com isso, a sua importância nas lutas. Boa parte desta crise tem causa em uma linha política equivocada da sua direção, principalmente em relação ao ascenso da extrema-direita que assistimos nos últimos oito anos no Brasil, mas um processo essencial para o mundo todo. Em 2015 e 2016, massas de reacionários ocuparam as ruas de verde e amarelo e construíram um programa de extrema-direita que, mais tarde, incorpou o movimento bolsonarista e conquistou a eleição de Bolsonaro em 2018. A direção da CSP-Conlutas ignorou ou reduziu, em momentos diferentes, a importância desse processo que é chave para qualquer organização da classe trabalhadora intervir na realidade.

Em 2016, com base nesse movimento de massas da extrema-direita, a burguesia derrubou o governo eleito do PT e, com isso, acelerou as medidas liberais com o golpista Michel Temer. No mesmo processo, elegeram Bolsonaro e aprofundaram um programa de massacre e genocídio da nossa classe. Entretanto, a direção da CSP-Conlutas se negou a reconhecer que, nas disputas dentro da burguesia, uma grande parte dela atacou e golpeou o PT e Lula, ações necessárias para que avançassem os projetos de maior expropriação do grande capital no país, assim como aumentasse a repressão à classe trabalhadora. Lutar em oposição classista aos governos do PT e denunciar o seu projeto de conciliação nunca deveria excluir o reconhecimento de que Dilma sofreu um golpe ou que a grande burguesia se reposicionou, naquele momento, junto com a extrema-direita. Infelizmente, a direção da CSP-Conlutas não pensa assim e construiu um discurso dogmático, no sentido de fechar os olhos para a realidade, e sectário, já que não dialogava com a maioria da classe trabalhadora, o que causou a saída ou não aproximação de muitos sindicatos e federações da central, o seu isolamento e atual crise. Em momentos-chave da história, vacilar ou se equivocar na política tem um preço muito alto…

Estamos juntos na CSP-Conlutas para denunciar o papel do PT e das entidades dirigidas por eles em desmobilizar a classe trabalhadora e apoiar o projeto de conciliação com a burguesia e com a direita. Por isso, precisamos de uma central sindical, popular, das juventudes e dos setores oprimidos sintonizada com a nossa classe, ouvindo e dialogando com ela, fazendo as devidas mediações e, principalmente, definindo as nossas táticas sem oportunismo nem sectarismo.

Democracia e construção pela base

A razão dessa política equivocada foi a centralização muito forte da CSP-Conlutas na direção de um partido único, o PSTU. A hegemonização das ações da central pela direção do partido, além de defender uma política errada nos últimos e cruciais anos da história brasileira, causou enrijecimento da sua estrutura e um afastamento da base, assim como de setores com posições diferentes da participação ativa na central. 

Uma verdadeira direção de entidades, de organizações e, consequentemente, da nossa classe deve ter ouvidos e capacidade de diálogo, saber o momento de construir sínteses. Uma central sindical é uma frente com setores diversos e, mesmo sendo firme na política, não pode ter o mesmo nível de centralização de um partido. Entretanto, a direção da CSP-Conlutas sempre buscou a imposição de posições deliberadas pelo PSTU. Ainda, na definição de ações e uso da estrutura e finanças, foram sempre usados esses mesmos métodos centralizadores, distantes da sua base e mais ainda da massa da classe trabalhadora. Além do caráter de luta e de independência, a central deveria ter como base uma democracia radical que se aproximasse da classe trabalhadora e da juventude, como poderia ter sido nas grandes lutas de 2013, por exemplo.

Lutar com independência de classe e um programa socialista para derrotar a direita dentro e fora do governo!

Mais do que nunca, precisamos de grandes organizações ou entidades combativas para mostrar o caminho das lutas e influenciar a consciência de milhões da nossa classe. Infelizmente, a CSP-Conlutas não tem conseguido cumprir este papel. Devemos continuar a construí-la com esse objetivo, mas ela deve mudar radicalmente e buscar incansavelmente setores e grupos indignados e combativos da nossa classe para construir algo maior. É necessário resgatar o projeto do Conclat de 2010, quando a Central Sindical e Popular que queríamos construir reunia um amplo setor combativo e crítico à conciliação de classe do PT.

O governo Lula está governando com a burguesia e setores da direita para manter a mesma lógica liberal e acelerar as reformas exigidas pelo grande capital. Também, tem se calado frente ao Marco Temporal, à Reforma Administrativa e as chacinas das PMs, incluindo a do governo petista da Bahia, e não vai revogar nenhum dos grandes ataques feitos pelos governos anteriores. Entretanto, a nossa classe está superando a experiência do governo Bolsonaro e sente a diferença ao ter de volta o bolsa-família ou um reajuste do salário mínimo, entre outras medidas sociais. Lula mantém uma alta popularidade e a aura de homem que ajuda os mais pobres. Essas são alguns motivos de os setores lulistas manterem as direções dos sindicatos, das entidades estudantis e dos principais movimentos populares, além das práticas burocráticas comuns nesses espaços. Por isso, sabemos que, quando uma crise econômica maior vier, o bolsonarismo vai voltar às ruas com um programa de extrema-direita e atacar a classe trabalhadora, mas também Lula e o PT.

A única forma de combater a direita, seja a bolsonarista, seja a do governo e do congresso, é mobilizar a classe trabalhadora, estudantes, movimento negro, de mulheres, LGBTQIA+, indígenas e movimentos populares em geral nas ruas e locais de trabalho e estudo, com protestos, greves, ocupações e fechamentos de vias, com independência de classe, contra as reformas liberais e pela revogação das medidas dos governos Temer e Bolsonaro, e um programa socialista. Para isso, a CSP-Conlutas precisa mudar e estar preparada para atrair e dialogar com amplos setores para ter a força necessária para as grandes tarefas do próximo período.

  • Para derrotar de vez o bolsonarismo e a velha direita dentro e fora do governo é necessário resgatar o caminho das lutas, da independência de classe e defesa de um programa socialista!
  • Combater nas ruas as políticas contra os trabalhadores e o povo promovidas pelo congresso, judiciário, governos estaduais e governo federal!
  • Lutar para revogar as contrarreformas e privatizações de Bolsonaro e Temer. Barrar os ataques da direita. Não ao Arcabouço Fiscal/Novo Teto de Gastos, Marco Temporal, Novo Ensino Médio e Reforma Administrativa. Ação imediata contra o genocídio da juventude negra e dos povos indígenas. Combater a violência contra mulheres e população LGBTQIA+, pelo direito ao aborto.