Vitória da direita no Chile: a Concertación é culpada

Depois de 20 anos de mentiras e de uma defesa cerrada das políticas econômicas (neoliberais) implementadas pela ditadura e de um co-governo entre a Concertación e a direita pinochetista, as pessoas se cansaram de acreditar em falsas promessas.

Isso é o que explica o triunfo do candidato da direita Sebastián Piñera com 51,6% dos votos, sobre Eduardo Frei, que obteve 48,3%.

A sociedade chilena se direitizou?

Piñera obteve na realidade menos de 30% dos votos de um total de 12 milhões de chilenos em idade de votar. As abstenções, votos nulos e brancos, somados aos mais de um terço da população que se negam a registra-se para votar chegaram a pouco mais de 40%, algo que não deixa de ser importante, porque os não-inscritos são fundamentalmente jovens menores de 30 anos, um setor que pode jogar um papel central no próximo período.

A porcentagem obtida por Sebastián Piñera não alcançou o terço dos votos que historicamente a direita sempre obteve no Chile. Por isso, falar de uma direitização da sociedade chilena não pode estar mais longe da realidade.

Sebastián Piñera e sua proposta populista

Piñera com suas promessas conseguiu se aproveitar do descontentamento com um modelo de exploração anti-popular, iniciado pela ditadura em meados dos anos 70 e que a Concertación manteve até agora.

O descontentamento se deu contra as privatizações, os cortes dos direitos sociais dos trabalhadores, como educação e saúde públicas, contra a flexibilidade e precarização da relações trabalhistas, contra o saque dos recursos naturais (principalmente o cobre), contra a concentração da riqueza e um crescimento cada vez maior da desigualdade. A insatisfação também se deu contra um sistema político anti-democrático, que hoje é funcional estritamente para os empresários, não participativo, tutelado e extremamente anti-popular.

O principal responsável pelo triunfo de Piñera é a Concertación, já que os partidos do governo, buscando construir acordos com a direita pinochetista, dedicaram-se todos esses anos a dizer que esta era uma “nova direita”, “uma direita democrática”. 

A chegada da direita pinochetista ao poder não é responsabilidade dos trabalhadores e menos ainda dos milhares de jovens que inclusive entregaram sua vida para acabar com esses criminosos e tirá-los do poder. A responsabilidade é daqueles que negociaram com a ditadura e terminaram traindo os desejos de mudança de milhões de trabalhadores e jovens.

Os figurões da Concertación já começaram a felicitar a direita por seu triunfo e a falar do democrático e representativo sistema eleitoral chileno e da necessidade de que “todos os chilenos” se unam. Falam de um governo de “unidade nacional” e da necessidade de continuar a “política dos acordos”, ou seja, mais do mesmo, mas agora a partir de uma suposta “oposição”.

Os trabalhadores só podem esperar mais ataques da direita

Um governo de direita, encabeçado por um empresário ambicioso e inescrupuloso, não pressagia nada de bom para os trabalhadores, basta recordar o governo de Jorge Alessandri e da ditadura de Pinochet, para sabermos contra o que devemos nos preparar.

O bom de ter à frente um inimigo claro dos trabalhadores (como é o caso de Piñera) é que se acaba a desculpa utilizada pelos dirigentes sindicais da CUT de que não era possível mobilizar-se para defender nossos direitos, para não prejudicar os governos da Concertación e dessa forma impedir que a direita chegasse ao poder. Agora estará a direita pinochetista no governo, acabaram-se as desculpas. 

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