Nota da LSR – sobre eleições em Campinas
As eleições municipais de 2020 ocorrem em um momento difícil e complexo, em que a crise global do capitalismo se aprofundou em virtude da pandemia do Corona vírus. No Brasil, já são mais de 160 mil óbitos pela covid-19 (somente em Campinas mais de 1320 vidas foram ceifadas), o desemprego já bate a marca de 14,4% atingindo mais de 14 milhões de brasileiros, ao mesmo tempo em que os 42 brasileiros mais ricos aumentaram sua fortuna e seu patrimônio em mais de 30 Bilhões de dólares. A pandemia ressaltou os problemas e o caos na saúde e educação públicas, problemas já existentes anteriormente, fruto de décadas de descaso e desmonte dos serviços públicos pelos governos comprometidos com os mais ricos e não com as necessidades daqueles que dependem dos serviços públicos, a classe trabalhadora e o povo pobre.
Além da pandemia, vivemos um importante processo de enfrentamento contra os governos de Bolsonaro que ataca a democracia e desmonta o Estado brasileiro, aplicando contra reformas que retiram direitos e precarizam a vida dos trabalhadores e trabalhadoras. Enquanto seu desgoverno promove o sucateamento da saúde e o desmonte do SUS em meio a uma pandemia, da educação pública, do combate à devastação do meio ambiente, setores combativos se preparam e organizam uma grande luta para derrotar Bolsonaro, Mourão e sua Agenda liberal. Na mesma linha de ataque e retiradas de direitos, vem o governador de São Paulo, João Dória, e o prefeito de Campinas Jonas Donizete. Todos eles estão a serviço da elite econômica, sucateando o bem público e transferindo recursos públicos para o setor privado.
A conjuntura nos impõe duas tarefas: mobilizar o conjunto da classe trabalhadora e dos movimentos sociais, com uma plataforma política que represente uma real alternativa das demandas dos trabalhadores e trabalhadoras e setores oprimidos da população; a outra tarefa é a de impedir o avanço da extrema direita, do bolsonarismo, mas também impedir a recomposição da direita tradicional, tanto nas eleições desse ano, mas para além delas.
Derrotar o avanço do bolsonarismo, – e a direita tradicional, passa pela construção de uma outra política, apontando para uma ruptura com este sistema que não consegue mais produzir e garantir a vida especialmente dos trabalhadores e trabalhadoras. Não devemos desconsiderar o cenário de crise profunda que enfrentamos, sobretudo os desafios de disputar uma eleição no tabuleiro e com as regras da burguesia, mas não podemos nos adaptar ao jogo e sim virar o tabuleiro. O PSol tem um papel fundamental nesse processo de organização como uma ferramenta política e de lutas dos trabalhadores e dos movimentos sociais para enfrentar Bolsonaro e todos que exploram nossa classe e nos usurpam a dignidade.
Nós da LSR – Liberdade, Socialismo e Revolução, seção brasileira da ASI (Alternativa Socialista Internacional), que constrói o Partido Socialismo e Liberdade, acreditamos que as eleições são um momento importante para os setores combativos e progressistas apresentarem seu projeto para a sociedade, de disputar a consciência dos trabalhadores e trabalhadoras para a construção de uma sociedade livre da exploração capitalista e opressão. Reconhecemos que essa disputa ocorre em uma arena que não é a nossa – mas sim da burguesia – nossa principal arena de disputa são as ruas e as lutas, mas é fundamental que a esquerda consequente se apresente como alternativa para a classe trabalhadora, para os movimentos sociais, e demais setores oprimidos. Não podemos ser mais do mesmo.
Nas eleições municipais desse ano, a maioria do PSOL optou pela composição de uma aliança com o PT para combater o avanço do Bolsonarismo. Essa aliança com o PT não foi a política que defendemos no interior do partido. Defendemos uma candidatura própria que adotasse um programa de transformações radicais e baseado na luta dos trabalhadores.
Entendíamos (e continuamos defendendo) que o PSOL tem como tarefa central mostrar-se como alternativa de esquerda socialista aos limites que o PT apresentou no passado, incluindo sua experiência no governo seja aqui em Campinas como nacionalmente. Não podemos secundarizar a relação que existiu entre a tentativa de governar dentro da ordem sempre buscando frear a luta independente dos trabalhadores e o espaço deixado para o ascenso de uma nova direita com peso de massas no país.
Seguimos nessa posição e com base nela é que construímos o PSOL. Ainda assim, estamos diante de um fato consumado em Campinas. A candidatura de Pedro Tourinho do PT e Edilene Santana do PSOL para prefeito e vice-prefeita é hoje a única possibilidade de um voto não meramente simbólico contra a direita em Campinas. Por isso, terá nosso voto crítico.
Mas, continuaremos defendendoque o PSOL assumaum programa capaz de dialogar com as necessidades do povo e que aponte os caminhos para não apenas barrar os ataques, mas para conquistar direitos. Um programa capaz de derrotar o bolsonarismo e a direita tradicional, deve estar diretamente conectado às ruas, às lutas sociais. Negros e negras, mulheres, LBGTs, juventude, professores e professoras, o conjunto da classe, precisam se identificar com nossa plataforma. A LSR defende um programa anticapitalista e classista, que apresente no horizonte socialista uma real alternativa às demandas dos trabalhadores.
Também é muito importante, derrotar a direita conservadora que compõe a Câmara dos Vereadores em Campinas. Nos últimos quatro anos, esse espaço foi ocupado pela velha direita tradicional e as decisões que passaram por esse espaço só pioraram a vida dos campineiros e campineiras. Em vista disso acreditamos que uma candidaturaa vereador que mais se aproxima desta virada no tabuleiro é aquela representada pelo companheiro Ciro do Hip Hop – 50505, do PSOL-Campinas. Desde sua juventude, vivida em diversos bairros da periferia de Campinas, Ciro tem como instrumento para sua luta direta a voz negra do Hip Hop; com ela denuncia e critica a situação de exploração e as condições de vida (social, econômica e cultural), da classe trabalhada e da população negra de Campinas submetidas à desigualdade e ao racismo estrutural histórico na cidade. Para isso faz das ruas, comunidades e bairros seus principais locais de luta, com o pé no chão e lado a lado com diversos coletivos periféricos.Por isso, nós da LSR Campinas, no dia 15 de novembro, daremos nosso voto ao Ciro do HipHop, e daremos também o nosso voto crítico ao Pedro Tourinho e Edilene Santana. Mas, mais que as eleições, é necessário que essas candidaturas construam desde já uma agenda de luta no esforço do enfrentamento nas ruas e na organização das lutas do próximo período, apostando na reorganização da classe e de seus instrumentos legítimos e históricos, só assim conseguiremos emancipação da classe trabalhadora.