Qual PSOL precisamos para derrotar Bolsonaro?
Em meio ao processo do 7º Congresso do PSOL, todos os militantes estão, ou deveriam estar, empenhados na tarefa de responder esta pergunta. Para nós da LSR a única forma de realmente derrotar Bolsonaro é colocar o socialismo na ordem do dia.
O governo Bolsonaro não é um fenômeno isolado no contexto mundial. Seja por Donald Trump, Rodrigo Duterte, e outras figuras, estes fenômenos da extrema direita surgem em momentos específicos de crise econômica e política. Surgem no momento em que as instituições, seus partidos e representantes tradicionais perdem a credibilidade, assim como, no caso do Brasil, governos tidos como progressistas capitulam a falsa política do pacto social, começam a ser vistos como “mais do mesmo”.
Às vésperas da vitória do Bolsonaro o sentimento antissistêmico e de descrença foi canalizado pela extrema direita, que logo provou ser só discurso.
A face mais crua da elite
A caracterização do governo Bolsonaro simplesmente como fascista não ajuda a entendê-lo e a construir o seu enfrentamento. Há de modo inegável elementos protofascistas, mas é um governo francamente ultraneoliberal. O Clã Bolsonaro é racista, homofóbico, machistas e elitista. A face mais crua da elite branca e colonizadora, que durante anos tentaram esconder o que realmente acham do povo, negros (as) e mulheres deste país.
Precisamos de unidade entre todos e todas que entendem que Bolsonaro deve ser derrubado, mas derrotar o bolsonarismo, passa pela construção de uma outra política, de conexão com o povo, com as demandas, apontando para uma ruptura com este sistema que não consegue mais produzir e garantir a vida.
Neste sentido, a forma mais eficaz de derrotar este governo de extrema direita, é canalizar o descontentamento e o sentimento antissistêmico para uma real alternativa de esquerda para a classe trabalhadora. Isso deve se traduzir em um programa capaz de dialogar com as demandas, necessidades e apontar caminhos. Essa é uma das tarefas centrais deste Congresso do PSOL.
Qual programa será capaz de responder a pergunta
Em tempos de extrema direita, alguns setores do partido avaliam ser deveras sectária uma posição como esta. Estes defendem que a unidade deve ser o foco, e para tanto, as diferenças do passado – que inclusive explicam o surgimento do PSOL – devem ser colocadas para debaixo do tapete, diante dos riscos deste governo.
A unidade não pode ser construída de maneira a desconsiderar os balanços e erros históricos. Superar o petismo é entender que a política de pacto social, só nos levará a situações como a que vivemos. Acordos com a burguesia e o grande capital, pequenas benesses para o povo em detrimento da entrega das nossas riquezas e de tudo que produzimos com nosso trabalho, é o mesmo que confiar o galinheiro aos cuidados da raposa, e a história já nos mostrou isso.
Um programa capaz de derrotar o bolsonarismo deve estar diretamente conectado às lutas e aos movimentos sociais. As demandas dos movimentos negros, mulheres, LBGTs, do movimento sindical combativo, dos movimentos por moradia e terra, da juventude e lutadores em defesa da educação que em maio de 2019 deram uma incrível demonstração dos rumos seguir.
O programa pode e deve traduzir isso nestas eleições. Capaz de estabelecer uma ponte entre as lutas que a classe enfrenta todo o dia e a necessidade de uma ruptura com esse sistema. Começando por demandar a revogação de todas as contrarreformas: trabalhista, da previdência, e a EC 95 do teto dos gastos, que tem impacto direto nos estados e municípios. Assim como impulsionar política que combatam todas as formas de opressão. Demandar o fim da Lei de Responsabilidade Fiscal substituindo-a pela Responsabilidade Social.
Mudar é possível
O programa precisa servir para mostrar como é possível melhorar radicalmente a vida do povo trabalhador. Devemos pautar a taxação das grandes fortunas, rendas e lucros das grandes empresas e bancos, juntamente com a suspensão do pagamento da dívida pública ilegítima aos grandes tubarões do sistema financeiro. Isso geraria empregos, investimento saúde, educação, moradia, transporte público, creches e demais serviços. Devemos denunciar os privilégios dos 1% !
Como contraponto aos ultraneoliberais, denunciar as privatizações e demandar a estatização dos bancos, sistema financeiro, empresas, com controle do povo trabalhador, da maioria, que terá melhores condições de organizar os recursos. Romper com a gestão corrupta atual e ser subjugada ao controle e à gestão democráticos dos trabalhadores. Essa é a alternativa socialista.
Construir caminhos
O socialismo não deve ser usado apenas em dias de festa como agitação. É necessário através destas medidas, construir caminhos capazes de mostrar que é a única forma se superar esta elite burguesa, misógina, branca e escravocrata. Para isso precisaremos ter candidaturas próprias em todos os lugares possíveis, ser cabeça de chapa e usar as eleições para ampliar a nossa voz.
Por isso, este congresso deve apontar uma política de aliança para as eleições. O PSOL deverá priorizar candidaturas próprias e construir seu arco de alianças com os movimentos sociais – a exemplo do MTST e da APIB – e os partidos de esquerda (PCB, PSTU, UP). Para além destes, será necessário discutir caso a caso, e avaliar em cidades e realidades específicas a composição da chapa com o campo que hoje se localiza o PT e o PCdoB, numa clara política de derrotar setores bolsonaristas – da extrema direita. O que não inclui, PDT, PSB, Rede, dentre outros que recentemente contaram com parte significativa das suas bancadas votando com o governo Bolsonaro nos temas da previdência e pacote anticrime.
Eleições e as tarefas da nossa classe
O Congresso do PSOL deverá nos armar para o próximo período. Contudo, os riscos de cair no pragmatismo e disputas internistas para ter o controle da máquina partidária está colocado. Isso seria um desastre que retardaria a nossa capacidade em responder de conjunto como derrotar o mais nefasto governo que já tivemos neste país.
Importante precisar que as campanhas e candidaturas devem estar à serviço das lutas. Não somos aqueles que estão esperando 2022 para solucionar os nossos problemas e derrotar o bolsonarismo. As eleições municipais potencializam o debate no território e a construção de um projeto alternativo.
Há reais possibilidades de o PSOL conquistar prefeituras, incluindo grandes cidades, nestas eleições. Mas estas conquistas serão inócuas e “mais do mesmo” caso não estejam aliadas com processos de luta e com os movimentos sociais. Este Congresso deve apontar além de diretrizes para 2020, um plano ação.
O partido sem privilégios
Devemos pautar o debate sobre salário de trabalhador aos parlamentares e possíveis executivos eleitos (as). Salário de um trabalhador qualificado, que o(a) permita viver em boas condições, sem que isso o descole da realidade da classe. Inegável a pressão da estrutura e do parlamento sobre os indivíduos, e mesmo sobre os corpos mais combativos. Desconstruir a ideia de privilégio e aproximar da perspectiva de tarefas e representação do povo, em luta.
Mesmo neste cenário bastante adverso, o PSOL aumentou sua bancada, centralmente com mulheres e negras. Não é por acaso que estes bons resultados refletem o que houve de mais dinâmico nos anos de 2018-2019, com a mobilização das mulheres, juventude e negritude. Isso é um indicador da nossa potência e capacidade de articulação com as lutas reais.
Democracia interna
Continuar crescendo nesta direção só será possível com democracia interna. O debate democrático no PSOL tem sido suplantando nos últimos anos a serviço da suposta “melhor política”, na linha maquiavélica de que os fins justificam os meios. A disputa pelo controle da máquina fez com que nos últimos Congressos métodos nada democráticos fossem lançados como justificativa, para não “perder o partido” para a política errada. A repetição desta lógica pode sim nos impedir de responder a pergunta inicialmente colocada.
Não há atalhos para derrotar Bolsonaro. A democracia partidária é o que garantirá o debate político interno, a confiança para ganhar novos militantes e a possibilidade de maior enraizamento social e popular para a construção de lutas massivas – único caminho possível para superar este governo de extrema direita, apontando uma real alternativa.