Furacão Katrina – Um desastre piorado pelo capitalismo

Centenas de milhares ficaram desabrigados. Dezenas de milhares foram levados para o Texas como refugiados. Construções foram destruídas. Comunidades inteiras foram reduzidas a entulhos. A cidade de Nova Orleans, um dos centros históricos e culturais dos EUA ficará inabitada por meses. O quadro de mortes de Katrina é certamente de centenas, e provavelmente atingirá os milhares. Alguns analistas dizem que tudo isso era inevitável, mas trata-se de uma mentira.

Até o Wall Street Journal publicou um artigo intitulado “A Evacuação foi um modelo de eficiência – para aqueles que tinham carro”. O extremo sul dos EUA está marcado pela pobreza comparável aos países do terceiro mundo, e Nova Orleans, apesar do cobiçado turismo, não é uma exceção.

Para os mais de 100.000 residentes pobres de Nova Orleans sem nenhum acesso a carros, havia poucas opções. Eles poderiam pegar as poucas moedas que você possui e pegar um ônibus para fora da cidade, deixando seus pertences, amigos, e comunidade para trás e ir dormir nas ruas de uma outra cidade. Ou poderiam ir ao Superdome, onde mais de 23.000 pessoas decidiram esperar a tempestade num ginásio destinado a assistir o futebol americano, apenas para ser eventualmente levado (após uma evacuação perigosa) para o Astrodome em Houston, Texas, que não é tão perto.

Ou, tal como milhares de pessoas fizeram (ou foram forçadas a fazer), poderiam esperar em seu telhado ou no sótão, cercado pela destruição e por corpos boiando; poderia apenas esperar não se tornar um daqueles que boiava. A classe trabalhadora e os pobres têm as casas menos seguras, portanto majoritariamente foram as casas dos trabalhadores que foram destruídas.

Nova Orleans (e outros lugares pela Louisiana, Mississippi, Alabama, etc.) não tem água potável e os suprimentos de comida apodreceram.

Nesse momento crítico, mais de 6,000 Guardas Nacionais de Louisiana e Mississippi estão no Iraque ajudando a tentativa da elite americana de ocupar o país para o benefício da Halliburton, Texaco, Bechtel, e outras corporações americanas. Teoricamente, a Guarda Nacional supostamente lida com emergências domésticas (eles são muitas vezes usados para acabar com greves). Se houve um tempo que verdadeiros e dedicados servidores civis foram necessários para uma emergência doméstica, esse foi o momento. As prioridades dos grandes negócios e seus dois partidos estão claramente expostas aqui.

É estimado atualmente que o dano causado em Nova Orleans sozinho contabilizará cerca de dez bilhões de dólares. Isso parece fora de alcanço. Mas pense nisso: em apenas poucos meses, Bush e seus colegas gastaram centenas de bilhões de dólares na Guerra do Iraque. Agora a ocupação no Iraque custa 5,6 bilhões de dólares por mês.

Claramente, nas mentes dos milionários e bilionários que governam esse país, a Guerra e o lucro vêm antes da ajuda às pessoas comuns nas situações mais difíceis. Parcialmente, devido ao enorme montante de recursos destinados à Guerra por petróleo, lucros e prestígio, Estados e governos locais implementaram cortes orçamentários que causaram, entre outras coisas, a diminuição do dinheiro para lidar com os desastres naturais.

Prevenção: Lucro antes das pessoas

Os últimos anos viram um crescimento claro no número de furacões e outros grandes desastres naturais, alguns são, provavelmente, resultados das mudanças climáticas. Claro, era impossível prever todos os danos causados pelo Katrina, mas muitos deles eram previsíveis. Nova Orleans é cercada por água em três lados (Rio Mississippi, Lago Pontchartrain, e o Golfo do México) e constantemente inundada durante furacões.

A cidade está construída abaixo do nível do mar e escapa de uma inundação permanente por um sistema de barragens e bombeamento. As barragens estão preparadas para suportar furacões de “nível três”, mas o Katrina foi de nível quatro. Há tecnologia suficiente para criar barragens que suportam até furacões de nível cinco.

Também, o sistema de bombeamento que retira a água das áreas abaixo do nível do mar funciona por eletricidade, não por geradores. Obviamente, a eletricidade foi cortada não apenas em Nova Orleans, mas por toda a costa do Golfo. O sistema poderia funcionar por geradores, mas isso custaria dinheiro, dinheiro que os políticos dos grandes negócios não queriam gastar.

Num artigo interessante no New Orleans City Business de 7 de Fevereiro de 2005, o Exército Americano afirmou que milhões eram necessários para a proteção de inundação e de furacão em Nova Orleans, mas “muitos projetos não serão previstos no orçamento presidencial do ano de 2006”. De 2001 a 2005, os gastos governamentais em projetos para proteger Nova Orleans de grandes inundações caíram drasticamente de 147 milhões de dólares para 82 milhões.

O Corpo de Engenheiros do Exército é responsável por manter as defesas de inundações e em Junho do ano passado o gerente de projeto, Al Naomi, foi diante da autoridade da barragem de East Jefferson para requisitar 2 milhões de dólares para um “trabalho urgente” pelo qual Washington não estava pagando. “As barragens estão afundando”, afirmou. “Tudo está afundando e se nós não conseguirmos dinheiro o suficiente para aumentá-las então não poderemos estar a frente desse processo.”

Estudo após estudo mostraram que as áreas pobres e de trabalhadores, como a abandonada ”Lower Ninth Ward” de Nova Orleans foi a mais atingida pela inundação devido a falta de investimento em prevenção.

Eles apontaram que não havia dinheiro para prevenção, mas a United Airlines acabou receber bilhões em ajuda do governo federal. Bilhões são gastos em destruição, ocupação, e opressão no Iraque. E eles não podem apoiar projetos para minimizar os danos dos desastres inevitáveis? Ridículo.

Com os grandes negócios controlando a estratégia de ajuda, a situação parece terrível para as massas pobres da costa do Golfo. Mesmo se o nível da água baixar, os corpos dos mortos, a comida podre e água contaminada levarão a uma epidemia de doenças para todos os que voltarem para a região. Eletricidade e água potável também não estarão disponíveis para as massas.

Agora mesmo, Wall Street não se preocupa quanto a terrível situação enfrentada por milhões devido a este desastre. Eles estão preocupados somente com um ponto principal: lucros. Especificamente, eles estão preocupados com petróleo. A Costa do Golfo possui muitas, se não a maioria, das refinarias de petróleo nos EUA. Com os preços da gasolina subindo vertiginosamente e com uma emergente crise de energia em muitas áreas os poderosos de Wall Street estão preocupados com a “confiança dos investidores” e com um “efeito dominó” na queda da bolsa.

Eles precisam estar preocupados. A economia dos EUA e a economia mundial serão afetadas por estes eventos. O povo trabalhador já foi atingido duramente. Os trabalhadores não podem deixar os grandes negócios colocar o fardo dos problemas econômicos sobre os nossos ombros; isto é o que eles tentarão fazer ao nos chamar a “apertar nossos cintos”.

Bush e sua gangue estão preocupados. A raiva contra Bush começa a aumentar em diferentes assuntos, variando entre a guerra no Iraque, a renda instável e os cortes massivos na taxação dos ricos. Já sofrendo com suas menores taxas de aprovação Bush teme que este desastre o enfraquecerá na medida em que mais pessoas ficam ciente dos cortes de gastos com defesas contra inundações e do envio da Guarda Nacional para o Iraque. O furacão Katrina pode ser um ponto de virada em que raiva passive transforma-se em oposição ativa.

Nós precisamos lutar contra os grandes negócios que criaram esse desastre. Nós devemos demandar o controle comunitário e dos trabalhadores sobre todos os recursos de socorro. Nós devemos demandar bilhões em recursos de socorro e de prevenção de desastres naturais. O governo federal deve providenciar manutenção total e irrestrita para todos aqueles que perderam seus trabalhos. É necessário estabelecer um programa de emergência para construir habitações públicas de qualidade para todos aqueles que hoje não possuem casas, empréstimos livres de juros devem ser dados aos pequenos negócios e aos fazendeiros permitindo uma reconstrução. Os Estados devem receber financiamento federal para repor suas perdas de impostos. Nós precisamos organizar movimentos de massas, protestos, greves e ações diretas para reverter os cortes no orçamento e conseguir financiamento para programas como atenção à saúde universal, educação decente e programas de trabalhos públicos que proporcionem empregos decentes.

O sistema capitalista tem suas prioridades: fazer os acionistas felizes produzindo mais lucros. Para fazer lucros eles querem manter nossos salários baixos. As grandes corporações não desejam ser taxadas para pagar por nossos programas sociais e, por isto, elas pagam os políticos para aprovarem leis e orçamentos que beneficiam os super-ricos. Nós necessitamos de um partido que representa a população trabalhadora, um partido com um programa para terminar com a pobreza, a guerra, o racismo e a destruição ambiental. Nós necessitamos de um partido dos trabalhadores com um programa socialista que lutará contra os grandes negócios até o fim.

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