40 anos do CIT – Entrevista com Tony Saunois
Em 20 de abril, o Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT), a organização internacional da qual a LSR faz parte, completou 40 anos. Para marcar este aniversário, iremos publicar uma série de três ítens especiais. O primeiro é uma entrevista com Tony Saunois, do secretariado internacional do CIT, sobre a história e desenvolvimento da organização. A entrevista foi originalmente publicada pela sozialismus.info, a revista teórica dos camaradas alemães do CIT, Sozialistische Alternative (SAV).
Este ano, comemora-se o 40° aniversário da fundação do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT). Quem participou da fundação e o que foi discutido na ocasião?
O CIT foi fundado em 20 e 21 de abril de 1974, numa conferência em Londres. Nela, estavam presentes 46 camaradas. A seção britânica, organizada no “Militant” (corrente interna do “Labour”, o Partido Trabalhista Britânico) foi bem representada, junto com camaradas de grupos organizados da Irlanda, Suécia e Alemanha. Além disso, também estavam presents indíviduos do Sri Lanka, Espanha e alguns outros países. Os camaradas discutiram “Perspectivas Mundiais”, “Programa da Internacional” e questões organizativas. Essa reunião representou um passo muito significativo em politicamente iniciar e construir organizativamente uma nova Internacional partidária dos métodos e ideias trotskistas e marxistas.
Quais foram as principais razões para os apoiadores do Militant na Grã-Bretanha concluírem que uma nova organização internacional deveria ser construída?
Os camaradas da época eram internacionalistas desde o início e sempre apoiaram a ideia de construir uma internacional revolucionária. Por um tempo os fundadores do Militant na Grã-Bretanha foram membros do que veio a ser chamado Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SUQI) que, na época, era a maior das organizações internacionais “trotskistas”. Mas, por importantes razões políticas, os membros do Militant concluíram que era preciso iniciar a tarefa de construir uma nova internacional.
Isso se seguiu a sua efetiva exclusão do SUQI, em dezembro de 1965. O Militant foi lançado em 1964 e, com Peter Taaffe como seu editor, ele começou a se desenvolver. O SUQI na época reduziu o grupo Militant ao nível de uma seção simpatizante e reconheceu outro grupo que havia rachado com o Militant.
Antes disso, uma série de diferenças políticas havia se desenvolvido entre os camaradas do Militant e o SUQI. Elas se centravam na questão da revolução no mundo neocolonial e também sobre o papel da classe trabalhadora e do programa necessário para o movimento operário. Naquela época, a direção do SUQI erronaeamente buscavam outras forças, como os estudantes, para jogar o papel decisivo na revolução, ao invés da classe trabalhadora.
Os processos revolucionários da época no mundo neocolonial, por exemplo em Cuba e no Vietnã, levaram o SUQI a concluir que esses eventos eram centrais para a revolução mundial. Não havia perspectivas, eles afirmavam, de um movimento da classe trabalhadora nos países capitalistas avançados para um futuro previsível. Essas ideias equivocadas foram um reflexo das consequências do longo e histórico crescimento do pós-2ª Guerra Mundial que o capitalismo experimentava.
Os camaradas do Militant rejeitavam essa abordagem. Para eles a importância dos eventos em Cuba, Vietnã e outros países era plenamente reconhecida, como se vê no extenso material que Peter Taaffe produziu depois, analisando a revolução cubana e seu caráter de classe. Mas eles também previram uma nova era de crise capitalista e uma ressurreição da luta de classes nos países capitalistas industrializados – especialmente na Europa. A enorme e histórica greve geral de 10 milhões de trabalhadores na França em 1968 refutou de forma decisiva as ideias defendidas pela direção do SUQI e justificou a abordagem do Militant.
O CIT era uma força muito pequena na época de sua fundação. Como essa organização internacional se desenvolveu ao longo dos 40 anos seguintes?
O CIT se desenvolveu muito nos anos 1970 e 1980. Na maioria, mas não em todos os países, nossos camaradas eram ativos no que agora são os antigos partidos de massas da classe trabalhadora, como a Social-Democracia na Suécia e Alemanha, os partidos socialistas na Bélgica e o Partido Trabalhista na Grã-Bretanha.
Era um período histórico diferente; esses partidos tinham um caráter contraditório. Eles de um lado tinham uma direção pró-capitalista – uma direção que em sua maioria aceitava o capitalismo e queria reformá-lo. De outro, eles tinham um militância e apoio da massa da classe trabalhadora. Eram “partidos operários burgueses”. Os trabalhadores naquele período viam tais partidos como “seus” partidos políticos e um veículo para lutas e mudanças.
Isso mudou decisivamente no fim dos anos 1980, após o colapso dos antigos regimes stalinistas na URSS e Leste Europeu entre 1989 e 1992. Houve uma enorme ofensiva ideológica da classe capitalista durante estes eventos. Junto com a globalização do capitalismo e a ofensiva neoliberal, isso resultou que as direções desses partidos finalmente abandonaram a pretensão de defesa do socialismo. Elas adotaram plena e abertamente o capitalismo. Esses partidos perderam sua base entre a classe trabalhadora, que não mais os viam como meios de transformar a sociedade, mas cada vez mais os apoiava eleitoralmente como o “mal menor”.
Contudo, nos anos 1970 e 1980, esse não era o caso. Na Grã-Bretanha, os apoiadores do Militant ganharam a maioria do Comitê Nacional da Juventude Socialista do Partido Trabalhista (“Labour Party Young Socialists”, LPYS) em 1970. Era uma organização relativamente pequena na época. Contudo, ela foi revolucionada e começou a se construir como uma combativa organização de jovens trabalhadores. Em seu auge, ela tinha aproximadamente 10 mil membros.
Em outros países como Bélgica, Suécia e Irlanda, os membros do CIT lutaram por nossas políticas e ganharam apoio. Na Grã-Bretanha, os sucessos da LPYS coincidiram com um ressurgimento da esquerda no Partido Trabalhista Britânico. O Militant ganhava cada vez mais apoio em suas fileiras e também nos sindicatos. Em certa etapa, asseguramos a eleição de três parlamentares.
Na Irlanda, os apoiadores do Militant ganharam a maioria na Juventude Trabalhista e uma importante influência no Partido Trabalhista Irlandês. Com a maioria que o Militant assegurou na LPYS, pudemos comparecer a muitas reuniões internacionais de organizações de jovens socialistas que eram filiadas à União Internacional da Juventude Socialista. Nestes eventos, encontramos outros camaradas que se tornaram colaboradores e membros do CIT.
Novas seções do CIT foram criadas desta maneira, por exemplo, na Áustria. Em alguns países, como Suécia, a burocracia da Social-Democracia tinha tanto medo dos camaradas que eles foram rapidamente expulsos da sua seção de juventude – o SSU. Por meio da LPYS, foram lançadas nos anos 1970 campanhas como “Campanha de Defesa da Juventude Socialista Espanhola”. Essa tinha o objetivo de se solidarizar com o movimento operário e de juventude que lutava para derrubar a ditadura de Franco. Através deste trabalho, não apenas conseguimos construir solidariedade para a luta na Espanha, mas encontramos socialistas que formariam uma seção do CIT na clandestinidade.
Durante esse período, o CIT se expandiu dramaticamente. Uma “tendência marxista operária” foi formada na África do Sul e enfatizava a necessidade de construir sindicatos independentes na luta contra o apartheid e pela adoção de políticas marxistas pelo CNA. Na Grécia, uma seção do CIT foi criada através da fusão de diferentes grupos que lutavam por ideias revolucionárias no recém-formado Partido Socialista – o PASOK.
Embora predominasse a orientação para os partidos de massas tradicionais da classe trabalhadora nos anos 1970, o CIT também desenvolveu forças importantes que operavam abertamente como partidos revolucionários. Esse foi o caso do Sri Lanka e também, mais tarde, da Nigéria.
Nos anos 1980 os levantes revolucionários que abalaram a América Latina compeliu o CIT a empreender intervenções nestes eventos. Camaradas foram enviados à Argentina, Chile e depois ao Brasil para criar seções do CIT nestes países. A Campanha de Defesa Socialista Chilena foi lançada para apoiar esses esforços na clandestinidade e ajudaram no esforço de formação de nossa seção chilena.
Nosso trabalho foi tão bem sucedido na Grã-Bretanha que ganhamos uma influência decisiva e a direção do Partido Trabalhista de Liverpool. Com a nossa liderança na câmara municipal, os camaradas entraram em confronto direto com o governo Thatcher. Neste período, a maioria de nossas seções estava aumentando rapidamente sua militância e a seção da Grã-Bretanha alcançou em torno de 8 mil membros no auge da luta anti-Poll Tax (um imposto cobrado em cima da quantidade de moradores de um domicílio, instituído em 1989).
Contudo, a situação mundial estava mudando e abriu um período mais complicado para os marxistas e a classe trabalhadora. A introdução e aplicação do neoliberalismo, que começou nos anos 1980 e foi reforçado pelo colapso dos antigos Estados stalinistas, desencadeou uma era totalmente nova.
O movimento operário internacional regrediu politicamente. Os antigos partidos operários de massas abraçaram abertamente e defendiam o capitalismo e o “mercado”. Na Grã-Bretanha, os apoiadores do Militant foram expulsos do Partido Trabalhista, preparando assim o caminho para um Partido Trabalhista blairista, totalmente pró-capitalista, herdado hoje por Miliband. Essas mudanças forçaram um debate e discussão entre todos da esquerda, incluindo a esquerda “trotskista” e o CIT.
Dentro do CIT, a esmagadora maioria dos membros reconhecia que uma nova situação mundial se abria, pondo novas tarefas para os marxistas revolucionários. À medida que os antigos regimes stalinistas colapsavam, o CIT enviou camaradas para cada um desses países. Camaradas foram para a Polônia, Checoslováquia, Hungria, Romênia, Alemanha Oriental e antiga URSS. O CIT estava entre os primeiros a reconhecer o processo de restauração capitalista que estava em processo.
Após intensos debates, também víamos que em mais e mais países o período de trabalho no que estavam se tornando, ou já eram, partidos totalmente capitalistas, precisava acabar. Concluimos que os revolucionários agora enfrentavam uma tarefa dupla, que consistia em lutar para construir partidos revolucionários, mas também lutar pela formação de partidos amplos dos trabalhadores, o que representaria um enorme passo adiante para a classe trabalhadora à luz das conseqüências do colapso dos regimes stalinistas.
Apesar da natureza prolongada desse processo, acreditamos que ele ainda mantém sua validade. Uma das tarefas centrais foi, e continua a ser, reconstruir apoio para a ideia do socialismo como uma alternativa ao capitalismo. É claro que nem todas as conclusões que esboçamos aqui hoje sobre esse processo poderiam ter sido tiradas imediatamente durante os históricos eventos de 1989/92. Mas a maioria do CIT estava preparada para reconhecer as mudanças históricas em processo e estava entre os primeiros a tirar as conclusões necessárias.
Contudo, uma minoria do CIT se manteve totalmente cega a tais desdobramentos. Eles estavam, e continuam, prisioneiros da ideia de trabalhar politicamente no que se tornaram partidos completamente burgueses. Inicialmente, recusaram-se a reconhecer o processo de restauração capitalista na antiga URSS e no Leste Europeu ou as conseqüências disso. Uma nova situação mundial estava sendo desencadeada e a velha formula não se aplicava mais. Entretanto, eles continuavam contentes em repeti-la, independentemente da situação mundial. Isso resultou num racha do CIT em 1992, com a maioria do CIT rompendo com uma minoria conservadora.
Como todas as outras forças de esquerda, numericamente as seções do CIT retrocederam nos anos 1990. À medida que os eventos se desenvolviam, tomamos iniciativas importantes e tentamos alcançar uma geração mais jovem. Lançamos a campanha “Juventude Contra o Racismo na Europa” e conseguimos mobilizar 40 mil europeus num protesto antirracista na Bélgica.
Apesar de retroceder numericamente nos anos 1990, como Internacional emergimos fortalecidos politicamente e taticamente melhor preparados para responder aos desafios dos anos 1990 e da primeira década do século 21. Se a maioria do CIT não tivesse feito os ajustes politicos e táticos necessários para enfrentar o novo período pós-colapso dos antigos Estados stalinistas, teríamos retrocedido ainda mais, como aqueles que racharam conosco.
Hoje estamos construindo importantes seções fortalecidas em muitos países – 48 no momento. Algumas estão operando em condições extremamente difíceis e nadando contra a corrente ou enfrentando as conseqüências de forças contrarrevolucionárias. Por exemplo, nossos camaradas no Paquistão, Sri Lanka e Israel. Em outros países, estamos colocados para um ponto de inflexão importante e potencialmente históricos.
Na África do Sul, temos jogado um importante papel, junto com os mineiros, no lançamento de um novo partido operário – o Partido dos Trabalhadores e Socialistas (WASP). Isso tem sido reforçado pela histórica vitória eleitoral da Alternativa Socialista em Seattle, EUA. Na Grã-Bretanha, temos mantido e desenvolvido uma forte base nos sindicatos. Na Irlanda temos construído uma importante influência, refletida nos sucessões eleitorais de nossos camaradas no parlamento irlandês e no Parlamento Europeu. Agora, precisamos nos preparar para outros avanços e importantes desafios em uma era de intensas crises e conflitos capitalistas globais.
Quais você acha que são as principais conquistas que o CIT desenvolveu para o movimento operário internacional em termos de ideias e métodos?
Penso que a força do CIT politicamente pode ser vista em sua capacidade de aplicar o marxismo como método e não como um dogma rígido. Ele é uma arma que permite aos trabalhadores analisar os eventos em cada conjuntura e tirar as conclusões necessárias do que é preciso para levar as lutas adiante. Isso tem capacitado o CIT a encontrar jovens e trabalhadores em cada etapa e estabelecer um diálogo com eles, levando em conta sua consciência política. Isso nos permite tentar convencê-los de nossas ideias e programa. Fazer isso sem cair na armadilha do oportunismo ou sectarismo é um dos maiores testes para uma organização revolucionária. Embora é claro que esse ou aquele erro foram cometidos, no geral, temos evitado-os.
Esse método tem nos permitido analisar as complexidades do mundo moderno e suas crises, especialmente no mundo neocolonial no período recente. Ele permitiu aos nossos camaradas na Venezuela adotar uma abordagem equilibrada e principista para com o governo Hugo Chávez e o processo revolucionário, diferente de outros grupos. Esse método de análise foi vital no colapso dos Estados stalinistas, na análise das consequências disso para a classe trabalhadora internacional e, crucialmente, ao tirar as conclusões que temos em relação às tarefas da classe trabalhadora e dos revolucionários nesta nova situação.
Nas complexas situações que têm surgido em países como Egito, Tunísia, Síria, Libia e agora Ucrânia e Rússia, esse método nos permite adotar uma posição principista e evitar os erros de algumas outras organizações, que ou apóiam a intervenção imperialista ou simplesmente emprestam apoio a forças oposicionistas que em alguns casos têm assumido um caráter reacionário. Desde o colapso do stalinismo, nossa luta para formar partidos de massas amplos e democráticos da classe trabalhadora, e combinar isso com a necessidade de manter e construir partidos marxistas revolucionários é uma parte crucial do trabalho político e da força do CIT.
Quais foram os principais sucessos do CIT?
O CIT em muitos países tem tido vitórias muito importantes. A recente eleição de Kshama Sawant em Seattle e o papel jogado pelos membros do DSM na África do Sul ao ajudar os mineiros e outros a lançar o novo partido WASP são passos cruciais no período recente. Eles marcam a abertura de um novo capítulo da luta de classes e do trabalho do CIT. A isso deve-se acrescentar o tremendo trabalho de nossos camaradas da Irlanda ao longo de muitos anos – as lutas travadas sobre a taxa de água e a taxa da coleta de lixo, as vitórias eleitorais de Joe Higgins e outras. Todos os marcos e exemplos cruciais do trabalho do CIT podem vir de muitos países.
Contudo, até agora, o mais significativo tem sido o impacto massivo que tivemos no Partido Trabalhista Britânico nos anos 1970 e 1980, especialmente, que permitiu aos nossos camaradas causar um grande efeito na situação do movimento dos trabalhadores. Lideramos movimentos de massas naquele período. “Militant” se tornou um nome familiar. A eleição de três parlamentares – Dave Nellist, Terry Fields e Pat Wall – refletia isso.
Com essa influência, mobilizamos milhões na camapanha anti-Poll Tax que, em último caso, foi a causa da queda da odiada Margaret Thatcher. Neste período, em Liverpool, os apoiadores do Militant lideraram a câmara na luta contra o governo Thatcher e a forçaram a ceder. Uma greve geral municipal e uma manifestação de 50 mil pessoas, como parte da campanha, mostraram como os marxistas podem usar a plataforma de câmaras municipais e de parlamentares para mobilizar os trabalhadores para lutar por seus direitos.
Esse trabalho ao longo de décadas fez com que o Militant conseguisse conduzir o trabalho mais efetivo já feito por “trotskistas” na Europa entre a classe trabalhadora. Esses são os maiores sucessos do CIT. Algumas de nossas seções menores também foram capazes de ter um impacto significativo. A eleição de vereadores na Austrália e as lutas lideradas pelos camaradas de lá, o corajoso trabalho de nossos camaradas paquistaneses e israelenses, são uma ilustração disso.
Também é preciso enfatizar que, após o colapso dos antigos Estados stalinistas, os marxistas internacionalmente enfrentaram duas décadas e meia muito difíceis. Em certos aspectos, devido à ofensiva ideológica da classe dominante contra a ideia do socialismo e a capitulação dos líderes operários oficiais, estas têm sido as mais difíceis das décadas.
Na esquerda marxista, muitos abandonaram as ideias revolucionárias e a luta para construir um partido revolucionário. Mesmo o CIT foi parcialmente afetado por isso, quando antigos membros da Escócia abandonaram a ideia de construir um partido revolucionário. Contudo, a esmagadora maioria do CIT lutou durante esse período e tomou as iniciativas que eram possíveis tomar.
É uma grande conquista que o CIT tenha sido capaz de analisar os eventos politicos durante esse período e as tarefas para a classe trabalhadora e os revolucionários. Que tenhamos emergido com as forças que temos é também uma conquista colossal. A nova era de crise capitalista que agora se desenvolve dará novas oportunidades para todos os apoiadores e seções do CIT a construir forças mais poderosas e liderar sucessos ainda maiores do que os que fomos capazes de alcançar nos anos 1980 na Grã-Bretanha.
Qual é a relação do CIT com outras organizações e tendências que se consideram marxistas e revolucionárias? O CIT tem a ideia de se desenvolver em uma força de massas “por si mesmo” e qual o papel que podem jogar uma cooperação ou mesmo fusões com outras forças?
O CIT está preparado para enfrentar os novos desafios da situação que agora se abre a nível internacional como conseqüência da crise sistêmica em que o capitalismo mundial se encontra. Isso significa uma catástrofe para a classe trabalhadora e os pobres. Os horrores do capitalismo em crise já afundaram alguns países na barbárie e na carnificina. O desemprego em massa com poucas perspectivas é a perspectiva de toda uma geração na Europa e em todos os continentes. Os efeitos da mudança climática estão tendo um efeito devastador em todos os povos do planeta.
Há uma necessidade urgente de construir uma poderosa internacional dos trabalhadores. O CIT está lutando para alcançar esse objetivo. Nesta etapa, o CIT não é essa força. Embora confiantes e orgulhosos de nossas conquistas e do que seremos capazes de conquistar no próximo período, também somos realistas. O CIT não é uma organização de massas. O nome, “Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores”, foi adotado por essa razão. Acreditamos que as forças em torno do CIT têm um papel crucial e decisivo a jogar na construção de uma nova internacional de massas.
Ao mesmo tempo, reconhecemos que existem outras forças partidárias do “marxismo” e do “trotskismo”. Onde tais forças são sérias e preparadas a ter uma discussão política honesta, estamos abertos a entrar em um diálogo com eles. Campanhas conjuntas e de solidariedade e outras atividades são possíveis e de fato já são organizadas pelo CIT e suas seções, junto com outras forças.
Se pode ser alcançado um acordo político sob uma base principista honesta, então seria irresponsável para qualquer organização revolucionária não lutar para se unir em uma base unificada e tirar vantagem dessa posição fortalecida. Contudo, em nossa visão, é um erro tentar tal unificação onde não há acordo político suficiente. Isso só irá resultar em mais desacordos, divisões e desapontamento.
Após o colapso dos antigos Estados stalinistas, abriu-se um período de debate e discussão em todos os agrupamentos e Internacionais “trotskistas”. No passado, nos fundimos com forças trotskistas e marxistas no Sri Lanka e depois na Nigéria. Mais recentemente, nossos camaradas do Brasil se fundiram com forças de outras tradições e estão intervindo com sucesso no PSOL (Partido Socialismo e Liberdade).
Nos anos 1990, o CIT buscou abrir um diálogo com outras organizações internacionais para ver se havia a perspectiva de alcançar acordos em uma nova situação mundial. Visitamos e debatemos com organizações internacionais como o SUQI, a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), a Unidade Internacional dos Trabalhadores (UIT) e outros. Contudo, não houve acordo suficiente.
Não obstante, o CIT continua aberto para discutir com outros camaradas dessas e de outras tradições para ver se há acordo e estamos dispostos a colaborar em campanhas e atividades conjuntas onde for possível.
A construção de uma nova internacional de massas não irá se desenvolver através apenas de um agrupamento. Novos partidos e forças que ainda não existem surgirão no futuro como resultado da luta de classes. Eles, junto com algumas forças já existentes, jogarão um papel crucial. Acreditamos que a análise, método e ideias do CIT e de suas forças deverão e irão jogar uma parte central neste processo.
A construção de uma nova internacional de massas agora é uma tarefa urgente. Contudo, não existem atalhos. A reconstrução das organizações operárias e o apoio para a alternativa de uma sociedade socialista se desenvolverá entre uma nova geração de trabalhadores como resultado de sua experiência na luta de classes. O CIT e outros podem ajudar esse processo no próximo período.
A experiência de nossas forças relativamente pequenas na África do Sul, que têm jogado um papel decisivo na formação do WASP, ilustra, sob as condições objetivas, onde a classe trabalhadora está buscando uma alternativa socialista, as perspectivas que se abrirão para a maioria das seções do CIT no próximo período. O CIT alcançou um registro tremendo nos últimos quarenta anos – quase metade dos quais sob condições objetivas extremamente dificeis. Mas estamos confiantes que nossas futuras conquistas e sucessos ultrapassarão tudo o que atingimos até aqui.