Sri Lanka: O 1° de Maio Socialista em Colombo

Trotskistas Tamil e Sinhala marcharam unidos contra a pobreza e comunalismo

Mais de 200 trotskistas – homens em camisetas e bonés vermelhos, mulheres em saris vermelhos – marcharam na tarde quente de Colombo atrás das bandeiras do United Socialist Party (CIO no Sri Lanka).

O tema desse ano é “Um 1° de Maio Socialista” e a mensagem é que mesmo um partido pequeno, ainda nadando contra a corrente dos eventos políticos pode jogar um papel importante dentro do país e no mundo.

O clima está quente. Enquanto muitas das manifestações em outras cidades são maiores, nenhuma compete com a determinação e o espírito de luta da surpreendente e jovem marcha do 1° de Maio da USP. Cantando slogans contra a globalização capitalista, a coalização política e comunalismo (conflito inter-étnico), a marcha passou pelas favelas até o ato num pobre distrito da classe trabalhadora, Grandpass Junction.

Membros e apoiadores do partido de fala Tamil de Pottuvil – devastado pelo tsunami de Dezembro – viajaram doze horas de ônibus para chegar a Colombo. Eles são bem jovens, alguns usam turbantes tradicionais mulçumanos, outros bonés vermelhos com as letras USP. Um ônibus chegou de Galle, no extremo-sul do Sri Lanka, que ficou famoso internacionalmente pelo tsunami. Um ônibus cheio de militantes do USP de Galle desembarcou saudado pelos camaradas de outras partes do país.

“Nós viemos pelas pessoas do tsunami,” explica a portavoz do partido K. K. Dhammika em seu discurso para a manifestação. “Nós não tínhamos dinheiro para dar a eles, mas diferentemente dos outros partidos e do governo, o USP os ouviu e perguntou o que eles precisavam”.

Ela explicou que nenhuma outra questão – quatro meses depois, dez mil ainda estão desabrigados – mostra mais claramente a necessidade de acabar com as coalizões políticas e construir uma alternativa genuína da classe trabalhadora.

“O país está se dirigindo para uma enorme crise econômica, política e social”, alerta Siri Jayasuriya. “Temporariamente o governo tem um momento de alívio por causa do dinheiro pelo tsunami dos doadores internacionais, mas isso não vai longe. O setor agrícola sofreu uma queda de 7% na exportação no ano passado, de acordo com os últimos dados do Banco Central”, ele explica, apontando para os conflitos no Equador e pela América Latina onde os trabalhadores e pobres estão se levantando para desafiar os políticos neoliberais.

A atmosfera 24 horas antes da manifestação estava tensa. O seqüestro brutal e assassinato de um importante jornalista Tamil, Dharmaratnam Sivaram, na noite de quinta (28 de Abril) jogou uma sombra sobre a situação política. Temia-se um retorno à onda de assassinatos entre etnias do final dos anos 80 quando os partidos de esquerda, como o germe do USP, foram também alvos. Vários jornalistas foram mortos na ilha nos últimos anos sem que um caso tenha sido resolvido pela polícia. Com a crise no processo de paz entre os tigres Tamil (LTTE) e o governo baseado em Colombo do presidente Chandrika Kumaratunga, e a com a ferocidade anti-Tamil do pretenso grupo de “esquerda radical” JVP, um parceiro jovem do governo, a situação está extremamente instável. Partidos de esquerda incluindo o USP chamaram uma vigília na quarta para protestar contra o assassinato de Sivaram e panfletos contra os assassinos étnicos foram distribuídos no 1° de Maio do USP e em várias outras manifestações.

Enquanto ainda está incerto quem está por trás do assassinato, suspeitas inevitavelmente caiem sobre a inteligência militar e o grupo do leste “Karuna” que saiu do LTTE, e diversas forçar comunalistas. O objetivo deles é sem dúvida minar o débil processo de paz e prevenir que Colombo faça o que eles vêem como concessões inaceitáveis ao norte do país controlado pelos Tamil.

O JVP nega ferozmente qualquer ligação com o assassinato de Sivaram, e aproveita o 1° de Maio para reforçar sua imagem de “esquerda”, constantemente manchada por seu papel no governo que aplica as políticas do Banco Mundial e que foi incapaz de administrar a operação de socorro aos atingidos pelo tsuami. Diferente do ano passado quando participaram com o principal partido do governo, o SLFP, numa marcha conjunta do 1° de Maio, esse ano gastaram 20 milhões de rupees para propagandear seu próprio evento. Que o partido é rico, com acesso aos cofres oficiais, não há como negar. Um membro do USP a caminho de Colombo passou por uma coluna de doze ônibus do JVP de apenas uma localidade em direção à capital.

No que foi tanto uma ameaça e uma provocação, o JVP pagou por um grande outdoor de 6 metros bem no cruzamento onde a marcha do USP iria parar. Com um grupo de uma dúzia, ativistas do USP chegaram na noite de sábado para montar o palco e a decoração do ato, eles foram recebidos pelo outdoor que com alguns ataques radicais à “recolonização”, rechaçando a “partição” do Sri Lanka (por exemplo, não ao direito de auto-determinação dos Tamils). Depois de alguma discussão, o grupo do USP decidiu que a melhor solução era simplesmente colocar um grande pano – ilustrando uma manifestação de trabalhadores salvando o mundo – bem na frente do outdoor do JVP. Na manhã de 1° de Maio, o outdoor problemático estava invisível. Essa foi uma importante vitória simbólica, de um pequeno partido socialista confiando apenas em suas qualidades e dedicação de seus membros e apoiadores contra os “Grande Políticos” usando de dinheiro dos impostos e usando da esperteza das agências de propaganda na tentativa de esconder seu apoio à agenda do governo neoliberal. 

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