Declaração LSR/Reage sobre a situação do PSOL

O 4º Congresso nacional do PSOL criou uma situação paradoxal. De um lado, temos a conjuntura mais favorável para o partido desde sua fundação. As jornadas de junho inauguraram uma nova etapa na realidade brasileira com grande espaço para o avanço da esquerda socialista nas ruas e nas urnas.

O sentimento de vitória de junho abriu caminho para um crescimento das lutas populares e da classe trabalhadora. Foram centenas de ocupações urbanas como aquelas encabeçadas pelo MTST em São Paulo e também greves decisivas como a dos educadores do Rio e várias outras categorias no ano passado e hoje vemos outras greves importantes, como a dos rodoviários de Porto Alegre e dos trabalhadores em educação do Rio Grande do Norte.

Mas, além das lutas organizadas de nossa classe, o ambiente geral entre o povo mais oprimido é de não levar mais desaforo pra casa. Verdadeiras rebeliões populares têm acontecido nas periferias diante das enchentes no início do ano e da sistemática violência policial racista.

A realização da Copa do Mundo e seus gastos bilionários, remoções e toda a discriminação que cria, continuam sendo um fator que estimula uma resposta popular contundente. Essa resposta deve se dar prioritariamente nas ruas, nos locais de trabalho e estudo, nos bairros, na luta direta dos trabalhadores, da juventude e do povo. Mas, ela também vai inevitavelmente se refletir nas urnas.

Apesar do controle das máquinas governamentais, apoio da grande mídia e acesso farto ao financiamento de campanha pelos bancos, empreiteiras, agronegócio e megaempresários, os partidos da ordem não estão tranquilos diante do processo eleitoral.

Uma explosão de raiva pode expressar-se também nas urnas e isso pode atingir negativamente tanto o campo lulista, como a tucanagem e mesmo a falsa alternativa de Campos/Marina.

A existência de uma alternativa de esquerda firme e consistente, com base nas lutas populares e da classe trabalhadora e um programa realmente alternativo à mesmice dos demais pode fazer toda a diferença.

Os ataques orquestrados pela grande mídia e os governos contra o PSOL e a figura de Marcelo Freixo em particular representam o início de uma campanha sórdida contra a esquerda e os movimentos sociais que reflete exatamente o medo que a classe dominante tem do surgimento de uma alternativa de esquerda de massas no Brasil.

Esses ataques significam que nossos inimigos sabem do perigo que representamos e estão muito bem organizados para nos combater. Mas, o mesmo não se pode dizer necessariamente do nosso lado, o lado da esquerda combativa.

Ataque à democracia interna

Mesmo diante dessa situação radicalmente nova, paradoxalmente, o PSOL saiu do seu 4º Congresso sem resolver sua grave crise interna.

O setor autodenominado Unidade Socialista, que conseguiu construir artificialmente uma maioria no Congresso, optou por aprofundar deliberadamente a divisão interna, consolidou práticas burocráticas extremas e está impondo um rumo político moderado ao partido que não condiz com o projeto fundacional do PSOL e com a realidade pós-junho.

De forma irresponsável, mesquinha e oportunista, sua postura ameaça colocar tudo a perder. A imposição do nome de Randolfe Rodrigues como candidato a presidente foi a coroação desse processo.

Usaram uma maioria conquistada na base de fraudes e alianças internas espúrias com setores que nem deveriam estar no PSOL para rejeitar a proposta de prévias ou uma Conferência Eleitoral para definir o (a) candidato (a) presidencial do partido.

A proposta de prévias ou Conferência Eleitoral era e continua sendo o melhor caminho para reunificar o PSOL e armá-lo politicamente para os duros embates que virão.

Fato consumado?

A política da “maioria” hoje é tentar resolver a crise interna impondo um fato consumado, enfiando goela abaixo da militância ativa do partido – que, em sua maioria, alinha-se com o Bloco de Esquerda do PSOL – o nome de Randolfe Rodrigues e sua política moderada.

Infelizmente, uma parte do Bloco de Esquerda, especialmente as (os) companheiras (os) do MES, aceitou o jogo e abriu mão da pré-candidatura da companheira Luciana Genro, um nome que aglutinou boa parte da esquerda do partido contra Randolfe e agora unificaria todo o Bloco. O nome de Luciana agora é colocado na posição de candidata a vice junto com Randolfe.

Para a LSR e o REAGE SOCIALISTA, a decisão tomada pelo MES foi errada. Unificado em torno de Luciana Genro e das políticas construídas durante todo o período pré-congressual, o Bloco de Esquerda poderia impor uma enorme pressão sobre essa maioria artificial e obter conquistas políticas, programáticas e relacionadas à democracia interna no partido.

Sem a unidade do Bloco de Esquerda, a situação é muito mais difícil para a esquerda do PSOL e um novo caminho precisa ser construído.

Um balanço necessário

Como parte do balanço necessário para a esquerda do partido, é importante constatarmos que as divisões no Bloco de Esquerda não são um fenômeno novo. Elas já vinham de equívocos cometidos antes e apenas aprofundaram-se depois do Congresso.

Durante o período pré-congressual, o Bloco de Esquerda não conseguiu unificar-se em torno da defesa de uma pré-candidatura que refletisse suas posições políticas e seu compromisso com a democracia interna.

Um dos principais fatores para que isso acontecesse foi o fato de que as (os) companheiras (os) de correntes como a Insurgência e a APS (esquerda) insistiram até as vésperas do Congresso numa política de reconciliação com a Unidade Socialista em torno de um nome supostamente consensual de fora do Bloco de Esquerda, no caso o companheiro Chico Alencar.

Dessa forma, essas correntes não apenas recusaram-se a apoiar o nome de Luciana Genro como também deixaram de apresentar pra valer nomes alternativos comprometidos com o Bloco.

A falta de unidade do Bloco de Esquerda em torno de uma pré-candidatura presidencial durante o período pré-Congressual foi um fator decisivo que abriu espaço para a ala direita do partido.

Um chamado à esquerda do PSOL

Nesse novo contexto pós-Congresso, o Bloco de Esquerda mantém uma enorme responsabilidade.

A esquerda do partido deve intervir de forma firme e consistente no debate sobre o programa e a linha eleitoral do PSOL. Dessa forma poderemos impedir novos retrocessos na política do partido.

É preciso defender com força em todos os espaços possíveis um perfil de campanha de oposição de esquerda, vinculada às lutas e aos movimentos sociais.

Devemos lutar por um programa que reflita as demandas das ruas e vincule-as a uma alternativa global aos interesses do grande capital, uma alternativa anticapitalista e socialista. Junto com as bandeiras das ruas, a tarifa-zero nos transportes, os investimentos em saúde, educação e transporte, é preciso defender a auditoria e suspensão do pagamento da dívida pública aos grandes capitalistas e a estatização das empresas privatizadas e de todos os serviços e setores estratégicos da economia.

A esquerda do PSOL também tem a enorme tarefa de construir campanhas estaduais com um perfil de esquerda consequente contrapondo-se ao projeto de uma esquerda “light” que a “maioria” da direção nacional tenta impor.

Uma campanha combativa, vinculada às lutas e com um programa de esquerda em estados importantes como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraná, Minas Gerais e outros, pode ser decisiva para construir um perfil de esquerda para o conjunto do PSOL.

Além disso, é fundamental defendermos a construção de uma Frente de Esquerda com PSTU e PCB em nível nacional e nos estados. A unidade da esquerda combativa é decisiva na conjuntura e também servirá para empurrar a campanha à esquerda.

A esquerda deve conferir sua marca na campanha e agir de forma articulada, construindo sua própria identidade e acumulando forças para os embates futuros, dentro e fora do PSOL.

Entendemos que é possível e necessário sobre essas bases reconstruir a unidade do Bloco de Esquerda do PSOL. Podemos e devemos disputar em todos os espaços do partido e conferir nossa marca nas campanhas eleitorais do PSOL. A LSR e o REAGE SOCIALISTA estão comprometidos com essa tarefa.

Manter a defesa da Conferência Eleitoral

A LSR e o REAGE SOCIALISTA reafirmam sua defesa da realização de uma Conferência Eleitoral que sirva para aprofundar o debate e as deliberações sobre o programa, perfil, alianças e linha de campanha, assim como definir democraticamente a chapa presidencial.

A apresentação hoje do nome do companheiro Renato Roseno como pré-candidato, além de tardia, infelizmente não unificará a esquerda do partido. Essa proposta acontece em um contexto diferente em relação à luta interna e a luta política do partido para fora, na sociedade. Ainda assim, trata-se de um direito democrático básico.

Defendemos o direito da Insurgência de apresentar Renato Roseno como pré-candidato e reiteramos a defesa da realização de uma Conferência Eleitoral/prévias como instrumento necessário para garantir a democracia interna e estímulo ao debate de projeto, programa e políticas para a campanha eleitoral.

Nos marcos dessa Conferência Eleitoral, a LSR e o REAGE SOCIALISTA vão se posicionar de forma coerente com o projeto político que defendem no PSOL.

Independentemente do resultado final desse processo, a LSR e o REAGE SOCIALISTA estarão na linha de frente das campanhas do PSOL, sempre defendendo a construção de uma alternativa de esquerda socialista, democrática e classista nas urnas e nas ruas.

LSR – Liberdade, Socialismo e Revolução e Reage Socialista
28 de fevereiro de 2014

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