Trabalhadores impedem privatização de siderúrgicas na China
No fim de julho, dezenas de milhares de trabalhadores, aposentados e seus parentes realizaram uma greve com ocupação massiva da siderúrgica estatal Tonghua Steel para barrar sua privatização. Quando o executivo chefe da empresa compradora ameaçou demitir todos caso não voltassem ao trabalho, ele foi espancado, falecendo mais tarde. Após violentos conflitos, a venda foi cancelada pelo governo.
A Jianlong Group, empresa compradora, é conhecida por crescer através da privatização de estatais. Seu dono, um dos maiores bilionários da China, é parente de um alto burocrata. Em 2005, a empresa já havia comprado 40% das ações da Tonghua Steel, causando diminuição dos salários dos trabalhadores (o equivalente a cerca de 80 reais por mês) ao mesmo tempo em que executivos enriqueciam com altos salários – o salário do executivo morto era o equivalente a 800 mil reais. Já em 2008, conflitos levaram à morte de um gerente da fábrica e de lá pra cá inúmeros protestos aconteceram, ignorados ou reprimidos pelo governo e capitalistas.
Em 2008, com o desenvolvimento da crise, a indústria siderúrgica foi bastante afetada, o que levou à paralisação da produção por alguns meses. Isso afetou centenas de milhares de pessoas na parte pobre da cidade, que dependiam do funcionamento da siderúrgica para ter aquecimento durante o inverno. Com o crescimento dos conflitos, a empresa privada se retirou do gerenciamento da estatal, apesar de manter suas ações.
A Tonghua Steel voltou a funcionar para garantir o aquecimento e os empregos, apesar de estar perdendo dinheiro, entre o final de 2008 e meados de 2009. Quando o mercado global do aço se reaqueceu e a empresa voltou a ter lucro. Exatamente nesse momento a Jianlong Group fechou acordo com o governo onde aumentaria sua participação nas ações e assumiria o gerenciamento da Tonghua Steel.
Milhares participando na luta
Em 23 de julho, o anúncio do acordo provocou a ira dos trabalhadores e da população local, que em poucas horas reuniram 10 mil pessoas em protesto. O governo reprimia com violência e a Jianlong ameaçava os trabalhadores de demissão. Como conseqüência dos conflitos aconteceu a morte do executivo da Jianlong, dezenas de prisões e carros destruídos.
À noite, 30 mil trabalhadores e parentes ocupavam a Tonghua quando receberam a notícia do governo de que a Jianlong não mais participaria da “reestruturação da Tonghua Steel” – deixando claro que o governo pretende privatizar a empresa futuramente.
Menos de um mês após os acontecimentos da Tonghua Steel, trabalhadores chineses forçaram autoridades a cancelar a venda de outra siderúrgica em Henan. Cerca de 3 mil trabalhadores ocuparam a estatal Linzhou Steel Corporation por cinco dias, fazendo um representante do governo como refém. Após uma tentativa frustrada de pôr fim à ocupação através de uma invasão policial, o governo finalmente anunciou o cancelamento da venda. A ação radicalizada dos trabalhadores, cuja campanha começou há cerca de um ano, foi claramente inspirada pela vitoriosa ocupação da Tonghua Steel.
As notícias da morte do executivo alertaram os burocratas “comunistas” e os industriais do aço sobre a fúria que existe no chão de fábrica à medida que a crise mostra suas garras. O incidente não foi suficiente para evitar outras privatizações de siderúrgicas, mas sem dúvida foi uma grande inspiração para toda a categoria.
O jornal burguês Wall Street Journal comentou as duas mal sucedidas privatizações dizendo que há “um sinal de crescimento do ativismo sindical” na China. “Estes eventos marcam uma importante mudança nas lutas dos trabalhadores, que nos dois casos foram muito bem organizadas e determinadas, mostrando um grau de consciência acima da média”, diz Chen Lizhi do Chinaworker.
Depois de mais de dez anos de privatizações no setor, agora os trabalhadores percebem mais claramente os resultados dessas políticas: perda de empregos, quebra de acordos de previdência e cortes salariais.
No caso da Linzhou, trabalhadores demitidos com a privatização receberiam compensações equivalentes a cerca de 290 reais por ano de serviço! Além disso, a Linzhou Steel era avaliada em 222 milhões de reais, mas para a privatização foi avaliada em 88 milhões. Segundo o jornal oficial, Diário da China, “a maioria dos trabalhadores enxerga as privatizações como uma forma de vender e marginalizar os próprios trabalhadores para encher os bolsos dos ricos e poderosos”.
O grupo que compraria a Linzhou pertence a um burocrata bilionário do “Partido Comunista”, irmão de um alto general do exército. Isto evidência as relações que se desenvolveram com a queda do stalinismo entre a burocracia e os capitalistas. As privatizações causaram a perda de 60 milhões de empregos na última década, acompanhadas de corrupção, especulação e roubo descarado – tudo em detrimento da classe trabalhadora.
O presidente da Linzhou Steel declarou que quanto mais a empresa estivesse no vermelho, melhor seria para privatizá-la. Os trabalhadores dizem que os gerentes “deliberadamente ferraram” com a empresa para justificar a privatização. Um chefe provincial do PC alertou para que “sejam avaliados os riscos à estabilidade social antes que se confirmem as privatizações”, indicando que conflitos como esses podem se espalhar pela indústria siderúrgica e outros candidatos à privatização.
As vitórias parciais dos trabalhadores na Tonghua e na Linzhou trazem consigo um espectro para o regime chinês. Desde os protestos de Tiananmen em 1989, o regime conseguiu manter as lutas dos trabalhadores isoladas, evitando conexões nacionais. A luta da Linzhou mostra claramente que os operários das Siderúrgicas chinesas estão aprendendo uns com os outros. Isso já havia sido manifestado na categoria dos taxistas, cuja greve varreu dezenas de cidades. Mas, está claro que caso algo parecido aconteça na indústria pesada teria uma relevância muito maior. Se os sindicatos são proibidos, os trabalhadores têm aumentado a troca de informações através da internet, usando ilicitamente blogs e outras ferramentas.
Os direitos políticos dos trabalhadores são atropelados sem hesitação e eles já sabem que por baixo do hipócrita manto de “Partido Comunista” predomina o culto ao mercado. A ameaça de privatização permanece na Tonghua, na Linzhou e no resto do país, mas os trabalhadores já sabem que a ação militante pode forçar os capitalistas e burocratas a recuarem.
Somente com sindicatos independentes, auto-organização e lutas conscientes será possível a conquista dos interesses básicos da classe trabalhadora. Uma solução concreta para a atual crise econômica global apenas ocorrerá com o completo desmantelamento do sistema capitalista e ditaduras burocráticas, com a realização de um genuíno socialismo democrático no qual as massas trabalhadoras gerenciem e planejem democraticamente a economia, de baixo para cima, com a propriedade pública dos meios de produção.