Péssimo precedente: O PSOL em risco

Coligação do PSOL com o PV em Porto Alegre

O PSOL de Porto Alegre (RS) já decidiu, com o aval da maioria da direção nacional do partido e apesar de muitos protestos, realizar uma coligação eleitoral com o Partido Verde (PV). Mantida essa decisão, o candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Luciana Genro do PSOL nas eleições desse ano deverá ser o presidente do PV gaucho Edison Pereira de Souza.

Os danos à imagem do PSOL e da própria Luciana Genro, assim como ao projeto classista e socialista do partido em sua fundação, são incalculáveis. 

A permissão da direção nacional para essa coligação abriu um péssimo precedente e coligações parecidas ou ainda piores estão sendo discutidas e construídas em vários estados. A Conferência nacional eleitoral do partido do final de março está sendo preparada de forma a impedir que a base mais crítica do partido possa se manifestar contra esse tipo de política.

Viabilidade eleitoral?

Nacionalmente, o PV é um partido da base de sustentação do governo Lula. No passado, foi base de sustentação do governo FHC e, em muitos estados, é ainda uma legenda útil nas mãos do PSDB. Privatista, neoliberal, a favor das reformas da previdência e trabalhista, o PV apenas de vez em quando usa uma retórica ecológica como um diferencial no mercado de ‘partidecos’ burgueses.

Em Porto Alegre, nas últimas eleições municipais em 2004, o mesmo Edison Pereira de Souza foi candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada pelo velho político burguês, oriundo do regime militar, Jair Soares do direitista PP. Em 2006, a figura foi candidato a governador e não se cansou de utilizar uma retórica de direita sobre ‘tolerância zero’ na segurança pública e gestão empresarial no setor público. Sua conversão do direitismo mais escrachado para uma visão política ‘progressista’ parece muito pouco provável em tão pouco tempo.

Ao defender a aliança com o PV, a maioria da direção do PSOL argumenta que há a necessidade de ampliar, de mostrar que o partido não é uma seita e é capaz de abrir-se ao diálogo com outros setores. Em linguagem direta, a maioria da direção preocupa-se com a viabilidade eleitoral e ponto final.

Esse simples raciocínio deixa claro como a atual maioria do partido promoveu uma verdadeira ruptura com as bases fundamentais que serviram para formar nosso partido. O PSOL nasceu rompendo com os principais fatores que levaram o PT à falência enquanto partido da classe trabalhadora.

Um dos elementos fundamentais que provocou a degeneração do PT foi sua adaptação ao esquema político do regime burguês e a subordinação do seu papel nas lutas sociais ao jogo de cartas marcadas das eleições. O PT também começou fazendo alianças desse tipo e vimos onde foi parar. Não queremos e não aceitamos o mesmo destino para o PSOL.

A intervenção dos socialistas nas eleições deve servir para elevar o nível de consciência de amplos setores dos trabalhadores e ajudar na sua organização e mobilização. Como poderemos estimular a consciência de classe independente dos trabalhadores se nos coligamos com partidos burgueses? Como poderemos defender uma alternativa anti-capitalista e socialista se subimos no palanque com neoliberais?

De quem será o programa?

A maioria da direção argumenta ainda que, de qualquer forma, o programa a ser defendido pela coligação PSOL/PV será o nosso programa e que, portanto, se há alguma contradição na aliança trata-se de uma contradição do PV e não do PSOL e que, portanto, não temos nada a perder.

Infelizmente, as coisas não são tão simples. Em 2006 já pudemos ver as conseqüências de termos um candidato a vice-presidente na chapa de Heloísa Hele na que, ao contrário do programa de fundação do PSOL, não vai além da defesa de algumas reformas no capitalismo numa linha mais nacional e desenvolvimentista. O rebaixamento programático da campanha de He loísa Helena, porém, não foi somente culpa do vice César Benjamin que, aliás, com todos os seus problemas, não pode sequer ser comparado com um politiqueiro como o PV de Porto Alegre.

A direção da campanha em 2006 (praticamente as mesmas correntes majoritárias que hoje defendem a aliança em Porto Alegre) conscientemente adotou uma linha política que sequer respeitava as decisões moderadas da Conferência eleitoral nacional de 2006. A defesa da suspensão do pagamento da dívida com auditoria, uma das decisões da Conferência, por exemplo, foi abandonada na campanha. Com esses antecedentes, o que podemos achar que acontecerá em Porto Alegre?

Lutar por uma Frente de Esquerda com um programa socialista

A maioria da direção do PSOL, em particular a corrente majoritária no Rio Grande do Sul (MES/PP), que junto com a APS formam um campo majoritário nacional, está colocando o projeto do PSOL em risco. Junto com o Bloco político de que fazemos parte, nós do SR estamos lutando em todos os espaços possíveis contra esse atentado à independência de classe e o projeto socialista do PSOL.

Nós defendemos que o PSOL construa Frentes de Esquerda, apenas com partidos vinculados à luta dos trabalhadores, como fizemos em 2006 com o PSTU e o PCB. Lutamos para que o partido e a Frente de Esquerda possam ampliar para inúmeros movimentos políticos e sociais e transformarem-se numa referência política combativa e coerente para os trabalhadores que lutam por seus direitos. Para isso precisamos defender nas eleições municipais um programa que ligue as reivindicações concretas dos trabalhadores à necessidade de uma alternativa anti-capitalista e socialista.

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