Retirada de Gaza – A retirada de Sharon trará “paz”?
O governo israelita demoliu todas as colônias judaicas na faixa de Gaza, com mais quatro a acontecer na Cisjordânia. Esta é a primeira vez que Israel retirou as colônias no território palestino tomado durante a guerra de 1967.
As evacuações forçadas não ocorreram sem protestos e violência, incluindo a matança de oito palestinos por dois colonos judeus de extrema direita. Mas, com a opinião pública israelita estando de forma esmagadora a favor da desocupação e com a força do exército israelita, a retirada de Gaza foi implementada.
Há predições de grande resistência futura em duas das colônias da Cisjordânia que estão para ser removidas, mas o exército tem poder para evacuá-los também.
Celebrações na rua começaram nos campos de refugiados palestinos de Gaza atingidos pela pobreza e um grande festival de “libertação” está planejado. Internacionalmente, ilusões na “paz” da região foram impulsionadas por comentários tais como o de James Wolfensohn, um enviado do “quarteto” internacional (os EUA, a União Européia, a ONU e a Rússia). Ele chamou a retirada de “um movimento estratégico que tem todos os elementos de um futuro acordo” e acrescentou: “Eles estão cuidando de todas as questões que eles necessitariam cuidar em um acordo final”. Estas afirmações estão mais do que distantes da verdade.
Nos territórios palestinos a desocupação é vista como um produto bem-vindo da Intifada (insurreição) Palestina, mas há corretamente um ceticismo sobre que benefícios trará. Toda a faixa de Gaza com seus 1.3 milhões de habitantes ainda é cercada como uma enorme prisão, com o exército de Israel com poder de re-entrar a qualquer momento. Apesar de muitos meses de negociação, o regime de Israel ainda não concordou em ceder qualquer controle sobre as fronteiras de Gaza, colocando em questão se realmente existirá qualquer liberdade de comércio e de movimento de pessoas, incluindo viagens entre Gaza e a Cisjordânia. Diante disto os palestinos reconhecem que a colonização de Gaza pode ter acabado, mas uma ocupação “de fato” ainda existe.
Para o primeiro ministro de Israel, Ariel Sharon, a desocupação sempre foi um passo unilateral designado parcialmente para impedir qualquer pressão em relação a um acordo de “paz”. Seu conselheiro sênior, Dov Weiglass, deixou isto claro em outubro quando disse: “O significado de um plano de desocupação é a paralisação do processo de paz. Quando você paralisa este processo, você previne o estabelecimento de um Estado Palestino e você previne a discussão sobre a questão dos refugiados, não existirá um processo de negociação com os palestinos”.
Porém, as principais causas da decisão de Sharon foram a permanente incapacidade do exército israelita de reprimir a intifada, de dar fim às conseqüências econômicas e de segurança que vêm com isso e, também, a futura situação demográfica da área. A classe dominante israelita pode ver que, sem uma separação dos territórios palestinos existirá, eventualmente, uma maioria palestina na área que é controlada entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.
Sharon deseja cercar os territórios palestinos em enclaves, uma estratégia que significou apelar ao desmantelamento das colônias judaicas que eram difíceis de defender. Apesar de estas colônias abandonadas serem uma pequena minoria do total, elas foram construídas em um período em que a classe capitalista israelita tinha aspirações por um grande Israel abrangendo todo o território nas áreas da Autoridade Palestina (AP) e, desta forma, representa uma importante reversão daquele objetivo.
Porém, somente 8.000 colonos judeus mudaram-se, menos de 2% dos 440.000 dos colonos da Cisjordânia e da Jerusalém Oriental. Sharon pretende continuar a expandir as colônias próximas de Israel. Enquanto os palestinos enfrentam basicamente: demolições de casas – as construções de casas judias na Cisjordânia aumentaram em 83% nos primeiros meses de 2005 comparados ao mesmo período do ano anterior.
Em particular, 3.500 casas estão planejadas para a borda da colônia de Maale Adumim, a três milhas ao leste de Jerusalém, com a idéia de preencher o intervalo entre a colônia e as áreas palestinas de Jerusalém Oriental. Além disso, enquanto a atenção está voltada para Gaza, a construção do muro de separação continuou na Cisjordânia causando a destruição dos meios de vida dos palestinos e separado 55.000 palestinos de Jerusalém de sua própria cidade.
Auxílio e investimentos internacionais foram prometidos para Gaza depois da retirada israelita, mas para isto se materializar totalmente e ser de algum uso as pessoas de Gaza precisam ter acesso comercial para o mundo exterior, o que o regime israelita por enquanto está resistindo, e a situação geral necessitaria estar estável. Mesmo se estas condições fossem alcançadas as massas palestinas teriam sua própria elite palestina aspirante – com uma história de corrupção e nepotismo – e não enxergariam muitos benefícios provenientes do auxílio.
Porém, a situação interna na faixa de Gaza atualmente é muito instável, com lutas internas entre gangues e milícias. Um grande estouro de violência em julho foi causado pelos eventos seguintes a um ataque suicida da Jihad islâmica em Israel em 12 de julho. A polícia da AP atirou em um carro carregando militantes do Hamas, ferindo cinco, e isto levou para conflitos armados entre o Hamas e a polícia da AP. “As relações entre o Hamas e a AP não tiveram infortúnios por anos” afirmou Ghazi Hamad, editor do jornal islamita al-Risala.
O partido islâmico de direita, o Hamas, teve grandes ganhos nas eleições locais no início deste ano e pretende ganhar um apoio similar ou, talvez, maior nas eleições para o legislativo planejada para janeiro de 2006. O presidente Mahmood Abbas adiou estas eleições de julho de 2005 temendo uma maior desilusão em relação ao comando da AP do partido Fatah e, com isto, uma vitória do Hamas.
Porém, os líderes do Fatah estão com esperanças de que os resultados da desocupação israelita aumentará sua popularidade, mas dados os fatores já citados o contrário é o mais provável.
A desocupação também terá grandes conseqüências para os partidos políticos de Israel, sendo que a coalizão de direita dominante, Likud, já está com turbulência. Benjamin Netanyahu renunciou seu posto no Ministério de Relações Estrangeiras para se preparar para opor-se a Sharon na liderança do Likud e, por enquanto, possui uma liderança de 20% sobre Sharon dentro do partido.
Porém, as políticas de Netanyahu causaram grande miséria para a população. Ele liderou, recentemente, cortes em serviços sociais e de bem estar, além do maior impulso de privatização desde o fim dos anos 90 – incluindo a Israel Telecom e partes da linha aérea nacional, um banco e uma companhia de entregas.
No momento, Sharon está se fundamentando no apoio da maioria ao seu plano de desocupação: numa pesquisa de opinião recente, 59% apóia a retirada e 89% disseram que as forças de segurança lidaram bem com isto. Mas ele afastou-se de colonos religiosos de direita e seus apoiadores que, ao invés de tomar uma posição de direita pragmática, acreditam que os judeus possuem o direito divino sobre os territórios ocupados.
Sharon pode falhar em manter-se assim até novembro de 2006, data limite para as eleições. Pode ser forçado a tentar pavimentar um novo bloco sem os partidos mais direitistas e, possivelmente, sem uma seção do Likud.
Para os trabalhadores de Israel, nenhum dos políticos capitalistas israelitas pode oferecer um futuro decente. O plano de desocupação não trará direitos nacionais e democráticos ou condições de vida melhores para os palestinos e, portanto, não terminará o conflito nacional que traz insegurança constante para todos os israelitas. Será somente por meio de sua própria organização, criando um novo partido dos trabalhadores israelitas baseado em idéias socialistas, que um programa para resolver os problemas nacionais e econômicos será implementado.
Para os trabalhadores palestinos vale o mesmo, na medida em que o capitalismo em todo o mundo é completamente incapaz de auxiliá-los com qualquer solução. Somente por meio da construção de um movimento democrático e independente dos trabalhadores capaz de conduzir ações de massa para apoiar sua causa, suas aspirações serão satisfeitas e uma Palestina socialista estabelecida juntamente com uma Israel socialista.
Do The Socialist, jornal do Socialist Party, CIO na Inglaterra e País de Gales.