Encontro fortalece a pauta de saúde do trabalhador na CSP-Conlutas

     Nos dias 9, 10 e 11 de novembro, no Sindicato dos Petroleiros em São José dos Campos, ocorreu o primeiro Encontro Nacional de Saúde do Trabalhador da CSP-Conlutas.  

     O encontro contou com cerca de 180 pessoas de diversas entidades, de vários estados brasileiros como Rio de janeiro, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, etc. Dentre estes militantes, estavam sindicalistas, cipeiros, delegados sindicais e trabalhadores da base de diversas categorias como construção civil, comerciários, metalúrgicos, professores e trabalhadores do judiciário.

     O encontro reafirmou a grande importância da pauta da saúde do trabalhador, proporcionou o debate apontando os problemas enfrentados pelos trabalhadores pelo Brasil a fora com adoecimentos e acidentes do trabalho. O evento também apresentou conceitos teóricos sobre o tema, relacionando com a realidade e também possibilitou a troca de experiências vitoriosas de atuações em saúde do trabalhador.

Reestruturação produtiva: Lucro à custa da saúde dos trabalhadores

     Após a crise do capital nos anos 70, houve uma queda nas taxas de lucro. A burguesia apostou em mudanças na forma de produção, distribuição de mercadorias, entre outras saídas. No Brasil, estas mudanças foram implementadas com certo atraso, pois nos anos 70 e 80 a classe trabalhadora brasileira encontrava-se bastante ativa politicamente com greves e lutas políticas. Porém, nos anos 90, essas mudanças começam a ocorrer.

     Isso se manifestou com o neoliberalismo na política de Estado e com reestruturação produtiva na economia.

     O modelo toyotista representa a maioria destas mudanças aplicadas, uma nova forma de gestão pautada em três principais objetivos: aumento da produtividade, aumento da qualidade dos produtos e redução de custos. Dentre as formas de alcançar estes objetivos, estão a terceirização, redução de pessoal, polivalência (isto é, a diversificação da quantidade de tarefas a ser realizadas por um mesmo trabalhador, que acumula funções que antes eram realizadas por dois, três ou mais trabalhadores), robotização, disputa ideológica dos trabalhadores (obscurecendo a relação de classe e tratando, no discurso, o trabalhador como um “colaborador”, visando fazer com que ele “vista a camisa da empresa” ), além de impor metas aos trabalhadores e exercer grande pressão para que eles as atinjam.

     Essa nova forma de produção, que se manifesta de maneira diferente em cada setor e que é perceptível em quase todos os ramos de alguma forma, é responsável por uma cruel intensificação do trabalho que leva a diversos adoecimentos físicos, mas também muitos adoecimentos psicológicos. Esta nova forma de organização do trabalho foi apontada por muitos sindicalistas presentes no encontro como um fator que leva a um grande aumento dos adoecimentos e acidentes do trabalho, que esgota fisicamente diversos trabalhadores e gera tamanha pressão e sofrimento psíquico que desencadeia diversos quadros depressivos, bipolares, de transtornos de ansiedade, entre outras psicopatologias.

O assédio moral: uma arma da burguesia

     Entre os diversos problemas apontados no encontro, ficou claro que um deles era enfrentado por quase todos os trabalhadores, dos diferentes setores e locais do Brasil: o assédio moral.

     Comumente relacionado à pressão pelo cumprimento de metas, as empresas e instituições utilizam-se de ofensas, humilhações, constrangimento, isolamento entre outras práticas para forçar com que os trabalhadores se esforcem para além dos seus limites de saúde para, assim, ampliar ao máximo seus lucros, independente do sofrimento psíquico que isto acarrete.

     O assédio moral também é uma ferramenta utilizada para “se livrar” daqueles que, por algum motivo, são indesejados pela empresa: trabalhadores adoecidos, que evidenciam o papel adoecedor do trabalho, e militantes, que denunciam e combatem os problemas do local de trabalho. Este é um fato bastante grave, pois foram recorrentes falas de lutadores que foram vítimas de assédio moral e que ainda carregavam o sofrimento desta violência psicológica.

     Outro assunto polêmico também foi abordado no encontro e que merece atenção dos lutadores: a ocorrência de assédio moral nos sindicatos. Não podemos fingir que isso não ocorre. Infelizmente, muitos dos que lutam pelos trabalhadores reproduzem a violência psicológica dentro das entidades, seja com outros diretores ou com funcionários e, comumente relacionado de forma íntima com as disputas políticas dentro do sindicato. É preciso que o movimento sindical pare de jogar as denúncias para debaixo do tapete e articule ações efetivas para extinguir tais práticas das entidades dos trabalhadores.

Armar o movimento sindical na luta pela Saúde

     O encontro reafirmou que, frente a atual realidade da organização do trabalho, é cada vez mais necessário aos sindicatos buscarem ir além do economicismo e darem, também, grande peso às pautas relacionadas à organização do trabalho e à saúde e segurança do trabalhador. É fundamental que os sindicatos busquem estruturar secretarias e departamentos de saúde do trabalhador, que se instrumentalizem para abrir CAT, fortalecer as CIPAs, denunciar as más condições de trabalho, se aproximar dos CERESTs, contratar profissionais de saúde, entre outras atuações.

     Mas, infelizmente, apesar do encontro ser vitorioso e jogar um papel muito importante na luta nesta área, é essencial fazermos um balanço de que a participação foi ainda muito baixa, mostrando como grande parte dos sindicatos filiados à CSP-Conlutas ainda não dão o devido valor à esta questão. Por isso, se faz importante o compromisso tirado na plenária final do encontro: pautar esse debate nas entidades e na base das categorias, fortalecer o setorial da CSP-Conlutas de saúde do trabalhador e organizar encontros estaduais e regionais no próximo período.

     Está certo que este é apenas o primeiro encontro, mas não temos tempo a perder. A situação atual é muito grave e provavelmente ficará ainda pior. O capital passa por uma crise econômica mundial e a conta desta crise continuará sendo jogada nas costas dos trabalhadores, representando mais cortes em seus direitos. A deterioração das condições de trabalho gerada por estes ataques irão intensificar ainda mais os danos à saúde dos trabalhadores. Se não conseguirmos construir grandes mobilizações dos trabalhadores, continuaremos a chorar o adoecimento e a morte de nossos(as) amigos(as), companheiros(as) e colegas.

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