Somalia e pirataria – uma consequência da intervenção das potências ocidentais

O sequestro do super-petroleiro Sirius Star, carregando 2 milhões de barris de petróleo, realçou dramaticamente o problema da pirataria ao longo da costa da Somália. Este foi o maior em mais de 100 ataques a navios na região esse ano.

A prática de sequestro de navios se provou muito lucrativa para os piratas, com mais de $30 milhões pagos em resgates até agora.

Para o capitalismo, isso coloca uma séria ameaça à economia mundial à medida que o custo de transportes de bens por uma das principais rotas de abastecimento do mundo disparou para $400 milhões por ano. Isso em uma época em que a economia global está agudamente vulnerável a choques externos.

Enquanto a imprensa e comentaristas oficiais tenha oscilado entre injúrias contra as ameaças aos lucros de seu sistema e conjurações de nostálgicas imagens dos piratas bucaneiros, o verdadeiro significado do que está acontecendo na costa da Somália freqüentemente é esquecida.

O crescimento da pirataria somali é uma consequência de anos de intervenção e exploração das potências ocidentais e também o sinal para o desenvolvimento de novas grandes rivalidades de poder em um dos pontos vulneráveis do mundo.

A fonte desses ataques são ex-pescadores somalis que se organizaram para impedir os furtos de companhias pesqueiras dos grandes países capitalistas. O Guardian reportou que $300 milhões em peixe são roubados anualmente das águas somalis por traineiras de todo o mundo.

Contudo, o problema da pesca está ligado ao fato que a Somália foi dividida em uma miríade de facções e clãs beligerantes. Isso lançou a base na qual os pescadores foram forçados a se organizarem em defesa de seu sustento, mas também fornecendo-lhes os meios de fazer isso na forma de armas e ex-milicianos.

David Cockcroft, secretário geral da Federação Internacional de Transportes, comenta: “Parece haver um firme crescimento no número de piratas vinda da Somália, já que senhores da guerra locais vêem o poder e influência de seus vizinhos crescer depois de expandir para essa área de atividade criminosa. Então, agora você tem não apenas criminosos trabalhando próximo da costa em botes rápidos, mas barcos de pesca entrando na pirataria como freelancers, e agora gangues organizadas trabalhando em águas internacionais, usando navios pesqueiros maiores e navios-mãe”.

Colapso

O colapso da sociedade somali pode ser rastreada diretamente na interferência imperialista. A derrubada da ditadura de Said Barre em 1991 fez com que a Somália não tivesse governo efetivo até 2006, quando as forças da União das Cortes Islâmicas, apoiada por empresários somalis, conseguiram expulsar os senhores da guerra de Mogadiscio e começaram a aparecer os contornos de um governo estável.

Eles até começaram a lidar com o problema da pirataria na época, mas foram interrompidos quando os governos ocidentais, horrorizados com a idéia de um governo islâmico controlando as linhas costeiras, tão próximas das rotas de fornecimento, alinharam-se atrás de uma invasão da Etiópia apoiada pelos EUA.

Como a maioria da política externa dos EUA nos anos recentes, eles agora conseguiram provocar exatamente a situação que procuraram evitar, isto é, uma ameaça às linhas de abastecimento. E o problema está ficando pior.

Em resposta ao sequestro do Sirius Star, eclodiu uma luta inconveniente entre as principais potências mundiais para decidir quem irá controlar essa vital linha de navegação. A Rússia falou sobre reabrir a base soviética de Aden e até de colocar forças terrestres na Somália. A UE enviou um comando naval conjunto em águas fora de sua jurisdição pela primeira vez.

O Japão, com a segunda maior marinha do mundo, está debatendo uma lei na Dieta que autorizaria o uso da força na região. A Índia enviou um navio de guerra, o INS Tabar, para a área, que relatou ter tido choques com piratas três semanas atrás. Contudo, depois foi revelado que o suposto navio pirata era na verdade um navio tailandês que tinha sido vitima de pirataria! Os EUA recentemente criaram um comando africano separado como parte da reorganização de seus militares. Combater a pirataria é visto como uma de suas principais prioridades.

Contudo, essas medidas sozinhas não irão efetivamente combater a pirataria. No momento, há 14 navios da OTAN na costa da Somália, tentando cobrir uma área de 2.5 milhões de quilômetros quadrados, com mais de 20.000 navios passando por ela anualmente. Isso ilustra o tamanho do problema.

Na verdade, uma solução duradoura só poderá ser alcançada quando a pobreza do povo local for eliminada através de um verdadeiro desenvolvimento de suas economias e as águas forem policiadas por países da área com governos estáveis e legítimos O capitalismo falhou completamente em fornecer qualquer uma dessas coisas à região.

Apenas quando a interferência externa nestes países terminar e a enorme riqueza potencial e os recursos forem controlados pelos trabalhadores da região em uma confederação socialista poderá os problemas da pobreza, guerra e pirataria serão verdadeiramente superados.