A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Militant e o governo Wilson
Na Grã-Bretanha esse período viu o inicio da transformação do movimento trabalhista organizado. O governo trabalhista de 1964, com uma pequena maioria de quatro, foi reeleito em março de 1966. O resultado foi uma vitória decisiva para o Trabalhismo com Harold Wilson reeleito como primeiro-ministro. Mas, dado o estado do capitalismo britânico, recordado em nossas páginas, o governo trabalhista se moveu de suaves reformas no primeiro período para contra reformas.
Rapidamente após a eleição vitoriosa de 1966, o governo introduziu um “congelamento total de pagamentos e preços por um período de seis meses”. O Militant previu que embora os líderes sindicais da ala direita pudessem concordar com essa política, eles iriam se arruinar à medida que a resistência dos trabalhadores aumentassem. As políticas seguintes levaram o governo a entrar em colisão com o trabalhismo organizado, que apoiou a reeleição de Wilson com grandes esperanças de um aumento em sua situação.
Greve dos marinheiros
Em julho de 1966 uma greve de marinheiros estourou. Wilson insinuou sinistramente uma “conspiração comunista” e declarou que o Comitê Executivo (EC) do Sindicato dos Marinheiros (NUS) estava sob o controle de um “grupo estreito e unido de homens politicamente motivados”. Um dos membros do EC do NUS na época era John Prescott, hoje deputado líder do Partido Trabalhista.
Começando a greve muito timidamente, os marinheiros se tornaram mais e mais militantes à medida que ela se desenvolvia. Mesmo a ala direita que dominava o NUS começaram a demandar a nacionalização da indústria. Eles denunciaram os “donos de navios que manipulavam uma industria vital para um país marítimo. Subsidiar um grupo privado e excessivamente poderoso de magnatas é contrário a todas as tradições do movimento trabalhista – nós dizemos que a crise na indústria naval pode ser finalmente resolvida pela nacionalização.”
A greve, que durou seis semanas e meia, mostrou a magnífica solidariedade dos marinheiros, e resultaram em algumas concessões. A semana de 40 horas foi implantada um ano antes do que os patrões pretendiam. Apesar de tudo, uma vitória completa foi impedida por causa do EC direitista que se recusou em levantar o chamado de uma greve geral em toda a frota marítima britânica.
O Trades Union Congress (Central Sindical), antecipando o que aconteceria na greve de mineiros dos anos 80, e a maioria dos sindicatos, não ofereceu assistência direta aos marinheiros. Apesar de tudo, nesta época, diferente de disputas industriais anteriores, (como a dos trabalhadores das docas, durante o governo trabalhista de 1945-51), Wilson não se atreveu a usar tropas ou a Marinha Real. O Militant previu que o NUS seria mudado inevitavelmente transformado por essa luta, como subseqüentemente aconteceu.
Ação Sindical
Durante 1968 uma série de greves começou a estalar em outras indústrias a nível local; a greve das costureiras da Ford e outros movimentos eram sintomáticos da emergência das mulheres trabalhadoras. Militant em outubro de 1968 comentou a “onda grevista de Liverpool”. Trabalhadores da construção entraram em greve e marcharam pelo centro de Liverpool em setembro. Funcionários municipais estiveram em greve 13 semanas antes disso. Doqueiros também cruzaram os braços e havia uma crescente insatisfação nas plantas da English Electric desta cidade por causa da fusão entre a companhia e o GEC. Corretamente, os trabalhadores temiam demissões massivas. Este movimento era paralelo a greves em outras partes do país, particularmente nas Midlands, que refletia a crescente insatisfação com a política, ou a falta delas, da liderança trabalhista e dos sindicatos. Posteriormente, as ações dos patrões da GEC/AEI/English Electric justificaram inteiramente o medo dos trabalhadores.
Em agosto de 1969, eles declararam que 4.800 homens e mulheres seriam despedidos nacionalmente, 3.000 concentrados em Merseyside. 1,500 seriam despejados em Netherton, East Lancashire Road. Os intendentes imediatamente propuseram uma greve de um dia, que teve sucesso em todas as três fábricas de Liverpool. Uma passeata de massas também teve lugar nas ruas da cidade no dia da greve. Houve um esmagador apoio aos grevistas contra as demissões. There was overwhelming support for an all-out strike against redundancies. Duas greves “sit-down” também ocorreram na fábrica de East Lancashire Road que indicava a enorme resolução dos trabalhadores de usar qualquer meio necessário para defender as fábricas do fechamento. O Militant defendeu a combinação da agitação e demanda da nacionalização sob o controle operário destas firmas.
Controle operário?
Eventos internacionais, acima de tudo os da França no ano anterior, popularizaram a idéia de democracia operária e controle operário. A idéia de tomada e ocupação de fábricas para impedir demissões começou a crescer, particularmente entre os trabalhadores avançados das comissões de fábrica. Mas não havia um entendimento claro da idéia de controle operário e direção operária e em particular a diferença entre as duas concepções.
Sob a direção do Instituto pelo Controle Operário, dirigido de Nottingham por Ken Coates, que depois se tornou um membro trabalhista ao Parlamento Europeu, a idéia de tomada de fábricas e continuar a produção, era apoiada por alguns intendentes. O Militant, por outro lado, era a favor de parar a produção e ocupação das fábricas para impedir demissões. A gerência da GEC e a imprensa capitalista estavam aterrorizadas por este desenvolvimento. Todo truque sujo foi então usado para distorcer este debate e vilipendiar os delegados sindicais.
Estes, entretanto, não prepararam os trabalhadores adequadamente. Eles acreditaram que era suficientes pontuar um chamado, fazer uma reivindicação numa manifestação de massas, e os trabalhadores os seguiriam. No dia de uma manifestação programada para discutir a ocupação, membros da diretoria lideraram uma contra-manifestação junto com alguns delegados de direita que falavam da cooperação com as empresas. Eles tomaram a plataforma da manifestação. Megafones foram fornecidos pelos diretores aos pelegos, que fizeram calar aos berros e encobriram a voz do organizador, Wally Brown. O resultado foi a confusão e derrota para a idéia de tomada por uma votação de dois para um. Os patrões então tentaram usar isso para despedir os intendentes. Apesar de tudo, um esmagador voto de confiança foi dado ao comitê de ação para continuar a luta por outros meios.
Uma indicação do sentimento que se desenvolvia nesta época e que favoreceu a proposta de ocupação foi que Hugh Scanlon, então presidente do sindicato de engenheiros, o AEU, declarou numa entrevista ao Morning Star que seu sindicato não toleraria demissões e chamou por “trabalho ou pagamento integral”. A eleição de Scanlon, um marxista confesso nesta época, como presidente do seu sindicato, de Jack Jones como secretário geral do Sindicato dos Transportes e de Lawrence Daly como secretário geral do sindicato dos mineiros, indicava a direção rumo à esquerda que começava a tomar lugar entre os setores mais politicamente conscientes da classe trabalhadora. Este processo não estava restrito aos sindicatos. O Partido Trabalhista também começou a dar passos à esquerda.
Os primeiros três milhões de votos do Militant
Isto não estava claramente refletido na conferência trabalhista do Partido Trabalhista de 1968. O Militant teve como manchete em novembro daquele ano: “Quase três milhões de votos por uma alternativa política socialista”. Uma resolução movida pelo partido do município de Liverpool e secundada pelo distrito eleitoral do nordeste de Bristol CLP) chamou pelo
posse pública [de]… 300 monopólios, bancos privados, casas financeiras e companhias de seguro que agora dominam a economia, e… produção um plano positivo nacional ancorado na produção socialista. (1)
A conferência defendeu por cinco milhões de votos por um milhão “o repúdio para a legislação anti-sindicato” da política de Preços e Renda.
A resolução de Liverpool foi o mais ruidoso exemplo do crescente apoio ao Militant. Ele encontrava cada vez mais um eco entre os trabalhadores que iam rumo à esquerda, sobretudo a juventude. Em 1969 nós pudemos reportar:
O comparecimento de mais de 150 pessoas à reunião do Militant [na conferência de 1969 dos Labour Party Young Socialists] dirigida por Peter Taaffe e os mais de 250 no fórum do Militant com o Tribune, onde as diferenças entre os dois jornais ficaram claro para todos, é uma indicação de que a discussão em torno das idéias do marxismo irão continuar e se desenvolver dentro do movimento. (2)
Em lugar da contenda
Uma questão decisiva na virada de membros dos sindicatos e do trabalhismo para a esquerda foi a decisão do governo trabalhista de levar a cabo a intenção dos grandes negócios e introduzir uma legislação anti-sindical. A chamada “Em lugar da contenda” propunha “votação compulsória de greves”, “períodos de calma” e outras medidas para cortar o poder do trabalhismo organizado.
Isso provocou um clamor entre os trabalhadores, provocando uma série de alarmes de greve a nível local, regional ou nacional. Isso forçou o TUC a se opor ao governo nesta questão. Essa medida, sobre a qual Thatcher e os Conservadores basearam suas viciosas leis anti-sindicato nos anos 80, foi proposta pela ‘esquerdista’ Bárbara Castle, que era a Ministra do Trabalho na época. Mesmo Tony Benn, que então ocupava a posição política do ‘centro’, inicialmente apoiou Castle no gabinete trabalhista.
Mas a implacável oposição do trabalhismo organizado e do movimento sindical resultou em um racha no gabinete. James Callaghan, refletindo a pressão dos líderes sindicais, tomou a oposição aberta a Wilson. Eventualmente a maioria do gabinete se opôs às propostas de Wilson-Castle. Se Wilson não desistisse, poderia ser removido do cargo de primeiro-ministro.
Mas a elite dominante estava furiosa com estes desdobramentos. Essas eram as medidas mínimas que ela exigia – o esmagamento dos sindicatos – para que seu programa de cortes nas condições de vida pudesse ser levado adiante. Uma choradeira começou a se criar sobre o “caos” e “anarquia” que alegadamente se manifestava na sociedade, nas partidas de futebol e no chão das fábricas. Um uivo se ouviu a favor da substituição do governo trabalhista por um “governo nacional” nas linhas do de Ramsay MacDonald em 1931. Foi discutido mesmo a necessidade de um golpe militar por Lorde Mountbatten, uma solução sondada na época pelo proprietário do Daily Mirror, Cecil King.
Em janeiro de 1969, nós reportamos
o veneno dissimulado [do] The Times, principal órgão do capitalismo britânico, [que ] publicou em 9 de dezembro um longo editorial pela formação de um ‘Governo Nacional’… O dono do The Times, Roy Thomson, com seu editor William Rees-Mogg, um fracassado candidato parlamentar conservador, se juntou com Cecil King, o Daily Mirror, e um bando heterogêneo de Conservadores e trabalhistas renegados numa campanha de calúnias contra o movimento trabalhista. (3)
Que uma seção dos capitalistas estivesse se movendo nesta direção era uma expressão da crise do capitalismo britânico neste período. Mas Militant apontou:
1968 não é 1931. O poder industrial da classe trabalhadora nunca foi maior. Contudo, há um significativo sentimento rumo à esquerda de elementos ativos dos sindicatos e do Partido Trabalhista, no termo deste governo trabalhista.(4)
Havia o medo de que o Trabalhismo pudesse ser puxado rumo a uma irreversível direção à esquerda que detivesse as mãos dos capitalistas naquele estágio. Contudo, o tema de um ‘Governo Nacional’ voltaria muitas vezes nos anos subseqüentes quando a burguesia sentia que os Trabalhistas eram incapazes e os Conservadores muito debilitados para satisfazerem seus desejos.
1 Militant 43 Novembro 1968
2 Militant 49 Maio 1969
3 Militant 45 Janeiro 1969
4 ibid