A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

O ponto crítico

A maior ‘bomba’ na Grã-Bretanha em 1976 foi a demissão em maio do primeiro-ministro trabalhista Harold Wilson. Ele vinha sendo assediado tanto dentro do seu governo quanto no movimento trabalhista. Sua partida representava o ‘fim de uma era’. Todas as grandes esperanças de Wilson de uma nova ‘revolução branca tecnológica’ foram frustradas pela crise do capitalismo britânico.

Sob Wilson, o poder do capital não foi quebrado. De fato, o processo inverso se deu, com os grandes negócios obrigando o governo a ceder às suas exigências. As memórias de Wilson recordam uma reunião infame com o presidente do Banco da Inglaterra em 1965. Este exigiu cobranças nas prescrições de remédios e cortes no serviço social para proteger a Libra. Wilson perguntou ao governador o que aconteceria se ele dissesse aos eleitores que ele estava sendo chantageado para se desviar do programa do seu partido por agiotas. O presidente respondeu que ele poderia ganhar por uma vitória esmagadora. Mas Wilson não foi ao povo com a história. Ele aceitou as políticas do presidente e dos capitalistas.

O ex-primeiro-ministro Heath comentou que a maior contribuição de Wilson foi “manejar e manter o partido unido”. Em outras palavras, Wilson foi a melhor aposta para prevenir um racha na qual a esquerda indubitavelmente emergiria com a maioria no Partido Trabalhista. O substituto de Wilson, Callaghan, foi visto parcialmente como uma continuação do regime Wilson, mas também expressou um posterior rumo à direita. Sua eleição certamente foi vista pelos grandes negócios como sendo mais favorável a eles. Os eventos posteriores demonstraram que era o caso. Todos os grandes jornais burgueses incitavam os leais direitistas como Denis Healey e Roy Jenkins a manter seus postos.

Mas isso apenas serviu para inflamar as fileiras do movimento. O Militant reportou que

Os distritos partidários de Newham North-East e Hammersmith North valeram-se do seu direito democrático, estritamente de acordo com as regras estatutárias do Partido, ao decidir não re-selecionar seus atuais MPs. Estas decisões provocaram uma torrente de abusos pelos donos da televisão e imprensa, que aprovam os pontos de vista direitistas de Prentice e Tomney. Usando a velha tática ‘vermelhos debaixo da cama’, uivou a respeito do ‘perigo à democracia’. (1)

Na verdade os apoiadores do Militant presentes em ambos os lugares, foram decisivos nas moções contra estes MPs. Acima de tudo, como o grupo melhor organizado da esquerda, nossos apoiadores foram identificados como os principais oponentes do que eles acreditavam serem ‘propriedade’ sua.

A tentativa de isolar os Parliamentary Labour Party da pressão das fileiras do movimento não era acidental. Uma campanha impiedosa para forçar a adoção dos cortes foi adotada pelos grandes negócios. Na corrida para a Conferência Trabalhista de 1976, isso alcançou um crescendo e a questão dos cortes explodiu na conferência. Militant a resumiu

como uma das mais importantes em décadas. É um divisor de águas no movimento trabalhista e na expectativa de vida do próprio governo. Uma atmosfera de crise permeou os Winter Gardens e o fantasma de Ramsay MacDonald assombrou os corredores do Imperial Hotel. (2)

A Libra de carne do FMI

A libra caiu 9% nos primeiros dias da conferência. O Chanceler Healey se preparou para deixar a conferência voar para o Fundo Monetário Internacional mas voltou do aeroporto Heathrow. Um infame tratado foi então descoberto envolvendo os cortes massivos em troca de um empréstimo do FMI. Isto gerou enorme descontentamento na conferência.

Havia um racha aberto entre a esquerda e a direita, e uma violenta altercação entre os membros do NEC vazou para a imprensa. Havia um grande descontentamento com a direita dentro dos sindicatos. Houve discussões acaloradas entre as delegações sindicais, algumas vezes transbordando para gritarias entre ambas as partes. Rumores e contra-rumores circulavam pelo hall.

O corte de £2,300 milhões nos gastos governamentais foi ligado a cortes prévios. Isso impeliu o The Guardian a comentar:

Uma futura rodada de gastos pesados, aparecendo em cena após os cortes anteriores que claramente falharam em conseguir dividendos e reter a confiança, irão tornar impossível ao sr. Jones, líder do Sindicato Geral dos Transportes, e ao sr. Foot (Ministro do Trabalho) a manter suas fileiras. (3)

Portanto os cortes impostos do FMI ameaçavam o Contrato Social, mas levou tempo (mais de um ano) para isso ser refletido em ações decisivas contra o acordo entre o governo Trabalhista e os sindicatos. A conferência também se caracterizou por um ataque frontal do novo Primeiro Ministro, Callaghan, aos ‘marxistas em movimento e aos apoiadores do Militant, em particular’.(4)

Neste estágio Michael Foot deixou claro que ele não apoiaria nenhuma caça-às-bruxas. “Há espaço em nosso partido para muitas diferentes linhas de opinião.’ Na reunião do Tribune daquela noite, Eric Heffer contrariou Callaghan diretamente por dizer que ‘não era a época da caça-às-bruxas do passado”.

A recusa de Michael Foot e outros ‘esquerdistas’ nos anos 80 de seguir seu próprio aviso no movimento trabalhista em 1976 resultou em divisões que diretamente fez o jogo dos Conservadores. Na época, contudo, a esquerda adotou uma posição radical. Numa reunião em outubro organizada pelo Partido Trabalhista de Cambridge e atendida por 500 pessoas, Michael Meacher, sub-secretário do Estado para o Comércio, declarou:

Por muito tempo, nós temos atuado advogando o socialismo… Estamos no fim da via capitalista… A economia tem se movido de uma crise a outra. Nós temos tentado diferentes remédios… nós agora temos o pior índice de greves na Europa, ainda sem solução… nós temos os mais baixos custos na Europa, ainda sem solução. São calculados três milhões de desempregados que não resolverão os problemas econômicos. Isso não é culpa da classe trabalhadora, é culpa do sistema. [aplausos] (5)

Essa fala foi então seguida por Michael Foot que imediatamente botou água fria na contribuição de Meacher, declarando que “Michael estava lidando com objetivos de longo prazo.” Em vez disso, ele levantou vagas políticas que poderiam permitir ao movimento trabalhista a ‘salvar nosso país’. Um tema constante dos líderes trabalhistas era que qualquer movimento em direção a idéias socialistas mais radicais iria naufragar com o movimento trabalhista e permitiria o retorno dos Conservadores ao poder. Na realidade, o oposto ocorreu. As políticas direitistas minaram o apoio ao trabalhismo. E ao mesmo tempo uma batalha feroz estava tendo lugar no chão da fábrica.

Grunwick’s

Uma das mais notáveis foi a épica batalha na Grunwick’s. Esta fábrica em Willesden, noroeste de Londres, processava camadas de filmes e empregava em sua maioria mulheres asiáticas. Os salários pagos eram um completo escândalo, com algumas trabalhadoras recebendo £28 (levando para casa £21) por 40 horas semanais. Em 23 de agosto de 1976, 200 trabalhadoras de processamento entraram em greve. A gerência recrutou fura-greves para substitui-las entre os jovens da área, um enorme charco de desespero e desemprego. As grevistas comentaram:

Esta gerência está mais próxima do século 18 do que do século 20. Eles tratam os trabalhadores como crianças, sem nenhum direito como seres humanos… Se você quiser ir ao banheiro você tem que levantar sua mão e esperar até o gerente dar permissão. Você se sente de volta à escola! Muitas das velhas mulheres asiáticas são reservadas ao fazer isso, então elas sofrem em silêncio. (6)

Gradualmente, conforme o conhecimento do caso das grevistas se espalhava, o movimento se mobilizou em defesa das trabalhadoras de Grunwick. Em novembro a greve atingiu um ponto dramático. Nós reportamos:

Em dois incidentes separados, a polícia prendeu nove piqueteiros fora da fábrica. Entre eles estavam dois grevistas, cinco membros do Partido Trabalhista de Brent East GMC, e o vereador Cyril Shore, presidente do partido de Brent East.(7)

Tal era o sentimento de solidariedade que o comitê executivo nacional do sindicato dos carteiros decidiu instruir todos os seus membros a não entregar o correio da Grunwick. Quão afastada estão tais ações da atual abordagem tímida dos líderes sindicais!

É verdade, a ação de solidariedade se tornou mais difícil pelo arsenal de leis anti sindicais que os Conservadores introduziram nos últimos 15 anos. Mas os sindicatos foram criados para quebrar tais leis. Apenas esta via, através da ação de solidariedade e luta, foi a garantia da vitória da greve. Tal foi o apelo magnético das mulheres asiáticas trabalhadoras de Grunwick’s que mesmo membros dos Parliamentary Labour Party foram para as linhas de piquetes. Shirley Williams, atualmente ocupando o banco dos Liberais Democratas na Casa dos Lordes, para seu perpétuo embaraço posterior, apareceu nas linhas de piquete com outros MPs trabalhistas de direita patrocinados pela APEX.

Grunwick’s foi importante porque indicou a mudança de abordagem da classe dominante desde as greves dos mineiros de 1972 e 1974. A polícia começou de modo quase militar a empregar suas forças contra os piquetes, que constava de todos os setores do movimento trabalhista, incluindo os mineiros. A polícia montada e anti-distúrbios foram usadas pela primeira vez e com um certo sucesso. Isso foi devido à incapacidade de todo o movimento sindical e trabalhista de se mobilizar nos piquetes de Grunwick.

Essa mudança de abordagem também se refletiu dentro do Partido Conservador e em particular em sua conferência de outubro de 1976. Todas as criaturas da ala direita vieram à tona para trabalhar. A conferência pleiteou cortes nos impostos pela redução dos ‘gastos governamentais’. Militant pontuou que

hospitais, escolas, asilos e assistência social irã ser privados de dinheiro. Mas gastos esbanjadores na defesa serão aumentados. (8)

Também foi pontuado que

um governo Thatcher pode ser mesmo pior que o odiado governo Heath que foi chutado em meio ao caos econômico da semana de três dias… Os conservadores querem que o estado interfira com os sindicatos – pondo na ilegalidade ‘piquetes moveis’’, quebrando a unidade dos closed shops [fábricas que têm exclusivamente operários sindicalizados] e impondo suas próprias regras nas eleições sindicais como condição de que os sindicatos sejam ‘certificados’ pelo governo, igual ao ‘registro’ sob o notório Ato de Relações Industriais. (9)

Militant delineou com antecedência exatamente o programa sob a qual Thatcher seria eleita em 1979 e explicou como ela e seu gabinete agiriam uma vez no poder.

Ao invés de enfrentar esta ameaça, a ala direita do trabalhismo teimosamente persistia em sua vingança contra a esquerda, particularmente contra o Militant, o que arriscava mais divisões. 1976 testemunhou um aumento da campanha com Sir Harold Wilson e James Callaghan na vanguarda. O fato de que um ex-primeiro ministro e seu substituto foram forçados a deixar de lado ‘assuntos de estado’ para atacar o Militant enfatizava nas mente da mídia o ‘perigo’ que se aproximava.

Andy Bevan

A campanha chegou ao auge em outubro de 1976 em torno da conferência Trabalhista e suas conseqüências. A confirmação de Andy Bevan, um bem conhecido apoiador do Militant, à Secretaria de Juventude do Partido, foi um dos catalisadores desta campanha. Ele foi eleito, na contagem de pontos de Ron Hayward, Secretário Geral Trabalhista, num encontro onde os procedimentos usados foram escrupulosamente democráticos. O Daily Express guinchou: “Apenas cinco homens mantêm o Partido Trabalhista sob sua batuta… o dossiê do Express dos desconhecidos por trás do desafio vermelho a Jim.”(10) Os cinco eram Nick Bradley, Peter Taaffe, Ted Grant, Roger Silverman e Andy Bevan. Esta campanha não se restringiu à imprensa marrom. The Times publicou três extensos artigos e um editorial no começo de dezembro insinuando alertar o movimento sobre o ‘perigo’ do Militant, que foi ‘desmascarado’ pelo The Times, como querendo ‘criar um grupo de MPs’! (11)

Uma carta ao The Times do humorista falecido Peter Cook, foi um pequeno antídoto ao veneno da imprensa contra o Militant. Ele escreveu: “Estou chocado em saber que por uma estratégia esperta de trabalho duro dentro das leis, ‘extremistas’ são capazes de ter alguma influência no Partido Trabalhista. É contra a nossa natureza recompensar a indústria e o entusiasmo. Sir Harold, como sempre, está certo. Deixe-nos mudar as leis imediatamente.” (12)

Uma indicação de como a simples questão de Andy Bevan se tornou a pedra de toque para a direita foi a declaração de Callaghan na corrida para a conferência partidária. Sob a manchete de primeira página ‘Ultimato ao vermelho Andy’, o Daily Express reportou que Callaghan estava pronto a vetar um plano de financiamento estatal dos partidos se a indicação de Andy Bevan seguisse adiante. Balançando esta cenoura financeira a liderança esperava fazer conferência rejeitar esta indicação. Mas falhou em seus objetivos. (13)

Na reunião do NEC antes da conferência o presidente do partido Bryan Stanley reportou a recomendação do sub-comitê de Organização de que Andy Bevan fosse indicado. Tony Benn pontuou depois: “Nem um simples membro do NEC questionou a recomendação… e ela foi aceita sem votação.”

Numa sessão privada na conferência uma tentativa foi feita por dirigentes da ala direita de cancelar esta decisão. Mas depois de uma entrevista com o secretário geral Ron Hayward, que falava em nome do NEC, eles foram derrotados.

Sentindo que o Militant representava algo mais sério e durável do que a figura pintada pelos tablóides, jornais de ‘qualidade’ do capitalismo, como The Observer, começaram a examinar o que o Militant realmente representava. Um jornalista do Observer, Michael Davie, foi à sede do Militant em Hackney para entrevistar-me. Pela primeira vez um espaço foi dado para a explicação das idéias do Militant:

“Nenhum país constitui um estado operário democrático genuíno,” disse o sr. Taaffe. Ele falou sobre o ‘monstruoso aparato policial’ na Rússia, e das ditaduras da China e Cuba. Porque não aconteceria a mesma coisa aqui, se alguém tomar o poder estatal? “Porque a Grã-Bretanha tem uma longa tradição democrática, e não há nenhuma possibilidade de uma sociedade socialista ser feita aqui sem a classe trabalhadora, e a classe média ser convencida da necessidade de mudança.” Eu deixei o sr. Taaffe pensando que o Militant e Andy Bevan, no meio deles havia uma Transport House sobre um barril. (14)

Mas na conferência partidária regional de Yorkshire, também em dezembro, tanto Wilson como Callaghan culparam pela crescente divisão do partido os ‘infiltrados internos’. Militant pontuou que: “James Callaghan considera (o Militant) igual ao ‘fascismo’”. (15)

A direita estava atacando não apenas os chamados ‘infiltrados’ mas “o sentimento de mudança dentro dos partidos locais que exigiam uma ruptura com as políticas que reduziam as condições de vida da classe trabalhadora.” O MP da ala direita Frank Tomney, face à deserção de seu partido, enviou uma carta ao The Times na qual ele atacava Ron Hayward, secretário geral do partido, por não tomar nenhuma ação contra os ‘extremistas’. Ele exigia uma reintrodução de uma lista de organizações banidas. Os Labour Party Young Socialists foram escolhidos para o ataque. Mas o Militant pontuou:

Em outro lugar no movimento trabalhista é possível para a minoria ter direito de produzir documentos separados, para a conferência, contra a maioria? Este é um procedimento introduzido pelos marxistas que formam a ala jovem do partido.(16)

Este assalto combinado da imprensa capitalista, liderada pelo The Times, e a ala direita do Parliamentary Labour Party foi ainda mais atiçada pela indicação de Andy Bevan como Secretário da Juventude do Trabalhismo. A direita espumava pela boca com a idéia de que um marxista pudesse ser eleito democraticamente para tal posição.

Após a conferência, a direita organizada em agentes partidários e em seu sindicato, o National Union of Labour Organisers (NULO), se recusou a trabalhar com Bevan. Eles estavam associados pela maioria da National Organisation of Labour Students. Mas a Reunião Geral Anual do Grupo Tribune de MPs, reunida na Câmara dos Comuns em 29 de novembro, votou o apoio à Andy Bevan.

Callaghan, em um movimento sem precedentes, enviou uma carta ao Comitê Executivo Nacional exigindo o cancelamento da indicação de Andy Bevan, já feita, como Secretário Nacional da Juventude. Mas tal era o apoio tanto nas fileiras partidárias como no NEC que Andy foi confirmado em sua posição. Ao longo do tempo, a oposição dos organizadores e agentes trabalhistas evaporou. Isso não impediu uma campanha de perseguição constante aos LPYS ou a Andy Bevan. Procedimentos antidemocráticos foram empregados também na ala estudantil no movimento. Mas um efeito benéfico do ataque ao Militant e a Andy Bevan foi o re-exame das idéias marxistas no movimento trabalhista. Tony Benn foi um dos que no The Guardian (13 de dezembro) defenderam a presença do marxismo no movimento trabalhista.

Nosso balanço de 1976

1976 foi um ano tumultuoso, com a expansão do Militant para um jornal de 12 páginas, a indicação de Andy Bevan como Secretário Nacional da Juventude e a recusa às tentativas de caça às bruxas contra o Militant, por parte da cúpula do partido trabalhista. Mais importante, os apoiadores organizados do Militant chegaram à mil em maio de 1976. Isso certamente foi visto pela liderança e apoiadores do Militant como um marco em seu desenvolvimento. Contudo, os apoiadores do Militant não tinham a ilusão de que a caça-às-bruxas seria facilmente derrotada. Benn completou sua defesa de Andy Bevan dizendo

Em minha opinião, Andy Bevan tem muito a oferecer ao partido na Secretária Nacional da Juventude, na hora em que precisamos trazer jovens para o nosso lado. As falas de Andy Bevan sobre o socialismo também, para mim, têm encontrado uma resposta entre os velhos membros do partido, que reconhecem no que ele diz uma voz autêntica de confiança política que eles não ouvem advogar com tal força moral desde sua própria juventude, muitos anos atrás, nas Escolas de Domingo Socialista, em reuniões nas esquinas das ruas. (17)

Apesar desta defesa, a classe dominante não parou. Através do The Times, mais esforços foram feitos para pressionar o Trabalhismo tomar ações contra os ‘marxistas/trotsquistas’. Mas sob o nariz da oposição da direita e também de alguns ‘esquerdistas’, o comitê executivo nacional do partido decidiu em 19 de janeiro de 1977 a finalmente apontar Andy Bevan como Secretário Nacional da Juventude, o que eles declararam como ‘irrevogável’. Mas como Militant reportou:

Depois de uma das mais longas discussões já feitas no comitê executivo nacional do partido, uma moção movida por Michael Foot, foi aprovada, a fim de criar um sub-comitê para investigar alegações sobre a ‘infiltração trotsquista’ no Partido Trabalhista. (18)

A moção de Foot substituiu uma anterior de Tom Bradley e John Cartwright, MPs, que posteriormente desertaram do Trabalhismo para os Social Democratas. Em base a esta resolução, a relatório de investigação de Underhill foi publicado. No NEC, Nick Bradley, o representante do LPYS, respondeu à Michael Foot que o mesmo tipo de ataques agora sendo feitos ao Militant foi feito “contra Bevan nos anos cinqüenta, como indicado na própria biografia de Foot sobre Bevan. Jim Callaghan então apoiou a expulsão de Bevan.”

O que era ainda mais escandaloso para a esquerda era que Prentice, que advogava um novo partido e uma coalizão com os Conservadores, não estava sendo investigado pelo NEC. Callaghan em certo estágio na reunião do NEC exclamou que havia provas de uma conspiração para destruir o Partido Trabalhista e, apontando para Nick Bradley, disse que os apoiadores do Militant eram pessoalmente rudes e ofensivos, e agiam assim para com mulheres membros em seu próprio distrito eleitoral.

Tony Benn o refutou dizendo: “Sua experiência com os apoiadores do Militant era totalmente diferente da de Callaghan. Ele foi criticado politicamente pelo Militant, mas ele não se opôs ao debate”. Mas isso não parou a campanha. Shirley Williams disse em uma intervenção em Derbyshire que “não havia lugar para trotsquistas no Partido Trabalhista.” (19) Mas o enfoque de Williams pelo menos tentava ser político. Militant devotou uma série de artigos sobre a questão do ‘Marxismo e a democracia’, que refutava qualquer tentativa de colocar o Militant trotsquista em algum tipo de campo autoritário ao lado do stalinismo e do fascismo.

Saindo para a ofensiva, Militant declarou que: “As credenciais democráticas da direita são suspeitas.” Um artigo em fevereiro se referia à “direita fundada pela CIA”. De fato, Denis Healey colaborou em organizações que foram apoiadas pela CIA. (20)

Essa acusação, que nós repetimos de novo quando os cinco membros do corpo editorial do Militant foram expulsos antes do NEC em 1983, na presença de Healey, nunca foi respondida efetivamente por ele. E apesar do clamor por uma tomada de ação contra o Militant, uma vez que Underhill completou seu relatório, o Comitê Executivo Nacional decidiu não tomar nenhuma ação. Ao contrário, ele decidiu em junho “circular entre os distritos do Partido Trabalhista o conteúdo do relatório do comitê especial que examinou o documento Entrismo.”

O Militant em ação

Enquanto isso, o crescimento do apoio ao Militant se refletiu de vários modos. Em fevereiro, o primeiro programa de televisão significativo lidou com o Militant, o ITV’s World in Action, com uma audiência estimada em 15 milhões de pessoas. Apesar das distorções óbvias, que se tornaram uma marca da cobertura da mídia, Militant convidou as câmeras para uma reunião editorial e fazer entrevistas comigo, o editor político, Ted Grant, e o apoiador dirigente Pat Wall. Uma ridícula tentativa de distorcer e desacreditar o Militant foi feita por um professor universitário, Gavin Kennedy – um líder do Partido Nacional Escocês (SNP)! Como candidato parlamentar SNP e renegado do trabalhismo, Kennedy recorreu a táticas do McCarthismo. O programa também mostrou delegados sindicais vendendo 100 cópias do Militant para trabalhadores da fábrica de carros de Rover Solihull em Birmingham.

Combatendo o desemprego

Nesta época, os Labour Party Young Socialists se destacaram organizando uma vitoriosa assembléia nacional contra o desemprego em Londres em fevereiro. 1.450 delegados de sindicatos, comitês de delegados sindicais, distritos do Partido Trabalhista e dos Young Socialist, assim como trabalhadores desempregados, compareceram ao Seymour Hall em Londres. Esta foi seguida por outra conferência anual vitoriosa dos Labour Party Young Socialists em Blackpool no feriado da páscoa. O marco desta 16ª conferência foi o caráter democrático nos procedimentos que não estavam presentes em nenhuma outra parte do movimento trabalhista. Os marxistas eram claramente a maioria e submeteram seus próprios documentos e resoluções [para a discussão].

Mas havia também um ‘documento da minoria’, representando a visão da ‘Cláusula Quatro”. Tempo igual foi dado a seu representante, John Mordecai, para defender a Cláusula Quatro. Reconhecendo o caráter the radical dos delegados ele declarou: “O movimento trabalhista tem partido para um estéril compromisso social democrata com o capitalismo”, mas então ele partiu para um ataque às idéias do Militant (22). De modo Significativo Arthur Scargill também endereçou um na reunião paralela organizada pelo jornal dos LPYS, Left. Ele declarou: “A pessoa que não concorda com a cláusula quatro do estatuto do Partido Trabalhista não deve pertencer ao Partido Trabalhista.” Se opondo às insinuações de compromisso com os partidos capitalistas, ele também declarou: “Um governo trabalhista não deve considerar de forma alguma uma aliança com o ‘tradicional inimigo de classe’.” Arthur Scargill estava se referindo ao acordo, o chamado ‘Lib-Lab Pact’, que o gabinete trabalhista fez com o Partido Liberal Party em março. Essa declaração recebeu aplausos de louvor de toda a reunião. (23)

O infame pacto era, de fato, uma coalizão disfarçada com o partido Junior dos grandes negócios. Steel, o líder Liberal, disse a seus apoiadores que pela experimentação com ‘políticas de coalizão’ os Liberais poderiam colocar eles mesmos em uma posição para ganhar mais assentos na eleição geral e então eles “estariam em uma posição de conversar sobre uma coalizão com qualquer partido maior.” Esta perspectiva para os Liberais não estava confirmada inteiramente. Contudo, os Liberais estavam aptos para agir como um freio contra o rumo à esquerda do governo trabalhista sob a pressão das fileiras dos sindicatos e do trabalhismo.

A burguesia estava satisfeita com estes arranjos porque uma coalizão completa estenderia o perigo da ‘oscilação à esquerda dentro do Partido Trabalhista. A diferença entre a situação que levou ao ‘Governo Nacional’ de MacDonald em 1931 e os anos 70 era a existência de uma esquerda marxista consciente, na forma do Militant, dentro do Partido Trabalhista. Na eventualidade de uma divisão do partido – inevitável se uma coalizão se formasse – a esquerda como um todo ganharia e dentro dela a força do Militant aumentaria enormemente.

Mesmo naquele estágio, o Militant não tinha mais do que 1.200 apoiadores organizados, e já era um fator nos cálculos da classe dominante. Essa é uma das razões que ela perseguiu por mais de uma década ou mais, uma campanha implacável para expulsar os marxistas e a esquerda em geral do partido.

1 Militant 294 5.3.76 2 Militant 325 8.10.76
3 The Guardian 1.10.76
4 Militant 325 8.10.76
5 Militant 327 22.10.76
6 Militant 324 1.10.76
7 Militant 329 5.11.76
8 Militant 325 8.10.76
9 ibid
10 Daily Express 10.12.76
11 The Times publicaram três “Artigos Especiais”: nos dias 1, 3 e 4 de dezembro 1976. Um editorial seguiu no dia 8 de dezembro
12 The Times 8.12.76 13 Daily Express 27.11.76
14 The Observer, 19.12.76
15 Militant 335 10.12.76
16 ibid
17 ibid
18 Militant 340 28.1.77
19 The Guardian 22.1.77
20 Militant 342 11.2.77
21 Militant 358 3.6.77
22 Militant 351 15.4.77