A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Militant entra em cena à esquerda
Originalmente considerado como alguém que pudesse enfrentar a classe trabalhadora, Heath foi sendo batido por eles pela feroz resistência à suas políticas entre 1970 e 1974. A batalha da UCS, a greve dos mineiros em 1972 e 1974, a derrota dos Conservadores na eleição geral de 1974, tudo significava o colossal poder em potencial da classe organizada e do movimento trabalhista. A ascensão de Thatcher à liderança do Partido Conservador, apoiado por seu zeloso ‘guru’, Sir Keith Joseph, significou a substituição das luvas de veludo pelos capitalistas do Partido Conservador.
Mas em 1975 o movimento trabalhista era obrigado a prestar mais atenção à seus ‘infiltrados’ conservadores. O deputado trabalhista de extrema-direita Reg Prentice em março criticou os sindicatos por ‘esquivarem-se’ do ‘contrato social’. Não era a primeira vez, como vimos, que Prentice ficava ao lado dos inimigos do movimento trabalhista. No auge com os confrontos com os Conservadores em 1972 Prentice falou contra os cinco de Pentonville. Ele também se recusou a encontrar a delegação do conselho sindical de West Ham, na sua área local, que fazia campanha pela libertação do piqueteiros de Shrewsbury.
Prentice não era o único. Roy Jenkins e Shirley Williams eram da ala direita dentro do Gabinete contra qualquer tentativa de ceder à pressão da classe trabalhadora. Eles estavam totalmente acertados na defesa do Mercado Comum, que os alienou dos trabalhadores que se moviam para a esquerda no movimento trabalhista.
Os contínuos ataques de Prentice aos sindicatos o levou cada vez mais a um conflito com seu Distrito partidário em Newham North East, que levou à pressão por sua substituição como deputado, que era teoricamente possivel sob as regras do partido e no qual jogamos um enorme papel. A mera insinuação de oposição à Prentice, contudo, incitou 81 MPs, incluído 13 ministros de gabinete, ‘a apoiar Prentice’. Recentemente, Prentice desertou para os Conservadores e se tornou um ministro deles. Uma recém-formada ‘Aliança Social Democrata’ apareceu, alegadamente para combater a ‘violência da esquerda’. Ao mesmo tempo, cada delegado da ala esquerda para o Distrito Trabalhista de Newham North-East foi fustigado pela imprensa.
Militant declarou: “Se o Partido Trabalhista de Newham North-East apontar suas armas terá a esmagadora maioria das fileiras do partido. Marcará um grande passo adiante na luta para fazer dos MPs trabalhistas responsáveis perante as organizações do movimento trabalhista.” (1)
Beloff ataca o Militant
As mesmas vozes que defenderam Prentice foram ouvidas contra o Militant e outros da esquerda, exigindo nossas expulsão do Partido Trabalhista. Essa campanha começou com um grande artigo salpicado pela primeira página do Observer em 31 de agosto, o primeiro de muitos ataques da imprensa ao Militant.O autor do artigo era Nora Beloff. No alto da manchete de Beloff podíamos ler: “Troscos conspiradores dentro do Partido Trabalhista.” Essa análise ‘profunda’ tinha lacunas enigmáticas: Militant era citado como ‘quinzenal’ quando era de fato semanal. Ted Grant, que foi citado por Beloff como “líder espiritual”, Nick Bradley, representante dos LPYS no Comitê Executivo Nacional, e eu mesmo tivemos menções especiais. Estava claro que a ‘bomba’ de Beloff foi preparada em conluio com a direita trabalhista. Uma indicação disso foi que Beloff retrata uma alegada ameaçada a James Callaghan em seu distrito partidário de Cardiff South-East. Isso foi suposto como orquestrado pelo apoiador do Militant Andrew Price, “leitor na Rumney Technical College, que é o principal adversário contra o Sr. Callaghan.” Beloff acusou o Militant de ser um “partido dentro do partido”, de ter fundos secretos de recursos, de propor todo o tipo de políticas ‘extremistas’ e de ter dúbias e sinistras conexões. Replicamos no Militant:
É significativo que todos estes ataques, em especial o do Observer, não lidam com as idéias do Militant, expressas abertamente, que têm uma grande tradição no movimento trabalhista e são a continuação das idéias dos pioneiros do movimento trabalhista e de Marx, Engels, Lenin e Trotsky. (2)
O ataque de Beloff não era apenas um assalto ao Militant mas também estava calculado para criar uma atmosfera de histeria que poderia lançar as bases para um ataque ao partido como um todo. Também havia a expectativa de possíveis medidas a serem tomadas na próxima conferência do Partido, um mês depois destes ataques. Mas enquanto procurava reunir a esquerda contra os ataques da direita, Militant nunca de algum modo escondeu suas diferenças políticas com outros.
Debate com o Tribune
O maior grupo da esquerda dentro do movimento na época se reunia em torno do jornal Tribune. Muitos artigos no Militant foram devotados a argumentar contra as deficiências no programa do Tribune de um modo amigável. Em maio publicamos um artigo, ‘Tribune e a luta pelo socialismo’. Pontuamos que as recentes eleições, vividas com o mais radical programa desde 1945, foi largamente inspirado pela esquerda tribunista. Esta também cresceu substancialmente dentro da ala parlamentar (Parliamentary Labour Party). Um quarto dos PLP, 83, se reivindicavam como parte do grupo Tribune. Além disso, líderes sindicais de esquerda como Lawrence Daly do sindicato dos mineiros, Hugh Scanlon, do sindicato dos engenheiros, Jack Jones do TGWU e outros, aderiram às idéias do Tribune. Apenas os PLP fizeram com que a direita atualmente tivesse a maioria.
É claro que os marxistas, ao lado de outros na esquerda, devem lutar por cada melhora nas condições dos trabalhadores, procuram defender e ascender as condições de vida. Mas também têm o dever de pontuar o estado real dos serviços na Grã-Bretanha, explicar que todas estas reformas são temporárias enquanto o capitalismo existir. Mesmo o The Times publicou artigos em 1975 pontuando que a “era do pleno emprego terminou”.
Na verdade, comentaristas capitalistas sérios são mais precisos em diagnosticar a situação do que alguns líderes da esquerda reformista. Tony Benn representava a ala mais a esquerda do que era um grupo muito amplo do Tribune. A edição do Tribune após a eleição vitoriosa de outubro de 1974, a declaração de Tony Benn foi aprovadoramente citado: “Dissemos em nossa última conferência que a crise que poderíamos herdar deveria ser a ocasião para fazer mudanças, não a desculpa para adiamentos.” (3)
E Jack Jones no mesmo número do Tribune argumentou por ‘paciência’. O Trabalhismo não poderia proceder rapidamente para resolver todos os problemas, ele disse. A crítica do Tribune à direita equivalia à acusação de falta de ‘coragem’ ou ‘intelecto’. Militant, ao contrário, pontuou que
logo que Denis Healey e o gabinete trabalhista como um todo optem por trabalhar dentro da estrutura do capitalismo, então eles irão se curvar às demandas implacáveis do sistema. Os lucros virão do trabalho não pago da classe operária. Numa análise final, há apenas um único meio de aumentar os lucros dos capitalistas pela redução da parte da riqueza criada pelo trabalho e que vai para a classe trabalhadora. (4)
Foi pontuado que
apoiamos todos os passos rumo à esquerda dentro do movimento trabalhista. Mas também criticamos a frouxidão da tendência Tribune, a inconsistência de seu programa, a falta de qualquer perspectiva clara para os desdobramentos futuros e sua reação empírica aos eventos. Não está excluído, e portanto é provável, que o Tribune ou uma sessão dele, sob os golpes de martelo dos eventos, possa abraçar algumas das idéias atualmente advogadas pelo Militant. Mas a experiência da ‘esquerda’ pré-guerra, John Strachey ou o ILP [Independent Labour Party], muito mais à esquerda que a atual tendência Tribune, demonstra que o mero radicalismo verbal não é suficiente. (5)
Por volta de 1975, um começo teve lugar entre os representantes do Militant e uma delegação do Grupo Tribune dos Parlamentares Trabalhistas MPs. Ficou claro que enquanto os últimos se preocupavam com a força da direita no governo trabalhista, sua oposição não ia além de meras posturas verbais. Foi por isso que um convite MPs do Tribune aos distritos do Partido Trabalhista, sindicatos, cooperativas e indivíduos para discutir uma declaração especial para organizar uma campanha [contra a direita] nunca saiu realmente do papel.
Referendo do Mercado Comum
A feroz campanha em torno do referendo do Mercado Comum ampliou e aprofundou as divisões em todos os níveis do movimento trabalhista. Através da iniciativa dos Labour Party Young Socialists, junto com outros socialistas independentes, uma campanha classista e internacionalista foi conduzida pelos marxistas durante a campanha de1975.
Isso culminou em 31 de maio, como o Militant reportou, com “2 mil trabalhadores internacionalistas que marcharam através do centro de Londres no último sábado, chamando por uma campanha para construir uma Europa socialista.” (6) Os Young Socialists e muitos distritos do Partido Trabalhista foram representados. Falando no comício da Trafalgar Square que se seguiu à demonstração estavam Nick Bradley, o representante na Executiva Nacional dos LPYS, Eddie Loyden, MP trabalhista por Garston, e eu mesmo.
O ‘Não’ foi rudemente derrotado por dois a um no referendo. Aqueles que apoiavam e escoravam o capitalismo ficaram extasiados. O resultado foi recebido pela imprensa capitalista como um “novo Dia D” e uma previsível”derrota para a esquerda”. A ala direita em colaboração com a maioria dos partidos conservador e Liberal ganhou em base a uma campanha de medo, de que a Grã-Bretanha enfrentaria uma “catástrofe econômica” se fosse deixada fora do Mercado Comum. Do outro lado, o campo antimercado, particularmente a esquerda trabalhista, não fez nem mesmo uma fraca insinuação de uma abordagem classista ou socialista em oposição ao Mercado Comum. Pior ainda, alguns da esquerda se vincularam à direita nacionalista em oposição à ‘Europa Unida’. Os maiores apologistas desta aliança entre trabalhistas antimercado, conservadores dissidentes, liberais e nacionalistas foi o ‘Partido Comunista’ britânico.
A crítica do Militant, ao programa da esquerda foi inteiramente confirmado. Acima de tudo, o resultado do referendo encorajou os capitalistas a exercer maior pressão sobre o governo trabalhista para cortes selvagens nas condições de vida. Uma campanha aberta foi lançada para a criação de um ‘governo nacional’, se os líderes trabalhistas se provassem indispostos ou incapazes de satisfazer as demandas dos patrões. Jo Grimond, um MP líder do Partido Liberal, fez um venenoso ataque aos sindicatos:
Um perigo não necessita de introdução. Ele reside com os chefes de alguns sindicatos. É claro que eles podem ser vistos como não fazendo mais do que seu trabalho. Não duvido de que os barões medievais fariam a mesma exigência. (7)
Ele denunciou esse ‘barbarismo’ e pressionou por “uma coalizão… se formar em torno de um determinado grupo de homens e mulheres que usarão os recurso que o governo ainda tem em mãos.”(8) Wilson, cedendo à pressão dos grandes negócios, removeu Tony Benn do Ministério da Indústria, e o mandou para o equivalente a uma ‘estação de energia siberiana’, o Departamento de Energia. Militant lançou uma contra-campanha, resumida na manchete de primeira página: “Nenhuma retirada – parar a conspiração da coalizão.” (9)
Outro Ramsay Macdonald?
Ao mesmo tempo o MP do Tribune Stan Thorne revelou que parlamentares da ala direita trabalhista estavam envolvidos em conversas secretas com Conservadores e Liberais na questão de dividir o trabalhismo e formar um novo governo de coalizão, como fez MacDonald em 1931. Sob pressão, Tribune declarou que eles eram contra a adoção de políticas ‘coalicionistas’ pelo governo trabalhista. Declararam que eles iriam fazer campanha, “dentro e fora” do parlamento, contra qualquer retirada do governo de seus compromissos do manifesto.
Contudo, os estrategistas do capital não estavam preparados para sancionar um governo de coalizão neste estágio. De um lado, eles temiam puxar o movimento trabalhista mais à esquerda, um processo que inevitavelmente levaria ao crescimento do marxismo. De outro lado, porque ir até uma coalizão aberta quando a ala direita que dominava o governo trabalhista estava cumprindo as políticas de coalizão, o programa dos próprios capitalistas? Isso é o que o ‘contrato social’ representava. Militant pontuou que contra pano de fundo da crescente inflação – algumas reportagens disseram que os preços poderiam aumentar 53 pence o pound pelos fins de 1975:
[a proposta do TUC por um] ‘aumento’ de 10% é um corte! Mesmo 10% extensível a todos, ou aumentos da taxa fixa (sobre £6). As propostas do governo e do TUC significam um selvagem corte nas condições de vida dos trabalhadores. (10)
Contudo, o contrato social foi selado pela liderança dos sindicatos para conjurar o espectro de um retorno de um implacável conservadorismo ao poder. O contrato social foi mantido por um período de anos, mas foi quebrado sob as mais dramáticas circunstâncias, com os marxistas jogando um papel decisivo.
1 Militant 264 25.7.75
2 Militant 269 5.9.75
3 Tribune 18.10.74
4 Militant 255 9.5.75
5 ibid
6 Militant 257 6.6.75
7 ‘The Director’ June 1975
8 ibid
9 Militant 259 20.6.75
10 Militant 262 11.7.75