A disputa do Irã com o Ocidente sobre o programa nuclear levanta temores internacionais
A crise mostra a hipocrisia das potências
Os protestos dos governos ocidentais com a decisão do Irã de reiniciar as pesquisas nucleares têm produzido respostas diferentes ao redor do mundo. Entre os milhões de pessoas que realizam campanhas contra as armas nucleares, cresce o temor de que a corrida armamentista esteja se acelerando. Em anos recentes, Índia e Paquistão se incorporaram à lista de países que admitem ter armas nucleares. Em outros países, como o Japão, há discussões em alguns círculos políticos para determinar se eles também deveriam adquirir um arsenal nuclear já que seus vizinhos as possuem. Mas a oposição dos governos ocidentais é completamente hipócrita. Não se provou que o Irã tenha desrespeitado o Tratado de Não Proliferação Nuclear (NPT, em inglês); que firmou no ano de 1968.
Mas uma coisa está clara; nenhuma das ‘velhas’ potências atômicas como a China, França, Grã-Bretanha, Rússia e Estados Unidos têm a intenção de por em prática o desarmamento nuclear, que foi o objetivo que declararam quando foi firmado este tratado.
Mas, pelo menos, ele não tem seguido o exemplo de Bush e Blair de invadir e arruinar o desenvolvimento de outros países com base nas “grandes mentiras” de Bush e Blair de supostas armas de destruição em massa mantidas pelo regime de Saddam.
No que respeita ao governo dos Estados Unidos, não se faz nenhum comentário no que se refere ao arsenal nuclear de Israel. A administração Bush acordou, no ano passado, uma cooperação nas investigações que se realizam na Índia, ainda que esta nunca tenha firmado o NPT e em meados de 1998 realizou uma série de provas com armas nucleares. Mas a diferença de atitude com a Índia e Irã é que Bush considera a Índia como um possível aliado chave que exerce pressão contra a China na região.
O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad tem utilizado declarações de política exterior como uma maneira de distrair a atenção do fracasso de sua administração, até o momento, em melhorar as condições de vida. Parece haver poucas dúvidas de que a maioria dos iranianos apóia a pesquisa de armas nucleares. Eles se sentem ameaçados pelos Estados Unidos, com suas centenas de milhares de militares na região, e de aliados dos EUA, com armas nucleares em suas fronteiras, como é o caso do Paquistão, ou nas proximidades, como é o caso de Israel.
As potências ocidentais têm usado declarações de Mahmoud Ahmadinejad, especialmente sua negação do Holocausto e as ameaças à existência de Israel, para ocultar os motivos reais de seus recentes ataques ao Irã. O fracasso completo dos planos de Bush e Blair para o Iraque possibilita que os aliados do Irã ganhem o controle efetivo sobre o sul do Iraque e seus grandes campos petroleiros, junto com uma voz decisiva sobre o futuro do Iraque.
Este não é o objetivo pelo qual Bush e Blair invadiram o Iraque e esta situação ameaça grande parte dos regimes do Oriente Médio. É por isso que eles querem ao menos tratar de exercer algum tipo de pressão sobre o Irã. Mas existem limites para o que o Ocidente pode fazer. Qualquer ação traz o risco de provocar levantes em todo o Oriente Médio e, dado que o Irã é o quarto país com as maiores exportações mundiais de petróleo, desestabilizaria o mercado internacional.
Ainda que uma invasão total esteja descartada, a repetição de um ataque semelhante ao de Israel em meados de 1981 contra o centro de investigação nuclear iraquiano de Osirak é uma possibilidade. Nesta época Margaret Thatcher e o presidente dos EUA Ronald Reagan criticaram Israel, mas então eles estavam apoiando a guerra de Saddam contra o Irã e agora as coisas são diferentes.
Ainda que se opondo às armas nucleares, os socialistas não dão nenhuma confiança a nenhum líder imperialista ou a qualquer ação que proponham. Não pode haver nenhum apoio a todas as mentiras hipócritas de Bush e Blair. É pouco provável que Blair corra o risco e faça outra brutal advertência de “45 minutos”, mas não se pode descartar outros truques propagandísticos.
Os socialistas explicarão a verdade da situação e defenderão uma alternativa socialista. Nós chamamos uma alternativa baseada nos movimentos dos trabalhadores avançados que rompem com o imperialismo e capitalismo, defendem o direito à autodeterminação das nações, e por uma sociedade socialista, onde a ciência e a tecnologia sejam desenvolvidas para melhorar a vida em lugar de destruí-la.