Alternativa socialista cresce nos EUA

     “Um terremoto político”, tem sido o comentário usado para descrever os resultados eleitorais espetaculares da Kshama Sawant, professora de uma universidade pública em Seattle (estado de Washington) e militante do Socialist Alternative (CIT nos EUA).

       Pela segunda vez ela está desafiando os principais líderes locais do partido Democrata, que dominam totalmente a cena política regional, com uma alternativa socialista. No dia 06 de agosto ela conseguiu 35% (44 mil votos) dos votos nas prévias da eleição a vereador, chegando em segundo lugar e agora vai concorrer com o representante democrata Richard Conlin em novembro.

       Entrevistamos Ty Moore, que também será candidato pelo Socialist Alternative em Minneapolis sobre esses fatos.

O que está por trás do sucesso da campanha eleitoral da Kshama Sawant?

– A maioria da esquerda socialista nos EUA ainda está muito pra baixo após duas décadas em que houve um retrocesso das ideias socialistas, com a queda do stalinismo e a grande campanha ideológica da classe dominante declarando que o “socialismo morreu”. Mas o movimento “Ocupe” mostrou como existe uma grande ira contra o capitalismo e seus dois partidos. Sentimos que havia uma nova abertura para ideias socialistas. Nós intervimos no movimento colocando que “o Wall Street (a bolsa de valores) tem dois partidos – nós precisamos de um nosso!”.

– Nós vimos a chance de popularizar as ideias do socialismo na campanha eleitoral, lançando uma candidatura que se identificava com os protestos. Lançamos a Kshama Sawant como candidata a deputada estadual no estado de Washington para as eleições em novembro 2012, onde temos um trabalho forte na cidade de Seattle. Já o fato dela chegar a segundo lugar nas prévias e ir para o segundo turno foi uma vitória. Mas o resultado no segundo turno foi espetacular. Ela conseguiu 21 mil votos, 29%, contra o líder dos Democratas, Frank Chopp, que dominam completamente o cenário político no estado e na cidade. Foi o melhor resultado para um candidato socialista em décadas.

– Mostramos que era possível fazer uma campanha sem apoio de empresas e com perfil socialista. Fizemos uma campanha militante, com apoio de jovens, trabalhadores e mesmo parte da classe média que está revoltada com os cortes.

– Frank Chopp foi forçado a debater conosco e tentar explicar por que eles reduzem os impostos para as grandes empresas e cortam no setor público.

Como vai ser a campanha eleitoral agora nas eleições municipais?

– Nós lançamos três candidatos agora: Kshama Sawant em Seattle, eu em Minneapolis e Seamus Whelan em Boston.

– A campanha da Kshama Sawant está muito forte. Nas prévias ela conseguiu 35% dos votos contra o 48% do candidato dos Democratas, isso com um orçamento muito menor que o dele. Kshama tem apoio do sindicato dos professores universitários, do sindicato dos trabalhadores de comunicação, os eletricistas e um importante sindicato dos funcionários municipais AFSCME, entre outros.

– Nossa campanha não aceita doações de empresários. Mesmo assim, já conseguimos arrecadar 30 mil dólares (72 mil reais), a maioria são doações de até 25 dólares. Já temos 125 voluntários trabalhando para a campanha, com a meta de chegar a 300.

– Uma bandeira importante na nossa campanha é a favor de um salário mínimo de 15 dólares por hora. Está acontecendo uma campanha importante pela mesma demanda com greves em diferentes regiões dos trabalhadores de “fast food”, que são muito explorados.

– Em Minneapolis temos uma participação importante na luta contra os despejos de famílias que não conseguem pagar suas dívidas, no “Occupy Homes” (ocupar as casas). Conseguimos barras vários despejos, construindo uma rede de pessoas preparadas a barrar fisicamente tentativas de despejos.

– Todos nossos candidatos prometem de só receber um salário de trabalhador e não o salário altíssimo dos políticos. E resto do salário vai ser doado para as lutas sociais.

– Nossa campanha levanta a necessidade de estatizar as grandes empresas e bancos que dominam os EUA. Só assim podemos começar a lidar com os problemas sociais, desemprego, defender o meio ambiente, etc. Levantamos também a necessidade de construir um partido para os “99%”, para os milhões, não para os milionários.

Qual foi o impacto das revelações do Snowden sobre a espionagem do serviço de inteligência dos EUA contra milhões de cidadãos comuns?

– O impacto foi massivo. O governo de Obama vem rompendo uma série de promessas, entre elas de ser um governo mais transparente. Para muitos foi a gota d’água. Uma maioria agora acha que Obama é “desonesto” e ele perdeu apoio especialmente entre os jovens.

– Snowden cometeu um ato heroico. Ele agiu sem interesse próprio e vai viver o resto da vida em fuga ou na prisão.

– Espionagem de e-mails, sms e chamadas telefônicas são uma completa invasão na vida das pessoas. Nós defendemos que os serviços de inteligência como a NSA e CIA devem ser desmantelados. Mas o caso também mostra o risco inerente no fato de que são empresas privadas que controlam a comunicação, mesmo na internet.

Se fala muito da “recuperação” econômica dos EUA. Isso está acontecendo? Qual é o impacto?

– Depende sobre quem você está falando. As bolsas de valores estão batendo novos recordes. Os seis maiores bancos anunciaram recentemente seus maiores lucros desde 2007, antes da crise financeira. Tudo isso graças às enormes injeções de dinheiro feitas pelo banco central. Esse dinheiro não vai para criar empregos. É uma fonte de grana barata usada para especular e engordar os bancos. O desemprego ainda é muito alto. Os novos empregos que surgem são de salários baixos, sem plano de saúde, etc.

– Ao outro lado, a crise continua profunda para os trabalhadores, mas também para grande parte das cidades e estados. Recentemente, a cidade de Detroit declarou falência. É incrível. A cidade já foi a quinta maior do país, era o centro do setor automobilístico e também da indústria de música. Os serviços públicos vão ser massacrados e os funcionários públicos vão perder boa parte de suas aposentadorias. Como pode ver, é uma recuperação para os ricos, e não para os trabalhadores.

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