Turquia: movimento de massas desafia governo Erdogan

Trabalhadores do setor público decretam greve contra a violência policial – por um dia de greve geral como um próximo passo para derrubar o governo!

KESK, a Confederação dos Sindicatos dos Servidores Públicos da Turquia, anunciou uma greve nacional contra a violência policial nos dias 4 e 5 de junho. Centenas de milhares de pessoas são esperadas nas manifestações. No entanto, a polícia continua usando gás lacrimogêneo e atacando violentamente os manifestantes. DISK, a Confederação dos Sindicatos Revolucionários da Turquia, uma central sindical com cerca de 350 mil filiados, também aderiu ao chamado de greve.

A brutalidade policial, que começou no Parque Gezi da Praça Taksim em Istambul, mostra mais uma vez a violência policial arrogante e arbitrária sobre qual o governo do AKP (Partido Justiça e Desenvolvimento) se apoia. Centenas foram feridos, alguns se encontram em estado grave. No decurso do movimento de massas, dois manifestantes foram mortos.

Os planos para o Parque Gezi, de derrubar árvores para construir mais um shopping, foram a faísca que provocou uma explosão. Agora a raiva, construída ao longo de anos, tornou-se visível. Não é só em Istambul que os protestos estão ocorrendo. Centenas de milhares de pessoas estão tomando as ruas em toda a Turquia, em Ancara, em Inzmir e em Bodrum. No total, relata-se que manifestações foram realizadas em 67 cidades. Há relatos de divisões dentro do aparelho de Estado, com funcionários do exército distribuindo máscaras de gás e alguns policiais apoiando os manifestantes.

Existe hoje um grande potencial para desenvolver um movimento capaz de desafia a elite capitalista turca.

O governo do AKP, confrontado com uma queda acentuada nas taxas de crescimento econômico este ano, está agora sendo desafiado por um movimento de massas. Eis um ponto de inflexão. A ascensão do AKP ao longo da última década foi baseada em diversos fatores. Isto inclui a frustração das massas com as poderosas forças kemalistas, uma profunda crise econômica no início do século, a alienação de muitas pessoas para com a burocracia estatal e a história das intervenções por parte do exército na vida política, incluindo golpes brutais. O AKP foi capaz de apresentar-se como uma “alternativa” islâmica “moderada” contra o antigo establishment e tem conduzido algumas políticas sociais populistas. Mas os acontecimentos dos últimos dias abalaram o governo do AKP e Erdogan.

O movimento de massa foi inicialmente dominado por segmentos frustrados das classes médias baixas. Eles foram rapidamente acompanhados por jovens dos subúrbios, da classe trabalhadora. Agora, há um crescente envolvimento do movimento dos trabalhadores organizado (embora ainda em estágios iniciais). Tudo isto aponta a perspectiva de que, cada vez mais, setores maiores e mais representativos da sociedade entrem em ação. Este pode ser um prenúncio de lutas de massa ainda maiores, movendo-se em direção a uma situação revolucionária ou pré-revolucionária. Começa também a surgir divisões na cúpula do regime, dentro do partido de Erdogan.

O movimento turco e a coragem dos manifestantes foi simpaticamente recebidos por jovens e trabalhadores ao redor do mundo. O regime turco de direita, um aliado da OTAN com as suas próprias ambições de se tornar uma potência regional, é desafiado por um levante de raiva e oposição. O pesadelo da guerra civil cada vez mais sectária na Síria, com a intervenção de potências imperialistas e locais, e o risco de se alastrar por toda a região, parecia ameaçar todas as conquistas da “Primavera Árabe” – os levantes dos povos contra os ditadores e pela mudança social. O regime turco cinicamente interveio no conflito sírio desde o início, para tentar capitalizar os seus próprios interesses. Mas agora, o início de um potencial “verão turco” está oferecendo uma nova esperança para revitalizar os movimentos populares em toda a região, incentivando uma potencial renovação da luta de massas pelos direitos democráticos, bem como a necessidade de uma mudança fundamental nos interesse das massas trabalhadoras.

“Tayyip istifa” – “Renuncie Erdogan!”

Tudo começou com protestos de ambientalistas contra o corte de árvores para permitir a construtoras, próximas ao primeiro-ministro Erdogan, construir mais um shopping no centro de Istambul. Com toda a força da violência policial, eles tentaram forçar este empreendimento em prol de lucros para poucos. Aos olhos de milhões de pessoas, isso resumiu o programa do governo neoliberal de AKP.

“Tayyip istifa” – “Renuncie Erdogan” tornou-se o slogan que unifica o movimento. Setores do CHP (Partido Republicano do Povo), o principal partido de oposição pró-capitalista, e até mesmo o partido fascista MHP, tentaram também capitalizar em cima do movimento. Até o momento, o caráter radical do movimento de massas não tem permitido ao CHP dominar.

No entanto, dentro do movimento há um debate essencial sobre qual caminho seguir. Como é possível construir uma força política de massas que possa servir aos interesses dos trabalhadores, jovens e pobres, e que seja capaz de derrubar o governo de Erdogan e oferecer uma alternativa? Este movimento não pode ter nada em comum com a velha elite do CHP. É necessária uma nova força, que unifique os trabalhadores e jovens. Portanto, é necessário um programa político que coloque os direitos democráticos e a luta pelo emprego, habitação decente, melhores salários e segurança social em primeiro plano. Um programa socialista que não se furte em desafiar os interesses das elites capitalistas e das empresas multinacionais.

Barrar as violação de direitos por parte do governo AKP!

Basta! O governo tem violado os direitos democráticos, os direitos dos trabalhadores, dos sindicatos e das minorias ha muito tempo. A violência no Parque Gezi foi apenas a ponta do iceberg. Cerca de 8 mil sindicalistas e ativistas de esquerda, jornalistas e políticos curdos estão presos. A mídia turca – supostamente por ordem de Erdogan – transmitem programas de TV que ensinam receitas enquanto as pessoas tentam descobrir através de meios de comunicação estrangeiros e da internet o que está acontecendo em seu país!

Defendemos:
  • A libertação imediata de todas as pessoas presas durante os protestos e liberdade para todos os presos políticos
  • Uma comissão independente da classe trabalhadora, formada por sindicatos e representantes democraticamente eleitos dos movimentos, para investigar a repressão policial e levar os responsáveis à justiça
  • Plenos direitos democráticos, incluindo o direito de manifestação, de formar sindicatos e partidos políticos
  • Abolição das leis antiterror e tribunais especiais, assim como de todas as leis repressivas e reacionárias implementadas pelo AKP nos últimos anos
  • Um fim à repressão dos curdos

O governo também está atacando os trabalhadores do setor público. Ele pretende precariza, cortar postos de trabalho e reduzir salários. A principal central sindical do setor público principal, KESK, já havia planejado uma greve sobre estas questões (com uma data a ser definida) antes do começo dos protestos de massa.

Ao mesmo tempo, privatizações em larga escala estão sendo forçadas através do governo Erdogan. Corrupção, nepotismo, e o enriquecimento de poucos, predominam na sociedade.

Nós dizemos:
  • Não a todos os planos do governo para “desenvolver” a Praça Taksim, – mesmo ligeiramente “modificados”
  • Acabar com as privatizações – para a renacionalização da propriedade pública privatizada!
  • Aumentar o salário mínimo para que as pessoas possam satisfazer as suas necessidades!
  • Acabar com os ataques aos trabalhadores do setor público
  • Acabar com a política a serviço dos grandes bancos e empresas
“Dividir para governar”

A ala dos patrões turcos e empresas internacionais que são próximos de Erdogan foram autorizados a enriquecer-se por anos. A política de privatizações e ataques neoliberais, junto com a repressão dos protestos, servem ao enriquecimento de alguns. Em resposta, precisamos da resistência unida dos trabalhadores, dos jovens e dos pobres.

Para ser capaz de implementar essas políticas, o AKP tenta apresentar-se como defensor dos valores islâmicos. Isto é o que está impulsionando suas medidas divisionistas, tais como a extensão ainda maior das áreas onde o álcool não pode ser vendido legalmente, e sanções contra pessoas se beijando em público. A partir de medidas como estas e mais outras, o AKP tenta organizar o apoio entre as partes mais conservadoras da população. Trata-se de uma tentativa de encobertar os ataques e políticas reais do governo. Isto é absolutamente cínico.

Ao reiniciar o debate sobre a construção de uma mesquita na Praça Taksim, Erdogan agora tenta iniciar uma provocação contra pessoas com orientação secular. O governo de Erdogan tenta polarizar a população ao longo de linhas étnicas e religiosas. Na semana passada, foi anunciado que uma terceira ponte sobre o Bósforo terá o nome do sultão Selim I, um assassino em massa da minoria dos alevitas na Turquia, a cerca de 500 anos atrás. Estas provocações, e o paternalismo por parte do Estado das formas de expressão pessoal e cultural, tem que ser cessar imediatamente.

Erdogan fez ameaças veladas para mobilizar as camadas conservadoras da população para as ruas, para combater o movimento. Ele aponta para sua maioria parlamentar e acredita que o AKP pode recorrer ao apoio substancial na sociedade. O movimento de massas precisa defender políticas que possam conquistar as massas rurais e urbanas pobres, para barrar as tentativas de dividir para governar. Trabalhadores e a juventude não podem se deixar dividir, enquanto resistem aos ataques neoliberais e lutam por trabalho bem remunerado, moradia digna para todos e para plenos direitos democráticos.

Tarefas para o movimento dos trabalhadores e a esquerda

A chamada do KESK e DISK por uma greve nacional contra a violência policial é a decisão certa. Os outros sindicatos devem seguir este exemplo e ampliar a greve. A greve geral de um dia em toda a Turquia pode ser o próximo passo para o desenvolvimento do movimento de massas e mobilizar a maior força possível contra Erdogan.

Sindicatos, partidos e grupos de esquerda, como HDK (Congresso Democrático Popular – uma frente incluindo partidos curdos e grupos de esquerda), Halk Evleri (casas das pessoas) e outros, podem contribuir, em todos os níveis, para transformar esta atividade, numa greve com o máximo de participação por parte dos trabalhadores, da juventude e comunidades.

Comitês baseados em assembleias nas fábricas e bairros são necessários para a defesa contra a brutalidade policial, organizar a solidariedade e apoio às greves e incentivar debates políticos, em todos os níveis. Reunindo representantes eleitos dessas assembleias locais, nas cidades e regiões, bem como a nível nacional, é possível construir o movimento de forma democrática, com a plena responsabilidade e o direito de revogar todos os representantes. Isso pode ser a base para um governo dos trabalhadores e dos pobres.

Com base nessas medidas é possível construir um movimento que não só derrube o governo Erdogan, mas que possa lutar por uma alternativa no interesse da classe trabalhadora e a juventude em geral. Um partido de massas da classe trabalhadora, com um programa socialista, é necessário.

Nós defendemos:
  • Derrubar o governo do AKP – por um governo dos trabalhadores e pobres
  • Acabar com a ditadura do grande capital e os seus políticos
  • Nacionalizar as empresas que dominam a economia, sob controle e gestão dos trabalhadores
  • Por um plano democrático e socialista, para organizar e desenvolver a economia nos interesses da massa da população 

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