Na luta por direitos humanos e o feminismo socialista em Goiás

O Ofensiva Socialista entrevistou Adriana Sul Santana (50500), candidata a deputada estadual pelo PSOL em Goiás.

Você pode apresentar sua trajetória e sobre como surgiu a proposta de candidatura? 

Eu sou Adriana Sul Santana, sou de Goiás, militante feminista socialista, doutoranda em Letras na UFG e advogada que atua pelos direitos das pessoas encarceradas. Estou engajada na luta contra o capitalismo, contra a violência de gênero, em apoio às pessoas LGBTIAP+ e negros e negras.

Somente após inúmeros percalços enfrentados por ser mulher trabalhadora e mãe, consegui, com mais de 30 anos, concluir a formação universitária. Meu primeiro trabalho na advocacia foi como advogada dativa, isto é, atuando onde não existem comarcas da Defensoria Pública. Em 2018, uma filha teve um problema de saúde gravíssimo e apenas não veio a óbito porque foi internada pelo SUS. Experiências assim mostraram para mim a importância dos direitos sociais para a classe trabalhadora.

Além disso, vi todas as consequências da violência de gênero atingindo familiares e companheiras. A partir das experiências com a militância comecei a participar de atividades de formação política e ingressei na LSR. Hoje, após uma decisão coletiva, me apresento como candidata para fortalecer nossa luta para transformar as condições sociais e econômicas impostas para a classe trabalhadora e a juventude. 

Quais são as bandeiras que sua candidatura defende?

Melhor perguntar o que defendemos, porque não estou sozinha, estou com a classe trabalhadora e uma organização política. Como advogada, atuo pelo direito de representação da população carcerária, em sua maioria jovem e negra. São vítimas de um sistema penal que funciona como instrumento repressivo do Estado e que, ao criminalizar a pobreza, reproduz o racismo estrutural. 

Meu trabalho me colocou diante de mulheres que sofrem diversas formas de violência. Sofri e convivi com isso ao longo da vida – no trabalho, nos espaços de educação, na família, em todos os lugares que uma mulher ocupa. Como muitas de nós, algumas vezes naturalizei essas violências. No entanto, ao me aproximar das discussões sobre feminismo socialista, compreendi que o machismo estrutura a nossa sociedade e afeta diretamente a vida de todas nós. A única possibilidade de superação dessa realidade é a luta constante em todos os espaços que ocupamos.

Nossa candidatura também busca contribuir para a resistência contra a agenda neoliberal. Para nós, é urgente a organização e luta da classe trabalhadora em defesa de seus interesses e para construir uma alternativa socialista à sociedade capitalista. 

Sua candidatura defende uma política de segurança pública orientada pelos direitos humanos. Sobre este tema, qual é a situação em Goiás e quais as suas propostas? 

O atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), defende uma política de segurança pública repressiva e violenta. Sua política incentiva a polícia a reprimir e matar violando direitos básicos. Por isso, durante o seu governo, cresceu o número de pessoas mortas pela polícia: 3 entre cada 10 mortes violentas em Goiás foram provocadas pela polícia. 

A situação da população carcerária piorou muito. Além de nada ter sido feito para preservar as vidas das pessoas encarceradas durante a pandemia de Covid-19, há inúmeras violações: alimentação inadequada, ausência de visitas, instalações precárias (infiltrações, goteiras, mofo, colchões velhos, celas sem fiação), negação de serviços educacionais, médicos e odontológicos etc. 

Defendemos que a fiscalização nos presídios seja livre e sem agendamento, especialmente quando há casos de denúncias. Também é necessário ouvir pessoas presas e fiscais sem a presença da polícia penal. 

Para nós é crucial lutar pela responsabilização do Estado por violar direitos humanos. Defendemos a construção de conselhos populares para controle social sobre o sistema penitenciário e que possam apresentar propostas de ressocialização. Atuaremos para dar visibilidade às famílias e organizações que lutam pelos direitos das pessoas no sistema carcerário e organizaremos ações para fortalecer a luta pela desmilitarização da polícia. 

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