Capitalismo em crise – uma explicação marxista

A crise 1974-75 e o ascenso do neoliberalismo

O auge do crescimento se deu no final dos anos 60. Os lucros e os investimentos estagnaram e depois começaram a cair. A queda na taxa de lucros significava que era preciso mais e mais capital para conseguir ganhos na produtividade. Um fator foi a resistência dos trabalhadores, que tinham se fortalecido ao se oporem às tentativas de intensificar o trabalho. A oferta de mão-de-obra nova diminui, depois de um grande aumento com a incorporação das mulheres na produção e o aumento da urbanização. Um outro fator foi que o baixo nível de investimentos dos países emergentes levou a um aumento nos preços das commodities.

A inflação começou a subir (nos anos 50 era em média 2% nos países ricos, e nos anos 60 era 4%). Entre 1969 e 73 subiu para 6,4% na Europa e 4,9% nos EUA. A inflação nos EUA era agravada pelo aumento dos gastos da guerra do Vietnã e exportada para o resto do mundo via o dólar. A crise do petróleo em 1973 (quando os países árabes do Oriente Médio cortaram o fornecimento do petróleo em protesto contra o apoio dos EUA a Israel durante Guerra do Yom Kipur), levou a um novo choque. A inflação subiu para 10% em média na Europa entre 1973 e 1979. Isso provocou mais greves pela parte dos trabalhadores, que tentavam recuperar as perdas salariais devido à inflação.

Essa combinação de inflação e estagnação – a “estagflação” – foi um resultado claro da super-acumulação de capital.

Os bancos e grandes investidores em títulos estatais temiam que os governos imprimissem dinheiro para pagar suas dívidas, deixando que a inflação diminuísse o valor das dívidas. Essa crise de confiança se casou com a conclusão de que não era mais possível fazer concessões aos trabalhadores e ao mesmo tempo manter os lucros. Marcou o início do abandono das idéias keynesianistas.

A classe dominante partiu para a ofensiva, liderada pelo EUA e Grã Bretanha. No início a mudança de política se limitava a relançar o “monetarismo”, de conter os gastos públicos e aumentar os juros para controlar a inflação. Isso gerou uma nova crise profunda. O efeito seria mais grave nos países pobres, principalmente na América Latina, que tinham feito grandes empréstimos com juros mais baixos durante os anos 70. A alta dos juros levou à crise das dívidas externas, no México, Brasil, Argentina, etc.

A política monetarista foi complementada com outras medidas que ficaram conhecidas como “neoliberalismo”: ataque às organizações e direitos sindicais e trabalhistas, corte nos gastos públicos e diminuição do papel do Estado, privatizações, redução dos impostos dos ricos, etc.

Ponto de inflexão para o reformismo

Isso foi um ponto de inflexão não só para os partidos da direita, mas também para os partidos que ainda tinham raízes no movimento dos trabalhadores, como os partidos social-democratas reformistas. Não havia mais espaço para reformas, tal como durante o “boom” pós-guerra. Os governos social-democratas, que nunca estiveram preparados para desafiar o poder dos capitalistas, foram forçados a pôr-se em retirada.

A experiência francesa foi importante. François Mitterrand foi em 1981 eleito presidente como candidato do Partido Socialista (PS) em aliança com o Partido Comunista (PCF), com um programa radical: aumento da aposentadoria e seguro-desemprego, redução da jornada de trabalho, algumas estatizações, etc. Os capitalistas franceses responderam com uma “greve de investimentos” e fuga de capital. Um governo revolucionário teria mobilizado apoio entre os trabalhadores para estatizar as grandes empresas e instituições financeiras que estavam sabotando as reformas. Ao invés disso, Mitterrand recuou e retirou as reformas.

Com a queda do stalinismo em 1989, esses partidos aprofundaram o giro à direita, abraçaram totalmente a política neoliberal, se tornando partidos burgueses.