A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Um ponto de vista internacional
O Militant nunca teve um horizonte paroquial limitado ou nacional. Mesmo quando tínhamos muito poucos correligionários fora do Reino Unido, sempre procedemos de um ponto de vista internacional. O socialismo é internacional ou não é nada.
O grande mérito histórico do capitalismo foi desenvolver o mercado mundial, o que possibilitou pela primeira vez uma história mundial. Ligando todos os países em um todo interdependente, também desenvolveu a classe trabalhadora, a quem interessa transcender as particularidades nacionais.
“Imperialismo” é usado pelos marxistas para descrever a dominação econômica(e no passado controle militar direto) dos países industriais avançados da Europa, América e Japão sobre os povos da Ásia, África e América Latina. Seu peso econômico comparado aos ex-países coloniais cresceu enormemente nas últimas décadas.
Os gigantes transnacionais exploram os trabalhadores nos países avançados e super-exploram os do “Terceiro Mundo”. Na era da globalização, do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), da transferência de capitais de um país para outro, é evidente que a classe trabalhadora precisa se organizar: primeiro numa escala continental e depois mundial. Isso é obviamente necessário ao nível sindical. As transnacionais fecham fábricas nos países avançados, transferindo-as para áreas de ‘baixos custos trabalhistas’.
Alguns trabalhadores estão começando a ver a necessidade de colocar as suas exigências comuns numa base continental – na Europa isto estará colocado no próximo período. Uma direção internacional é também necessário. Não menor é a necessidade de se organizar politicamente numa escala mundial. Desde o principio Militant, talvez mais do que qualquer outro jornal na Inglaterra, dedicou a maior parte de suas páginas à cobertura internacional.
Em nosso segundo número cobrimos a queda de Khrushchev, líder da União Soviética. “Stalinismo” é o termo usado pelos marxistas desde a época de Leon Trotsky nos anos 30 para descrever os regimes políticos da Rússia, Leste Europeu, Cuba, China, que se assentavam sobre economias nacionais planificadas. Regimes de um só partido totalitário, onde uma elite burocrática privilegiada dominava o estado e a sociedade. Estes países, especialmente a URSS, eram uma grande questão para os marxistas. Militant apontava os resultados da URSS:
Por um lado enormes resultados científicos capacitaram a URSS a desafiar, e nos termos dos mais modernos ramos da ciência, os avanços dos poderosos poderes capitalistas. De outro lado, uma estrutura política que permite a total remoção de aparentemente todo-poderosos dirigentes do estado, enquanto as massas, mesmo as fileiras do Partido Comunista da União Soviética, permanecem como passivos observadores.
Militant se baseava nas análises de Trotsky, apoiando os ganhos da economia planificada, mas defendendo uma revolução política que criasse uma legítima democracia socialista.
A crise dentro da elite burocrática, refletida na remoção de Khrushchev, indicava:
a contradição entre a produção socializada e planejada e o domínio de uma casta burocrática. A nova liderança, face aos mesmos problemas, dará as mesmas respostas, zigue-zagueando entre direita e esquerda, concessões e repressão. (1)
Vietnã
Nos primeiros anos do Militant a questão chave internacional era a guerra do Vietnã. Na análise das causas da guerra, assim como a formulação das demandas a serem levantadas pelo movimento trabalhista, a cobertura do Militant permanece como um brilhante exemplo de habilidade do marxismo em analisar e prever os eventos. No começo de 1967, apontamos:
A maior máquina de guerra do mundo tem se visto perdendo a guerra por um exército de miseráveis camponeses, o povo do Vietnã do Sul. (2)
Lyndon Johnson, que substituiu Kennedy depois de seu assassinato em 1963, teve sua promessa de uma ‘grande sociedade’ sugada nos arrozais do Vietnã. Mesmo o poderoso imperialismo americano não pode ter uma política de ‘armas e manteiga’. Arthur Schlesinger, antigo assistente especial de Kennedy, escreveu em 1967:
A luta por oportunidades iguais para os negros, a guerra contra a pobreza, a luta para salvar as cidades, a melhora de nossas escolas – tudo foi desviado para o Vietnã… A Grande Sociedade está agora, exceto por gestos e sinais, morta. (3)
Portanto, cedo o Militant apontou as colossais contradições da posição do imperialismo americano. Se os EUA continuassem a guerra, significaria um enorme aumento no gasto de armas, que por sua vez significaria um esmagamento dos custos sociais em casa, o que levaria a uma revolta, particularmente dos pobres. Mais e mais fatalidades para os EUA eram inevitáveis. Isso abriria enormes divisões sociais que poderia paralisar a intervenção militar no Vietnã.
Nenhum outro grupo político estava preparado para fazer tal predição arrojada no estágio inicial da guerra. A vitória dos vietnamitas seria um golpe esmagador para o imperialismo e o gigante americano. Contudo, enquanto apoiávamos a luta dos trabalhadores e camponeses pela libertação social e nacional, não dava um apoio acrítico, como outros fizeram, aos líderes stalinistas no Vietnã do Norte e seus parceiros no movimento do Sul.
Devido às forças sociais envolvidas, predominantemente massas camponesas lutando por terra e liberdade, qualquer regime vitorioso que emergisse deste conflito não poderia ser ‘socialista’. Seria um regime nos moldes da China e da União Soviética, com uma economia planejada mas dirigida por um só partido totalitário.
Outros, se dizendo marxistas ou mesmo ‘trotsquistas’, deram um apoio acrítico à Frente de Libertação Nacional (FLN). Por causa do sentimento dominante de adulação acrítica ao líder da FLN Ho Chi Minh, nas demonstrações os estudantes monotonamente cantavam ‘Ho, Ho, Ho Chi Minh”. Alguns se viram na cabeça de grandes movimentos da juventude em oposição à guerra, mas não eram capazes de aumentar substancialmente suas forças, pois sua intervenção era baseada em falsas premissas. Assim como eles seguiram servilmente a liderança stalinista da FLN, o mesmo fizeram em todos os movimentos do tipo ‘libertação nacional’, e quantos jovens e trabalhadores se uniram à eles?
O slogan do Militant era claro: ‘Pela retirada do imperialismo e americano e todas as forças imperialistas.’ O resultado disso seria o colapso do regime sul-vietnamita, como os eventos subseqüentes demonstraram. Era um regime títere sustentado pelas baionetas americanas.
A classe trabalhadora
Marx não se referiu à classe trabalhadora organizada por acidente. Apenas ela, organizada e disciplinada pela indústria e produção em larga escala, pode desenvolver a necessária coesão social e combatividade para levar adiante as tarefas de uma revolução socialista. O campesinato, por sua natureza, está dividido em vários estratos, os níveis superiores tendendo a se juntar com os capitalistas. Os extratos mais baixos, tendem a seguir a classe trabalhadora, e, através da ruína econômica, cair em suas fileiras. O mesmo se pode dizer da moderna classe média, tanto das cidades quanto nas áreas rurais.
Ecoando os argumentos da classe dominante, muitos ‘marxistas’ consideraram que a classe trabalhadora nos países industriais avançados se ‘aburguesaram’ e portanto não eram mais o principal agente para uma mudança socialista. Isso os levou a procurar a salvação em qualquer lugar, seja em Tito na Iugoslávia, tido como um trotsquista ‘inconsciente’, ou Mao Tsé-Tung ou Fidel Castro. Baseando-se nas falsas teorias de pessoas como Frantz Fanon (que se baseava em sua experiência pessoal na revolução argelina), os camponeses pobres, os ‘Fedayin’ e exércitos guerrilheiros eram vistos como as forças capazes de libertar o mundo do jugo do latifúndio e do capitalismo. O ‘epicentro’ da luta mundial pelo socialismo estava agora no mundo colonial e semicolonial.
Militant explicou a importância dos eventos no mundo colonial e semicolonial. O movimento pela libertação nacional, envolvendo dois terços da humanidade, nos anos 50, 60 e 70 representava um dos movimentos mais esplêndidos da história. Milhões de escravos do imperialismo na Ásia, África e América Latina romperam as cadeias da dominação imperialista militar direta, entrando na cena da história e tentando tomar o seu destino em suas próprias mãos.
Apesar de tudo, de um ponto de vista mundial, as decisivas forças para uma mudança socialista ainda estavam concentrados nos países avançados. Isso não significava que as massas do mundo colonial e semicolonial deveriam ‘esperar’ até que os trabalhadores da Europa, Japão e América do Norte se colocassem em ação. Pelo contrário, Militant deu apoio ao movimento dos povos coloniais, tanto política quanto organizativamente, mesmo quando estavam sob a liderança de forças burguesas ou pró-burguesas. Fazíamos isso em solidariedade a esses movimentos e também porque todo o ataque contra o imperialismo no ‘mundo subdesenvolvido’, em última instância, beneficiava a luta pelo socialismo nos países industrializados em uma escala mundial.
Devido a que esses movimentos eram grandemente baseados no campesinato, eles tinham limitações muito claras. Mesmo naquela etapa, Militant apontava para o futuro despertar da classe trabalhadora nos antigos países coloniais. Décadas de industrialização e urbanização se desenvolveram até o ponto onde a força do proletariado fosse o mais poderoso movimento de mudanças.
Mesmo nos anos 60, Militant também apontou o aumento da tensão social, beirando a guerra civil, que se desenvolvia em alguns dos países avançados e semi-avançados da Europa.
Ponto de inflexão: França de 1968
Em abril de 1968, Ernest Mandel, líder do Secretariado Unificado da Quarta Internacional, falou em uma reunião em Caxton Hall, Londres, para seus seguidores. Representando o Militant, eu falei do plenário, questionando a idéia de Mandel sobre a classe operária dos países industrializados. A sua resposta foi que os trabalhadores destes países estavam passivos, e parecia que iriam permanecer assim enquanto o dólar permanecesse estável, e que essa situação não iria mudar por pelo menos 20 anos. Sua conclusão era que o ‘epicentro’ da revolução mundial tinha mudado para os antigos países coloniais.
Um mês depois, surgiram eventos em Paris que iriam culminar na maior greve geral da história. Dez milhões de trabalhadores ocuparam as fábricas e mesmo os representantes da classe dominante francesa acreditaram que estavam vendo o seu fim.
O Militant saudou o movimento na França com o slogan de primeira página: “Todo o poder aos trabalhadores franceses!”
Dez milhões de trabalhadores em greve! Centenas de fábricas ocupadas e controladas pelos trabalhadores! Escolas tomadas pelos alunos e docentes progressistas! Mentiras dos jornais capitalistas ‘censuradas’ pelos tipógrafos! Mentiras da TV censuradas pelos repórteres e técnicos! Universidades tomadas! Docas, correios, navios, tomados! Que maravilha demonstração do invencível poder da classe trabalhadora quando ela começa a se mover!
Que golpe esmagador aos cínicos, céticos e apologistas dos grandes negócios que escreviam que a classe trabalhadora estava ‘apática’, ‘comprada’, etc, e para os economistas ortodoxos e profissionais, nenhum de seus árduos estudos do complexo mecanismo da economia capitalista os capacitou para discernir a força gigantesca escondida na superfície da sociedade moderna: a criadora de uma nova sociedade – a classe trabalhadora. Quão claro pode estar mesmo para os trabalhadores mais inexperientes politicamente que seus irmãos franceses poderiam estar no poder hoje, se não fosse a política covarde dos líderes trabalhistas e dos sindicatos.(4)
O movimento de estudantes começou em torno de demandas relativamente menores em uma área, mas depois de serem atacados pela polícia, rapidamente se tornou uma campanha nacional de massas que precedeu o movimento da classe trabalhadora:
O Daily Express reportou que 80% da população estava a favor dos estudantes. Os trabalhadores industriais e particularmente os jovens foram contagiados pelo sucesso: ‘Os estudantes vieram primeiro. Eles agiram como uma faísca. Eles obrigaram o governo a ceder… eles nos deram o sentimento de que podíamos ir adiante’, disse um deles a um repórter do Times. (5)
O Militant reportou:
Mesmo os fazendeiros estão em revolta pelo rápido decréscimo de seus produtos. Uma onda gigante se espalha de um ponto da França para outro. Não apenas os operários industriais mas os empregados de bancos, trabalhadores de colarinho branco e os de bufê responderam ao chamado de greve. Enquanto apenas 10% eram sindicalizados, por volta de 50 % da força de trabalho foi envolvida no que é uma prova incontestável da energia revolucionária e determinação que foi desencadeada.
Como em todas as revoluções, todos os rachas e abismos da sociedade, os antigos representantes dos trabalhadores, o cansaço e esgotamento, a desmoralização e o cinismo, foram ultrapassados. Os fazendeiros pobres ergueram barricadas em Nantes e outras cidades ‘em apoio aos trabalhadores e estudantes’ (The Times, 21 de maio,1968). Ordem exemplar foi mantida e, como até mesmo a imprensa capitalista foi forçada a admitir, os operários ‘checam e lubrificam as máquinas mantidas ociosas.’ (6)
Nossa conclusão era:
Todas as condições para uma reviravolta ociosa estão dadas: os trabalhadores estão determinados a ir até o fim. A classe média, especialmente suas baixas camadas, olham com simpatia a onda grevista e em muitos casos se juntam a elas, como nos navios, onde “mesmo os oficiais se uniram aos piquetes começados pela tripulação.” (The Times, 23 de maio de 1968).
A classe trabalhadora tem o poder efetivo nas fábricas, nos portos, nas minas, e nas ruas. Uma clássica situação revolucionária existe. Mesmo a tele-transmissão do debate na Assembléia Nacional foi feita apenas com a permissão das organizações trabalhistas, como um deputado gaullista admitiu. Os instrumentos de repressão estatal que ainda estão nas mãos do governo, a polícia e o exército, estão completamente paralisados.
A polícia mesma foi tocada pelas chamas da revolta. Seu sindicato lançou um alerta ao governo de que ‘os oficiais de polícia apreciam as razões que inspiraram a onda grevista e deploram o fato de que não podem tomar parte do mesmo modo no atual movimento trabalhista… as autoridades públicas não irão lançar sistematicamente a polícia contra as greves presentes.” (The Times, 24 de maio de 1968). No caso de um racha, muitos setores, se não a maioria, irão se unir aos trabalhadores.
O exército também estaria dividido do topo à base se a casta de oficiais decidisse intervir. Isso é mostrado pelos comentários de um militar quando foi “questionado se abriria fogo contra os estudantes e trabalhadores, respondeu: ‘Nunca. Penso que seus métodos poderiam ser menos violentos, mas eu sou filho de trabalhador” (The Times, 25 de maio, 1968)’. Se já houve uma época em que a classe trabalhadora pudesse tomar o poder pacificamente, a hora é agora. (7)
O Militant chamou pela organização de conselhos de ação para se espalharem em cada fábrica e local de trabalho, estando ligadas a um nível distrital, regional e nacional. Infelizmente, os líderes ‘comunistas’ e ‘socialistas’ estavam mais aterrorizados com o movimento do que o governo e a burguesia. Depois dos eventos, The Economist comentou:
Eles [o Partido Comunista] agiram como Fabianos, não como revolucionários. E eles mesmo enfatizaram que o seu partido era pela lei e ordem. Eles mantiveram silêncio quando a polícia ocupou a Sorbonne. Eles se dissociaram da ‘ralé desperta e dos provocadores de ultra-esquerda’ e concordaram com a decisão do governo de banir todos os pequenos movimentos revolucionários de esquerda. (8)
Mesmo de Gaulle, presidente da França, no meio dos eventos, admitiu ao embaixador americano da época, Sargent Shriver: ‘O futuro, sr. Embaixador, ele não depende de nós, mas de Deus!’ (9). Ele acreditava que o ‘comunismo estava para triunfar na França e planejou fugir para Baden Baden na Alemanha Ocidental. Ele se entrevistou com o comandante das tropas francesas da OTAN, general Massu. Em troca da promessa de de Gaulle de libertar alguns dos generais e oficiais de extrema-direita envolvidos em revoltas na Argélia, Massu prometeu, se necessário, marchar com suas tropas sobre Paris. Massu mesmo estava implicado nestas revoltas militares e era ligado àqueles generais.
Mas sua ajuda não foi necessária. Para assombro dos representantes da burguesia, o Partido Comunista competiu com os gaullistas como os campeões da lei e ordem. Nas eleições posteriores, eles proclamavam: “Contra desordens, contra anarquia – vote comunista”.
Revolução derrotada
O movimento foi derrotado pela combinação da covardia dos líderes dos trabalhadores e a promessa de eleições por de Gaulle. O desapontamento dos trabalhadores, e de seções de classe média, e da incapacidade de capitalizar a oportunidade revolucionária que existia em maio-junho de 1968 levou à derrota dos partidos operários na subseqüente eleição. Apesar de tudo, como apontamos:
Uma coisa é certa – o ‘invencível’ regime gaullista está terminado. Seja quando for, dentro de semanas ou meses, sua posição está irremediavelmente perdida. Os trabalhadores franceses não apenas tiveram sucesso em o derrubar, mas de botar abaixo todas as teorias adocicadas de ‘paz social’ que proliferaram no movimento trabalhista ocidental nos últimos 20 anos. (11)
A revolução francesa – e o que os eventos de maio-junho representaram foi o inicio disso – foi um ponto de inflexão para os trabalhadores na França e internacionalmente. Botou em teste todos os grupos e organizações. Não apenas a liderança oficial, mas todos os numerosos grupos de vários tamanhos foram testados. Um dos maiores, a LCR (Liga Comunista Revolucionária), se baseou na teoria absolutamente falsa de que os estudantes eram os ‘líderes’ e detonadores da revolução. Dez milhões de trabalhadores ocuparam espontaneamente as fábricas. E ainda assim esta tendência produziu um panfleto distribuído entre os trabalhadores de Paris com uma citação de Lênin de 1901 alegando que ‘a consciência socialista apenas pode ser levada à classe trabalhadora de fora, pelos intelectuais.’
Essa idéia, mais tarde repudiada por Lênin, tem sido usada por algumas organizações para tentar justificar suas tentativas de impor sua ‘liderança’ ao movimento operário. A história do movimento da classe trabalhadora mostra que essa idéia é absolutamente falsa.
O cartismo, primeiro movimento político independente da classe trabalhadora, apareceu antes que Marx desenvolvesse as idéias do socialismo científico. As idéias do socialismo existiam tanto no movimento operário na Alemanha e França antes de Marx e Engels. A Comuna de Paris não foi uma invenção de Marx, mas surgiu da experiência das massas parisienses em torno da guerra franco-prussiana e o subseqüente cerco de Paris.
Marx generalizou a experiência da classe operária, como Lênin e Trotsky. Mas não foram eles, por exemplo, que inventaram a idéia de Sovietes, mas os trabalhadores de São Petersburgo na Revolução Russa de 1905. O marxismo pode sintetizar esta experiência na forma de uma perspectiva e programa. Mas o genuíno marxismo não tem nada em comum com os que acreditam que o movimento operário pode ser puramente ‘moldado’ pelos ‘intelectuais socialistas’. Os trabalhadores parisienses, quando leram o panfleto da LCR, olharam para seus membros com embaraço, encolheram seus ombros e voltaram a discutir como levar o movimento adiante.
Onda revolucionária
Os eventos dos anos 60 deixaram uma impressão indelével na consciência de todos os que os viveram. Na França, levaram a um plano político da reformação e saída do Partido Socialista no começo dos anos 70.
Teve também um profundo efeito na Grã-Bretanha. Jovens apoiadores do Militant relataram que seus parentes conservadores e a velha geração em geral foram revividos pelos eventos franceses.Muitos atreveram-se a pensar durante o maio-junho de 1968 que uma nova sociedade socialista estava finalmente ao alcance da classe trabalhadora. Não há a menor dúvida de que se os trabalhadores franceses tivessem tomado o poder um incêndio teria se espalhado por toda a Europa. Isso é mostrado pelas sublevações ocorridas na Itália quase ao mesmo nível da França. Também houve tumultos na Alemanha, onde o movimento estudantil estava em um nível mais avançado que o da França. Havia também a enorme oposição à ditadura de Franco na Espanha e ao regime autoritário de Caetano em Portugal. Ambos regimes estavam em suas horas finais e uma nova geração de trabalhadores inspirados pelas idéias socialistas e comunistas ascendia.
1968 será sempre lembrado como um ponto de inflexão político no período pós-45. A visão de milhões de trabalhadores pelo mundo todo mudou profundamente.
1 Militant 2 Novembro 1964
2 Militant 23 Fevereiro 1967
3 ibid
4 Militant 38 Junho 1968
5 ibid
6 ibid
7 ibid
8 The Economist 22.6.68
9 Quoted In Doyle, “Month Of Revolution”, P60
10 ibid
11 Militant 38 June 1968