40 Anos do CIT – Trabalhadores de todos os países, uni-vos!

Praticamente desde a aurora do movimento operário havia a compreensão de que a luta contra a opressão e o capitalismo era internacional. Já em 1848, Karl Marx e Friedrich Engels explicaram no Manifesto Comunista que “a indústria moderna estabeleceu o mercado mlsundial (…) A burguesia, através de sua exploração do mercado mundial, deu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em cada país… Em lugar das velhas necessidades, satisfeitas pela produção nacional, encontramos novas necessidades, exigindo para a sua satisfação os produtos de terras e climas distantes. Em lugar do velho isolamento e autossuficiência nacional e local, temos intercursos em todas as direções, a interdependência universal das nações”.

Para os socialistas e ativistas da classe trabalhadora, a conclusão vinha expressa no final do Manifesto Comunista que, em face do sistema capitalista internacional, era preciso adotar a consigna “Trabalhadores de todos os países, uni-vos!”.

Desde aqueles primeiros dias, os socialistas viam que uma união internacional de organizações operárias não deveria se limitar a campanhas de solidariedade entre trabalhadores de diferentes países. Acima de tudo, isso era visto como um instrumento para ajudar a construir o movimento operário em todo o mundo e, também, como um fórum para discutir e decidir sobre suas políticas.

Embora tenham existido organizações socialistas internacionais antes, foi a Primeira Internacional, fundada em 1864, que uniu diferentes forças do então recente movimento operário em ascensão, ajudou a lhe dar uma firme base política e fortaleceu o quadro de ativistas. Embora a Primeira Internacional tenha se extinguido em 1876, por consequência do esmagamento da Comuna de Paris, menos de 15 anos depois, em 1889, foi criada uma nova Internacional. Este órgão, depois chamado Segunda Internacional, era formada por vários partidos em crescimento. Ela logo veio a simbolizar o dramático crescimento das organizações operárias e uma popularização das idéias socialistas – e a maioria de seus partidos membros aceitava formalmente o marxismo como sua base política.

Mas o debate político continuava e, repetidamente, se centrava na questão de se tentar derrubar o capitalismo ou reformá-lo. Embora alguns reformistas, especialmente da base, possam ter acreditado sinceramente que a reforma era um meio mais fácil de mudar a sociedade e conquistar o socialismo, para o crescente número de líderes essa política marcava sua própria adaptação pessoal ao capitalismo.

Isso refletia o fato contraditório que o crescimento de uma poderosa organização operária, enquanto obviamente fortalecia a capacidade dos trabalhadores de lutar, também punha o perigo de dar origem a um extrato conservador, que desfrutava de carreiras confortáveis. Estes relutavam cada vez mais em desafiar o capitalismo, algo que já antes de 1914 havia levado a ferozes debates, à medida que a esquerda lutava contra o oportunismo e a adaptação ao capitalismo.

1914 – Um ponto de inflexão no movimento operário

Mas foi apenas com a eclosão da 1ª Guerra Mundial que a força dos elementos pró-capitalistas na cúpula do movimento operário foi claramente revelada. A esmagadora maioria dos líderes da Segunda Internacional apoiou “sua” classe dominante e seus impérios. Essa foi uma ruptura fundamental com os princípios e decisões anteriores da Internacional de se opor à guerra entre as potências imperialistas rivais. Enquanto que, na Rússia e em poucos outros países, os genuínos partidos socialistas se opuseram à guerra, na maioria dos países combatentes apenas pequenas minorias se opuseram ao conflito quando este eclodiu em 1914.

Essa mudança decisiva, junto com o papel dos líderes da Segunda Internacional de ajudar a suprimir os movimentos em seus próprios países, transformou o movimento operário. Contra esse pano de fundo os socialistas que se recusaram a se acomodar com o capitalismo argumentaram que era necessário lutar para libertar o movimento operário dessa venenosa influência pró-capitalista. A vitória da Revolução de Outubro na Rússia em 1917 mudou a situação. A revolucionária alemã Rosa Luxemburgo resumiu o sentimento de muitos ativistas e trabalhadores de todo o mundo ao dizer que os bolcheviques, “Lenin e Trotsky e seus amigos” deram “um exemplo para os trabalhadores de todos os países”.

O exemplo foi tanto político – programa, estratégia e táticas – quanto organizativo, no sentido de construir organizações operárias, especialmente um partido político, que fosse capaz e estivesse disposto a lutar para acabar com o capitalismo. A subseqüente luta no movimento operário foi feroz, algumas vezes sangrenta, na medida que elementos pró-capitalistas buscavam expulsar, e em alguns casos até assassinar, a esquerda.

Internacionalmente, essa divisão se concretizou em 1919, com a formação, por iniciativa dos vitoriosos bolcheviques na Rússia, da Internacional Comunista, uma organização então dedicada a derrubar o capitalismo. Ela teve uma base de massas em muitos países, à medida que os eventos de 1917 na Rússia iniciavam uma onda revolucionária que percorreu o mundo. Entretanto, a Internacional Comunista não cumpriu suas promessas.

Ascensão do stalinismo

A derrota das revoluções pós-1ª Guerra Mundial na Europa levou ao isolamento da União Soviética. Nas condições pós-guerra de pobreza, esgotamento e subdesenvolvimento, um extrato cada vez mais privilegiado, sob a falsa bandeira de “proteger a revolução”, foi capaz de consolidar gradualmente seu poder e suprimir os direitos democráticos.

Essa foi a base para a ascensão da ditadura stalinista, que cada vez mais tentava evitar levantes internacionais ou revoluções que pudessem ameaçar seu domínio. Assim, desesperada para evitar a Guerra, ela subitamente assinou em 1939 um acordo com Hitler, que incluía fornecimento de matérias primas e entrega de refugiados antifascistas alemães para a Alemanha nazista.

Mas, como Leon Trotsky explicou na época, isso não impediu o ataque nazista à União Soviética em 1941. Depois, aliado com os EUA e Grã-Bretanha, Stalin decidiu em 1943 dissolver a Internacional Comunista como uma maneira de mostrar que seu regime não buscava derrubar o capitalismo internacional, mas sim desejava uma acomodação com as principiais potências capitalistas.

Trotsky, líder junto com Vladimir Lenin da Revolução Russa, que nos anos 1920 liderou a oposição à ascensão do sistema stalinista, já em 1933 havia tirado a conclusão de que a Internacional Comunista não era mais capaz de liderar a luta contra o capitalismo. A subida dos nazistas ao poder foi provavelmente a maior derrota que o movimento operário jamais havia sofrido e a com as maiores repercussões.

O impacto da vitória nazista

Mas essa derrota não era de modo algum inevitável. O movimento operário alemão de então era o maior do mundo capitalista. O partido comunista da Alemanha era uma força significativa, ganhando quase 17% dos votos em 1932. Contudo, na prática, ele foi incapaz de construir uma frente única de trabalhadores contra o fascismo, já que igualava os social-democratas, que então chamava de “social-fascistas”, com os nazistas.

Mas, depois da vitória de Hitler, não houve nenhuma discussão aberta dentro do Internacional Comunista sobre o que tinha acontecido ao seu maior partido fora o da União Soviética. Para Trotsky e seus seguidores, isso significava que a Internacional Comunista tinha deixado de ser uma organização política viva, e havia se tornado, ao contrário, em uma máquina burocrática onde a direção impunha sua vontade sem qualquer questionamento de baixo. Tal organização não podia construir um movimento que derrubasse o capitalismo, algo que só pode ser feito com base em debates democráticos e genuínos controle e gestão dos trabalhadores. Isso é necessário tanto para construir um verdadeiro partido operário de massas quanto para se proteger contra ameaças de decadência.

Uma nova Quarta Internacional

Assim, mais uma vez, a questão de construção de uma genuína internacional foi colocada. Entretanto, embora Trotsky levantasse a bandeira e programa de uma Quarta Internacional nos anos 1930, inicialmente foi apenas no Sri Lanka, Vietnã e Bolívia que ela atraiu grandes forças, ainda que nos anos 1930 e 1940 seus ativistas tivessem jogado papeis importantes nas lutas de outros países. Durante o período político mais dificil depois da Segunda Guerra Mundial, desacordos políticos e organizativos levaram a divisões dentro do movimento trotskista. Foram desses debates e experiências que o CIT foi formado, como uma organização que pretende construir uma internacional dos trabalhadores baseada nas tradições políticas defendidas por Trotsky e a experiência das décadas após seu assassinato.

Nos últimos 40 anos o CIT cresceu mundialmente, à medida que indivíduos e grupos uniam-se a nós no trabalho de construir um movimento socialista internacional que possa transformar o globo.

No esforço para atingir esse objetivo, não vemos os eventos passados como história morta. Pelo contrário, enquanto prestamos tributo às corajosas lutas passadas da classe trabalhadora, queremos aprender, e aplicar, as verdadeiras lições destes eventos nas batalhas de hoje e de amanhã.

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