Combater a desindustrialização só enfrentando o grande capital

O “voo de galinha” do crescimento econômico brasileiro aterrissou em medíocres 2,7% no ano passado, diante de uma média mundial de 3,2%. O país ficou com um dos piores resultados entre os países sul-americanos e, obviamente, é o “lanterninha” dos BRICs.

O principal culpado pelo resultado medíocre foi o setor industrial que ficou estagnado em 2011 (míseros 0,1% de crescimento). Com isso, a participação da indústria de transformação no PIB retrocedeu em 2011 a um patamar de 14,6%, o mesmo nível de meados dos anos 50, início do governo JK.

O modesto crescimento brasileiro dos últimos anos esteve marcado pela direta dependência em relação ao mercado asiático e da China em particular. Em uma década (2001 a 2011) o volume de comércio do Brasil com a China cresceu de US$ 3,2 bilhões para US$ 77,1 bilhões (24 vezes mais).

Além do fato de que a atual desaceleração da economia chinesa ameaça diretamente o já moderado crescimento brasileiro, vemos como a dependência em relação à China também é um fator de retrocesso para a economia nacional. A desindustrialização e a desnacionalização da indústria são consequências desse processo.

Relação colonial no comércio com a China

Do total das vendas brasileiras à China, 85% foi composto por produtos básicos (US$ 37,6 bilhões dos US$ 44,3 bilhões exportados) que praticamente se resumem a minério de ferro, soja, petróleo e celulose. Os itens manufaturados exportados à China limitaram-se a míseros 4,5% do total exportado. Do lado da China, a relação é inversa. O Brasil vende produtos primários e compra manufaturados.

A dinâmica de desindustrialização da economia brasileira também está ligada ao que a própria Dilma Rousseff chamou de “tsunami monetário”. Os trilhões de euros liberados pelo Banco Central Europeu para salvar os bancos privados acabam virando investimentos especulativos em países como o Brasil. Isso provoca a valorização do real, encarecendo os produtos nacionais, reduzindo a competitividade da indústria instalada no país e estimulando as importações.

O governo Dilma pretendeu demonstrar que daria uma resposta firme, e para isso, convocou a unidade entre capital e trabalho. Nisso foi prontamente apoiada pelas centrais sindicais governistas e pelegas que não demoraram a sair às ruas junto com a FIESP e outras entidades patronais.

As medidas apresentadas como parte do “Acordo Nacional em defesa da produção e do Emprego” em nenhum momento atingem o cerne do problema. Não se toca no capital financeiro especulativo e se joga nas costas dos trabalhadores a responsabilidade pela recuperação da competitividade da indústria.

Desonerar a indústria significa repassar dinheiro público para a indústria instalada no país que é, em grande parte, de origem estrangeira e conivente com o grande capital financeiro.

Estima-se que em 2012 a desoneração da folha de pagamento e as isenções fiscais gerarão uma perda de quase R$ 35 bilhões na arrecadação. Tudo isso num momento em que o governo anunciou cortes da ordem de R$ 55 bilhões, atingindo gastos sociais e investimentos, para garantir o superávit primário, ou seja, pagar os especuladores/credores da dívida pública. Por ano, cerca de 20% do PIB vai direto para o bolso de um punhado de banqueiros e especuladores através da rolagem da dívida pública.

Subsídios para bancos e empresas – arrocho para trabalhadores

Além disso, a lógica da política do governo Dilma aponta para mais medidas no sentido de flexibilização dos contratos de trabalho, para baratear o custo da mão de obra – leia-se: aumentar a exploração dos trabalhadores.

A única saída efetiva para o retrocesso da indústria nacional é o enfrentamento com o grande capital e seu governo. Não a colaboração com ele. É preciso enfrentar o capital financeiro através da suspensão do pagamento da dívida pública aos grandes capitalistas, o controle do câmbio e a estatização do sistema financeiro com controle dos trabalhadores.

A partir daí se poderia construir uma política industrial, social e ambientalmente sustentável, baseada num forte setor público através da reestatização das empresas privatizadas e da estatização das grandes multinacionais com controle dos trabalhadores.

Um governo dos trabalhadores que aplicasse esse programa teria que buscar a integração com os povos latino-americanos na perspectiva de uma coordenação e planificação das economias da região.